Crítica: Janis – Little Girl Blue

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Janis_cartaz Crítica: Janis - Little Girl BlueJanis – Little Girl Blue

Direção: Amy Berg

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Janis Joplin foi uma das maiores cantoras que existiu. Dona de uma voz poderosa, a artista era única em suas performances que podiam ser simbolizadas quase como um ato sexual devido ao vigor em cima do palco, interpretando músicas que soavam sempre autobiográficas. Mas toda sua força, segundo seus próprios amigos, tinha um preço e a dívida que Janis pagou foi muito alta (assim como Hendrix, Jim Morrison e Amy Winehouse mortos aos 27 anos) , acrescido de sofrimento e rejeição sofrida de maneira covarde nas mãos da sociedade que jamais a aceitou em vida.

A artista já teve sua trajetória remexida nestas décadas após seu falecimento, mas Janis: Little Girl Blue potencializa de maneira única a força da artista que deixou um legado inigualável, sem jamais cair em qualquer estereótipo, como normalmente se faz com celebridades taxadas com uma ‘filosofia autodestrutiva’ (nada mais contundente que o comentário de John Lennon, questionando por que não se perguntam o que levou a artista até aquela situação em vez de crucificá-la). Os vários e belos registros de shows, fotos e os bastidores comprovavam toda sua entrega como raríssimas artistas fizeram, onde seu desejo era integração total com o público, um compartilhamento de emoções e sentimentos (inclusive sua icônica, mas cheia de percalços até em passagens por países exóticos, como o Brasil).

A estrutura do documentário dirigido pela diretora Amy Berg é linear e usa as cartas escritas pela própria Janis e enviadas para a família durante suas turnês para pontuar seus momentos (cartas estas narradas pela cantora Cat Power, que faz lembra a voz de Janis em certos momentos).  Assim, sem grandes saltos no tempo o documentário  não compromete e não tenta chamar a atenção para si, pois seria desnecessário devido à intensidade de Janis. No máximo, fora o uso das cartas, a narrativa é engrandecida ao intercalar algumas cenas como se um trem estivesse passando com toda a velocidade (assim como Janis fez), portanto o documentário também acerta em não fixar tanto tempo em determinadas passagens, principalmente em sua morte , ajudando a fluidez de sua estrutura.

Influenciada pelo blues e folk, Janis jamais se enquadrou no estilo ‘bela, recatada e do lar’, lutando constantemente contra seu corpo e aparência por não se achar tão bela quanto a sociedade exigia, ela se culpava por não fazer aquilo que a família queria e demonstrava sempre a necessidade de ser acolhida e compreendida. Contudo, devido esta pressão que a infligia todo seu tempo, era nas bebidas e drogas que a cantora encontrava um alento. Com isso, a cantora era alvejada por todos os lados, como visto no momento em que decide seguir carreira solo, por acharem que ela estava presa demais ao seu antigo grupo. Mas esta própria mídia achava que ela estava sem rumo ao conduzir a carreira por conta própria.Janis_meio Crítica: Janis - Little Girl Blue

Os depoimentos dados por familiares e amigos ajudam a ratificar a persona dela: Janis era extraordinária, uma mulher doce, uma força da natureza escondida atrás de uma capa de dor e carência, mas que jamais, perdia sua identidade. Janis estava sempre a um passo, independente do que acontecia, de esbanjar um sorriso franco e se tornar o centro das atenções – algo de suma importância para ela.

Mas sua personalidade, mesmo que por momentos pudesse sentir-se livre, fazia com que suas recaídas ocorressem após os shows. Assim, era no palco que ela expurgava todos seus demônios e salientava suas desilusões. Portanto não é mais que triste , pela sinceridade disfarçando a tristeza fugaz , ela sempre ratificar que era a única, ao contrário de seus companheiros de banda, que sempre voltava sozinha depois dos shows.

Mesmo com o sucesso e fama, numa passagem extraordinária ao reencontrar seus antigos colegas de colégio, Janis simplesmente expõe, sem maquiagem, sem ensaios e de maneira sincera, todos os sentimentos perante aquela gente que de certa maneira foi responsável pelo seu sucesso. Mas é notório que no fundo estas pessoas ainda a viam como os mesmo olhos do passado (talvez até pior do que ainda era um jovem estudante). A cena é particularmente esplendida soando quase como ficcional , ao ser entrevistada pelos repórteres, é visível que a cantora não esta bem por dentro e que sua planejada presença no reencontro , foi um erro.

Mesmo com a dor, autoestima relacionada à aparência, machismo e conflitos internos ainda permitiram que Janis se torna-se referência para as jovens da época que viam nela sua emancipação contra a mesma sociedade que tanto crucificou a cantora.Um exemplo de beleza libertadora, uma mulher a frente do seu tempo, influente, sensível, naturalmente rara como uma divindade, com um dom jamais visto e eternizada na história da música.

Cotação 4/5

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Rodrigo Rodrigues

Eu gosto de Cinema e todas suas vertentes! Mas não aceito que tentem rescrever a historia ou acharem que cinema começou nos anos 2000. De resto ainda tentando descobrir o que estou fazendo aqui!

2 thoughts on “Crítica: Janis – Little Girl Blue

  1. eu ja tenho pé atrás pra documentários… os sobre artistas então, nem me fale… considerando isso, vc recomenda mesmo assim?

    1. Balsa,
      Obrigado pelo comentário.

      Não precisa ter um pé atras. Documentários por tratar de maneira real determinado contexto, possuem um caráter informativo (e real) que muitos filmes não tem.

      Normalmente não tenho o hábito de dizer se determinado filme deve ser visto ou não, pois o correto é que possamos ver sempre o maior numero de filmes (bons ou não).

      Mas se você tem interesse em saber ou conhecer mais a figura da Janis Joplin , vale da um assistida

      Abraço,

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