Out There: uma animação sobre a complexa tarefa de crescer

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Talvez você nem tenha ouvido falar de Out There. Nem eu havia. Meu primeiro contato foi direto e despretensioso, quando a encontrei, sem querer, no catálogo do Netflix. Sem nem saber do que se tratava, quantos episódios tinha ou sua temática, tentei assistir. E é justamente na falta de pretensão que surgem boas descobertas. Conheça um pouco mais sobre essa curta, porém ótima série dos produtores de South Park que retrata uma confusa e complexa época de nossas vidas: a adolescência.

Após assistir os 10 episódios da série, logo fui buscar mais sobre Out There. Me surpreendi com a pouca, ou quase nenhuma, informação em português presente na internet. Eu jamais tinha ouvido falar dela antes e parece que não fui o único. Discreta e sem manias de grandiosidade, a própria forma como a série foi disponibilizada parece ser o retrato exato do clima por ela roteirizado, já que crescer não é essa aventura toda que pintam no cinema, pode ser bem mais melancólico e banal que nossa nostalgia faz parecer.

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Os personagens de Out There: Chad, Jay, Chris, Joanie, Terry, Rose e Wayne (da esquerda para a direita).

A animação acompanha as histórias cotidianas de Chad em uma pequena cidade do interior, um garoto de 15 anos que ao mesmo tempo está longe de ser alguém popular no colégio, mas tão pouco é um excluído. Entre descobertas diárias e desafios da vida social narradas em um clima nostálgico e melancólico, acaba compartilhando sua trajetória a partir do dia em que conheceu o seu melhor amigo: Chris, um menino rebelde, sempre pronto para testar as ideias mais mirabolantes para resolver os problemas mais banais. Ao redor deles também conhecemos um pouco mais de suas famílias e colegas de escola. A família de Chad é composta por pais super-protetores (Wayne, optometrista, e Rose, pianista da igreja) e um irmãozinho que parece constantemente viver em uma ficção científica, Jay (uma fofurinha!). Do outro lado, Chris é filho único, vivendo com sua mãe trabalhadora, Joanie, e o namorado dela, Terry, um malandro esotérico que passa o dia deitado no sofá e que acaba se tornando o seu grande arquirrival. Por fim, como não podia ser diferente nessa fase da vida, há espaço para um amor platônico, Sharla, o interesse romântico de Chad.

Criada em 2013 por Ryan Quincy, foi transmitida nos Estados Unidos pela IFC (Independente Film Channel), um canal, pra nós, tão discreto quanto a série. Apesar dos 10 bons episódios, a série não foi renovada para uma segunda temporada, algo que é bom de saber desde já para não se apegar demais com as personagens.

Ryan é bastante conhecido no universo das animações por ter trabalhado na série South Park, onde chegou a atuar como diretor de animação e ganhar prêmios junto com a equipe. Em Out There, além de criador, somam os créditos de roteirista de alguns episódios e é a voz por trás de Chad. Atualmente, Ryan trabalha nos estúdios Disney.

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Ryan Quincy e Ryan Quincy, o criador da animação.

Apesar do aparente ritmo lento que a série impõe de início, em um primeiro episódio que gera certo estranhamento com a narrativa e tipo de animação, isso passa rapidamente. Logo nos acostumamos tanto com o ritmo do roteiro quanto com o estilo da arte escolhida e nos aproximamos mais das personagens. E é justamente nessa aproximação que está o grande mérito de Out There. Mesmo com poucos episódios, as personagens são bem desenvolvidas, com destaque para a relação entre Chad e Chris, bem como os núcleos familiares dos dois. Você facilmente irá se identificar com algum período da sua infância/adolescência, seja ao lembrar daquele seu amigo inseparável que sempre estava lá dando as mais malucas ideias para resolver coisas simples (sim, eu também tive o meu), revivendo os desafios sociais que a idade propunha ou revisitando as relações entre você e a sua família (ou a família dos seus amigos).

Conta ainda com participações especiais interessantes, dando voz a personagens de alguns episódios. Nesse rol de participações temos Christian Slater (em vários episódios, dá voz ao valentão da escola Johnny Slade), Selma Blair (no episódio 6) e Jason Schwartzman (no episódio 5). Vale também elogiar a ótima dublagem brasileira, a qual mantém intacto todo o espírito da série, fortalecendo todo o potencial que as personagens têm. Outro ponto alto da série é o fato dela não ser apelativa, seu humor está na simplicidade das coisas. Out There não precisa de milhares de palavrões e piadas escatológicas para parecer “adulta”, característica recorrente e irritante em tantas animações do tipo.

Essa é Out There, uma animação despretensiosa e delicada que retrata um complexo momento de nossas vidas: crescer. Sem as manias e vícios comumente retratados no cinema e nas séries que transformam a adolescência em um palco megalomaníaco de aventuras constantes, aposta na simplicidade e na honestidade das narrativas para nos aproximar das personagens. E consegue, possibilitando revisitar lembranças sem forçar a barra, logo ali, em um universo animado. Seja você um Chad, um Chris ou algum membro das suas famílias e escola, talvez em algum momento você se encontre em Out There… e só isso já valeria uma segunda temporada! Obrigado, Ryan.

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Gael Mota

Vivendo entre o utópico e o distópico, o real e o imaginário, sempre encontra paralelos entre o sci-fi e o cotidiano. Cientista, redator e artista por acidente, acredita que o cyberpunk já chegou.

9 thoughts on “Out There: uma animação sobre a complexa tarefa de crescer

  1. Gostaria muito de assistir novamente, pena que não acho mais em lugar nenhum.
    alguém tem ideia de onde conseguir?

  2. Gostei muito da série, também achei por acaso. Quanto ao ritmo dela, acho que é proposital ser mais lento. Recomendo.

    1. Também me apeguei demais. E desde q saiu da Netflix, n consigo achar mais pra ver legendado ou dublado =[

  3. Encontrei essa série sem querer no netflix e estranhamente me identifiquei com o personagem principal no 1 EP. assisti toda a 1 temporada, nostalgia pura, pena que não farão a 2. Ótimo texto cara, na vdd o seu site é muito bom. voltarei mais vezes.

    Abs;

  4. Seu texto me fez parecer que foi melhor que a série em si rs… achei muito arrastada e meio monótona, acho que por isso não foi renovada.

    1. É uma série com um clima peculiar mesmo, lento, sem grandes aventuras espetaculares…. mas a vida é um pouco assim né? O resto é gosto, não é a série mais democrática do mundo, tenho que admitir.

  5. ainda bem que vc escreveu sobre isso… essas pérolas as vezes passam despercebidas e se perderiam pra sempre la no Netflix se não contassem pra gente… obrigado!

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