Crítica: Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar

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Piratas_Cartaz Crítica: Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar

A quinta parte da renomada franquia Piratas do Caribe, da Disney, chega para confirmar o desgaste das aventuras de Jack Sparrow, que precisam se reinventar para deixarem de ser cansativas e ganhar novo fôlego para continuar a entreter as futuras gerações.

Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar

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Diretor: Rønning, Espen Sandberg

Elenco: Johnny Depp, Geoffrey Rush, Brenton Thwaites, Kaya Scodelario, Kevin McNally, Golshifteh Farahani, Stephen Graham e Javier Bardem

Seria razoavelmente possível que a franquia Piratas do Caribe pudesse ter algum tipo de sobrevida com este quinto capítulo (admito, ao escrever o texto, fiz um pequeno esforço para recordar quantos foram), depois de filmes cada vez mais cansativos? Por qualquer ângulo que se possa ver, Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar é um completo furo com seu roteiro desastroso e visivelmente se tornando uma paródia de algo que nunca primou pela regularidade.

Para se ter uma ideia, o longa começa com uma espécie de prólogo (inútil) como possível fio condutor  e premissa do restante da filme, mas que é completamente ignorado pelo roteiro de Jeff Nathanson e somente retornado no final para concluir o arco do personagem Henry Turner (Thwaites) de maneira mais que capenga, confirmando que a direção descuidada de Joachim Rønning e Espen Sandberg tem dificuldade até mesmo de soar óbvia – que aqui seria até um elogio caso ocorresse.

Nesta nova aventura, o jovem Henry Turner (Thwaites), para quebrar a maldição que caiu sobre seu pai Will Turner (Bloom), parte em busca do Tridente de Poseidon. Para isso ele precisará da ajuda do lendário Jack Sparrow (Depp) e da intrépida Carina Smith (Scodelario) para tal. Contudo, eles terão no encalço o vilão Salazar (Barden), contando com a ajuda do capitão Barbossa (Rush), desejando por em prática seu plano de vingança contra Sparrow (e obviamente, como é incrivelmente “comum” aos piratas da época, quebrar a maldição que o assola).

Contudo, a obra parece não ter uma direção definida, uma estrutura sólida que seja, que leve um ato de maneira satisfatória a outro, onde em sua narrativa é impossível deixarmos de sentir a sensação de que todas as cenas existam apenas como um artifício para momentos de humor que jamais funcionam por serem recheados de piadas sem graça, infantis e desnecessárias – principalmente vindo de personagens secundários, como podemos ver nos comandados do capitão Barbossa ou quando a direção insere gags como fezes de pombo ou abertura de cadeados com unhas que parecem facas, assim como gasta um sequência inteira inserindo personagens apenas para promover uma cena (obviamente descartável) de casamento funesta, quando Sparrow “coincidentemente” vai parar numa ilha cujo mandatário é um antigo inimigo seu.

Ademais, estas coincidências demonstram como o desenvolvimento da história parece ter sido feito de maneira particionada, uma vez que o filme joga as informações e situações sem qualquer fluidez apenas para atender suas convenções, como no fato do início do filme em que um navio vai de encontro com o personagem que tem ligação direta com a embarcação ou o fato de que Carina, ao fugir de guardas, entre num observatório somente para criar um conflito por ela ser vista como apreciadora da ciência.

Neste momento, eu até procurei entender que o filme pudesse, pelo menos, ser capaz mesmo com seus defeitos, criar uma discussão através da personagem da esforçada atriz Kaya Scodelario sobre a posição feminina dentro do universo científico, cujo conhecimento era sinal de feitiçaria dentro de uma sociedade machista e ignorante. Mas seria pedir muito, pois é visível que a ideia é sabotada pela inclusão da personagem Shansa (Farahani), que além de ser uma bruxa para lá de caricata, ela entra e sai de cena num passe de mágica sem qualquer função importante. Ou principalmente pelo fato da direção perder a oportunidade de engrandecer a personagem ao cair na armadilha fácil de transformar Carina numa típica donzela em busca do par perfeito masculino com o pôr do sol ao fundo (cuja cena, apresenta o retorno de outro importante personagem apenas para uma ponta desnecessária e abrupta em seu contexto).Piratas_meio Crítica: Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar

Como vimos, o filme tem personagens que em nenhum momento causam empatia por estarem todos completamente no automático. E se Johnny Depp raramente chega perto do que o personagem foi, cujos cacoetes e trejeitos são apenas gestos automáticos, o arco dramático de Barbossa, por exemplo, é a prova culminante da falta de criatividade e expositividade do roteiro. Aliás, tal abordagem é algo que me deixa profundamente revoltado por você criar uma empatia por um vilão carismático, como foi o interpretado por Geoffrey Rush no primeiro longa, para filmes depois por tudo por água abaixo (ainda mais no tom novelesco como visto aqui). E até o casal romântico do filme, ao tentar emular o relacionamento entre Orlando Bloom e Keira Knightley (que já não era algo muito interessante, mas como tiveram mais tempo acabaram criando meio que por osmose alguma identificação), acaba soando como algo previsível pelo conflito de personalidade dos dois mas que no fim “o amor vence”. E Javier Bardem faz o possível embaixo dos efeitos, sendo sabotado pelo roteiro, ao transformar Salazar num vilão puro e superficial, desperdiçando um pouco de conflito que o personagem tinha, uma vez que Salazar apenas seguia uma convicção e dever moral antes de ser amaldiçoado.

