Adamastor era um sujeito sedentário, mas saudável. Na juventude, jogou muito futebol com os amigos nos campinhos do bairro e nos últimos anos costumava dar umas pedaladas com um colega de trabalho, até que parou por conta das dores nas pernas que sempre sentia no dia seguinte.

Alongamento? “Frescura”, repetia ele para o colega ciclista, enquanto via o rapaz perder longos dez minutos em poses deselegantes em um ritual que ele sempre repudiou.

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Nas últimas semanas, Adamastor interessou-se por Lia, uma amiga de sua irmã mais velha, e descobriu que ela se exercitava em uma academia próxima ao seu apartamento. Lembrou-se de uma vez, mais de vinte anos atrás, quando acompanhou a própria irmã em uma das tardes em que ela foi “fazer ginástica”, e decidiu matricular-se na academia para ver se conseguia uma oportunidade de impressionar a moça e, quem sabe, armar um encontro.

Naquela Segunda, nosso conquistador estava na academia no horário em que sua musa costumava frequentá-la, mas estranhou um pouco os aparelhos, as vestimentas do pessoal e outros detalhes que não batiam com sua memória de como era uma academia. Por exemplo, seu antigo tênis Rainha, as meias esticadas até o joelho e um short curtinho de futebol dos anos oitenta que achou na gaveta, além da camiseta regata vestida por dentro do short, não pareciam muito adequados, se comparados com as roupas das outras pessoas, que o olhavam de modo curioso.

Mas esse não foi seu único problema. A idéia, a princípio boa, mostrou-se um erro terrível. As tentativas de usar os aparelhos sem a ajuda de ninguém que o explicasse o que fazer – para impressionar a moça – resultou em intervenções forçadas de dois professores, um aparelho quebrado, alguns pesos derrubados, ofensas de duas frequentadoras por conta do não uso de toalha, e o derradeiro vexame na esteira, da qual se lembrará para sempre.

A vergonha na academia e o fato de ter se tornado meme nas redes sociais implodiram as chances de Adamastor com Lia, mas nosso Romeu do esporte já está de olho em uma bela morena do seu condomínio que faz suas corridas matinais três vezes por semana na pista de caminhadas e vai tentar a sorte mais uma vez. Ele até já comprou uma garrafinha de água, daquelas que vêm com um cinto para prendê-la à cintura enquanto corre…

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Ralph Luiz Solera

Escritor e quadrinhista, pai de uma linda padawan, aprecia tanto Marvel quanto DC, tanto Star Wars quanto Star Trek, tanto o Coyote quanto o Papaléguas. Tem fé na escrita, pois a considera a maior invenção do Homem... depois do hot roll e do Van Halen, claro.

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