Crítica: O Retorno de Mary Poppins (Mary Poppins Returns)
Direção: Rob Marshall
Elenco: Emily Blunt, Ben Whishaw, Lin-Manuel Miranda, Emily Mortimer, Pixie Davies, Nathanael Saleh, Joel Dawson, Julie Walters, Colin Firth, Kobna Holdbrook-Smith, Jeremy Swift, Meryl Streep e Dick Van Dyke
Nota 4/5
Seria redundância dizer que o primeiro pensamento sobre este Mary Poppins Returns se relaciona às comparações com o clássico original imortalizado por Julie Andrews, ou até mesmo que fosse acusado de meramente uma cópia ou remake – o que de certa maneira não está errado por boa parte da obra reproduzir, com pequenas alterações, sequências do original. Contudo, sempre invocando o tom de homenagem e nostalgia (algo primordial para o filme atual funcionar), o diretor Rob Marshall (Chicago, Nine) traz a mesma magia dos velhos musicais e a fantasia que o filme de 1964 da Disney carrega no imaginário popular há mais de 50 anos – algo que é extremamente elogiavel (claro, contando com o trabalho de Emily Blunt, de que falarei mais a frente). Ou seja, por mais que apresente elementos diretamente do original, não podemos negar que ao conseguir provocar essa atmosfera, é sim algo que merece elogios por depender de diversos fatores que não somente copiar uma cena ou sequência.
O roteiro de David Magee modifica a história, mas sem sair do seu contexto. Se em 1964 tínhamos um pai que não dava atenção aos filhos devido ao trabalho interpretado por David Tomlinson, nessa nova versão ambientalizada durante a grande depressão, este mesmos filhos já adultos, Michael e Jane (interpretados por Ben Shaw e Emily Mortimer) lutam para manter a posse da casa depois das dívidas adquiridas pelo primeiro devido a doença da esposa, e que não teve como a pagar a dívida ao Sr Wilkins (Firth); que vem a ser o gerente do banco que o pai de Michael e Jane era um antigo correntista e sócio.
Ademais, o próprio roteiro não precisou de muito esforço para manter a mesma mensagens e sentimentos sobre ausência (neste caso a materna), crescimento, a perda da magia quando nos tornamos adultos, busca de uma direção em momentos de difíceis; ou seja elementos de fácil absorção beirando ao sentimentalismo, principalmente quando trazido para o ponto de vista dos mais jovens. Claro que as devidas modificações ou acréscimos na história, como o fato da inserção de elementos de aventura no clímax conseguem diferenciar um pouco este longa do original, mas repetindo, no contexto geral ainda é a mesma história. inclusive por alguns momentos característicos (algo corriqueiro em musicais em que os arcos sejam meramente motivos para um número musical, como a própria questão do vaso quebrado que fica esquecido depois da sequência de animação).
A grandiosa abertura, bem ao estilo do original (algo que repetirei muito no texto) tenta diferenciar um pouco do anterior, uma vez que ao trazer o personagem Jack (Miranda), que nada mais é que o personagem de Dick Van Dike, mas desta vez não servindo a história inicialmente como narrador usando o recurso da quarta parede. Podemos tirar como exemplo dessas “mudanças” a personagem Jane (Mortimer) que, assim como a mãe sufragista no filme anterior, é militante (neste caso, pelo direito dos trabalhadores), ou o fato de neste não termos o risonho tio Albert de Ed Wynn, mas a prima Topsy de Meryl Streep (cuja cena, eu jurava que seria a deixa para a aparição de Julie Andrews no filme).
A direção de artes faz um trabalho primoroso ao levar o espectador de volta a Londres do início do século, com as ruas agradáveis do subúrbio com suas belas casas, sendo uma delas a casa-navio do Almirante Boom e sua pontualidade. Portanto, o restante do trabalho técnico do longa consegue se sair com louvores ao recriar aquele universo de fantasia, apostando sempre em cores fortes, como o rosa e roxo (as cenas finais com as cerejeiras surgindo ao início da estação são lindas). O diretor de fotografia Dion Beebe envolve o público e consegue manter uma lógica bem vinda principalmente quando do surgimento de Poppins, trazendo alegria em contraste, por exemplo, à chuvosa e fria Londres de cores cinzas e becos enfumaçados.
