Os Heróis dos Super-Heróis: A Era de Prata dos Quadrinhos
Em nosso último texto falamos sobre o Código dos Quadrinhos, selo responsável por controlar o conteúdo das histórias em quadrinhos. Desde sua criação em 1954, a Associação Americana de Revistas em Quadrinhos, implementou uma censura através do Comic Code Authority, órgão destinado a garantir que não houvessem temas inapropriados às crianças, evitando conter violência e contradições sociais nos enredos.
Após o final da 2ª Guerra Mundial, os quadrinhos de super-heróis haviam deixado de ser o gênero mais consumido pelos leitores das HQs. Devido aos roteiros repetitivos e óbvios, as histórias dos vigilantes superpoderosos abriram caminho para outros gêneros que se destacaram no período. Os quadrinhos de guerra, de faroeste, histórias de crime e suspense, terror e horror, logo encheram as bancas de jornal.
A crise criativa do gênero dos super-heróis desembocou na crise dos quadrinhos, quando uma ala conservadora da sociedade estadunidense se revoltou com os quadrinhos que vinham sendo veiculados entre crianças e adolescentes. Com a denúncia de que os quadrinhos faziam apologia às drogas, ao sexo, à violência e tudo que tirava o sono dos pais, educadores e clérigos, foi criado o Código para evitar que todos os quadrinhos se tornassem vítimas dos movimentos conservadores, e ao mesmo tempo puxar o tapete de editoras que estavam lucrando com quadrinhos polêmicos, como a EC Comics.
Com a crise e com as limitações do Código, a grande maioria das revistas de super-heróis foram suspensas ou canceladas, mantendo no mercado apenas os personagens mais icônicos, como Super-Homem, Batman e Mulher Maravilha. Mesmo deixando de serem canceladas, as revistas dos heróis caíram drasticamente nas vendas, pois suas histórias continuavam desinteressantes e até mesmo um tanto absurdas, colocando os super-heróis em situações cômicas, para não dizer ridículas, e introduzindo romances em suas histórias, o que para alguns personagens foi praticamente o fim, como no caso da guerreira Amazona, a Mulher Maravilha, que durante o período, infelizmente, foi limitada à se preocupar com seu relacionamento com Steve Trevor, que eventualmente era disputado pela heroína com alguma supervilã. Para saber mais sobre a história da Mulher Maravilha, vejam nossa matéria sobre os 75 anos da personagem neste link.
Após quase 10 anos de decadência das histórias de super-herói, desde seu apogeu na Era de Ouro dos Quadrinhos, principalmente durante a 2ª Guerra Mundial, os paladinos mascarados retornaram ao topo das vendas de HQs nos EUA. Nosso objetivo neste artigo será elencar alguns artistas e editores responsáveis por reformular completamente o gênero dos super-heróis, criando e recriando praticamente todos os super-heróis que conhecemos nos dias de hoje.
No documentário Secret Origins: Story of DC Comics, Len Wein, quadrinista conhecido por cocriar Monstro do Pântano e Wolverine, atribui o mérito por reinventar os super-heróis e salvar a indústria das HQs dando início à Era de Prata dos Quadrinhos à Julius Schwartz. O então editor estava na DC desde 1944, e somente em 1956, junto de seu amigo Mort Weisinger, tornou-se encarregado de ressuscitar títulos antigos e ou que não estavam vendendo mais.
Weisinger foi responsável por revitalizar o Super-Homem, criando ao longo do processo novos personagens como a Supergirl, carismática kryptoniana prima do Super-Homem. Enquanto isso, Schwartz era responsável por reinventar personagens antigos que deram certo em outro momento e atualizá-los para o contexto dos jovens dos anos 50.
O espaço perfeito para essas “experiências” era a revista Showcase, título onde se publicavam diversas histórias curtas de personagens e títulos secundários ou piloto de projetos que poderiam futuramente ganhar sua própria revista dependendo do resultado das vendas. Então na Showcase #4, Schwartz junto de Joe Kubert, Robert Kanigher e Carmine Infantino, lançaram o novo The Flash.
