Direção: Patty Jenkins
Elenco: Gal Gadot, Chris Pine, Connie Nielsen, Robin Wright, Danny Huston, Elena Anaya, Lucy Davis, Saïd Taghmaoui, Ewen Bremner, Eugene Brave Rock, Lilly Aspell e David Thewli
Uma das maiores representantes femininas da cultura pop e nascida dentro de um universo predominantemente masculino, Mulher Maravilha não é somente um símbolo, mas, como tal, um expurgo da pouca representatividade da mulher, uma vez que a personagem não tem o mesmo alcance de outros super-heróis. E ao contrário de outros ícones como Batman e Superman, o pouco que temos como produto audiovisual (que é o que nos interessa para a discussão) depois de décadas após a criação da personagem, é a série estrelada por Lynda Carter ainda nos anos 70 – e que por mais memória afetiva que se faça presente, convenhamos não ser um dos melhores exemplos narrativos.
Contudo, este Mulher-Maravilha estrelado pela bela Gal Gadot acaba cumprindo aquilo que se espera do filme relacionado à representatividade feminina dentro do contexto, mesmo tendo na direção de Patty Jenkins uma narrativa irregular e pouco criativa, como o uso de câmeras lentas insuportáveis, trilha sonora, planos e diálogos expositivos (“lutar não a faz heroína”, “Você é mais do que pensa”) e vilões extremamente dispensáveis – parecendo que a influência (sintomas) de Zack Snyder é maior do que se pensava. Tanto que um destes exemplos surge logo nos minutos iniciais como na cena que deveria ser engraçadinha, mas que soa expositiva, com a presença da atriz mirim gesticulando ao imitar as guerreiras durante um treinamento (isso quando a atriz não fala inclinando a cabeça para o lado para forçar empatia e doçura).
Outro grande problema, por exemplo, é que se vendo na obrigação de personificar um vilão “a altura”, o longa o faz de maneira tão desinteressante que com o tempo se prova um grande desnecessidade. Uma vez que a construção da heroína se faz pela superação dos seus limites e um auto descobrimento, sem necessariamente lutar contra uma personificação humanoide – algo que Superman de Richard Donner fez brilhantemente em 1978. Assim, os personagens do General Ludendorff (Huston) e Dra. Maru (Anaya, com uma máscara para lá de medonha) são tão caricatos que sequer temos uma compreensão clara do que realmente eles são (principalmente o primeiro), pois se resumem a passarem o filme todo criando venenos para armas biológicas. Tanto que a direção (parecendo ciente disso) resolve dar um plot twist no clímax que não causa tanto impacto – algo que comentarei um pouco mais no final do texto.
Nascida numa ilha paradisíaca e treinada para ser a melhor guerreira do local, Diana (Gadot) decide partir para o mundo dos homens a procura do “Deus da Guerra” e acabar com o conflito após as habitantes da ilha serem atacadas pelo alemães que perseguiam o capitão Steve (Pine) durante a 1° Guerra Mundial, após a queda do avião deste. O roteiro de Allan Heinberg transforma o longa numa espécie de grande flashback e, ao mesmo tempo (claro), num filme de origem (jornada da heroína), onde é visível a necessidade de se conectar ao universo de BvS de maneira abrupta pelo fato da personagem ter surgido nos cinemas sem um filme solo anterior. Como, devido ao abordagem, seja impossível não associarmos ao mesmo contexto visto em Capitão América: O primeiro Vingador, que também usou um conflito armistício como o pano de fundo.
Diana incorpora uma responsabilidade de uma mulher ”moldada através do barro” trazendo o peso do mundo em suas costas ao enfrentar os horrores das guerras que vitimam inocentes. Assim quando os “homens exercem seus podres poderes” brincando com vida alheias atrás das mesas, Diana expõe suas dores e exemplos de como o mundo poderia caminhar para uma visão diferente se fosse pautado mais em sentimentos altruístas e basicamente naquilo que nos tornam tão especiais: o Amor. Abordagem simplista? Sim, mas não descartável neste caso. Tanto que os melhores momentos são justamente aqueles em que a dinâmica de Diana e Steve se faz presente, principalmente contando com o apoio do trio formado por Said Taghmaoui, Ewen Bremner e Eugene Brave Rock. Mas neste momento surge um impasse, pois sendo Steve tecnicamente o protagonista do filme (ele move as ações e o ator é fundamental para a empatia do filme) não seria isso uma contradição a presença da (inexperiente) Gal Gadot? Ou seria a intenção da diretora equilibrar os gêneros?. E Gal Gadot transita bem entre a imprudência jovial por enfrentar um mundo ainda não visto, ao mesmo tempo em que não é tida como total inocência pelo conhecimento dos aspectos biológicos da reprodução humana fazendo com que o filme funcione justamente naquilo que o gênero parece sempre querer ocultar: aspecto humano (e o mesmo abrindo uma margem óbvia de romance entre Diana e Steve aqui não se torna um problema por servir bem à motivação de heroína).
