Blade Runner: conheça o diretor por trás da sequência
Foi divulgado na Licensing Expo 2016, evento sediado em Las Vegas, o promo poster da sequência de Blade Runner. O que muitos pensavam tratar-se de um reboot será, na realidade, uma história situada décadas após o fim do primeiro filme, lançado em 1982. Harrison Ford retorna para o papel de Rick Deckard, juntando-se a Ryan Gosling, Robin Wright, Dave Bautista, Ana de Armas, Slyvia Hoeks, Carla Juri, e Mackenzie Davis.
Pouco se sabe sobre os rumos que o novo filme irá traçar – muitos duvidavam até que a ideia ia sair do papel. Das poucas informações que foram liberadas, descobrimos que o filme será dividido em três grandes atos, todos girando em torno das buscas de Rick Deckard (que deve aparecer apenas no último arco). Ao que tudo indica, Ryan Gosling ficará a cargo do protagonista, e espera-se que seu personagem tenha relação direta com o de Harrison Ford.
Ridley Scott divide o roteiro com Hampton Fancher, além de estar responsável pela produção. Scott estava escalado originalmente para dirigir a sequência, mas sua agenda não permitiu que se dedicasse como queria ao filme. Sendo assim, Denis Villeneuve foi escolhido para dirigir a sequência de Blade Runner. Imaginamos o tamanho da responsabilidade que Villeneuve carrega, e é normal ficarmos um pouco duvidosos quanto ao resultado final da continuação do cultuado filme.
Com isso em mente, revelo que o objetivo da publicação de hoje é convencer você, leitor, de que Dennis Villeneuve é o diretor ideal para tocar o projeto de Blade Runner 2. Como evidências, vou utilizar outros filmes dirigidos pelo canadense.
OS SUSPEITOS (PRISONERS)
O primeiro filme que irei comentar é também o primeiro filme que assisti de Denis Villeneuve. Foi ele que me conquistou e me fez acreditar no potencial de um diretor que, até então, não conhecia. Lançado em 2013, Os Suspeitos conta a história de Keller Dover, interpretado por Hugh Jackman, um homem simples com um trabalho comum e estável. Vive uma vida pacata com a família, e o foco do filme é a perturbação dessa tranquilidade. Sua filha de seis anos, Anna, desaparece junto da amiga Joy, filha dos vizinhos de Keller e a esposa. O caminho de Keller se cruza com o do policial responsável por solucionar o caso, Loki, interpretado por Jake Gyllenhaal (na minha opinião, um dos melhores atores da atualidade). O detetive não possui métodos convencionais para a investigação, e a urgência de um pai desesperado em encontrar a filha faz com que os dois personagens entrem num conflito que define o tom de todo o filme.
Maestralmente conduzido por Villeneuve, Os Suspeitos entra de cabeça na mente de um homem adulto que está prestes a perder aquilo que dá seu norte e define sua vida. Afinal, qual o objetivo de um pai e provedor senão o bem estar de seus filhos e da família? Em contrapartida, vemos como um homem solitário e distante da vítima (Loki) lida com essa mesma situação. O conflito psicológico entre os personagens é claro, e torna-se o ponto principal do filme quando o personagem de Hugh Jackman decide utilizar seus próprios meios para encontrar a filha.
Villeneuve transforma um filme comum de investigação num thriller envolvente e brutal. É impossível assistir a película sem se envolver com o drama de Keller, ao passo que discordamos de algumas decisões que ele toma (por mais justificadas que estas sejam). A indiferença de Loki, sendo apenas o profissional responsável por resolver o caso, pode por vezes irritar o telespectador, mas a idoneidade de suas ações colocam em cheque se devemos mesmo estar irritados com ele. Essa habilidade de fazer o público duvidar de sua própria opinião seria muito bem vinda num filme complexo e profundo como Blade Runner. Outro ponto interessante é a condução da história. Por mais que goste muito de Blade Runner, considero o ritmo do filme um pouco complicado de acompanhar – e alguém com uma visão como a de Villeneuve poderia acertar nisso.
HOMEM DUPLICADO (ENEMY)
Baseado no romance homônimo de José Saramago, Homem Duplicado repete a parceria de Denis Villeneuve e Jake Gyllenhaal. Lançado também em 2013 e produzido logo depois de Os Suspeitos, Homem Duplicado conta uma história um pouco mais complicada e até hoje não compreendida por algumas pessoas. Já adianto que, para explicar o porquê de esse filme ser bom, precisarei dar alguns detalhes da trama. Logo, preparem-se para alguns SPOILERS.
Adam Bell, interpretado por Gyllenhaal, é um professor de História que leciona na Faculdade de Toronto. Possui um relacionamento casual com uma mulher com identidade não revelada e mora sozinho num apartamento simples. Depois de ver um homem muito parecido consigo mesmo num filme alugado, Adam fica extremamente intrigado e perturbado. Quando foi que gravou aquele filme? Aquele é mesmo ele? Será que possui um irmão gêmeo?