A revista Showcase #4, do ano de 1956, é considerada o primeiro quadrinho da Era de Prata, e suas vendas foram tão bem-sucedidas que esgotaram a edição. O novo Flash trazia um uniforme completamente diferente dos padrões da época, com a chamativa roupa vermelha de peça única, adornada com relâmpagos amarelos, fugia completamente do esteriótipo da capa e “cueca em cima da calça”. Não foi só o visual do personagem que foi alterado, a identidade e a própria origem dos poderes do herói foram modificadas. Antes Jay Garrick, com seu chapéu com asas e poderes oriundos da inalação de “hard water” (água dura), agora Barry Alen, cientista forense atingido por um raio e as substâncias químicas que manipulava. O personagem se tornou mais plausível para o público e o interesse por heróis relacionados à ficção científica cresceu com o mudar das gerações, deixando de lado as histórias pautadas em lendas e magias.
Esse foi o caso de outro personagem da Era de Ouro que se tornou mais conhecido nos dias de hoje por sua reformulação na Era de Prata, o Lanterna Verde, que teve seu retorno na Showcase #22. Com John Broome, Gil Kane e Joe Giella, Julius Schwartz recriou o Lanterna Verde, dessa vez protagonizado pelo piloto de caça, Hal Jordan. Mais uma vez o visual do personagem foi reformulado, deixando de lado a grande capa e a camisa vermelha com a lanterna desenhada do Lanterna anterior, Alan Scott, para trazer uma roupa de peça única preta e verde a qual o personagem projetava com o próprio poder do anel e um logotipo da Tropa dos Lanternas Verdes, corporação intergalática de paladinos esmeraldas, criada a partir da Showcase #22, quando o protagonista ganha seus poderes após encontrar um alienígena ferido, membro da Tropa dos Lanternas Verdes.
Apesar do grande feito de relançar os super-heróis do passado e por consequência trazer de volta à tona o “supers”, o maior feito de Julius Schwartz viria no ano de 1960. Com a equipe composta por Gardner Fox, Mike Sekowsky, Bernard Sachs, Joe Giella, Murphy Anderson e Gaspar Saladino, Schwartz aproveitou mais uma revista de títulos variados, e na The Brave and The Bold #28, lançou pela primeira vez a Liga da Justiça da América. A ideia já havia sido trabalhada nos anos 40, com o nome de Sociedade da Justiça, um grupo de super-heróis famosos por suas aventuras solo, agora juntos em uma só equipe. No documentário sobre a origem da DC Comics, Schwartz diz que nunca gostou da palavra “sociedade”, pois isso remetia a algum tipo de “clube social”, algo fora da realidade dos jovens, enquanto a palavra “liga” seria uma opção melhor, pois os jovens estavam habituados à ligas de beisebol, basquete, futebol americano, etc. Uma animação interessante da DC que homenageia os super-heróis do período da Era de Prata, é a Liga da Justiça: A Nova Fronteira, de 2008, baseada na série em quadrinhos, DC: A Nova Fronteira, de 2003 à 2004.
A Liga da Justiça da América, agora com novos e mais modernos membros, foi um enorme sucesso de vendas, marcando a volta dos super-heróis com toda força para as prateleiras das bancas e para o gosto dos leitores. Tamanho sucesso fez com que as outras editoras resolvessem voltar a lançar seus heróis, e como Schwartz diz humildemente no documentário, ele acabou salvando a DC Comics e a Marvel Comics.
No próprio documentário sobre a origem da DC, Schwartz conta a lendária história que o próprio Stan Lee não perde a oportunidade de contar em cada entrevista e participação em documentário que faz, a lenda diz que Jack Liebowitz, mandachuva da National Allied, futura DC Comics e Martin Goodman, criador da Timely Comics, futura Marvel Comics, costumavam jogar golfe juntos, e um belo dia Liebowitz se gabava do sucesso emplacado pela Liga da Justiça da América, que era um grande sucesso de vendas, então Goodman se viu forçado a dizer a seu editor, Stan Lee, para que criasse um grupo de super-heróis também.
Em sua autobiografia, Excelsior: The Amazing Life Of Stan Lee, Lee conta que com a crise dos quadrinhos e a censura os obrigando a publicar histórias de Funnie Animals, romances, e outras histórias que perderam o interesse de parte dos autores e do público, e o pelo fato de não ser mais um jovem entusiasta no começo da carreira, sua intenção era pedir demissão do ramo das histórias em quadrinhos quando Martin Goodman o encarregou de criar uma equipe de super-heróis, inclusive sugerindo que reutilizasse personagens antigos da empresa, como o Tocha-Humana, o Principe Submarino Namor, ou até mesmo o Capitão América. Stan Lee, seguindo o conselho de sua esposa Joan Lee, decidiu criar um grupo de heróis diferente de tudo que havia sido feito até então. Joan disse à Stan que fizesse um quadrinho exatamente como ele gostaria que fosse feito, pois na pior das hipóteses o quadrinho não seria aceito e ele seria demitido, como já era sua intenção de início. Foi assim que no ano de 1961, Stan Lee lançou o Quarteto Fantástico, criando um novo selo com um nome que Stan sempre gostou e que a Timely havia utilizado décadas atrás em suas revistas, Marvel Comics.