Contudo, com relação à questão do universo feminino, acredito que alguns pontos merecem o destaque não pela complexidade, mas quando ele se propõe a inserir tal contexto de maneira não tão óbvia – e mais eficaz. Como o fato, de ao descobrir o potencial de seus poderes durante o treinamento, tal cena seja vista como um afloramento, um rito de passagem para a vida adulta (“Ela está sangrando”). E claro, as piadas ironizando a misoginia (“Coisinhas” que dizem o que os homens devem fazer e que eles não são necessários para o prazer) são pontuais a ponto de servirem à narrativa e o contexto feminista. Narrativa esta que tem na fotografia de Matthew Jensen uma palheta correta em sua concepção (pelo menos não tão cansativa como visto em BvS) ao inserir o amarelado para quente quando as cenas ocorrem no deserto do império Otomano e a maior parte (como não poderia deixar de ser) a palheta azulada, acinzentada representando uma Londres melancólica. Ademais, o design de produção é um dos destaques da narrativa e comprovando que não precisa ser expositivo para ser bem sucedida, como podemos ver na detalhada reconstituição de época, principalmente seus portos com navios trazendo os sobreviventes de guerra para uma cidade em ebulição e super povoada.
Mas o figurino de Mulher Maravilha merece um comentário a parte por trazer um tipo de informação importante, um desafio para dentro de sua narrativa. O trabalho de Lindy Hemming o faz de maneira contextualizada e elogiável, como podemos comprovar na sequência em que Diana experimenta as roupas femininas do início do século XX. Além de servirem com alívio cômico pelo choque cultural, a cena é vista como uma crítica à opressão feminina através de seus corpetes, várias camadas de saias e vestidos longos, assim a pergunta “Como as mulheres conseguem lutar vestidas assim?”, a palavra “lutar” ganha um contorno simbolicamente maior. Como é interessante a cena em que Diana e Steve são atacados por espiões fazer uma referência clara a sequência de Superman em que Clark Kent salva Lois Lane de um assalto (inclusive, ao apostar num visual de figurino clássico – tipo um Noir – , acaba remetendo a mesma lógica usada no filme de 1978 que apostou neste visual ao “transformar” Christopher Reeve em Cary Grant).
E ratificando, se os melhores momentos são vistos em seu segundo ato, quando o filme consegue trabalhar a dinâmica dos personagens principais, é uma pena que em seu clímax a direção se vê “obrigada” a inchar a narrativa com explosões além da conta apenas para atender sua convenções. Até a abordagem à condição humana, a representatividade feminina dentro da obra, tende a conflitar com uma camada pouco criativa – algo comum dentro do gênero de obras baseado em quadrinhos. Todavia, isso não enfraquece as críticas a um mundo misógino e a luta por igualdade de gêneros. Portanto, Mulher Maravilha não é um obra que passa impune de suas irregularidades cinematográficas (mesmo com bons momentos), entretanto isso não significa que o longa não possa entrar num hall de exemplos (esperamos que cada vez mais presente) da representatividade que simboliza.
Rodrigo Rodrigues
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É um excelente filme! Sinceramente os filmes de ação não são o meu gênero preferido, mas devo reconhecer que Mulher Maravilha superou minhas expectativas, é uma história sobre sacrifício, empoderamento feminino e um sutil lembrete para nós, humanos, do que somos capazes de fazer uns com os outros. Adorei está história, por que além das cenas cheias de ação extrema e efeitos especiais, realmente teve um roteiro decente, elemento que nem todos os filmes deste gênero tem. É impossível não se deixar levar pelo ritmo da historia. Eu recomendo muito.
