Crítica: The Square – A Arte da Discórdia

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The_Square_cartaz-1 Crítica: The Square - A Arte da DiscórdiaThe Square – A Arte da Discórdia

Direção: Ruben Ostlun

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Elenco: Claes Bang, Elisabeth Moss, Terry Notary, Christopher Læssø,  Annica liljeblad e Dominic West

Em Força Maior (2014), o diretor Ruben Ostlun trouxe um belo exercício social, por nos apresentar as reflexões nos relacionamentos entre sexos opostos na visão de um tradicional núcleo familiar, mediante aos questionamentos comportamentais em face de uma situação conflitante ocasionada por fatores externos – no caso, uma avalanche.

O filme de certa maneira serviu como ensaio minimalista para que Ostlun chegasse a este visceral, e por vezes irregular, The Square – A Arte da Discórdia, que consiste em criar um ambiente crítico à discussão do papel da arte contemporânea, mediante as situações corriqueiras do dia a dia, de maneira surreal. Assim como abranger o panorama e responsabilidade das mídias modernas ao mesmo tempo usando como pano de fundo o aspecto pessoal/profissional do protagonista e o preconceito da comunidade sueca, dominada por uma elite que o imaginário coletivo julga como padrão, por vezes pautado no humor diante de um cenário de diferenças sociais.

Bem, pelo visto no parágrafo acima é notório que há uma complexa gama de elementos a serem discutidos. E não foi por acaso que tentei expor tudo no mesmo trecho, para que espectador tenha uma pequena dimensão da ambição do longa. Ambição que pode (e que será compreensível) ser confundida com presunção ou pedantismo pela direção, que tenta abraçar elementos basicamente distintos sem que consiga manter uma direção dos temas abordados, como o que seria arte ou não, a desconstrução da própria arte, o desrespeito por parte dos próprios defensores, etc. Ademais, é notório que o roteiro do próprio diretor pouco tente discutir de maneira mais contundente qualquer um dos assuntos abordados, o que acaba prejudicando sua estrutura e tornando a obra dispersa em vários momentos. Todavia, isso não impede que possamos absorver os pontos fortes do filmes, quando este consegue manter o foco – mesmo que por pouco tempo. Algo que, por exemplo, o filme Manifesto, com Cate Blanchett, fez tão bem ao discutir o papel da arte em si e sua vertentes.

Christian (Bang) é o curador respeitado do X-Royal Museu, e durante o planejamento da sua nova apresentação que possui o nome do filme, sofre um assalto; e para recuperar seus pertences envia várias cartas aos moradores de um prédio na periferia, esperando que chegue ao culpado (o que de certa maneira é um ato de extremo risco e preconceito por indiretamente acusar todos os moradores), onde, para engrandecer ainda mais tais infortúnios, surge em cena a figura da Anne (Moss) que acaba se envolvendo com Christian. A partir deste momento a obra apresenta os acontecimentos quase como episódios aleatórios, tratando tais fatos como uma metáfora do dia a dia e as bizarrices como a arte diária do mosaico que a vida pode se tornar.

Até mesmo  elogiável que a obra consiga assim criticar e discutir um pouco a questão da arte e sua posição na sociedade, mesmo que superficialmente, como no fato de apontar que uma empresa gasta em um dia com patrocínios o que o museu gastaria em um ano, e o fato da disputa entre o que seria arte versus publicidade: de um lado jovens publicitários dizendo que 10 segundos é o tempo máximo para uma mensagem, e de outro lado, a experiência em entender tal conceito dentro de uma sociedade acelerada. meio_square Crítica: The Square - A Arte da Discórdia

Christian é o típico estereótipo que imaginamos de um curador de museu: polido e até mesmo soando esnobe, mas que usa um discurso para expor algo que ele sequer pratica (assim como muitos), e que tomado pela arrogância e preconceito, se acha suficientemente capaz de afrontar uma classe mais baixa, como vemos no plano montado para recuperar sua carteira. São nestas análises/críticas sociais que o filme ganha corpo, principalmente ao inserir constantemente pedintes nas ruas de uma capital européia que julgamos pouco habituada a tais elementos, como Estocolmo. Lugar este preenchido por pessoas que, em suas vidas modernas e conectadas, não têm tempo para ajudar o próximo necessitado. Ou seja, algo como a célebre frase dita por Joãozinho Trinta que sempre questionou: “Quem gosta de pobreza é intelectual”.