Assim se iniciou o período conhecido como Era Marvel, onde a maioria dos personagens mais famosos da editora ganharam vida em pouquíssimo espaço de tempo. Diversos fatores garantiram o sucesso do Quarteto Fantástico. Diferente do grupo de heróis concorrentes, a Liga da Justiça, o Quarteto era mais realístico ao trazer conflitos internos entre os heróis, e contextualizar a equipe em uma realidade mais próxima da nossa, deixando de lado as cidades fictícias e colocando Nova Iorque como sede dos heróis e palco das aventuras. Sean Howe, no livro Marvel Comics: A História Secreta, analisa a Fantastic Four #1, e observa que a capa “era diferente de todos os títulos de super-heróis que se viam nas bancas; os protagonistas apareciam pequenos e indefesos”.
Conflitos entre os personagens, contextos próximos à nossa realidade, uma boa carga de drama e comédia se tornaram as marcas da Marvel Comics, que aproveitando a boa fase, lançou uma avalanche de personagens novos, em 1962, o Incrível Hulk, (saiba mais no link), o poderoso Thor, na revista Journey into Mystery #83, o Homem-Formiga, na revista Tales of Astonish #27, e o Homem-Aranha, um dos personagens mais importantes da Marvel Comics (saiba mais no link); em 1963, o Homem-de-Ferro, na revista Tales of Suspence #39 (saiba mais no link), Doutor Estranho, na revista Strange Tales #110, X-Men #1, Avengers #1, que em sua 4ª edição trouxe de volta o Capitão América, junto dos novos heróis da Marvel; Demolidor, no ano de 1964; Inumanos, em 1965; Pantera Negra, em 1966; Surfista Prateado, que fez sua estreia em 1966 na Fantastic Four #48, e ganhou sua própria revista em 1968. Nessa lista consideramos algumas das HQs mais icônicas da Marvel lançada nos primeiros anos das novas histórias de super-heróis, mas uma diversidade imensa de personagens foram criados nesse curto espaço de tempo e nos anos posteriores, com a ajuda de um “exército” de artistas que criaram e cocriaram todos estes títulos, artistas como Jack Kirby, Steve Ditko, John Romita, Chris Claremont, John Byrne, John Buscema, entre outros artistas responsáveis pelo sucesso da Marvel.
A “Casa das Ideias” não parava de crescer, Howe destaca, em seu livro, que Goodman chegou a comprar anúncios em revistas do mercado editorial para anunciar o sucesso da Marvel Comics: “A casa Marvel não para de crescer… E crescer mesmo! Pois veja: de 22.530.000 exemplares vendidos em 1963, passamos a 27.709.000 em 1964, a 34.000.000 em 1965 e a estupeficantes 40.500.000 em 1965! Mas é só o começo! Estamos a caminho dos 50.000.000 em circulação!”. Foi neste período que a Marvel finalmente ultrapassou a DC Comics e assumiu o primeiro lugar das vendas nos Estados Unidos. Estes números são importantes, pois isso demonstrava que os quadrinhos voltaram a ter força no mercado e que o público dos quadrinhos voltou a crescer.
Com o crescimento do número de leitores e o sucesso dos super-heróis, a censura foi se tornando gradativamente menos severa e influente. Outro fator fundamental é que essa mesma juventude, que consumia cada vez mais os quadrinhos, era a juventude dos anos 1960′ que começou a questionar as autoridades, a moral, as regras e o modo de pensar e viver da sociedade. Podemos dizer, resumidamente, que quanto mais os movimentos dos jovens crescia, mais a censura se enfraquecia, mas isso, mais uma vez, é assunto para um momento futuro, onde podemos abordar os movimentos de resistência à censura, onde os quadrinhos underground questionaram diretamente a censura e os quadrinhos mainstream, ou seja, os quadrinhos comerciais.
