Crítica: Sully: O Herói do Rio Hudson (Sully)
Sully: O Herói do Rio Hudson (Sully)
Direção: Clint Eastwood
Elenco: Tom Hanks , Aaron Eckhart , Laura Linney , Anna Gunn , Autumn Reeser, Holt McCallany, Jamey Sheridan e Jerry Ferrara
Filmes como Sully: O Herói do rio Hudson sofrem com um corriqueiro problema por serem baseados em fatos reais. Todo o fator surpresa, por mais bem trabalhado que seja , vai por água abaixo (desculpem o trocadilho) por retratar um acontecimento conhecido, principalmente quando envolve vítimas fatais ou não – vide o fraco Os 33. Mesmo assim, como no recente 13 minutos (crítica aqui) ou tantos outros, nem sempre isso é um empecilho para termos uma história bem contada, com uma boa narrativa na qual possamos nos identificar com os dramas e os conflitos dos personagens, mesmo cientes do seu desfecho.
É mais ou menos (admito a indefinição) o que ocorre com o novo filme do diretor Clint Eastwood, onde é visível que a direção tenta extrair o máximo possível do acidente ocorrido em 2009, quando o Voo US Airways 1549 fez um pouso forçado no Rio Hudson em NY quase que milagrosamente, entretanto a companhia aérea e autoridades buscam saber exatamente o que aconteceu . Contudo, ainda se mostra um longa com qualidades (não necessariamente vistos como acertos), em que toda as suas fichas são depositadas no carisma de Tom Hanks dentro de conflitos dramáticos superficiais que tentam exaltar todo o aspecto humano.
Uma destas qualidades (ou necessidade) do filme é vista logo nos seus minutos iniciais quando a direção de Eastwood aposta numa narrativa não linear para contar a história do acidente e as investigações consequentes. O problema vem quando o roteiro de Todd Komarnicki introduz várias questões pessoais como o conflito interno com toques oníricos de Sully, a ponto do mesmo duvidar se realmente ele poderia ter tomado uma decisão correta que não pusesse em risco as vida dos passageiros. Infelizmente as abordagens são visivelmente forçadas por mais que sejam necessárias discutir tais assuntos , mas por parecer, com dito anteriormente, que o filme tente tirar o máximo do mínimo dentro de seus curtos 96 minutos (algo que parece caber na metade do tempo) soa quase um incômodo.
A montagem quebra (corretamente) a expectativa ao apresentar inicialmente mais as investigações que propriamente o acidente, o que acaba ocasionando uma inevitável repetição das cenas do pouso forçado no rio Hudson para depois voltar às investigações e vice-versa. Ciente disso, a direção insere novos elementos que alternados com as investigações em si, são suficientemente atraentes para manter a atenção do espectador que acaba por vezes dentro de um grande flashback.
Assim, durante o inquérito das responsabilidades , vemos ainda mais o filme tentar esticar os fatos que claramente sabemos que não vão dar em nada. Para isso investe na velha questão do erro humano versus os dados técnicos, a questão de julgar um profissional com décadas de experiências apenas por alguns segundos, a necessidade da empresa de aviação arranjar um culpado pra se livrar dos processos etc. Mas tudo isso feito de maneira muito prosaica sem grandes aprofundamentos – até porque, insistindo no fato, não havia muito que aprofundar.
Assim temos também a tentativa de abordar os dramas dos passageiros como os que chegam atrasados ao voo, que fazem piadas (para causar o sentimento de aflição por sabermos o que eles não sabem), os que não prestam atenção com as instruções de segurança, a mãe com um bebê e por ai vai (faltou somente um padre). Mas este esticar do roteiro e das motivações do protagonista, por exemplo, não soam mais desnecessários do que as sequências do passado de Sully como piloto aprendiz. Apesar de esteticamente serem bem produzidas pela reconstituição de época, como visto numa cena ocorrida na década de 60, as cenas são frágeis ou até mesmo inúteis para a construção dramática do protagonista. Em que acrescenta saber que ele era … piloto?
Todavia, é Tom Hanks que com sua amabilidade característica que consegue tirar o possível para seu Sully. Acompanhado por um Aaron Eckhart sem muito que fazer e com um bigode para lá de indiscreto, Sully transita de maneira identificável pela firmeza que sua experiência lhe proporciona, até sendo consumido pela insegurança se ele cometeu realmente um erro devido à pressão da imprensa, exposição da família e de seu inevitável status de herói diante a população. Duas cenas, particularmente mostram a capacidade de Hanks a engrandecer um personagem em seus detalhes, como no momento que sem saber se todos os passageiros foram salvos, ele se mostra apreensivo cuja indecisão pode custar uma vida. Ou num momento, durante as investigações o ator apenas usa a respiração mais forte, antes de voltar a enfrentar os interrogadores, para engrandecer o curto momento de alívio.
Finalizando de maneira de tão convencional, a ponto de quase cair no sentimentalismo que me fez acreditar que todos os envolvidos nas investigação bateriam palmas , este Sully consegue fazer um esforço tremendo a ponto de se cansar que nem mesmo o conhecido patriotismo indefectível de Clint Eastwood fica de fora ao atribuir homenagens aos verdadeiros heróis de um curioso incidente.
Cotação 3/5
Rodrigo Rodrigues
Latest posts by Rodrigo Rodrigues (see all)
- Crítica: Coringa – Delírio a Dois - 11/10/2024
- Crítica: Os Fantasmas Ainda se Divertem – Beetlejuice Beetlejuice - 13/09/2024
- Crítica: Alien – Romulus - 24/08/2024
- Crítica: Caça-Fantasmas (Ghostbusters) - 18/06/2024
- Crítica: Furiosa: Uma Saga Mad Max - 11/06/2024
Este livro conta uma história extraordinária, por isso quando soube que estrearia Sully, O Herói do Rio Hudson soube que devia vê-la. Parece surpreendente que esta história tenha sido real. Li o livro em que esta baseada faz alguns anos e foi uma das melhores leituras até hoje. Em: http://br.hbomax.tv/movie/TTL607756/Sully-O-Heroi-Do-Rio-Hudson li mais informação e sem dúvida teve uma grande equipe de produção com Clint Eastwood. Considero que outro fator que fez deste um grande filme foi a atuação de Tom Hanks, seu talento é impressionante.