Como disse o Rodrigo Magalhães, o papel do crítico é apontar as questões técnicas do filme e, dentro disso, traçar um quadro a respeito da qualidade do mesmo, mas gostar ou não da obra é algo muito pessoal. Eu adorei WW, achei empolgante, vibrante, comprei a ideia, a quimica da dupla funcionou muito bem pra mim, e mesmo o terceiro ato achei bom (apesar que um pouco abaixo do resto), pois como leitor de HQ, vi ali uma HQ em movimento (algo que eu ja tinha visto em BvS, mas BvS é um pouco pior). Até o Ares eu curti. Adorei WW… DC finalmente no rumo certo, já dá pra brigar com a Marvel.
Walter Conchetto
Bem Vindo
Agradeço suas palavras com relação a respeito do trabalha do crítico. O crítico não esta ali para dizer se você deve gostar ou não , e sim mostrar um olhar cinematográfico para o leitor e o mesmo se atentar para um senso mais apurado. E assim expandir a discussão sobre o filme e cinema em si.
Abraço
Vejo muita gente (não aqui, mais no Facebook e outros sites, aqui é mais de boa) comentando impropérios nas críticas, coisas como “se o crítico falou mal, o filme é bom” ou então “opinião de crítico não vale nada”, e outras babaquices… deixando de lado a questão de perguntar porque um estúpido desses resolve ler (e comentar) críticas se não dá a elas valor, o que é um mistério insondável, ainda falta explicar pra essa gente (ou falta eles entenderem, apenas) que um crítico analisa e expõe os aspectos técnicos de um filme, e se esses aspectos são ruins tecnicamente, ele só está informando isso, ele não está dizendo que o cidadão tem ou não tem que “gostar” do filme (ou mesmo ver os mesmos problemas)… mas não, essa zé roelada “pega mal” quando a crítica “fala mal” do filminho de estimação deles, vê isso como uma afronta pessoal, fica doída, ofendidinha, acha ruim e sente que precisa “defender” o filme do coração… tem que ter muita paciência pra lidar com esse bando de imbecil, essa que é a verdade. Meu filho, a crítica te informa se o filme é adequado ou não aos manuais técnicos, só isso (claro, com uma pitada de pessoalidade e opinião, já que toda experiência depende da bagagem de quem passa pela experiência). Você é livre pra discordar da crítica (ou não). Você é livre para gostar de um filme mesmo que a crítica aponte problemas nele. Seja feliz e não encha o saco dos outros.
Alguém dê um prêmio pro Rodrigo e imprime esse comentário pra eu assinar embaixo por favor.
Rodrigo
Bem vindo
Realmente seu comentário é bem explicito com o que acontece hoje em dia.
A crítica não deve ser visto como um manual do que ver ou não ver e sim expandir a discussão sobre cinema e o filme em si, baseado em critérios técnicos , contexto histórico e um a experiência do critico em si (não confundir como opinião subjetiva).
Assim como nao deve dizer se o leitor deve gostar ou não de um filme, mas a partir do momento que ele diz que o filme é bom , neste caso, abre margem para discordar com os aspectos citados acima.
Abraço
mas que catso, so vejo gente reclamando de feminismo, empoderamento, representatividade, será possível que não dá pra anlisar o filme pela HISTORIA apenas???????????? o critico analisou o aspecto tecnico do filme, e é isso que importa, se é bom como filme, se a historia é boa, se os efeitos especiais são bons, se tem bons diálogos… se JUNTO disso ele mostra que as mulheres podem ser protagonistas, OTIMO, mas a analise de um filme tem que ter por principal objetivo analisar o FILME hehehe eita gente chata… a proposito, gostei muito do filme, e nem vi o final como algo ruim como dizem, pra mim foi tudo meio fabulesco mesmo, então ta dentro, ta valendo… curti bastante 🙂 <3
Edu Bispo
Obrigado pelas palavras (elogios) e comentário
Quanto às reclamações sobre empoderamento, representatividade e feminismo, apenas ratifico que devem entrar sim na análise de um filme. Não podemos esquecer que ”Todo bom filme é também um documentário sobre sua época” . Até porque quando analisa um filme, o crítico (fora as questões técnicas) devem também atentar em conjunto para o contexto social e histórico e como isso pode ser interpretado pelo público (mas jamais assumir como interpretação única)
Abraço
fui assistir ontem e gostei… mas é visível que a boa vontade dos criticos em geral se dá por ser de uma mulher como protagonista… o mesmo filme com o Superman de personagem principal seria estripado sem dó pelas câmeras lentas, enquadramentos e pelo vilão final… mas como tem um viés feminista, uma bandeira, um algo a mais, acho que minimizam os defeitos e enaltecem as qualidades para que a bandeira do empoderamento se faça valer, afinal, se o filme fosse um fracasso de publico e tb se fosse detonado pela crítica, o próprio feminismo perderia com isso, e aí não pode… é o que eu acho… 🙂 agora vou ler o artigo da Mulher Maravilha nos quadrinhos
Drica
Bem Vinda,
Vou até repetir em partes o que respondi no comentário anterior.