Até os dias de hoje, a Marvel e sua concorrente DC, criam e recriam seus personagens adaptando-os sempre ao contexto dos leitores. Esse foi um importante aprendizado que podemos entender como a chave do sucesso da Era de Prata, aproximar a fantasia da realidade, ou seja, fazer com que o leitor se identifique mais com os personagens e suas aventuras, criando enredos mais críveis, super-heróis humanizados passíveis de falhas, dúvidas e medos, e situações cotidianas em que muito provavelmente o leitor já tenha vivido, como o medo de decepcionar as expectativas de seus entes queridos, a dificuldade de pagar suas contas ou manter seu emprego, dramas em seus relacionamentos pessoais e afetivos causados por inveja, ou ciúme, ou insegurança, etc. Graças aos heróis dos super-heróis, quase tudo que conhecemos deste gênero, que perdura à tantas gerações, existe e boa parte dos personagens que ganharam fãs ao redor de todo o mundo foram criados. Tão importante quanto a Era de Ouro dos Quadrinhos, onde nasceram os super-heróis, a Era de Prata dos Quadrinhos foi onde renasceram os super-heróis.
Raul Cassoni
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belo texto, nao entendi a celeuma que criaram la no Face, nao vi nada de errado
Prezados visitantes, sabemos que o texto está gerando debates em um grupo de Facebook e alguns estão vindo aqui comentar, porém informamos que nesse site, ofensas e palavreado chulo não serão permitidos. Acreditamos que vcs conseguem discordar do post sem precisar partir pra briga, certo? 😉
isso é outro nome pra censura… deixa o autor responder minha crítica, se ele nao aguentar, paciencia
duvido que vc ja tenha pegado uma historia da Era de Ouro pra ler… deve ter escrito tudo isso so baseado nas pesqusias que vc fez [comentário editado por conter ofensas]
o autor parece os nerdola mimizento que fica preso ao passado, sai da caverna do dragao meu caro, isso ai é algo que hj em dia nao serve nem pra criança mais, so serve pra constar na wikipedia, pega os quadrinhos a partir do meio dos anos 80 pra ver a estrutura de roteiro, a profundidade das historias e dos personagens pra vc ver [comentário editado por conter ofensas]
ta repetindo o Nathanael la no Face… me diz o que tem nesse texto que seja mimimi??????? o cara so ta relatando o que foi a Era de Prata, nao ta dizendo que foi melhor ou pior que outras epocas nem nada assim
pega as historias da Era de Ouro, nem criança consegue ler aquilo…. ridiculamente inocente e infantil… nem levo em conta… ficar endeusando esse passado é perda de tempo, nao da pra comparar uma historia dos anos 40 com uma Cavaleiro d as Trevas ou Watchmen pelo amor de Deus
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[comentário editado por conter ofensas]
Era de Ouro: o nascimento
Era de Prata: o crescimento
Era de Bronze: a adolescência
Era Image: a era da rebeldia e da quebra de paradigmas (por sorte durou pouco)
Era atual: a maturidade
[comentário editado por conter ofensas]
Muito boa a escolha do título. Ficou ótima essa continuação, bem informativa. Como sempre, não resisto em fazer um paralelo com os mangás: a humanização do personagem e o afastamento daquela ideia de herói perfeito dos heróis da Era de Prata são características muito comuns aos personagens dos mangás. É realmente algo que aumenta a identificação com o leitor 🙂
Durante a era de prata, os heróis evoluíram muito, assim como suas histórias. Foi nessa época que surgiram as grandes lendas dos quadrinhos: Stan Lee, Jack Kirby, Gil Kane, Steve Ditko, John Romita Sr., John Buscema, Gardner Fox, etc. Neste período, o lado pessoal dos heróis ganhou ênfase. Antes, tínhamos uma figura icônica e poderosa, com sua moral inabalável. Agora, os heróis tinham conflitos pessoais, eles se desenvolviam ao longo das histórias, como qualquer pessoa. Um grande exemplo disso é o nosso amigo de sempre, o Homem-Aranha, da Marvel Comics.
O grande diferencial da Marvel era justamente este. A editora tinha os personagens mais humanos da época. Seus heróis falhavam e sentiam dúvidas. Eles eram mais sofisticados. Este diferencial se deve ao trio Lee, Kirby e Ditko. Como o realismo das histórias e personagens aumentou, os desenhos também seguiram esta tendência. A anatomia dos personagens era bem desenvolvida, as expressões faciais deles eram mais realistas e as perspectivas ajudavam a contar a história da melhor maneira.
Sensacional seu artigo, parabéns!!! Temos uma ilha de profundidade em um universo de superficialidades que são os sites que abordam quadrinhos! FANTÀSTICO!
