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O São Paulo Futebol Clube era, desde os anos 80, o “modelo a ser seguido” em termos de gestão, para os clubes de futebol do Brasil.
Nas últimas três décadas, o Tricolor do Morumbi sempre foi visto como o mais organizado e bem administrado clube do país, tanto por se manter sempre um passo à frente no que tange à sua gestão (auxiliado por um ambiente politicamente estável e mais saudável que os rivais), mas também pelas conseqüências dessa eficiência, que se refletia em uma formação exemplar de jovens talentos e na captação de receita quase sempre acima dos seus pares (auxiliada por ações de marketing que não existiam em outros clubes), além do crescimento da torcida, que se tornou a terceira maior do Brasil. As contratações cirúrgicas e a manutenção de elencos competitivos também eram marca das gestões Tricolores, independente de quem ocupasse a cadeira de presidente.
Isso tudo se refletia em campo, evidentemente, e nesse período o São Paulo amealhou mais taças do que os demais clubes do país, tornando-se um dos maiores campeões nacionais (ou o maior, desconsiderando-se a unificação de títulos pré-Campeonato Brasileiro) e o clube brasileiro com mais títulos internacionais.
Outro reflexo dessa virtuosidade são-paulina pode ser visto nas seleções brasileiras campeãs do mundo em 1994 e 2002.
Nos Estados Unidos em 1994, o Brasil tinha nada menos que 8 atletas formados, que se destacaram ou ainda atuavam no São Paulo: Ricardo Rocha, Ronaldão, Raí, Zetti, Cafú, Leonardo, Müller e Gilmar (depois, Márcio Santos acabou jogando no Tricolor).
Em 2002, jogavam ou jogaram (alguns surgindo lá) no São Paulo outros 7 jogadores: Cafú, Edmílson, Belletti, Denílson, Juninho Paulista, Rogério Ceni e Kaká (e posteriormente Luizão, Júnior, Ricardinho e Lúcio).
O São Paulo é o segundo clube com mais jogadores campeões do mundo com a Seleção (13), atrás apenas do Santos (15), sendo que o Peixe forneceu campeões apenas nos três primeiros títulos mundiais do Brasil. E essa contagem não leva em conta os jogadores formados no clube, mas apenas os que nele jogavam durante a Copa, pois do contrário o São Paulo seria o mais representado. O Tricolor também é o segundo em número de convocados para as Copas do Mundo (42), atrás apenas do Botafogo (46), e novamente não se leva em conta os jogadores formados no clube e que acabaram vendidos antes das Copas.
Mas parece que esse ciclo virtuoso de boa saúde financeira, fama internacional e títulos em profusão está chegando ao fim (ou já chegou). Desde o mandato de Juvenal Juvêncio que o Tricolor tem se auto sabotado e deixado de fazer o que lhe levou ao topo, além de ter passado a fazer o que os rivais antes faziam de errado (ou faziam mal feito). Carlos Miguel Aidar consegue a proeza de não só continuar os erros de Juvenal Juvêncio como piorar o que já era ruim.
Até aqui, Aidar vem sendo o pior presidente da História são-paulina, com declarações desastrosas, decisões gerenciais bizarras e prejudiciais e envolvendo o clube em situações estranhas (para não se dizer outras coisas) com contratos questionáveis sobre venda de ingressos, compra e venda jogadores, patrocínios, etc., fora os escândalos constantes, as brigas públicas e, agora, o cúmulo das agressões físicas.
O outrora mais rico e vitorioso clube do Brasil agora está em uma situação crítica financeiramente; conquistou apenas um título importante nos últimos seis anos; não tem um patrocinador máster; não consegue reformar e cobrir seu estádio; vê-se constantemente envolvido em escândalos inerentes à sua administração e seguidamente irrita seus pares com declarações bisonhas de sua cúpula de dirigentes. É amadorismo e incompetência demais para muito pouca gente em muito pouco tempo. Até para o que estamos acostumados no Brasil isso passou dos limites.
O Tricolor de hoje lembra os piores tempos do Vasco de Eurico (antigo e atual); Palmeiras de Mustafá; Corinthians de Dualib e outras gestões esquecíveis de grandes clubes brasileiros.
Outra consequência perversa: prejudicar o final da carreira do maior ídolo da História do clube, praticamente sabotando um time que poderia ter sido campeão brasileiro no ano da aposentadoria do M1to.
O São Paulo já foi modelo de gestão no Brasil. Hoje, passou a ser um exemplo… de como não se administra um clube de primeira grandeza. Como alguns têm dito na grande imprensa: “corintianaram o São Paulo” (alusão muito usada ultimamente para dizer que o Corinthians de hoje é o São Paulo de ontem – organizado e bem administrado – e o Tricolor de hoje é o Timão de ontem – uma bagunça completa, gerida por incompetentes de ego grande).
Parabéns aos responsáveis. Jamais esqueceremos do que vocês fizeram com o Mais Querido.

Ralph Luiz Solera

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