Crítica: Afterimage (Powidoki)

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Direção: Andrzej Wajda

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Elenco: Boguslaw Linda,  Bronislawa Zamachowska,  Zofia Wichlacz Mariusz Bonaszewski, Szymon Bobrowski e Filip Gurlacz

(A crítica será um pouco menor que o habitual pois assisti no meio de tantos outros filmes durante o festival do Rio 2016, mas mesmo com atraso de um ano para chegar ao grande circuito, não poderia de expor novamente minha breve opinião sobre um dos melhores filmes do ano passado)

Infelizmente a coincidência falou mais alta e este foi o último filme de Andrzej Wajda. O diretor faleceu na semana anterior a exibição deste fabuloso Afterimage , que  trata sobre a repreensão artística, ideológica e pessoal que  o pintor Wladyslaw Strzeminsk  sofreu do governo de Stálin pós segunda guerra.

O filme não é somente um retrato sobre a deterioração de um artista influente, mas um sopro crítico em prol da necessidade da arte jamais ser usada para uma ideologia repressora.  Ou como disse o próprio protagonista, “A arte deve ser reconhecida não pelo utilitarismo, mas pela sua superioridade”. Isso não significa ser apolítica, pelo contário. Tal conceito é algo fundamental que aprendi com o Cinema é que nenhuma expressão artística em sua natureza se abstém de ser um plano para discussões de nossa sociedade e que vivemos.

A arte deve servir sempre ao povo, não aos governantes, como afirma o protagonista. Para isso é brilhante vermos o desenvolvimento do filme baseado na vida e obra do pintor polonês (russo de nascença e socialista) que mesmo amputado de uma perna e braço jamais desistiu de sua genialidade e de repassar seu conhecimento a gerações futuras.

Assim não ficamos indiferentes ao seu declínio causado pela perseguição do governo, que tirou sistematicamente suas forças pessoais e profissionais ao ponto de não ter um vale para comprar comida ou autorização para exercer a pintura. Onde tudo isso acarreta no já deteriorado relacionamento com a filha – a ótima Bronislawa Zamachowska numa atuação madura – ao demonstrar (mesmo que inutilmente), algum apreço ou sentimento que não seja um respeito misturando com um pouco de rancor do relacionamento dele com a mãe da menina. E obviamente a presença de Boguslaw Linda que transforma o protagonista num homem exalando dor e determinação através de sua face dura sem jamais perder sua identidade.

Andrzej Wajda não desperdiça um plano sequer para fortalecer a construção do personagem em qualquer local e para isso a belíssima fotografia de Pawel Edelman é engrandece com sua palheta cinzenta que engrandece todo aquele cenário de destruição em que a Polônia atravessava. Fora o simbolismo das mesmas com na cena em que o pintor amanhece com um grande painel de Stálin em sua janela e precisa literalmente cortá-lo para abrir sua visão ao mundo. Assim é interessantemente lógico que o longa seja iniciado com uma sequencia em que a cores vivas (e vida) se sobressaiam apenas na cena de abertura quando vemos o protagonista ensinando seu alunos no meio a natureza para logo em seguida cairmos nas cores dessaturadas que marcaram todo o restante do longa (com destaque para as cenas em que  o vermelho e  estrategicamente inserido, como visto no figurino da filha tendo ao fundo uma locomotiva também com toques vermelhos).

Arrastando e imergindo o espectador para seu término melancólico, Afterimage é uma obra irrepreensível de um diretor que  soube como poucos usar sua genialidade em prol da arte sem deixar de expor suas convicções ideológicas.

Cotação 5/5

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Rodrigo Rodrigues

Eu gosto de Cinema e todas suas vertentes! Mas não aceito que tentem rescrever a historia ou acharem que cinema começou nos anos 2000. De resto ainda tentando descobrir o que estou fazendo aqui!

2 thoughts on “Crítica: Afterimage (Powidoki)

    1. Vitalina
      Bem vinda

      Andrzej Wajda sim é um grande gênio do cinema. Agora suas obras são mais que nunca seu legado

      Abraço

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