Curiosidade: após a caça as bruxas que os quadrinhos sofreram a Dc comprou quase todos os direitos de editoras menores e em seguida tentou recriar seus heróis para uma nova geração, foi ai que surgiram as novas versões do Flash (Barry Allen, o Flash II), bem como o Lanterna verde II (Hal Jordan).
Essas mudanças foram muito bem recebidas pelos leitores, com historias mais voltadas aos temas de ficção cientifica. Isso levou ao fim da era de Ouro e ao inicio da chamada era de prata, mesmo a era de prata tinha suas próprias bizarrices, por algum motivo que irritava os fãs de quadrinhos, mas atraia os leitores ocasionais aumentando as vendas quando colocavam gorilas na capa ou simplesmente no meio da historia algum herói virava um gorila.
Foi uma febre durante o fim da era de ouro e o inicio da era de prata dos quadrinhos colocaram gorilas para venderem as revistas, foi ai que surgiu diversos vilões e heróis dos quadrinhos gorilas.
A Febre era tão grande que às vezes eram colocados nas capas mesmo nem aparecendo nas historias.
Analisar essa época é muito legal, pois vemos a gênese de personagens que se tornaram extremamente importantes para a história do Flash. E, muitas vezes, sua origem difere bastante do que eles vieram a se tornar, como é o caso do Flautista.
Excelente texto, como tem sido de praxe nesse site. Uma verdadeira aula. Se me permite contribuir para o tema, depois da Era de Ouro os quadrinhos mais populares eram sobre temas policiais, terror e piratas e os heróis, além da baixa vendagem, sofriam com o Código e a consequente ‘Censura’. Quanto ao surgimento da Era de Prata, Schwartz conseguiu captar o crescente interesse das pessoas por ciência e tecnologia num contexto onde a Bomba Atômica e a Corrida Espacial simbolizavam, respectivamente, o pior e o melhor que o avanço tecnológico poderia trazer. Um misto de fascinação e medo cercava tudo o que fosse relacionado à Ciência e Schwartz trouxe isso ao mundo dos super-heróis, tornando-os novamente relevantes. Logo outros heróis da Era de Ouro foram reformulados com essa pegada da ficção científica. Sobre a criação da Liga, segundo um texto de um dos seus autores do Maxiverso, lá no Sindicato Nerd, houveram também outros motivos pra mudar o nome de Sociedade pra Liga: “cronologia” já era algo levado a sério na época e, para não obliterar de seu cânone as aventuras originais da SJA – que tinha muitos fãs saudosos – a DC criou ali um conceito oficioso de realidade paralela, informando que as aventuras antigas do grupo haviam ocorrido em uma “outra versão da Terra, diferente daquela onde existia a LJA”. Na revista do Flash foi mostrado que haviam outras realidades, e aproveitando que a versão “original” do grupo, a Sociedade da Justiça, estava a salvo em uma realidade alternativa/paralela, a editora resolveu então lançar uma nova superequipe. A mudança no nome (saiu “Sociedade” e entrou “Liga”) tem várias explicações. Os anos 50, nos Estados Unidos, foram marcados por fortes sentimentos de união e aliança dentre a sociedade, por conta do pós-guerra e da Guerra Fria. Na primeira metade da década, o sentimento era de euforia com a vitória na Segunda Guerra Mundial e com a esperança de um mundo melhor, mais justo e fraterno que se iniciava a partir de então. Na segunda metade, com o fortalecimento das nações comunistas, o sentimento de união ganhou tons de bravura e luta em lugar do virtuosismo ingênuo original, por conta da Guerra Fria com o bloco soviético. O “american way of life”, como o conhecemos hoje, surgia ali. Acredita-se que, muito por conta desses sentimentos, Gardner Fox, escritor incumbido pela DC de revitalizar a Sociedade da Justiça da América, tenha resolvido adotar o nome “Liga”, para enfatizar a união e a fraternidade da equipe, ancorando-se nos sentimentos que estavam tão em voga no país e que, consequentemente, trariam uma resposta positiva dos leitores, por identificação inconsciente. As justificativas para convencer o editor Julius Schwartz a respeito do nome incluíram até menções às ligas de baseball e de futebol americano, que viviam uma época de sucesso comercial sem precedentes, e ao que consta o editor também não via com simpatia o termo “Sociedade”. Assim, a Liga da Justiça da América surgia como um símbolo do sentimento que vivia o país, um símbolo de esperança, bravura, luta e união.
Obrigado, Marcos Vinicius. Que bom que gostou do texto! Valeu pela contribuição, muito bem observado. Abç