Crítica: O Artista do Desastre
O Artista do Desastre
Direção: James Franco
Elenco: James Franco, Dave Franco, Seth Rogen, Alison Brie, Ari Graynor, Jacki Weaver, Josh Hutcherson , Zac Efron, Sharon Stone e Bryan Cranston
O Artista do Desastre se torna ainda mais cativante, a partir do momento que vamos tendo a consciência da realidade que o filme apresenta ao abraçar, a partir de um contexto biográfico e metalinguístico (ou por si um panorama dos bastidores de parte de Hollywood) através da saga de um homem numa homenagem ao cinema. Inclusive, a obra se mostra mais pessoal quando conhecemos seu protagonista e as motivações que levaram a uma epopeia para levar adiante suas aspirações e sonhos de fazer fama e sucesso como estivéssemos vendo uma espécie de Ed Wood moderno (independente dele alcançar ou não seus objetivos).
Estrelada e dirigida por James Franco de maneira bem pessoal, a obra conta a trajetória de Tommy Wiseau (James Franco) durante o final dos anos 90 e início dos anos 2000 e sua amizade com o jovem Greg (Dave Franco, irmão de James), na tentativa frustrada da carreira como ator até a realização do filme “The Room”. Um filme obscuro que alcançou (ou não) status de Cult, como podemos imaginar através dos depoimentos (verídicos?) de famosos (como o diretor J.J. Abrams) louvando questão artística do longa lançado em 2003 ao custo de 6 milhões de dólares e rendendo apenas pouco menos de 2 mil na semana da estreia (aliás, as pequenas pontas de atores como Sharon Stone e Bryan Cranston denuncia a tal questão pessoal da obra pelas mãos de James Franco). E para o caso de curiosidade, o filme encontra-se disponível na internet para quem tiver o desejo de arriscar (ops, de assistir a obra!)
Por estas informações já é possível criarmos uma curiosidade na figura de Tommy. Não somente pela sua aparência pouco ortodoxa, mas pelo fato dos impulsos que fizeram gastar uma fortuna para lançar um filme com qualidade mais que duvidosa que, pela que se vê nas imagens originais que encerram o filme, é algo que beira ao pavoroso. E neste caso a presença de James Franco se torna fundamental para criarmos alguma identificação por Tommy e sua saga artística. O ator tem um excelente desempenho ao ter cuidado com todos os trejeitos do personagem sem que soe uma caricatura incômoda e afetada, até porque, a própria caricatura e seu jeito por vezes afetado são inseridos de maneira calculada e soando eficazes na composição do humor do filme sem perder ou descaracterizar a fonte de inspiração (que por si só, já era pouco comum).
Um homem “misterioso”, agregador, com sotaque estranho e falando por momentos na segunda pessoa e sem qualquer noção do tempo em que vive e principalmente tendo como uma das grandes façanhas de jamais lhe faltar recurso financeiros para o filme. Ou seja, um indivíduo que parece ter saído de um mundo paralelo criando por eles mesmo. Mas, apesar de Tommy ser o responsável pela magnitude da obra, vale ressaltar a presença de Dave Franco ao transformar seu Greg no típico aspirante a astro como contraponto e consciência de Tommy, cuja relação entre os dois levemente assume um clima. Filmado quase sempre com a câmera levemente tremida para dar o tom documental, O Artista do Desastre é eficaz ao apresentar os bastidores do “The Room”, mas ao mesmo tempo em que cria quase uma aura em homenagem ao cinema, não somente por emanar a questão do amor a arte da interpretação , mas por percebemos que, por mais péssimo ator que seja mesmo tendo como inspiração James Dean ou estudado “O Método” (que consistia numa atuação mais natural e verossímil), Tommy emotiva pela sua incapacidade de entender as nuances de um filme, um roteiro, aluguel de equipamentos, filmagens e mesmo assim moldar suas emoções e fracassos em nome da arte sem jamais desistir.
E neste clima, e com um humor sempre eficiente (a sequência em que Tommy tenta reproduzir um texto é impagável), vamos criando certa expectativa pela história usar o lançamento do filme como clímax durante uma première, aonde o filme “The Room” vem à tona ao mundo. E neste momento abre a discussão da obra e poder do seu realizador; pois a partir do momento em que um filme (ou qualquer outra forma de arte) chega ao público, diversas interpretações irão surgir sem que o diretor possa controlar . Assim, ao conduzir a sequência de maneira segura, James Franco mostra como tais visões nem sempre são prejudiciais a uma obra (cuja, cena remete de maneira contextualizada, por favor, a estreia de “Psicose” em que Hitchcock, como o próprio disse, ficou na antessala do cinema ouvindo apenas a reação do público).
Sem ficar claro de onde a figura de Tommy surgiu (o que aumenta o interesse pela sua figura) e que ele pode não ter tido a intenção de ser levado a sério mesmo com seu filme (o que acredito pouco), este O Artista do Desastre faz jus a obra retratada. Não obviamente pelas sua qualidades originais, claro, mas sim por seduzir pela sua honestidade em que foi criada.
Nota 4/5
Rodrigo Rodrigues
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