Eu acredito que os críticos não sejam um elemento unicelular cuja opiniões sejam iguais. Assim, não posso falar pelos outros críticos , até porque a qualidade de um filme não se deve ser analisada por ser protagonizado por um homem ou mulher. Um filme deve não deve ser analisado “Pelo o que ele é” e sim ” Como ele é sobre o que ele é”.
Apesar de não ter gostado de BvS (inclusive apontei na critica , disponível no site, o final fraco e vários outros problemas narrativos), outros filmes protagonizado por homens (dentro do filmes baseados em HQ) me agradaram muito como ‘’Logan”, ”Capitão América 2”’ e, por exemplo, ”Cavaleiro das Trevas”.
E sobre a Mulher Maravilha em si , eu não ocultei nada sobre alguns aspectos da narrativa que não me agradaram , pelo contrário fui até acusado de ter pego pesado. Portanto , verás que apontei problemas do roteiro, fotografia, movimentos de câmera etc.
Quanto ao feminismo ser prejudicado por um filme ruim , há um equivoco na sua afirmação. Não é isso que prejudica o feminismo no CINEMA, e sim o pouco espaço dado as mulheres. Até porque se as mulheres tivessem o mesmo espaço dos homens, obviamente, teríamos mais filmes ruins e bons ao mesmo tempo – e , repetindo, devemos analisar o filme independente de quem o protagoniza. Um exemplo é o filme “As Caça Fantasmas” que muitos usaram os problemas do filme para mascarar o machismo e atacar o filme sem usar argumentos que não fosse o fato de serem protagonizado por mulheres.
Contudo, como obra de arte não apolítica, o CINEMA sempre será um reflexo da sociedade atual. Ou como dizia o diretor Francês Eric Rohmer : ” Todo bom filme é também um documentário sobre sua época ”. Assim, para o bem da humanidade (mesmo que tardio), espero que a representatividade feminina tenha cada vez mais espaço na arte e , no caso, nas produções baseadas em HQ inclusive (sejam elas obras boas ou ruins). Assim e ratificando, como arte ( algo que reflete diretamente nossa sociedade) o CINEMA e as avaliações sobre as obras em si devem considerar isso sempre.
Empoderamento não é crime, e o CINEMA , como uma arte não apolítica, deve cada vez mais abrir espaço para que o público se identifique e com isso contribua para uma sociedade mais justa, menos misógina e menos machista.
Abraços e espero que goste do artigo sobre quadrinhos.
Abraços
Se esse filme fosse com um herói masculino, acho que os criticos iam descer a lenha… mas como é a Maravilha, como tem ‘repesentatividadi’, ai dão um descontos pros problemas, pros erros, e até pro final toscão… lamentável
Sabichão ,
Eu não entendo como algumas pessoas adoram interpretar críticos como um elemento unicelular cuja opiniões sejam iguais. Assim, não posso falar pelos outros críticos , até porque a qualidade de um filme não se deve ser analisada por ser protagonizado por um homem ou mulher. Um filme deve ser analisado por ‘Como ele é’ e ‘’não pelo o que ele é”.
Ratificando que apesar de não ter gostado de BvS (inclusive apontei na critica o final ”Toscão”), outros filmes protagonizado por homens (dentro do filmes baseados em HQ) me agradaram muito como ‘’Logan”, ”Capitão América 2”’ e, por exemplo, ”Cavaleiro das Trevas”
Quanto a Mulher Maravilha, eu não ocultei nada sobre alguns aspectos da narrativa que não me agradam, pelo contrário. Portanto , se você realmente leu o texto (acredito que não) verá que apontei problemas do roteiro, fotografia, movimentos de câmera etc.
