Crítica: Elvis & Nixon
Elvis & Nixon
Direção: Liza Johnson
Elenco: Michael Shannon, Kevin Spacey, Alex Pettyfer, Johnny Knoxville, Colin Hanks e Evan Peters
Em dezembro de 1970, Elvis Presley se encontrou com o então presidente americano. Mesmo com Nixon tendo o hábito de gravar todas as conversar em seu gabinete (e dos outros), a transcrição da conversa do inusitado encontro entre duas das mais poderosas figuras da época se tornou uma lenda nos bastidores devido ao seu desconhecido teor.
Tais circunstâncias serviram como brecha para este Elvis & Nixon se tornar um embate surreal, com tons fabulescos e momentos de humor extremamente funcionais. Servindo não apenas como um estudo do próprio protagonista e aqueles que o cerca, como um tom crítico contra o próprio comportamento do então ocupante da Casa Branca.
Tomado por sentimento nacionalista Elvis (Shannon) decide entregar um carta ao Presidente oferecendo ‘seus serviços’ em prol da juventude contra as drogas. Mas para isso era desejo que fosse nomeado ‘Agente secreto Geral’ para ficar ‘disfarçado’ no Show business e tivesse poder de agir com um agente da lei e prender que cometesse um crime contra os jovens e os bons costumes americanos.
Devido aos seus conflitos internos e objetivo (que contextualmente aqui é o menos importante) chegamos a ter, por momentos, certa penas pela sua soberba inocente, uma identificação pelas suas atitudes que soam quase como uma saga ‘Quixoteana’, em busca de algo que somente faz sentido dentro do seu mundo de fantasias.
Michael Shannom que poderia ser uma escolha errada para o papel principal por sua expressão mais rústica não combina em nada com a aparência de Elvis Presley. Mas, entretanto é justamente aí que a escolha não compromete e abre uma interessante metáfora.
Em determinado momento, ao encontrar alguns sósias dentro de um aeroporto indo para algum concurso , o próprio Elvis é caçoado por não se aparentar com ‘ele’ mesmo. Mas o fato de que na época o próprio artista começou a se tornar uma caricatura de si mesmo, podemos indagar quem realmente era Elvis (o próprio filme faz questão de mistificar ainda mais a sua imagem pelo fato de jogar sempre a dúvida se ele alcançou seu objetivo junto ao presidente).
Um homem que se afastou de suas origens e influências musicais que tanto o ajudaram em sua formação, principalmente a música negra americana. Sempre que em contato com um personagem negro, ele é visto em posição contrária ou com estranhamento, como visto na cena que ocorre dentro de uma lanchonete. Uma sutil e importante detalhe dentro de uma narrativa crítica do filme.
Assim o roteiro de Hana e Joey Sagal desenvolve de maneira delicada o conflito do cantor que jamais conseguir fugir da fama e que mais precisamente no fim de carreira ficou eternamente preso na própria imagem, ou como o próprio dizia: ‘Ninguém mais consegue vê aquele menino de Memphis’.
Não somente a atitude diante do público que o incomodava, mas o fato de que ele mesmo era um fardo para os poucos amigos que o cercava. Como vista no depoimento do personagem Jerry (Pettyfer) que era visto como alguém sem nome ou apenas o ‘amigo de Elvis’.
Sempre tratado como uma divindade pelo fãs ainda fiéis, Shannom jamais economiza nos gestos de seu Elvis diante do público, como sempre tivesse no controle da situação e das pessoas que o cercam e jamais cai no ridículo por se manter fiel ao papel sem exagerar e com um bom timming para os momentos de humor.
Do outro Kevin Spacey está ótimo como Nixon, não somente pela leve e suficiente caracterização que nenhum momento nos deixa de acreditar que estamos diante do ex-presidente. Mas também pela postura relaxada e trejeitos combinam com o tom despretensioso dado pela direção.
Sendo um tom mais fabulescos, o figurino não economiza na caracterização do protagonista sempre vestido com as roupas que marcaram sua (última fase) fase Las Vegas, mas sem tornar algo demasiadamente caricatural. Elvis jamais é visto fora de seus anéis de ouro e cordões que rimam com a fotografia de Terry Stacey que usa várias vezes a luz forte ao fundo como um preenchimento para da um tom quase divino as aparições do cantor, predominando sempre também por uma palheta de cor dourada.
Ajudado pelo desenvolvimento , a química de seus envolvidos e a boa direção de Liza Johnson o encontro entre os dois se torna não somente icônico, mas um exercício surreal de duas figuras que estão pouco se ligando um para outro que não seja pelos seus objetivos tão simplórios quantos inúteis (a cena combinando cada detalhe do encontro pelos assessores de Elvis e Nixon é impagável).
Elvis & Nixon é aquele tipo de obra despretensiosa, mas possuindo camadas e uma leveza que nos deixam com aquele sensação agradável ao sair daquele encontro.
Cotação 4/5
Rodrigo Rodrigues
Latest posts by Rodrigo Rodrigues (see all)
- Crítica: Malu - 02/12/2024
- Crítica: Ainda Estou Aqui - 28/11/2024
- Crítica: Coringa – Delírio a Dois - 11/10/2024
- Crítica: Os Fantasmas Ainda se Divertem – Beetlejuice Beetlejuice - 13/09/2024
- Crítica: Alien – Romulus - 24/08/2024
dois grandissimos atores… pena que um deles era um redador se x u al…