Direção: Sam Mendes

Elenco: George MacKay, Dean-Charles Chapman, Billy Postlethwaite, Mark Strong, Colin Firth, Daniel Mays, Claire Duburcq, Andrew Scott e Benedict Cumberbatch 

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Nota 3/5

Em determinado momento deste 1917, dirigido por Sam Mendes e favorito ao Oscar 2020, fiquei tão envolvido com sua narrativa ao apresentar a ação como se fosse um longo plano sequência (e tentando identificar onde há os quase imperceptíveis cortes) que fatalmente coloquei o filme em um patamar ao lado, por exemplo, de O Resgate do Soldado Ryan e jamais diria que o filme não tenha qualidades estéticas para tal. Contudo, com o tempo, apesar de manter todas suas qualidades, era visível que a direção foi levada a se preocupar muito mais com a forma do que propriamente com o conteúdo – o que não chega a ser exatamente um problema por estarmos falando de um diretor de fotografia como Roger Deakins! Mas como o objetivo de uma crítica é mensurar tais características, não posso, infelizmente, apenas criar uma opinião sem apontar tais elementos.

Baseado nos relatos do avô do diretor, o roteiro aborda dois jovens soldados britânicos, Blake (Chapman) e Schofield (MacKay), incumbidos de entregar uma mensagem no interior da França – ocupada pelo alemães – e que impediria que 1.600 combatentes aliados (um deles o irmão mais velho de Blake) fossem vítimas de uma armadilha do inimigo. Assim, no meio do caminho, os jovens passarão por provações e conflitos diante dos horrores de uma guerra de escala jamais antes vista através, dentre outras coisas, da visão dos corpos de soldados mortos que talvez nunca sejam lembrados!

Mas neste momento, 1917 apresenta alguns problemas, mais precisamente em sua estrutura que, apenas do filme ter a intenção de soar como uma grande sequência, é visível que o longa tem alguns momentos de alívio parecendo mais uma mudança de lógica narrativa para começar um nova fase (entrando em conflito com a ideia do plano sequência inicial) sempre com a participação de um ator famoso (Colin Firth, Mark Strong e Benedict Cumberbatch) como se estes fossem “chefes de fase”. Inclusive, isso acaba tirando também um pouco da impessoalidade do filme, uma vez que os melhores momentos da obra, ao se mencionar exatamente o aspecto humano, ocorrem quando os dois soldados encontram-se sozinhos em suas caminhadas; o que acarreta, por assim dizer, uma certa sensação inócua durante o filme, como se Mendes tentasse criar um visão intimista e falhasse no contexto geral da guerra em si, por mais que a história seja uma jornada pessoal.

O que nos traze ao aspecto principal da narrativa: a fotografia de Deakins e como tal elemento é fundamental para apreciar a obra. Fora algumas interpretações que comentarei adiante, jamais me atreveria a desqualificar este como um trabalho menos inspirado do diretor de fotografia que é – com todos os méritos – um dos melhores de todos os tempos. Trazendo rimas visuais a todo momento (como o primeiro e último plano do filme), 1917 coloca Blake e Schofield constantemente em enquadramentos através de corredores, seja nas trincheiras tristemente nomeadas de “viela do paraíso” ou arames farpados, para buscar um respiro em planos mais abertos. Elogiável, inclusive, que a obra consiga impor um clima de tensão nos primeiros atos por não trazer inicialmente um inimigo visível, mas que poderia ainda estar a espreita a qualquer momento; além do mais, contando com um mise-en-scène que salta aos olhos, onde os atores e os movimentos de câmera formam um belo baile em conjunto, como visto no clímax em que Schofield adentra o campo de batalha. E mesmo que por momentos tudo soe um pouco esquemático, como no momento em que Schofield tem seu estado emocional simbolizado quando fica em sentido contrário aos outros soldados e somente quando se volta para a mesma direção eles concluem a tarefa de desatolar um caminhão, a obra ainda assim tem sua virtuosidade engrandecida pelo belo design de produção no aspecto das trincheiras e construções destruídas durante a jornada dos soldados.