Quanto ao fato de um possível benevolência pelo fato da ‘repesentatividadi’ da personagem, segue um pequeno detalhe sobre a história do cinema. Como diria o diretor francês Eric Rohmer : ” Todo bom filme é também um documentário sobre sua época ”.
Assim, para o bem da humanidade (mesmo que tardio), espero que a representatividade feminina tenha cada vez mais espaço na arte e , no caso, nas produções baseadas em HQ. Espaço este (assim como em nossa sociedade em geral), seja cada vez menos ocupado por mentes misóginas, preconceituosas e machistas.
Abraços
Luiz Carlos,
Bem vindo novamente
Acho que ficamos confusos. rs
Bem, quanto ao achar que há opinião pessoal mais do que técnica ou certo exagero é o seu direito. Eu procuro analisar um filme através da questão técnica (através de estudos sobre cinema), referências históricas e claro experiências pessoais – entretanto, não confundir isso como um analise subjetiva. Não existe uma opinião mais certa que a outra, mas quando diz que gosta de um filme , deve faze-lo pelo motivos certos
Assim, se para você funcionou um clímax de Superman e ainda insiste que “Fora o fato de ser algo genérico (acrescido do excesso digital) e sem personalidade e servindo apenas para tentar criar um clímax que aquela altura já não há qualquer identificação (algo importante dentro do roteiro) com o ocorrido..” , seja somente uma opinião pessoal , não muito que eu possa fazer para mudar.rs.
Quanto a necessidade de ser obrigatório o uso de um elemento monstruoso, devo discordar. Citei o exemplo de Superman de 1978. E podemos até mesmo pegar um filme recente que transite pelas dois mundos (“monstro” e “sem monstro”) que é o caso do “Cavaleiro das Trevas” , cujo contexto falando sobre medo e paranoia é engrandecido com a presença de um vilão (coringa no caso)
Quanto ao gênero ter como alvo principal “homem branco e leitor de quadrinhos”, peço certo cuidado ao pensar assim. A questão da identificação dentro do cinema (olha a parte técnica aí) passa além da questão do gênero masculino e feminino. Pois caso não fosse, um homem não se identificaria com um filme protagonizado por mulheres e vice versa. A identificação esta relacionada aos acontecimentos, os conflitos e dramas (e como são desenvolvidos) , mais do que precisamente com relação ao sexo da pessoa. Eu posso me identificar muito mais cm um drama de um casal de meninas (“Azul é a cor mais quente”) que um filme estrelado por um homem branco (independente do gênero do filme).
(Fora que tal pensamento reforça a ideia de que mulheres não podem gostar deste tipo de filme. Inclusive o site cobriu um evento sobre mulheres quadrinistas)
E concordo em parte quando diz que os filmes se tornaram escravos deste formato. Todavia, a maior parte desta culpa é ainda dos realizadores que não confiam na inteligência do público e apostam sempre de modelos engessados. Inclusive, quando um filme “sai da caixinha” (vide “Cavaleiro das trevas”, “Logan”, por exemplo) são tão bem sucedidos quanto.
Ademais, cabe o público entender que cinema é muito mais que filme baseado em HQ. E quando isso acontecer , esta “escravidão” poderá ser menor e quem ganhará com isso é o próprio espectador.
Abraços
concordo com tudo… o final realmente destruiu tudo que o filme construiu antes, lamentável, só não é pior que Esquadrao Suicida na DC, uma pena… essa bandeira de feminismo pelo menos ficou no ponto certo, se virasse um manifesto feminista ai o filme ficaria um horror
Alex Dias.
Bem vindo
Obrigado pelo comentário e elogio.
Quando ao filme “não é pior que Esquadrão Suicida” (com o tom de “somente”) acho que é um pouco forte demais. Mulher Maravilha é melhor , mesmo como a irregularidade narrativa, que muitos outros filme. Mas se sua opinião é esta , tenho que respeitar.
Quanto ao “essa bandeira de feminismo pelo menos ficou no ponto certo” discordo veementemente. Pois acredito que nenhum homem , por mais bem intencionado que seja jamais poderá dizer o que seria um limite para tal. Até porque o homem “Impor um limite” , para qualquer situação que seja quando envolve uma mulher, é justamente uma das lutas do movimento feminista.
