Quando a Trilha Sonora é Melhor que o Filme: Judgment Night

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É comum que o sucesso de um filme seja acompanhado pelo sucesso de sua trilha sonora e vice-versa. O som é componente fundamental para o sucesso ou fracasso de qualquer obra, seja na captação dos diálogos ou na composição e escolha da perfeita trilha sonora para o roteiro. Porém, há casos em que os filmes pouco marcam o seu tempo, mas as trilhas tornam-se icônicas. Judgment Night é um bom exemplo disso, afinal não é todo dia que se produz uma trilha sonora original com Faith No More, Slayer, Cypress Hill, Sonic Youth, Pearl Jam, Run DMC e outros grandes nomes.

Judgment Night, que no Brasil ganhou o subtítulo Uma Jogada do Destino, é um filme lançado em 1993, dirigido por Stephen Hopkins (de Predador 2 e do remake de A Colheita do Mal) e estrelado por Cuba Gooding Jr e Emilio Estevez. Mais de 20 anos depois de sua estreia, falar que o filme é ruim seria até injusto, já que muitas pessoas nutrem uma boa nostalgia a seu respeito e, inclusive, sua nota em sites como IMDb não é ruim. A trama de suspense e ação, acompanha quatro amigos que se reúnem para ir a uma luta de boxe, mas ao escolherem pegar um atalho até o local, acabam se envolvendo com a morte de um membro de gangue e são perseguidos pelo traficante que controla a região. Mas, goste você do filme ou não, precisamos falar da trilha sonora… é, tem o score do Alan Silvestri, que não é pouca coisa, mas é da outra parte da trilha que vamos falar hoje.

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Pode fazer o teste: procure no Google o nome da película, o que aparece primeiro nos resultados? A trilha! E não é por acaso. O album, também lançado em 1993, fez tanto sucesso que chegou a ficar entre os mais vendidos da Billboard ao promover uma proposta bastante clara e inusitada: músicas orginais que são o resultado da parceria de grupos de rap e rock consagrados. No estigma do rap rock e rap metal que permeava esse período cultural, não houve economia na escolha de grandes nomes para a lista.

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Vinil da trilha sonora original de Judgment Night.

O  album se inicia de forma agressiva com a parceria de Helmet e House of Pain no que, para mim, corresponde a melhor música do disco. Logo de cara, já demonstrando qual a intenção da trilha: promover um diálogo justo entre dois estilos distintos, aqui entre o metal quadradão a la industrial do Helmet com uma das queridinhas dos hits de hip-hop dos anos 90, House of Pain, de Jump Around, e toda sua bagagem irlandesa.

Passada a primeira faixa, a compilação segue com perfeição e diversidade nas parcerias propostas. Com um clima mais calmo e esperançoso em Fallin’, de Teenage Fanclub e De la Soul, passando por uma retomada nos ânimos em Me Myself & My Microphone, de Run DMC e Living Color. Logo, chegamos em mais uma sequência de parcerias entre bandas de metal e hardcore com o hip-hop. Primeiro, na faixa 4, com o tema do filme por Biohazard e Onyx, som que fez sucesso na época, ganhando inclusive clipe oficial. Em sequência vem Slayer e Ice-T, figurinha carimbada nos filmes de ação dos 90s, com a potente Disorder, um canto incisivo contra os conflitos bélicos em um linha bem mais hardcore do que se esperaria naturalmente do Slayer, afinal trata-se de um medley das músicas War, UK’82 e Disorder da clássica banda punk Exploited.

Como um dos símbolos desta década, o funk metal não poderia ficar de fora, sendo que na faixa 6 temos a parceria de Faith No More e Boo-Yaa T.R.I.B.E. em Another Body Murdered. Com vocais dominados pelo grupo de hip-hop, a marca do FNM  fica registrada por conta dos teclados de Roddy Bottum e algumas intromissões de Mike Patton, em segundo plano, com vocalizações que lembram bem mais seus outros projetos musicais.

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Poster de Judgment Night.

Na sequência, o ritmo desacelera, mas a qualidade não cai com a inusitada parceria entre Sonic Youth e Cypress Hill em um som relaxante, mesmo que não tão revolucionário quanto a formação poderia propor. Logo seguimos estão Mudhoney e Sir Mix-A-Lot com Freak Momma, uma música que não poderia ser feita em uma década diferente dos anos 90, uma mistura aleatória que é o semblante de uma época. Outra banda muito querida pelos fãs surge na faixa 9, Dinosaur Jr, que ao lado de Del The Funky Homosapien, nos traz outro som que não poderia ser produzido em outro período da música, Missing Link.

Já nos aproximando do final do album, temos a faixa de Therapy? e Fatal, que apesar de não ser ruim, soa pouco inspirada. Por fim, outra parceria, no mínimo, pouco imaginada: Pearl Jam e Cypress Hill. A faixa  Real Thing tem os vocais dominados pelo hip-hop dos californianos, sobrando espaço para um instrumental que une as duas bandas com o scratch das pickups.  Talvez, para os fãs do Pearl Jam a banda tenha ficado um pouco diminuída na faixa, mas certamente unir bandas com estilos tão diferentes para produzir uma música nova em pouco tempo não deve ser tarefa das mais simples.

Existe ainda uma história sobre um faixa extra, que acabou ficando de fora da compilação. Trata-se de uma música que é produto da parceria entre as bandas Tool e Rage Against The Machine que foi encomendado pelos produtores do album. Entretanto, por aparente desentendimento criativo entre as bandas (ou até entre os produtores da trilha sonora), a música não chegou a ser finalizada, muito menos fazer parte do disco. Por sorte, existem registros em baixa qualidade da faixa em estúdio…. e acredite: é excelente, melhor que muitas que estão no album. Você pode escutar a faixa  You Can’t Kill The Revolution no video aqui embaixo.

Esta é a trilha sonora de Judgment Night, um mix entre rap, rock e metal que acabou ficando na história da música e do cinema. Certamente, melhores resultados dessas parcerias poderiam ter sido obtidos, mas como foi dito anteriormente, nem sempre é fácil encontrar uma consonância de ideias entre estilos tão distintos com pouco tempo de estúdio disponível. Com bons e razoáveis registros, está longe de ser um primor, mas é uma soundtrack que merece destaque pela proposta, sendo um exemplo para inspirar mais experiências do tipo.

 

Melhores faixas:

1. Helmet & House of Pain – Just Another Victim

3. Living Colour & Run DMC – Me, Myself & My Microphone

4. Biohazard & Onyx – Judgment Night

5. Slayer & Ice-T – Disorder (medley de músicas do Exploited)

Tracklist completa:

1. Helmet & House of Pain – Just Another Victim

2. Teenage Fanclub & De La Soul – Fallin’

3. Living Colour & Run DMC – Me, Myself & My Microphone

4. Biohazard & Onyx – Judgment Night

5. Slayer & Ice-T – Disorder (medley de músicas do Exploited)

6. Faith No More & Boo-Yaa T.R.I.B.E. – I Love You Mary Jane

7. Sonic Youth & Cypress Hill – I Love You Mary Jane

8. Mudhoney & Sir Mix-A-Lot – Freak Momma

9. Dinosaur Jr. & Del the Funky Homosapien- Missing Link

10. Therapy? & Fatal – Come & Die

11. Pearl Jam & Cypress Hill – Real Thing

 

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Gael Mota

Vivendo entre o utópico e o distópico, o real e o imaginário, sempre encontra paralelos entre o sci-fi e o cotidiano. Cientista, redator e artista por acidente, acredita que o cyberpunk já chegou.

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