Crítica: Café Society
Direção : Woody Allen
Elenco : Jesse Eisenberg, Kristen Stewart, Steve Carell, Blake Lively, Corey Stoll, Judy Davis, Ken Stott, Parker Posey, Paul Schneider e Tony Sirico
Analisar uma obra de Woody Allen é uma tarefa intrigante. Filmando praticamente ininterruptamente durante mais de 40 anos, é impossível que os filmes do diretor não sofram com certo desgaste de referências e abordagens. No caso deste Café Society, o longa Tiros na Broadway de 1994 é uma lembrança constante.
Todavia, é louvável que uma obra como Café Society possa empolgar tanto pela sua qualidade técnica como ainda apresentar um agradável e singelo romance (ratificando os contextos não são novos e todas as marcas como sempre estão lá: as piadas ácidas contra a religião e ideologias, as autodestrutivas, os trocadilhos, a trilha sonora de bom gosto, roteiro ágil etc.).
Bobby (Eisenberg) é um jovem sonhador que assim como vários desembarcam em Hollywood para uma vida de sonhos dentro da indústria cinematográfica. Contando com a ajudar de seu tio Phil (Carrell), um dos maiores e mais influentes produtores da época, Bobby vai trilhando seu caminho na indústria, mas ao se apaixonar por Vonnie (Stewart) sua vida muda para sempre.
Woody Allen transforma a paixão do jovem num triangulo amoroso típico das desilusões amorosas do diretor, e mesmo ao fazer com que não assumimos o ponto de vista de Bobby (pois estamos cientes de algo que ele não sabe), conseguimos criar uma identificação com seus sentimentos. Jesse Eisenberg se sai bem como o alter ego de Allen com seu timing que cai com perfeição para os diálogos do diretor, assim como Steve Carell confirma que é capaz de criar personagens que mesmo que o público fique na expectativa de um momento cômico (um erro) não deixamos de termos um apreço pelo caráter de seu personagem.
Assim chegamos a Vonnie de Kristen Stewart. A atriz parece cada vez mais disposta a se entregar a papeis que requerem uma maturidade deixando para trás qualquer estereótipo adolescente. Ajudada pela narrativa que reconstrói de maneira icônica sua mudança de vida e comportamento (transformando num objeto de desejo quase inalcançável) Vonnie tem seu arco dramático, mesmo que óbvio capaz de engrandecer o relacionamento com Bobby. Portanto quando se transforma naquilo que sempre refutou, não por uma mudança de caráter, mas o fato de aceitarmos e respeitarmos suas decisões e rumos que tomou na vida.
A fotografia de Vottorio Storaro é lindíssima por evocar com sua palheta de cores quentes toda a atmosfera da época em que se passa o filme (anos 30) que mantém o padrão visual do diretor. Assim como o trabalho da direção de artes de Santo Loquasto que faz um trabalho de reconstituição maravilhoso tanto nas locações externas como as cenas dentro de ambientes fechados. Não há uma cena que me lembre que a fotografia e a reconstituição não falem por si e que não esteja invocando toda a aura romântica e fantasiosa associada ao estilo (até porque estamos num filme de Woody Allen), como podemos confirmar na bela cena do primeiro encontro entre Bobby e Vonnie de uma delicadeza simples mas extremamente eficaz ao passar da fotografia quente para quase um breu a luz de velas.
Mas admito que os problemas de Café Society sejam “escondidos” pela sua narrativa, principalmente pelas piadas (na maioria bem engraçadas mesmo) e claro pela beleza da fotografia e reconstituição de época. Ao criar várias frentes, que por mais carismáticos que sejam os personagens, se tornam destoante da proposta principal. Como podemos constatar no núcleo familiar de Bobby, principalmente seu irmão Bem (Stoll), um gangster que usa a violência para resolver os problemas (apenas talvez para incluir estética do gênero) não se justificarem durante a projeção – repetindo, por mais que sejam bons momentos, ainda destoam dentro da história.
Café Society pode não se sustentar com um romance profundo ou como um estudo complexo de personagens. Mas seria um pouco cruel acusar, depois de tanto tempo e tanto dedicação dos seus realizadores cujas qualidades são vistas de maneira explícita, como um trabalho medíocre ou descartável.
Cotação 4/5
Rodrigo Rodrigues
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sua nota foi bem alta… eu nem ia ver pq, é Woody Allen né e eu meio que acho meio sacais os filmes dele, e ainda por cima com essa dupla de atores (chamar essa menina de atriz é um baita esforço)… mas pela crítica vou conferir
Waltinho
Obrigado pelo comentário.
A nota nem sempre reflete com exatidão e até acho reducionista demais (prefiro que se atrelem ao texto em si)
Eu particularmente sempre gostei muito dos filmes deles. Alguns nem tanto. Isso é normal. rs
Quanto a atriz eu dou um voto de confiança, ela esta indo bem.
Espero que você goste do filme ao vê-lo
Abraço e obrigado novamente pelo comentário que engrandeceu a discussão sobre o filme.