Stranger Things: por que tanto sucesso?

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É só dizer “nova série do Netflix”, e provavelmente já consigo sua atenção. E não é a toa; o serviço de streaming tem caprichado em suas produções originais – desde as famigeradas séries de super-heróis, passando por remakes e revivals de séries antigas até as películas cinematográficas, tudo que o Netflix parece ter um cuidado diferenciado. Isso, inevitavelmente, gera um público satisfeito e uma legião fiel de seguidores.

Admito, entretanto, que sempre que ouço que o Netflix está para lançar algo novo, automaticamente vem na minha cabeça o pensamento de que “dessa vez não vai dar certo”. Não tem como eles acertarem sempre! Se fosse tão fácil produzir algo de qualidade, as redes de TV americanas jamais precisariam cancelar programas devido a falta de audiência e críticas negativas…

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Felizmente, o Netflix sempre me surpreende – e com Stranger Things, não poderia ser diferente. É provável que você já tenha ouvido algum amigo falar bem da série, ou lido uma crítica muito positiva num site de cultura pop similar ao Maxiverso. Afinal, o que essa série tem de tão especial para ter cativado tanta gente em tão pouco tempo?

Bem, vamos desbravar essa fantástica criação dos irmãos Duffer.

A lil’ bit of this, a lil’ bit of that…

winona-ryder Stranger Things: por que tanto sucesso?Num misto de terror, mistério e fantasia, somos apresentados à pequena cidade de Hawkins, no estado de Indiana. Um grupo de amigos se aventura numa campanha de Dungeons & Dragons, e o dia passa num piscar de olhos. Logo, a noite cai e precisam voltar para suas respectivas casas. Assim, os amigos Will (Noah Schnapp), Mike (Finn Wolfhard), Dustin (Gaten Matarazzo) e Lucas (Caleb McLaughlin) montam em suas bicicletas e seguem pelas ruas da pacata cidade.

A trama tem início quando Will desaparece misteriosamente. Sua mãe, Joyce (Winona Ryder), vai até a polícia para solicitar auxílio, mas o Chefe Hopper (David Habour) mostra-se incrédulo quanto à possibilidade do garoto estar em perigo. Como a polícia não faz nada num primeiro momento, os amigos de Will decidem organizar sua própria equipe de busca, liderados por Mike – e, no mesmo local em que Will foi visto pela última vez, encontram a misteriosa Eleven (Millie Bobby Brown), uma garota tímida, que fala pouco e possui poderes estranhos e únicos.

O irmão de Will, Jonathan (Charlie Heaton) decide fazer sua parte e espalha cartazes com a foto de seu irmão. Com o tempo, acaba chamando a atenção de Nancy (Natalia Dyer), irmã de Mike. Apesar de estar perdidamente apaixonada por Steve (Joe Keery), Nancy se envolve com Jonathan e sua busca, dando início ao típico triângulo amoroso adolescente.

Todo esse enredo mistura-se com uma possível conspiração governamental. Bem… diferente, não é?

Stranger Things estreou em 15 de Julho de 2016. Muitas pessoas disseram ter assistido os oito episódios da primeira temporada em uma madrugada – o que não é lá muito surpreendente. Cada vez mais, essas maratonas de vários episódios ficam comuns. O que me deixou surpreso é que, diferente de Demolidor, Jessica Jones, House of Cards ou até mesmo Narcos, foi difícil encontrar alguém falando mal da série. Stranger Things possuía todos os elementos para não agradar – história não muito definida logo no início, trama centralizada em crianças (algo que a série rapidamente desmente, mas muitos que não assistiram poderiam criticar precocemente), referências a uma época distante do público adolescente que consome as produções do Netflix e utilizam massificamente as redes sociais, dentre outros.

Mesmo com tudo isso jogando contra, Stranger Things triunfou.

netflix Stranger Things: por que tanto sucesso?O primeiro ponto que vale a pena destacar é o desenvolvimento. Por mais que se trate de uma ficção científica, cada personagem possui seus próprios dramas – dramas reais, palpáveis, próximos de nossa realidade. É impossível não se envolver com algum dos personagens e se enxergar numa das diversas facetas que eles apresentam, seja com o passado do xerife Hopper e a mágoa que sente por ter falhado com sua família, ou com os momentos intensos de Joyce, ou até mesmo com a cumplicidade presente na relação de Mike, Dustin, Will e Lucas.

A conexão desses diversos enredos com a trama principal também deve ser citada. É como se a série se dividisse em quatro grandes histórias – a de Eleven com os amigos de Will, do Chefe Hopper e a investigação,  o drama de Joyce (que, pouco a pouco, fica em segundo plano) e o triângulo amoroso de Jonathan, Nancy e Steve – que rumam a um único objetivo. Com Stranger Things, você sente que a história está indo para algum lugar.

