Crítica: A Conexão Francesa (La French)
A Conexão Francesa (La French)
Diretor: Cédric Jimenez
Fotografia: Laurent Tangy
Direção de Artes: Patrick Schmitt
Trilha sonora: Guillaume Roussel
Elenco: Jean Dujardin, Gilles Lellouche, Benoît Magimel, Guillaume Gouix, Céline Sallette, Mélanie Doutey, Bruno Todeschini e Féodor Atkine
Baseado na mesma fonte que o clássico Operação França de William Friedkin, este A Conexão Francesa apresenta todos os elementos narrativos dos filmes policiais dos anos 70, principalmente por incluir cenas de ação cruas e uma história com elementos dúbios (mas lembrando que a comparação seria desnecessário pois o filme em nenhum momento tenta emular algo do antigo, pelo contrário, pois a única referência clara é o famoso gesto feito por Fernando Rey e Hackman no filme de 1971).
O Diretor Cédric Jimenez confere urgência e dinamismo logo nos primeiros minutos de projeção com planos mais fechados alternado com médios e com movimentos de câmera rápidos bem característicos ao estilo mais clássico. Assim como a montagem também ajuda a imprimir o ritmo , como visto nas cenas iniciais ao apresentar o mundo dos criminosos.
O Design de produção é competente na recriação de época e jamais deixamos de sentir aquele clima retro. Assim com a fotografia opor momentos é usada de maneira didática ao representar os vilões em momentos cor a cor predominantemente vermelha, lembrando até um pouco a lógica de Scorsese em Os Bons Companheiros.
Trabalhando com menores delinqüentes o Juiz Pierre Michel (Dujardin) é convidado para atuar contra o tráfico de drogas que atinge toda a sociedade francesa e chegando até aos EUA. Claro que esta premissa não é um problema do roteiro de Audrey Diwan em conjunto com o próprio diretor, mas os problemas deste A Conexão Francesa vão desde uma falta de um melhor acabamento na sua narrativa como no desenvolvimento da historia até num excesso de bajulação a um modelo (principalmente americano) que tira um pouco de sua autenticidade.
O longa por parecer jamais ousar, sempre se mantêm numa zona de conforto que acaba com seus equívocos fazendo que fiquemos com a sensação de darmos voltas sem que saiamos durante um bom tempo do lugar. Como podemos ver no núcleo familiar de Pierre que vai e volta nos conflitos entre ele e a esposa e no fato de que a motivação do filme é iniciada em certo ponto por aqueles que o próprio Michel tenta combater.
Direção por mais que seja competente, preocupada com os detalhes , soa por vezes soa preguiçosa, sem atentar com as investigações em si e as conseqüências em um âmbito geral. Tanto que tem momentos que parece que o filme vai da França ao EUA num pulo, de maneira inconseqüente apenas para fazer jus as suas fontes. Assim, mesmo sendo elogiável a tentativa de dar um tom mais pessoal no relacionamento entre o juiz Michel e seu antagonista , como se completassem, o filme se dispersa em sua abordagens (interessante lembra tanto que por momentos para mentes desatentas podem confundir fisicamente protagonista e o vilão, mas que por momentos soa cômico ao transformar o embate em algo parecido com Rocky).
Clichê do juiz estrela com família feliz, que pratica exercício, tem uma alimentação saudável e visto como um cowboy americano, o personagem é interpretado por Dujardin carismático mas que por veste é sabotado pelo próprio estrelato do personagem. Assim o vilão Zampa (Lellouche) é visto de maneira imprevisível, um paralelo com o juiz Michel. Neste ponto é interessante que o roteiro invista tanto no desenvolvimento de Zampa, mesmo que por vezes a historia fiquem dando voltas e incluindo situações que não engrandecem ou dão profundidade ao relacionamento dos personagens.
As questões que o filme levanta, mesmo que não apresente nada de novo (ou que possa causar um impacto maior), são importantes ao contestar as ações do próprio Juiz Pierre com uma estrela midiática, mas que usa de artifícios condenáveis, como escutas e prisões ilegais, para dar razão as suas motivações (ainda bem que isso somente acontece na ficção, pois seria horrível viver numa sociedade que juízes tenham esta postura).