Assim, visualmente, Mary Poppins Returns rende homenagens sempre que possível. Se em 1964 a sequência inserindo animação foi um dos grandes atrativos ao se misturar com live action, aqui é louvável que tal sequência seja vista na mesma tecnologia de antes, onde os movimentos daqueles personagens sejam os mesmos do anterior devido ao uso da mesma tecnologia. Inclusive, dentro de tal sequência, onde há um número musical, percebe-se que foi usado um pouco de efeitos práticos quando Jack dança em cima de livros e a cena na casa da prima Topsy, onde tudo ficar invertido (claro que há CGI em determinado momento, mas mesmo assim é elogiável que nem tudo se torne digital). E mesmo quando há a inserção da computação gráfica, tal elemento é usado em benefício da narrativa, como a cena da banheira – algo impossível ser ser realizado 50 anos atrás). Inclusive, é elogiável também o trabalho de Sandy Powell ao corroborar com tal atmosfera ao trazer os figurinos de Mary Poppins e Jack de maneira rebuscada como se fizessem parte daquele universo da animação e não roupas necessariamente “normais”.
Números musicais estes que se tornam eficazes por Mary Poppins Returns não tentar assumir a responsabilidade de invocar um novo Supercalifragilisticoespialidoso, mas ainda assim consegue criar elementos que mesmo sendo meras reimaginações das sequências do original com pequenas alterações, são suficientemente capazes de empolgar com suas coreografias e músicas novas (até porque a distância temporal de um filme para o outro ajuda neste quesito); como podemos comprovar no belíssimo balé de bicicletas e tochas flamejantes (no original eram esfregões dos limpadores de chaminés). E para o funcionamento desta engrenagem é fundamental a presença de Emily Blunt como protagonista, fazendo a escolha para reviver o papel imortalizado por Julie Andrews ser perfeita. Blunt é uma atriz que sempre se sobressaiu em seus papéis, mesmo não sendo protagonista e independente do gênero, como Agentes do Destino, No Limite do Amanhã e Sicário (este sim, como protagonista); ao encarnar toda a doçura e firmeza de Mary Poppins, ao mesmo tempo que demonstra talento para as cenas de dança e canto – e que deixaria Julie Andrews orgulhosa ao emular o forte sotaque e os trejeitos – a bela atriz inglesa transmite todo o carisma que se pede ao papel de maneira absolutamente confortável. E mesmo que a química com Lin-Manuel Miranda não seja a mesma de Julie Andrews e Dick Van Dike, ainda conseguem levar os números musicais com eficiência e habilidade.
Mantendo até o fim a aura de reverência e a tênue linha de remeter simplesmente as cenas de Mary Poppins (a cena do balão deixa isso bem claro) Mary Poppins Returns ainda rende homenagem ao trazer nada mais que Angela Lansbury e o próprio Dick Van Dike (ambos nos altos dos seus 93 anos de idade) em participações especiais. E emulando toda a magia que lhe é herdada, o longa faz com que saímos da sessão com um sorriso por retornar aquele universo fantástico de uma figura como Mary Poppins.
Rodrigo Rodrigues
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Bem nostálgico… se for sucesso de bilheteria, prevejo uma sucessao de “remakes” disfarçados de todos os clássicos musicais da época, e não duvido que maculem Cantando na Chuva
Morto
Bem vindo
Eu não tiro sua razão. E sim , é um perigo isso!
Abraço
lindo filme, maravilhoso, vc sai do cinema achando que os filmes ainda podem ser bons de verdade, fora a nostalgia
Aquaboy
Bem vindo
Realmente o filme resgata tal magia. Mas ainda, nostalgia!
Abraço