Crítica: Frankenstein
Direção: Guillermo Del Toro
Elenco: Oscar Isaac, Jacob Elordi, Mia Goth, Christoph Waltz, David Bradley, Lauren Collins, Sofia Galasso, Ralph Ineson, Burn Gorman e Charles Dance
Frankenstein de Guillermo Del Toro é feito com paixão, isso é inegável ! Não há um diretor que demonstraria tal sentimento numa obra que permite tamanhas abordagens fantasiosas como o diretor de O labirinto do Fauno e A Forma da Água é capaz de realizar. Mas, ainda assim, a obra baseado no livro de Mary Shelley é um filme irregular e espedaçado como seus personagens principais. Não sei por ser uma produção da Netflix – e com uma janela de exibição curta (quase indo direto para o streaming) -, pode ter influenciado a tomada de decisões na estrutura do longa e em alguns aspectos visto nas características da própria criatura título. Mas isso não impede de notarmos a beleza sobre a busca da autoconsciência e destruição sobre a natureza humana.
Portanto, o diretor não procura fugir em nada nos aspectos principais da obra de Shelley ao pautar a dinâmica do criador e criatura como principal mote do filme quando o Dr. Victor Frankenstein (Isaac) é localizado ferido no meio do ártico pela tripulação de um navio dinamarquês encalhado; abrindo, assim, brecha para as divagações sobre suas ações que o levaram até ali tendo em seu encalço sua própria criação. Movendo o filme através dos simbolismos cristãos, a criatura (Elordi) busca do amor e perdão daquele que lhe deu a vida, mesmo assumindo os erros por parte deste. Sendo assim , Oscar Isaac permite sentimentos dúbios em sua trajetória, seja na empolgação inicial em provar ser possível contornar a morte – depois da perda familiar e lidar com a figura autoritária do pai interpretado por Charles Dance – , sua relação com Elizabeth (Goth) até a sua queda dentro de sua própria loucura.
Contudo, sendo a figura principal, a criatura me incomodou em alguns aspectos. Entendo que toda a obra tem suas licenças poéticas para trabalhar os elementos de seus personagens, mas que Frankenstein seja capaz de arremessar adversários, partir lobos ao meio (numa sequência descartável em CGI e que me deixou com um pé atrás) e empurrar navios, me soa como uma piscadela de olho para quem for ver na TV como fosse uma personagem da Marvel ou DC.
Além do mais, mesmo com um trabalho de maquiagem elogiável ao não perder a feições do ator, esse Frankenstein tem um visual mais limpo; entretanto, não é coincidência que, ao trazer a discussão sobre Dr. Frankenstein ser um Prometeu Moderno, sua criação seja parecida com os engenheiros visto no filme Prometheus de Ridley Scott na saga Alien (mais outra piscadela de olho para TV). Algo diferente, por exemplo, na versão de 1994 com Roberto De Niro e dirigido por Kenneth Branagh, onde o visual sujo e rústico da criatura era perfeito para expor as dores do personagem através do ator. Entendo que são focos diferente, Guillermo del Toro tem , por natureza, trazer uma narrativa fabulosa que a classicismos de Branagh, mas, ainda assim, esses elementos me tiraram um pouco do personagem. Dito isso, o ator Jacob Elordi sempre soa imponente para transmitir os conflitos de seu personagem, e não fosse tal capacidade, não teríamos um sentimento de pena pelo tratamento inicial que recebe e muito menos deixarmos de entender seus pensamentos quando já se mostra uma figura mais segura nas questões sobre vida e morte.
Mas isso não interfere também quando falamos de outros elementos visuais. Trazendo de maneira clara os ambientes refletindo a personalidade de seus ocupantes e seus contrastes, temos, por exemplo, o laboratório do Dr. Frankenstein cheio de detalhes, experimentos, livros, ressaltados pela fotografia com sua luz emanando da claraboia sintetizando um ambiente aconchegante; diferenciando do universo da criatura sempre envolta pelo vazio, cujo aprendizado (inclusive intelectual) é feito através da natureza sobre o bem e mal que a cerca. Em contrapartida o castelo dos experimentos é algo grandioso com sua arquitetura gótica, um labirinto de escadas de uma antiga estação de água . Não sendo menos nocivo, portanto, que o local de nascimento do Frankenstein esteja ligado a uma estrutura lógica com um fosso predominantemente envolto com cores frias e os espaços sombrios somente ocupados por pequenas caneletas carregando o simbolismo da água como nascimento. Complementando tais elementos visuais, não podemos deixar de comentar o belo trabalho de figurino de Kate Hawley ressaltando ainda mais a era vitoriana e gótica de maneira elegante, focando, por exemplo, nas cores na transição da personagem de Mia Goth; indo do azul na imaturidade, branco da inocência e obviamente o vermelho no desfecho. Ou, por exemplo, no visual da entidade vista como anjos/demônio nos sonhos do Dr. Frankenstein, remetendo as belas sequências dos funerais vistas na primeira parte do filme, com figuras envoltas em caixões simulando em adornos os pesadelos do cientista.
Enfim, Frankenstein é uma criatura sensível envolto pela camada da morte e aparência bruta. Sua redenção, portanto, é feita da mesma maneira. Fico a pensar que sua existência é fruto do pensamento supremo sobre a existência, e por isso é digno em sua busca. O diretor busca essa grandiosidade todo o tempo, mas não sei se consegue. Mas sempre vale a pena quando a vida sobrepõe à morte e na tentativa de que o monstro nem sempre é quem pensamos ser.
Rodrigo Rodrigues
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