Por fim, as referências aos anos 80 – algo que pude ver em todas as análises sobre a série – devem ser levadas em conta. Realmente, é como se você sentisse um misto de saudosismo e nostalgia com o que a série apresenta. Podemos citar as homenagens visuais a filmes já tradicionais de Steven Spielberg, Sam Raimi e John Carpenter, ou então os GooniesBeetlejuice, trilhas que vão de Joy Division a The Clash. Stranger Things representa um mosaico da cultura pop dos anos 80 – e esse é apenas um dos motivos para você assistir essa série.

Já pôde conferir a maravilha que é Stranger Things? Compartilha com a gente o que achou nos comentários!

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AvatarMarcus-150x150 Stranger Things: por que tanto sucesso?

Marcus Colz

Livreiro, gamer, aficcionado por filmes, séries e música, não necessariamente nessa ordem. Fã de black metal que simpatiza com a Katy Perry. Come junk food mais do que deveria e não suporta alho, apesar de não ser um vampiro. Na busca de seu próprio universo, se encontra no Maxiverso.

3 thoughts on “Stranger Things: por que tanto sucesso?

  1. As poucas críticas que Strange Things vem recebendo se dão pela ausência de inovação em face de um tom totalmente referenciado e baseado em “clichês”.

    De fato, a série está recheada de clichês, tanto em estrutura narrativa, quando nos arquétipos dos personagens e seus arcos dramáticos, sem falar na estrutura da série em sí, “basicona”, linear e com dois plots separando as três fases do enredo: começo, meio e fim, ou introdução, desenvolvimento e preparação para o encerramento e o final propriamente dito, com a resolução do que foi proposto (não confundir plot com plot twist, pois o primeiro é a divisão das etapas da narrativa e o segundo é a já famosa reviravolta conceitual).

    Os clichês são superabundantes na história: uma grande corporação misteriosa desenvolve pesquisas secretas com crianças dotadas de habilidades extraordinárias; quem comanda as pesquisas é o vilão da história, um sujeito sem escrúpulos, manipulador misteriosos; um “acidente” libera tanto uma das crianças como um monstro maligno que se mostra o antagonista da história; a criança que foge é a chave para a resolução do mistério apresentado e se sacrifica no final para deflagrar a derrota do antagonista; enquanto que um dos amigos capturado inicialmente é mantido vivo até o final da trama, a “coadjuvante” não recebe a mesma dádiva e morre sem muito apelo; o herói da narrativa, o xerife, se empenha pessoalmente no resgate do garoto para completar seu próprio arco dramático, onde tenta usar esse feito para compensar sua impotência ante a perda da própria filha; os nerds estereotipados que acabam ensinando os policiais céticos detalhes sobre o caso corrente, bem como a menina estudiosa que se envolve com o garanhão da turma de bullies, os conflitos familiares tradicionalmente encenados para dar peso aos protagonistas; etc.

    Dito isso, fica a questão sobre essa característica ser um defeito ou não. Se considerarmos que um clichê não é um problema por si só, mas sim “transforma-se em um problema” quando mal usado ou quando significa que o autor da história não teve criatividade suficiente para criar coisas fora do padrão, então no caso de Strange Things não há problema, pois a série não pretende em momento algum inovar ou revolucionar o gênero.

    Na verdade o que ocorre é justamente o contrário, com o público alvo da mesma sendo composto dos amantes dos filmes de aventura, ficção, terror e suspense dos anos 80 (e dá famosa “década Ploc” em geral), além de games, rock e quadrinhos e da literatura que aborda essa temática.

    Tudo em Strange Things foi feito para que, ao se assistir a série, tenha-se a impressão sólida de que se está assistindo um filme legítimo dos anos 80. Desde a direção de arte, passando pela trilha sonora (fantástica) e a fotografia, tudo se encaixa perfeitamente no clima oitentão da ambientação da série.

    Para fechar o combo “nostalgia overload”, todos os episódios – além de acontecimentos dos próprios – estão recheados de referências diretas à cultura pop dos anos 80, com direito até a pôsteres de filmes, citações de livros e quadrinhos.

    Falando em referências, podemos citar diretamente H. P. Lovecraft, Stephen King, Edgar Allan Poe e os filmes Alien, Poltergeist, Star Wars, Star Trek, Conta Comigo, Akira, Enigma do Outro Mundo, Sob a Pele, Viagem Alucinante, Dublê de Corpo, A Casa do Espanto, Chamas da Vingança, Goonies, Contatos Imediatos, Alta Freqüência, Bruma Assassina, Jogos Fatais, Minority Report, etc, além, claro, de E. T. e toda obra de Steven Spielberg, a mais clara e explícita inspiração da série.

    A conclusão, portanto, é que Strange Things se propõe justamente a trabalhar com os clichês e as referências para criar uma história que nos soe familiar e nostálgica, criando toda uma ambientação de anos 80 (pela produção e pelas referências). E consegue com louvor!

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