Crítica : Extermínio – A Evolução (28 Years later)

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Direção: Danny Boyle.

Elenco: Alfie Williams, Aaron Taylor-Johnson, Jodie Comer, Christopher Fulford, Helen Rowlands e Ralph Fiennes.

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Inspirado nos clássicos de George Romero, o diretor Danny Boyle trouxe consigo toda estética meio documentário, um pouco de vídeo clipe e cortes rápidos (assim como os Zumbis que diferenciavam do estilo clássico) subvertendo o gênero com Extermínio (2002); influenciando, assim, tudo o que veio depois (Todo mundo Quase Morto, Madrugada dos Mortos, The Walking Dead etc..). Onde o fim do mundo era um grande chamariz pelo nascimento do novo milênio, os atentados de 11/09 e mais recentemente a epidemia do Covid e todas as alegorias que afligem a sociedade de maneira cada vez mais recorrente.

E claro, Brexit !

Elogiável, portanto, que o diretor se mantenha com frescor em sua narrativa e inquietude visual – e principalmente sonora – ao criar saídas para um tema já bem explorado para aproveitar tais itens para discussões maiores; assim, se nos filmes do gênero é comum mostrar os sobreviventes num eterno recomeço da sociedade destruída, é bem vindo abordar tais elementos com metáforas religiosas (caminhar sobre as águas, por exemplo) de um grupo visto com uma sociedade medieval à base de arco e flecha através da montagem quase aleatória (acredito que as cenas apresentadas em si, sejam de Henrique V de 1944 estrelado por Laurence Olivier) e até mesmo – quase como visões – os atos dos infectados, agilizando e estabelecendo sua violência . Mas o miolo desse Extermínio: A Evolução é o que chama mais atenção por compreender sua ação pessoal com um elemento independente de tudo o que foi visto até aqui, principalmente levando em consideração que haverá mais filmes da franquia.

28y_p_ Crítica : Extermínio - A Evolução (28 Years later)Depois de uma continuação digna em 2007 (dirigida por Juan Carlos Fresnadillo), retornamos 28 anos a Inglaterra isolada do mundo devido ao vírus em Extermínio: A Evolução (28 Years Later). Mais precisamente a uma ilha anexa a Grã Bretanha onde conhecemos o jovem Spike (Williams) e seu pai Jamie (Taylor-johnson) partindo para dentro do continente como um ritual de passagem para o jovem que deve matar alguns infectados para se tornar adulto. Ao mesmo tempo em que precisam lidar com a enfermidade da mãe Isla (Comer) que ficaremos sabendo dos detalhes mais no decorrer do filme. Essa espécie de Road Movie de amadurecimento do jovem é realmente o grande foco e maior mérito do filme.

Sendo assim, o jovem ator encanta ao trazer de maneira convincente seus medos por precisar agir rápido numa situação de vida ou morte e a necessidade de crescer rapidamente à margem da figura do pai e encontrar uma solução para doença da mãe com quem tem forte ligação. E ratifico que o ator Alfie Williams consegue transmitir essa humanidade de maneira incontestável, pois, mesmo jovem, gera um inconformismo por entender suas próprias limitações diante da necessidade de passar uma imagem que não condiz com seus feitos; somente para manter as aparências dentro daquela sociedade.  Igualmente válido a tal “evolução” do título seja visto nos infectados surgindo em grupos com alguma hierarquia dentro daquele contexto primitivo com seus poderosos Alfas que se reproduzem e adoram arrancar as cabeças alheias ou aquelas criaturas rastejantes com seu visual grotesco – assim como um elemento digamos gestacional já visto, por exemplo, na refilmagem “A Madrugada dos Mortos” de Zack Snyder, mas com um desfecho diferente, e dentro do contexto, plausível.

Com um roteiro evitando tornar tudo episódico, a obra começa num prólogo que, apesar de tenso e grafismo aumentando sua violência, não se tornar emblemática como visto na abertura do filme de 2007 com Roberto Carlyle, e claro, no original com Cillian Murphy (curiosamente uns dos produtores desse terceiro capítulo). Esse talvez seja um problema da montagem de John Harris, por vezes parecer quase sabotada pelas abordagens do roteiro de Alex Garland sem necessariamente servir a trama. E isso poderia por tudo a perder. O maior exemplo, além desse próprio início e que somente terá alguma função mais no final do filme, temos a inclusão de um soldado perdido na ilha servindo como pretexto duas sequência de ação (tensas claro) ou para uma tirada rápida de humor junto ao protagonista.

Mas instabilidades à parte, devemos ressaltar que Boyle não demonstra conformismo por sempre buscar fugir do mais do mesmo com sua câmera (ou celular) por vezes com planos inclinados ou plongees para ressaltar momentos mais importantes ressaltando os belos campos floridos como um alívio para a crueldade que esta sempre a espreita – segundo algumas entrevistas, o diretor usou celulares para auxiliar na filmagem. No entanto, depois do resultado que não conseguiria dizer qual cena exata isso ocorreu (o que seria um mérito muito grande da tecnologia em si). Além, claro, da trilha sonora que sempre agrega muito pela sonoridade (no segundo filme tínhamos a ótima trilha de John Murphy, aqui temos o trio Young Fathers mantendo o nível para gerar o incomodo necessário para o filme).

Sendo assim, quando o filme foca na busca do jovem Spike tentar achar uma solução para a doença de sua mãe, a obra ganha uma beleza dentro do contorno dramático de maneira inesperada. Contando com ótima participação de Ralph Fiennes, o ator traz uma dose de austeridade e paz que, misturado com certa morbidade à necessidade de entendermos o significado da expressão Memento mori (lembrem-se que todos morreremos), seja um alento para Spike em sua busca; o que com certeza pode trazer algumas lágrimas ao espectador mais sensível por refletirmos a finitude da vida, onde o amor é o mais importante diante da inevitável perda que todos nós estamos sujeitos e o ciclo da vida em si.

Mesmo que o final do longa seja um estranho – e dispensável – gancho para um quarto capítulo (servindo também para dar algum sentido ao dito prólogo), nada fará desmerecer a jornada do jovem Spike e seu amadurecimento dentro daquele cenário de permeado de morte. Ou seja, se um filme desse gênero consegue atingir esse tipo de momentos de identificação com o espectador trazendo uma carga filosófica sobre nossa própria existência, é um mérito inegável!

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Rodrigo Rodrigues

"Você é chato demais com alguns filmes para alguém que diz gostar de Cinema" - Eu não “gosto” de Cinema. Eu amo Cinema! Mas quando não gosto do que vi, não sou obrigado a fazer média.

1 thought on “Crítica : Extermínio – A Evolução (28 Years later)

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