Assim, chegamos naquela que é a melhor sequência e mais emblemática da obra e uma das mais célebres do ano, quando o personagem Oleg imita um primata durante um jantar de apresentação do museu. Uma obra viva que toma forma e cria um clima que, inicialmente é tratado com certa bizarrice e humor quase circense, mas onde aos poucos a direção vai construindo com habilidade o clima de apreensão e medo, onde chegamos realmente a temer pelos envolvidos – sim, por mais que possa aparentar estranha a descrição da cena, ela funciona (principalmente ajudada pelo desempenho perfeito do ator Terry Notary, o que é explicado pela sua atuação em Planeta dos Macacos – A Guerra, fazendo o papel de Rocket). Assim, nada mais contundente que o simbolismo representado no desfecho, mas também pela fato de na cena seguinte visualizarmos um dos vários mendigos do filme, como se aquilo representasse o medo desta elite em não agir sobre tal problema, além de fazer a rima contextual com a cena anterior.

Alternando o lado pessoal do protagonista e as questões artísticas, o terceiro ato peca por não conseguir ser corajoso o suficiente para propor o debate ou defender uma opinião e até mesmo apresentar cenas que não possuem grandes serventias a história, como aquelas vistas com as filhas do protagonista. Todavia, abre-se um espaço para a discussão sobre a liberdade de expressão e os limites do politicamente correto, mas igualmente pouco aproveita-se disso, por estarem jogadas no meio de uma dicotomia narrativa. Mas, ainda sim, a obra consegue ser clara ao fazer um mea culpa, onde Christian personifica tal condição preconceituosa e egoísta, e ao mesmo tempo em que a cena soa expositiva, ainda assim é eficaz com relação ao contexto destas pessoas que veem numa esmola apenas um alívio para sua consciência e moralidade, sem realmente discutir o assunto. Ademais, é simbólico também o plano em que, no meio do lixo, Christian procure a motivação para seu pedido de desculpas, como se representasse tal seguimento social, tendo que se por no lugar daqueles que existem apenas nos seus discursos. Entretanto, ao tomar a iniciativa de realmente querer ajudar tais pessoas, o mesmo tem a consciência de que já pode ter sido tarde demais.

Mesmo que ainda apresente certa disfunção dentro de seus temas e excessos, The Square – A Arte da Discórdia ainda consegue causar um desconforto e vários pensamentos sobre sua proposta. Algo que, como arte, é bem vindo.

Nota 3/5

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Rodrigo Rodrigues

Eu gosto de Cinema e todas suas vertentes! Mas não aceito que tentem rescrever a historia ou acharem que cinema começou nos anos 2000. De resto ainda tentando descobrir o que estou fazendo aqui!

4 thoughts on “Crítica: The Square – A Arte da Discórdia

  1. filme muito bom, so nao esperem ação, tiroteios e lutas… se vc quer um filme com critica social, esse é bom

  2. nao acreditem nessa critica, o filme é péssimo, nao é pq tem umas cenas que tem simbolismo que ele é bom, fujam, perdi tempo precioso da minha vida assistindo isso

    1. Carlos
      Bem vindo
      Sem problema em não gostar do filme. Eu entendo completamente que possa soar pretensioso ou pedante. Mas podemos , pelo menos , captar algo de positivo também.
      Não acha?
      Fique sempre a vontade para comentar.
      Abraço

  3. dificil gostar de um filme assim, parece muito seletivo, dirigido apenas aos entendidos e aficcionados pelo cinema, que conseguem notar e apreciar essas questoes subjetivas e com isso gostar de um filme que, a quem nao entende dessas coisas, parece apenas maçante e enfadonho, lento demais e sem acontecimentos que justifiquem assistir ate o fim…

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