Fora que ao dizer que ” se virasse um manifesto feminista seria um horror” demonstra que ainda precisa (ratificando) entender e respeitar mais a questão do feminismo . E mesmo que fosse, cinematograficamente falando, seria um erro ainda maior. Um filme deve ser analisado pela maneira que é conduzido e não pelo assunto em si.
Abraços
Luiz Guedes
Bem vindo
Se acha que exagerei na conotação dos defeitos e minimizei as qualidades tem todo o direito e respeito, até porque a criítica existe por definições e visões diferentes. Entretanto, jamais pode me acusar (não sei quanto a outros críticos porque respondo somente por mim) que não uso os mesmos filtros ao analisar outras obras.
Eu tenho o mesmo cuidado, respeito devido e atenção ao escrever um filme independente do gênero ou temática. Tanto se reparar nas outras críticas do site (dos mais diversos filmes) verá que uso a mesma lógica baseada em regras e critérios cinematográficos.
(Lembrando sempre que um filme dever ser avaliado através do “como ele é” e não “pelo que ele é”)
Jamais irei desgostar ou gostar de um filme (algo que o bom crítico deve sempre fazer) por ele ser baseado em HQ ou outra fonte. Posso gostar de filme como “Logan”, “Guardiões da galáxia”, “Cavaleiro das Trevas” e não gostar de “Bvs”, “Esquadrão Suicida” etc. Todavia e ratificando, como crítico, eu apresentarei os motivos que me levaram a minha opinião baseados em critérios cinematográficos. E caso alguém discorde (tem todo o direito) deverá confrontar usando as mesmas regras e não porque não está fiel ou, como disse, “tãaaaaao normal’, “Cartunesco” ou ” tão comum nos quadrinhos”
Assim, me parece ocorrer o mesmo problema de muitas pessoas tem com relação a filmes baseados em HQ e/ou outras mídias . Independente da origem o que deve ser levando em conta que o cinema é uma linguagem e tem um gramática completamente diferente e própria, com seus contextos históricos e regras . Portanto, um filme baseado em HQ, livros ou games deve respeitar tais elementos.
Não tenho problema com monstros como apocalipse, vilões mascarados ou que quer que seja – inclusive citei acima filme de super-heróis que gosto. Ademais, existe um elemento do cinema (algo que tais filmes parecem desrespeitar) chamado “poder da descrença”. Ou seja, a partir do momento que o filme me convença que algo seja necessário (através da construção dos personagens, do desenvolvimento da historia, de como os elementos narrativos se encaixam etc.), aí sim irei “comprar” a ideia de maneira natural. Ou seja, vou gostar não porque é um filme baseado em quadrinhos, mas porque me convenceu – e principalmente- me envolveu com a história.
Abaixo uma frase, tirado dos manuais do roteiro de Sid Field, que pode ajudar a discussão:
“Quando você adapta um romance, peça de teatro, artigo ou mesmo uma canção para roteiro, você está trocando uma forma pela outra. Está escrevendo um roteiro baseado em outro material. Em essência, entretanto, você ainda está escrevendo um roteiro original. E você deve abordá-lo da mesma maneira…”
Abraços
entendo seu ponto, mas acho que há um exagero no rigor em certos casos… mas no caso, que criterios cinematograficos foram usados pra dizer que o Ares (ou o Apocalypse em BvS) foi ruim?
acho que exagerou na conotação dos defeitos e minimizou as qualidades… vcs criticos as vezes precisam usar nos filmes de heróis o mesmo filtro que usam em outros gêneros, por exemplo, quando avaliam uma comédia besteirol como Corra que a Polícia vem Aí, vcs relevam os absurdos mostrados, tendo em conta que se trata de uma comédia quase surrealista… já qd é um filme de super-heróis, isso não ocorre, por exemplo, os vilões dos quadrinhos são cartunescos mesmo (daí o adjetivo, inclusive), e são assim pq qd se criou o gênero era pra suavizar a “realidade” mostrada nos gibis pra que a moral da história fosse mais enfatizada para os leitores (a maioria, crianças)… as vezes se cobra demais esse lado nos filmes de heróis, igual o Apocalypse no fime BvS, muitos acharam cartunesco, exagerado, fraco, desnecessário… puxa, mas é algo tão quadrinhesco, tão comum nos quadrinhos, tãaaaaao normal, que foi simplesmente passado pras telonas… fica a reflexão
Luiz Guedes
Bem vindo novamente e acredito que suas dúvidas e questionamentos são válidos. Se não fosse para gerar uma discussão (sadia) a crítica não serviria para nada. E se você acha que há excessos e certo rigor em alguns casos, você este certo em apontá-los para engrandecer o debate – não somente em filmes baseados em HQ e até mesmo em outros generos.