A Conexão Francesa não chega a ser um desastre , tem seus méritos principalmente por não se entregar totalmente a superficialidade. Mas infelizmente não consegue fazer com que não tenhamos uma sensação de ter visto um mais do mesmo.
Cotação 3/5
Rodrigo Rodrigues
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Antes de tudo temos que voltar para 1972 e considerar alguns pontos de “Operação França”, trabalho de William Friedkin que levou o “Oscar” de melhor filme. Uma rede de narcotráfico que se estendia da riviera francesa até seu mercado consumidor, cosmopolita e sombria capital do mundo Nova York. As tensões raciais e a discriminação à “gentalha” de periferia fomentam as tensões contra o anti herói Jimmy Popeye interpretado por Gene Hackman à caça do líder do tráfico Alain Charnier, interpretado por Fernando Rey. Já em “A Conexão Francesa” temos o primeiro longa metragem de grande valor do Diretor Cédric Jimenez focando mais nas negociações escusas entre traficantes, comerciantes e policiais envolvidos, apresentando um pouco da organização da policia trabalhando com amparo pessoal do juiz responsável pelas investigações, participando inclusive pessoalmente de algumas operações de prisão, algo diferente para nós.
O filme começa com o Prefeito da cidade de Marselha declarando guerra em rede pública de TV contra o narcotráfico, uma trama poderosa e muito bem articulada que tem a capacidade de produzir, atravessar o Atlântico e despejar centenas de quilos de heroína nas avenidas de Nova York com a leniência das mesmas autoridades que esmurram a mesa diante das câmeras. As semelhanças com seu antecessor – “Operação França”, 1972 – não se limitam ao ambiente pela narrativa transmitindo tensão a todo instante, violência regada a muito sangue e a traição pairando em todos os cantos. Por mais que o Diretor não tivesse a menor intenção de hastear bandeiras contra ou a favor pela legalização das drogas, a partir do momento que testemunhamos o lucro gigante menor apenas que o calibre das armas e a violência na repressão dos traidores, lógico que temos opiniões divididas variando de um para outro, potencializado ainda mais quando participamos da vida familiar do Juiz Pierre Michel – Jean Dujardin – cristalizando assim uma caça mocinho contra o bandido.
Levando em conta que o Diretor busca oferecer tensão como forma de entretenimento o filme cumpre bem seu papel: enquadramentos fechados e pouca iluminação fomentam um clima sinistramente assustador proporcionados pelo eficiente trabalho de fotografia de Laurent Tangy, reconhecido pelo seu trabalho em “Carga Explosiva”, apresentando um dos vilões mais aterrorizantes que se tem noticia encarnado “Lúcifer” na Terra interpretado por Gilles Lellouche dando vida ao tinhoso Gaëtan “Tany” Zampa.
A direção de arte com auxilio das maquiagens muito bem elaboradas permite um agradável e saudoso mergulho na era dos anos 70/80 bordejado por uma nostalgia extrema com bastante autenticidade, potencializada por uma trama que muito lembra roteiros hollywoodianos dos clássicos esfumaçados pouco iluminados dos anos 40/50 como os vilões vividos por Humphrey Boggart.
O filme trata de um tema de Estado através de uma história muito bem contada com trilha sonora muito divertida dos anos setenta que impede que fiquemos paramos assistindo. Apesar de não ser novidade para nós as conseqüências do trafico de drogas já que vivemos num país que sofre muito com as conseqüências da forma equivocada como é tratada. Notamos enfim que tudo não passa de uma mascara que se dá o nome genérico em qualquer lugar do planeta que chamamos assim de “políticas de combate”.
RK
Ricardo
Obrigado pelo seu comentário e expandir a discussão sobre o filme.
Abraço.
hahahahaha o comentário ta quase maior que a crítica, deu até preguiça ler