Crítica: Conexão Escobar (The Infiltrator)
Direção: Brad Fruman
Elenco: Bryan Cranston, John Leguizamo, Diane Kruger, Benjamin Bratt, Yul Vazquez, Amy Ryan, Joseph Gilgun e Olympia Dukakis
Após assistir Conexão Escobar, fiquei com a sensação de ter visto um filme que sinceramente desperdiça maior parte de sua projeção em apenas contar uma história de modo formulístico onde a direção de Brad Fruman mesmo que em algumas (raríssimas) cenas ainda consiga arrancar bons momentos – principalmente através do elenco- , não tem medo algum de passar vergonha com outras tantas sequencias pavorosas que caberiam mais em cenas típicas de folhetim e que ainda tentam , superficialmente falando, serem didáticos com relação a questão das drogas na política americana.
Em plena Miami dos anos 80, onde a cocaína valia mais que o próprio dinheiro, o agente disfarçado Robert Mazur (Cranston) aceita um último trabalho de agente infiltrado pra desbaratar a conexão de envio de dólares da Colômbia para Miami promovida pelo cartel de Medelín, mas isso pode ser um caminho sem volta na sua vida profissional e principalmente pessoal.
Além de perder a oportunidade de aprofundar os conflitos de seus envolvidos, a direção sabota completamente a narrativa com suas cenas em conjunto jamais soarem naturais, e sim apenas para criar um clima forçado de tensão como somente isso fosse necessário como chamariz. Como visto numa cena em que o protagonista agride um garçom para não levantar suspeitas de sua verdadeira identidade com um criminoso que o encontrou “coincidentemente” no restaurante.
Assim, vale lembrar também que o roteiro de Ellen Brown, adaptado da obra do Robert Mazur da vida real é tão descuidado (para não dizer ruim ou inacreditável com seus argumentos) em que determinado momento Robert (talvez o agente infiltrado mais conhecido da Flórida) recebe ameaças do próprio Pablo Escobar pelo correio de sua própria residência (apenas para causar uma cena de impacto diante da família).
Isso sem contar que a direção permite inserir conceitos completamente destoantes com a proposta mesmo como os exageros visuais típicos dos anos 80. Fico até mesmo a pensar na lógica aplicada pelos realizadores a demonstrar situações envolvendo religiões de origem africanas muito comuns em New Orleans em cenas que são simplesmente tão descartáveis e aleatórias como várias durante a projeção. Os personagens também são sabotados pela direção que não consegue aprofundar ou apresentar melhor seus conflitos. Bryan Cranston parece deslocado mesmo com seu esforço em criar a dualidade e conflito entre a família e o perigoso trabalho, onde cada vez mais sua vida pessoal seja subjugada pela identidade criada como agente.
Benjamin Bratt empresta seu carisma como o narcotraficante Roberto Alcaino e mesmo com a química funcionando com Cranston, o seu relacionamento e amizade soam piegas e frágil. Principalmente se levarmos em conta que estamos falando de traficantes vivendo em mundo de eterna desconfiança. Não que o cenário do relacionamento entre os dois não seja digno de tensão, mas a direção apenas aponta sem realmente aprofundar no potencial diante do público.
Talvez o único que ainda consegue sobressair realmente seja John Leguizamo que com seu Emir. Ele é responsável talvez pela única cena realmente interessante e tensa do filme, quando consegue enganar um criminoso que o acusava de ser policial que termina de forma violenta e bem coreografada. O restante do elenco soa descartável, principalmente o personagem Ospina (Vazquez) completamente caricato e afetado com seu visual com uma acompanhante vestida com trajes masoquista.
Mesmo assim a direção ainda tenta demonstrar certa aptidão na narrativa com uma câmera discreta e valorizando travelling em volta do protagonista, mas muito pouco para evocar algo devido ao restante da narrativa. Assim como a fotografia de Joshua Reis consegue recriar a atmosfera e clima quente da florida sem exagerar na tonalidade.
Mas em seu clímax, parecendo ter perdido totalmente qualquer critério de bom senso, a direção assume seu lado novelesco com direito a casamento reunindo todos os personagens. A cena é cheia de absurdos e inverossimilhanças que logo de cara ficamos a pensar se realmente é cabível que estejamos falando de narcotraficantes armados dentro de uma festa com fosse algo completamente normal. Assim este Conexão Escobar é falho no que se realmente propõe e sem elevar a atenção do espectador fica no meio do caminho entre a sua forma e seu conteúdo, que sempre se apresenta pálido e desfocado.
Rodrigo Rodrigues
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