O roteiro parece não levar a sério o poder de descrença do público, onde mesmo se tratando de um filme de ação e com temática pautada no fantástico, ele precisa de um mínimo de coerência por parte da direção (por mais absurda que seja a ideia) para envolver o espectador dentro da narrativa. Todavia, tudo tem um limite e por mais bem coordenada que seja a cena e até certo ponto clara do ponto de vista da mise en scene, da organização espacial em si, algumas sequências beiram mais ao cartunesco, como quando uma carruagem arrasta um cofre (e uma casa) pesando toneladas, ou um navio durante uma perseguição faz movimentos incompatíveis e absurdos mesmo dentro com o contexto.

Além disso, o filme denuncia seu lado expositivo e infantil com diálogos como “Não é porque não vê que não exista”, “O que sou para você? – Um tesouro”, o longa ainda conta com a inclusão de flashback desnecessário, apenas para poder dar importância a um elemento em cena (no caso a bússola quebrada de Sparrow) que de repente ganhou uma importância mágica jamais mencionada (e claro mostra a qualidade do CGI ao rejuvenescer Jack Sparrow). Pois se o objeto antes era mais uma alegoria que complementava o visual relapso do pirata, aqui surge quase como um objeto com vontade própria e usado como resolução sentimental para o conflito de outros personagens.

E se o design de produção por poucos momentos ainda demonstra um trabalho interessante ao compor os cômodos da cabine do Capitão Barbossa com um luxo colorido e permeado de caveiras douradas representando status e comodidade do personagem, a concepção do navio de Salazar é interessante (dentro do absurdo) ao ser transformada numa embarcação com personalidade própria, cuja proa é vista como mandíbulas gigantescas e os efeitos concentrados no núcleo de Salazar são elogiáveis pela fluidez dos detalhes como cabelos e roupas – mesmo que o conceito de piratas mortos-vivos tenha cansado.

Enfim, pouco empolgante em suas cenas de ação, Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar se apresenta também de maneira melodramática nas resoluções dos conflitos e remexendo num baú de ideias pouco atraentes e tornando tudo cansativo e sem um alívio e respiro para pensarmos que a série não tenha ultrapassado seu limite há muito tempo.

Nota 2/5

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Rodrigo Rodrigues

Eu gosto de Cinema e todas suas vertentes! Mas não aceito que tentem rescrever a historia ou acharem que cinema começou nos anos 2000. De resto ainda tentando descobrir o que estou fazendo aqui!

10 thoughts on “Crítica: Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar

  1. Adoro Piratas do Caribe, mas ele acabou no 3o filme e os dois seguintes são mero spin-offs, nem fui assistir o quinto e nem pretendo

    1. Bacilo e Totti
      A crítica de Mulher Maravilha a esta disponível no site.
      Abraços

    1. Solange
      Bem vinda
      O filme realmente não agradou tanto e o cansaço é visível
      Obrigado pelo comentário

  2. Gostei do filme, achei melhor que os 2 ultimos.
    .
    O problema de Piratas do Caribe foi por culta do “Excelente” diretor Gore Verbinski.
    O cara colocou a franquia lá em cima logo com o primeiro filme, lembrando que o filme foi indicado a 5 Oscars, só não venceu por ter enfrentado um Colosso chamado Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei.
    .
    Então o jeito é ir ao cinema assistir as continuações, aceitando conscientemente que jamais conseguirão colocar a franquia no patamar do primeiro novamente.

    1. Fabio,
      Bem vindo

      O primeiro realmente chamou atenção principalmente pelo fator surpresa , tanto que Johnny Depp concorreu na categoria de melhor ator. Mas quando ao ir ao cinema aceitando conscientemente, acho que isso é justamente o público não pode deixar acontecer. Pois os estúdios se valem disso para cada vez mais nos empurrarem filmes ruins
      Obrigado pelo seu comentário
      Abraço

  3. o 1 foi fantástico… o 2 foi bem digno, muito bom… o 3 começou a cair muito, ficou beeem fraco, ai veio o 4 e mostrou que nao precisava ter vindo, e agora esse 5 que so confirma que essa segunda trilogia é totalmente descartável…

    1. Sassafrás

      Bem vindo
      Concordo com você. Tivemos o fator surpresa no primeiro, o segundo um pouco mais inchado e o terceiro mantendo o nível mas fechando bem a trilogia. O quarto e quinto descartáveis.

      Abraços

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