Depois de consultar a agência que produziu o filme, Adam descobre o nome do tal ator: Anthony Claire. Após visitá-lo, tem a certeza de possuir um irmão gêmeo que não conhecia. Fora as diferentes personalidades e estilos de vida – Anthony mora numa bela casa, é casado e possui um gosto extravagante e deveras caro para tudo que veste ou usa – eles são idênticos. Ambos tornam-se obcecados um pelo outro, de maneiras diferentes. Anthony sugere até que troquem de vida por um tempo, e Adam estranhamente aceita.
Muitos que estão lendo a matéria até aqui devem estar pensando “esse não é um bom filme” ou “o filme não tem final” – e digo isso pois já ouvi o mesmo de muitos conhecidos. Mas insisto que enxerguem por outra perspectiva. Primeiro, o simbolismo com aranhas – elas podem ser vistas em três pontos do filme: no início, na metade do filme, com uma aranha gigante andando por Toronto, e no final, quando a esposa de Anthony se transforma numa aranha. Segundo, o fato dos dois homens serem na realidade a mesma pessoa – isso fica evidente num determinado ponto do filme, mas Villeneuve não se preocupa em explicar o como e sim o porquê.
Na realidade, Adam não existe. Trata-se de uma outra “face” de Anthony, um homem doente, viciado em sexo e amedrontado por qualquer tipo de compromisso. Ele encara as mulheres ao mesmo tempo como um pedaço de carne e um troféu que precisa conquistar. Já foi infiel no casamento diversas vezes e, por isso, cria Adam para ser sua fuga. É por isso que o apartamento de Adam não possui uma identidade; é um esconderijo. E as aranhas? Bem, essa parte não fica muito clara no filme, e precisei pesquisar um pouco para compreender. Aranhas representam a o envolvimento, a teia, o compromisso de Anthony para com sua esposa, que está grávida. Quando o personagem está perto de considerar a possibilidade de traí-la novamente, a aranha surge para lembrá-lo do compromisso, do casamento, da “prisão”.
O filme é bem complexo e cheio de simbolismos – algo que Blade Runner precisa. Além disso, Villeneuve conseguiu tirar de Jake Gyllenhaal uma interpretação fantástica – o mínimo exigido para alguém que se junta a um projeto tão grandioso como Blade Runner.
SICARIO – TERRA DE NINGUÉM (SICARIO)
Para este filme, deixo meu amigo Rodrigo Rodrigues falar por mim. Para ler a crítica do RR, basta clicar aqui.
O que a sequência de Blade Runner poderia aprender com um filme como Sicario? Primeiramente, o tom dramático e a constante dor e sofrimento dos personagens. Emily Blunt em nada lembra as mocinhas engraçadas que interpreta. Benicio Del Toro quase não consegue se comunicar por causa da dor constante de seu personagem, uma dor que nunca é contada, porém é exposta no final do filme de uma maneira inteligente e chocante.
O mistério em torno dos personagens também é muito bem-vindo; ao invés de contextualizar tudo no início, Villeneuve permite que o próprio filme conte vagarosamente a história de cada um dos personagens. Quando lembramos da cena final de Blade Runner, onde Deckard e Roy Batty (Rutger Hauer) se enfrentam, temos acesso a visão de Roy, e isso nos deixa com uma sensação estranha. Um nó na garganta e, ao mesmo tempo, uma piedade para com o replicante que é caçado.
Esse tom melancólico está presente em Sicario, e considero-o indispensável para a sequência de Blade Runner. Além disso, é impossível deixar de fazer a conexão entre a replicante Rachael (Sean Young) e Kate, a personagem de Emily Blunt. Ambas são manipuladas e não fazem ideia do que representam para a história em termos de reviravolta.
O veredito.
Vimos que Denis Villeneuve consegue manipular o espectador, vilanizar heróis e humanizar vilões, manter o mistério nas tramas e subtramas, utilizar de diversos simbolismos para contar sua história e conduzir o enredo de uma maneira única, personalizada e acessível. Não seriam esses elementos fundamentais para o próximo Blade Runner? “Tem a ficção científica”, você deve ter pensado. Mas é aí que a gente lembra que Ridley Scott tá de olho em tudo (além de acreditar que Denis Villeneuve daria conta sim da direção de um filme do gênero).
E, além da tutela de Ridley Scott e do retorno de Harrison Ford, contamos com Ryan Gosling, na minha opinião o melhor dessa nova leva de jovens atores. Poderia fazer uma publicação tão grande como essa para explicar porque Gosling é uma ótima escolha para encabeçar Blade Runner, mas não quero entediá-los.
Enfim, minha aposta é que o novo Blade Runner será um sucesso – e você pode voltar aqui caso o filme saia e seja um fiasco. Me lembre que eu apostei errado…
… ou veja como eu estava certo em acreditar em Denis Villeneuve. 😉
As filmagens da sequência de Blade Runner começam em julho, e a estreia do filme está prevista para o dia 06 de outubro de 2017. Nos vemos lá?
Para finalizar, deixo um vídeo de Denis Villeneuve falando sobre sendo escolhido como diretor de Blade Runner e o que espera do filme.
Marcus Colz
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Você me convenceu a esperar alguma coisa desse filme. Se for uma porcaria que eu achava que seria (pois geralmente sequencias são uma bosta) vou cobrar de ti heim 🙂
brinks