A troca de experiências e visões faz parte de um debate democrático para chegarmos a um bem comum
Queria ratificar que no site existe um texto que complementa a discussão iniciada ontem. Caso seja do interesse segue o link (http://maxiverso.com.br/blog/2016/04/13/porque-os-criticos-nao-gostaram-de-batman-vs-superman/)
Voltando ao seu questionamentos (“Que critérios cinematográficos foram usados pra dizer que o Ares (ou o Apocalipse em BvS) foi ruim?
Primeiramente, não sou contra a qualquer tipo de personagem (Ares ou Apocalipse).
No caso de BVS o filme é uma bagunça narrativa com seus flashbacks (flashfowards), palhetas de core sempre uníssonas (não que isso seja um defeito, mas no caso de BvS pelo excesso soa cansativo), diálogos dispensáveis e expositivos, movimentos de câmeras rápidos e cortes abruptos que não permitem uma boa mise-en-scene, uma montagem cansativa que parecia que os realizadores não sabiam o que fazer depois com o material filmado.
Tanto que mesmo tendo longos 150 minutos ainda lançaram uma versão em DVD com mais 30 minutos dizendo que faz mais sentido, ou seja, se um filme não consegue ser claro com 150 minutos e ainda precisa de mais 30 significa algo errado.
Assim, a existência da criatura do apocalipse quase um resultado dos fatos acima. Fora o fato de ser algo genérico (acrescido do excesso digital) e sem personalidade e servindo apenas para tentar criar um clímax que aquela altura já não há qualquer identificação (algo importante dentro do roteiro) com o ocorrido.
Quanto à mulher maravilha, mencionei no texto em que os “vilões preliminares” são descartáveis, pois baseado no bom desenvolvimento do roteiro é visível que são mal aproveitados e até frágeis em suas composições (um dos princípios básicos do roteiro é a construção dos personagens). Pior, ao usá-los, como base para um plot twist (reviravoltas inesperadas dentro de uma história) acaba criando um efeito contrário, ou seja, em vez de atrair o público acabam tornando, ao analisar contextualmente, a experiência cansativa.
O que acaba chegando ao vilão “Ares” em si, pois, usando a mesma lógica de BvS, acaba sendo apenas para atender um convenção do roteiro em ter que criar um vilão no final para o embate.
Não estou dizendo que isso é errado , mas no caso de Mulher Maravilha se torna tudo um espetáculo mais para os olhos que para a mente. Inclusive citei um exemplo, Superman de Richard Donner, que eleva o desafio do herói sem necessariamente se personificar em alguma criatura ou entidade.
Enfim, espero que tenha engrandecido o debate
Vc me confundiu pq respondeu uma mensagem minha na outra e vice versa (ainda to confuso kkk) mas o que eu acho é que há mais questão de gosto pessoal do que técnica no que vc disse, e isso reforça minha tese de que há exagero em uns casos e aceitação demais em outros. Qd eu perguntei os criterios tecnicos que desmerecem o Apocalypse vc listou edição, direção e outros problemas gerais do filme, e qd chegou na hora de falar do monstro disse “Assim, a existência da criatura do apocalipse quase um resultado dos fatos acima. Fora o fato de ser algo genérico (acrescido do excesso digital) e sem personalidade e servindo apenas para tentar criar um clímax que aquela altura já não há qualquer identificação (algo importante dentro do roteiro) com o ocorrido.” Como notamos, trata-se de uma questão pessoal e não técnica. Pra mim o clímax funcionou, e o monstro não se mostrou genérico (questão pessoal tb). Imagino que se fosse um monstro que de algum modo te levasse a invocar memorias afetivas de sua infancia, por exemplo, vc gostaria. A convenção que vc critica eu tb critico, porem o filme Superman – O Retorno mostrou que nesse genero é “necessário” uma luta fodastica final, senão o público não gosta do filme… pelo menos o público alvo principal do filme, claro, nao podemos generalizar. O público alvo principal é jovem, homem, leitor de quadrinhos ou admirador dos quadrinhos e seus personagens. Agora os filmes se tornaram escravos desse formato.