Resenha: Estação Terra
Título: Estação Terra
Autor: Odimer F. Nogueira
Editora: Chiado
Ano: 2015
Páginas: 168
Um gênero de pouca visibilidade e reconhecimento para autores brasileiros, a ficção científica pode render boas surpresas para aqueles que se esforçam para garimpar obras de qualidade, sem se apegar aos filtros de nacionalidade e reputação dos autores.
Estação Terra, de Odimer F. Nogueira, é um bom exemplo disso. Publicado pela Chiado Editora em 2015, o livro dificilmente é encontrado em livrarias de pequenas cidades, e as resenhas da Internet ficam quase restritas aos veículos específicos do sci-fi, mas é uma obra que vale a pena para o fã do gênero, principalmente para aquele leitor “das antigas”, apreciador da FC old school.
Por conta da formação e das atividades profissionais do autor (formado em biomedicina e direito, professor e dono de laboratório médico), a história abraça diversos campos do conhecimento humano, procurando embasar e fundamentar seus fatos de forma científica, o que confere uma boa aura de verossimilhança à história do personagem Hermes, que passa por um clássico caso de abdução alienígena para se descobrir incumbido de dar ciência ao mundo todo da existência de uma nova “raça” de seres humanos, se é que podemos assim dizer.
Essa nova raça de humanos deseja não só contatar a “nossa”, como ainda interagir conosco e mudar diversos aspectos da nossa sociedade, melhorando as condições de vida na Terra e propiciando um futuro melhor para todos. Mas está a humanidade “convencional” pronta para receber uma dádiva dessas? O interesse político, comercial, a busca pelo poder, o egoísmo, a falta de cuidados com o meio ambiente, a fauna e a flora, podem ser fatores que acabem por nos fazer desperdiçar essa chance incrível de evoluirmos e melhorarmos.
Permeado de reflexões acerca do comportamento tipicamente humano diante de situações em que o bem comum acaba relevado diante de questões “mundanas”, a aventura gera diversas constatações sobre o quão ainda somos primitivos em nossa índole, ainda que tecnologicamente já tenhamos evoluído bastante.
Conduzindo a narrativa de forma bastante aprofundada nas questões citadas, Estação Terra mostra-se à altura da missão a que ela própria se propôs, de ser uma ficção científica ao estilo cautionary tale, um libelo ecológico e humanitário, cientificamente embasado e bastante interessante.
Curiosidade: o nome do protagonista é uma referência ao Hermes da mitologia grega, deus possuidor de diversas habilidades (em contrapartida aos deuses de “uma só coisa”, como deusa do amor, deus do vinho, etc). Enquanto o Hermes mitológico era o deus da comunicação, da hermenêutica, da divinação, dos ladrões, das viagens, do comércio, da ginástica, da astronomia, da magia e dos diplomatas, além de ser guia das almas dos mortos para o reino de Hades e mensageiro dos outros deuses, o Hermes do livro tem conhecimento de ciências genéticas, cibernéticas e biológicas e é escolhido pelos “alienígenas” para levar sua mensagem ao resto da humanidade.
Ralph Luiz Solera
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