O que nos leva ao ponto crucial da obra, quando há uma espécie de quebra na lógica narrativa; se durante um momento em que um personagem é atingido há uma espécie de “intervalo” no tempo fílmico, tal momento pode ser interpretado de duas maneiras. A primeira, como disse antes, como se ocorre uma quebra da narrativa (fato), mas – e essa é a segunda maneira de ver isso – acabo por entender também como uma breve passagem por um inferno onírico do ponto de vista de Schofield, com todos os seus conflitos e perdas vindo à tona ao encontrar uma sobrevivente, idealizando um momento, uma vida que provavelmente não terá, em momentos moldados por belíssimos planos, como aquele da cidade em chamas e um jogo de sombras projetada entre os destroços durante uma fuga de soldados inimigos.

Se chegamos ao final deste 1917 sem realmente termos a sensação de imersão completa naquele recorte histórico da humanidade, onde a direção não disfarça em assumir sua veia quase melodramática que tanto agrada a academia, é inegável que seu apuro técnico se destaca sobre esses outros aspectos. Mas até quando isso soaria gratuito? Difícil dizer, mas que há um leve pêndulo para o lado do espetáculo, isso há! Tanto que em um determinado momento em que há uma queda de um avião, me pareceu que Mendes estava dizendo: “Olha só essa sequência como é bem feita, poderia até usar um 3D aqui” (os planos de Mendes na maioria das vezes tem o campo de profundidade longo, o que é crucial para o uso dessa tecnologia).

1917 é belo e por momentos envolvente durante boa parte do tempo, mas como os tiros ricocheteiam nas paredes sem atingir seu protagonista de maneira inconceptível acaba causando um sensação de urgência apenas momentânea.

printfriendly-pdf-email-button-notext Crítica: 1917
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Rodrigo Rodrigues

Eu gosto de Cinema e todas suas vertentes! Mas não aceito que tentem rescrever a historia ou acharem que cinema começou nos anos 2000. De resto ainda tentando descobrir o que estou fazendo aqui!

10 thoughts on “Crítica: 1917

  1. agora que ja passou bastante tempo, ja podemos admitir que esse filme nao tem nada de mais né? que me diz, maxiverso?

    1. Davison
      Bem vindo
      Digamos que o filme tem seus méritos devido, obviamente, a fotografia (mesmo que seja um trabalho mais expositivo de Roger Deakins, é melhor que muitos filmes).

      Mas o filme esta aquém do que desejava ser ou tentou ser. Isso é fato!

      abraço e obrigado pelo comentário.

  2. muito muito estilo e pouco conteudo… se nao fosse o lance de tentar fazer tudo meio que imitando plano sequencia, o filme ia ser malhado por todo mundo por nao ter historia… ou nao ne, todos criticos amaram o novo Mad Max que tem ainda menos historia: é uma fuga burra pelo deserto com cenas de ação e fotografia e efeitos especiais, zero historia… qd vcs querem ignorar um defeito, vcs ignoram ne

    1. filme legal da pra se divertir, esquece isso de ser obra prima do cinema, melhor filme de guerra, plano sequencia o escambau, é um filme legal e divertido de ver

    1. Chefe
      Bem vindo
      É mais ou menos isso mesmo ! rs
      Abraços

  3. Rodrigo, você pegou duas coisas que eu também notei, e vi quase nenhum crítico falou, a semelhança com Resgate dp Soldado Ryan do Spielberg, aqui como Produtor não associado. E outra coisa foi a presença dos atores famosos, fazendo ponta, como se fosse o início e fim de uma época, se preparando para a próxima.

    Também notei algo legal, o filme começa no céu, com a câmera baixando pra o campo, e mostrando logo depois o soldado, e o fim é o inverso.

  4. Adriana nao é por defeito é analisar ue o critico analisa, se tem algo ruim ele fala, e nem é o caso ele elogiou o filme e colocou como favorito ao Oscar ainda

    1. Carlos ,
      Bem vindo
      Obrigado pelo comentário. Não responderia melhor!
      Abraço

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