Crítica: Em Ritmo de Fuga (Baby Driver)

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Fuga_cartaz Crítica: Em Ritmo de Fuga (Baby Driver)Em Ritmo de Fuga

Direção: Edgar Wright

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Elenco: Ansel Elgort, Kevin Spacey, Jamie Foxx , Jon Hamm, Eiza González, Lily James, Jon Bernthal, CJ Jones e Flea

Não tenho nada contra um filme que, dentro da proposta de ser Blockbuster (ou não), se assume como um divertimento.  Entretanto, exijo como cinéfilo e espectador, que os realizadores tenham conhecimento e um mínimo de respeito com a linguagem cinematográfica.  Assim quando alguns filmes da “saga” Velozes e Furiosos (principalmente os três últimos) ou uma obra de Michael Bay se assumem, mas pecando vergonhosamente ao não fornecer um mínimo de apreço narrativo, não consigo simplesmente aceitar como uma obra admirável.

Não vou censurar um filme abusando dos clichês ou convenções em sua essência, mas que saibam trabalhar de uma maneira que não sirva apenas para inserir tais elementos aleatoriamente, mas sim para apresentar uma obra narrativamente segura e até rejuvenescida. Portanto, o fato deste Em Ritmo de Fuga (Baby Drive) se sobressair se deve justamente ao usar seus elementos de maneira agradável e não tornar a obra poluída e sem personalidade. Pelo contrário, abusando constantemente de planos detalhes (pneus, passando marcha, bolo de dinheiro, a bunda da garota do bandido etc), uma direção ágil (sem soar negativamente frenética, onde o público abraça qualquer absurdo nas cenas de ação) e apoiando-se o tempo todo na sua trilha musical, o longa de Edgar Wright torna-se uma simpática surpresa e confirma capacidade do diretor de brincar com gêneros e convenções de maneira interessante, como visto inclusive no ótimo Chumbo Grosso (2007).

Bebendo da fonte de filmes como Drive, Sem Saída e até mesmo com uma pitada de Bonnie e Clayde, conhecemos o habilidoso Baby (Elgort), um órfão vivendo com seu debilitado pai adotivo e trabalhando como motorista de fuga para criminosos liderados pelo mafioso Doc (Spacey). Todavia, o jovem deseja pagar sua dívida com o chefe e andar pelo mundo ao lado da amada Deborah (James) como um sonho americano.

A partir daí o filme basicamente mostra um assalto, perseguições empolgantes , o planejamento para o próximo crime até o clímax com a polícia. Claro que existe a intenção do “o grande roubo final”, mas isso não é muito bem estruturado, até porque ao incluir um elenco que em parte é substituído no meio do filme para depois voltar parte dele, acaba quebrando um pouco o ritmo – fora a necessidade de um deles virar o antagonista. Isso sem contar que no terceiro ato, o filme apresenta situações e resoluções expositivas, como o depoimento de algumas testemunhas sobre a personalidade do protagonista (como não fôssemos capazes de tirar a nossa própria – e óbvia – conclusão sobre sua índole). Ou até mesmo algumas “coincidências” pouco naturais, como fato de Baby ter problemas de audição, e conviver com seu pai adotivo ser…. mudo. Todavia, isso não significa que os personagens em si sejam descartáveis ou prejudique de maneira grosseira o restante do filme.Fuga_meio Crítica: Em Ritmo de Fuga (Baby Driver)

Kevin Spacey e Jamie Fox, por exemplo, assumem seus papéis sem qualquer problema e acabam cumprindo bem suas finalidades de maneira até divertida. Aliás, o filme por não ocultar a plasticidade de algumas cenas de violência, acaba  tornando o arco dos personagens no mínimo passando a sensação de que algo realmente pode acontecer a eles. E Ansel Elgort, que depois de participar de maneira insossa na série Divergente e em A Culpa é das Estrelas, e aqui auxiliado pelo roteiro que não exige muito diálogo, consegue transmitir a segurança e impetuosidade física que o papel exige.

Contudo, chegamos a outro elemento de extrema importância: sua trilha sonora. Se fazendo presente praticamente em toda a projeção (não consigo me lembrar uma grande sequência sem uma música tocando), o trabalho se apresenta eclético até a alma por transitar de Barry White a Focus passando por sons mais alternativos como T.Rex.  A trilha não somente não se apresenta como um caldeirão de influência, como ainda é usada pela direção de maneira delicada, onde as batidas das músicas são sincronizada com os movimentos de um personagem, por exemplo, atirando ou gesticulando – inclusive , o filme usa a música Easy (Commodores) para finalizar um ato, simbolizando a “facilidade” e astúcia do protagonista pelos feitos anteriores.

Mas não bastassem tais elementos, a prova crucial para a qualidade e cuidado da direção se dá também em outros detalhes. Como o fato de alguns cortes serem econômicos, mas que acabam ajudando de maneira elegante para agilizar a trama, como numa cena em que Baby entra na pizzaria para um vaga de entregador, e  com um movimento ele sai quase que na mesma cena já entrando no carro para trabalha (Inclusive a pizzaria ao se chamar “Goodfellas” a direção ainda faz uso vermelho da fotografia no embate entre Baby e Buddy  remetendo ao clássico de Scorsese). Assim como vale ressaltar a bela cena da conversa entre Baby e Deborah na lavanderia, cujas máquinas de lavar são uma metáfora a rodas em movimento , engrandecidas pelo movimentos coloridos das roupas ao fundo. Inclusive o diretor ainda é capaz de inserir um simpático plano sequência ao apresentar a rotina de Baby passeando pela cidade (quase com um clipe).

Enfim, Em Ritmo de Fuga pode até parecer meu prosaico, mas basta um mínimo de atenção  para saber que estamos diante de um obra com mais atrativos que possa aparentar.

Nota 4/5

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Rodrigo Rodrigues

Eu gosto de Cinema e todas suas vertentes! Mas não aceito que tentem rescrever a historia ou acharem que cinema começou nos anos 2000. De resto ainda tentando descobrir o que estou fazendo aqui!

5 thoughts on “Crítica: Em Ritmo de Fuga (Baby Driver)

  1. estilozinho mas enganadorzinho: nao convence… o terço final do filme perde totalmente a mão, e o que era inventivo vira clichê total

    1. Dandara
      Bem vinda

      Não acredito que tenha sido esta a intenção do filme, pelo contrário. Inclusive disse na critica que o filme se assuma com um divertimento escapista talvez,. A diferença é que a direção sabe conduzir sua narrativa de maneira diferenciada a maioria dos filmes do gênero.

      Abraços

  2. parece bom mesmo… será que vai criar um novo subgenero de musicais, como alguns andam prevendo por ai?

    1. Claudnei.

      Bem vindo
      Seu comentário foi bem interessante

      Particularmente não tenho ouvido muito sobre este aspecto. Todavia, não sei se Baby Drive poderia causar tal impressão, caso fosse. Admito que o filme usa a musica o tempo todo e inclusive tem um plano sequencia bem parecido com um clipe, mas longe de ser considerado um musical em si.

      Enfim , vamos esperar rs.

      Abraços e obrigado

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