Resenha: Universo Desconstruído: Ficção Científica Feminista (Vol. II)

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Universo Desconstruído

Título: Universo Desconstruído: Ficção Científica Feminista (volume II)
Organizadoras: Lady Sybylla e Aline Valek
Capa: Theodore Guilherme
Ano: 2015
Páginas: 140
Link: universodesconstruido.com

Prefácio (trecho):

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“Transformar um sonho em realidade, por si só, é um ato de coragem. Mas quando uma mulher se atreve a fazê-lo, começa ali uma revolução. Planta-se a semente de mudança que reverbera em todas nós, em todo o planeta. (…)

As mulheres precisam de exemplos de desbravadoras de novos espaços. É assim que saberemos que dá pra chegar lá. Que o caminho, mesmo quando é tortuoso, é possível de ser percorrido. A chance de êxito é ainda maior quando a jornada é feita de forma coletiva.”

Crítica:

Por não ter lido o primeiro da série, quando peguei o volume dois do Universo Desconstruído: Ficção Científica Feminista, não sabia bem o que esperar. Sabia que teria representatividade, mas não tinha ideia de como seria trabalhada.  Até que parei de ensaiar a leitura e abri o pdf de uma vez, e li a introdução:

“Em 2013 surgia o Universo Desconstruído. Vindo da insatisfação, autores profissionais e acidentais se uniram para criar a primeira coletânea de ficção científica feminista brasileira. Uma ficção científica que não estereotipa, que não discrimina, que representa e mostra as infinitas possibilidades deste gênero.

Desta coletânea surgiu a vontade de subir o tom. Trouxemos, então, em 2014, a tradução do primeiro conto de ficção científica feminista já escrito, O Sonho da Sultana, por Roquia Sakhawat Hussein, que em 1905 previu carros voadores e uso de energia solar nas casas.

Universo Desconstruído é um manifesto. Uma luta. Uma vontade de ler e de fazer algo importante. Uma coletânea que mostra não apenas literatura, mas também possibilidades. Possibilidades de mundos, de personagens, de diversidade, de representatividade, em um universo literário coalhado de ‘mais do mesmo’.

Torcemos por um mundo melhor e as artes podem nos mostrar este mundo que queremos”.

O que encontrei no livro? De poesia à prosa: mulheres fortes, personagens complexas.

Selecionei os que me cativaram para comentar aqui:

A primeira história, Corpo Escuro, de Jarid Arraes, é de uma sensibilidade ímpar.

Lá pelo ano de 3000, chegou no Cariri um tratamento invasivo: transformação da aparência em nível celular, alterando a cor de pele e cabelos para o padrão eurocêntrico. Uma mudança cara sem volta. Tendo este contexto, acompanhamos a saga de Jana. Negra e pobre, inserida numa sociedade que valoriza quem segue determinados padrões estéticos (loira, branca, cabelos lisos…), não conseguia se achar bonita, visto que foi moldada a acreditar que apenas um tipo de padrão era aceitável.

Há séculos as mulheres são bombardeadas com padrões de como devem se portar, vestir, parecer. Ser mulher branca e tentar adaptar-se à estes padrões já é algo doloroso, no que tange à aceitação do próprio corpo, auto estima, auto confiança e afins. Mas para as mulheres negras isto é algo violento. Seja por sua objetificação constante, seja por falarem que a pele negra é feia, que o cabelo é ruim, entre tantas outras agressões.

O Resgate de Andrômeda, de Thiago Leite, acaba com um gostinho de quero mais. Logo de cara encontramos com Andrômeda, presa por tentáculos de algum tipo de bicho, e acompanhamos suas lembranças, de como não abaixava a cabeça para nada, desafio ou homem, e da espera do seu resgate.

BSS Mariana, de Lady Sybylla, dispensa comentários. Acompanhamos Endyra, chefe da Astrometria da Brazil Space Co., uma empresa privada brasileira de exploração espacial. A história começa com a personagem sendo acordada por sua estagiária com a notícia de que havia algo errado no centro de controle. Lá ela tem notícia de uma nave que está chegando, mas que não tenta contato e tampouco consta nos registros, por ter mais de cem anos. Não bastasse isto, há o conflito constante com seu ex marido, um militar que trabalha na mesma empresa de Endyra e tenta confrontá-la e subordiná-la sempre que possível.

A narrativa é fluida, mas faltou, acredito, espaço para um desenvolvimento maior dos personagens – o que, entretanto, não desqualifica em nada o conto.

Boneca, de Clara Madrigano, conta a história de Ari, uma menina de dez anos, e sua relação com David, o homem que a mantém trancada em um porão. Seus medos, ansiedades e sua força, retirada do diário de Mary Louise, a garota que esteve presa no cativeiro anteriormente.

Nem todos os contos me agradaram totalmente, mais em questão estrutural do que a ideia em si. Resultado do tipo de narração empregada, por parecer que o diálogo estava forçado ou repetitivo. Entretanto, todas as histórias possuem algo cativante. São mulheres que sofrem, que têm medo, mas que não deixam que isto seja um fator dominante. O que encontramos ao longo de todo o volume são histórias de superação, de que um mundo melhor é possível.

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AvatarRenata-150x150 Resenha:  Universo Desconstruído: Ficção Científica Feminista (Vol. II)
Estudante, blogueira, preguiçosa, manifestante de gaveta e comilona. Largou a Filosofia e fugiu para a Arquitetura, e, desde então, acha que dormir é luxo.

3 thoughts on “Resenha: Universo Desconstruído: Ficção Científica Feminista (Vol. II)

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