Belezas do céu noturno e escalas universais

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Se você não mora desde pequeno em um grande centro, ou se já visitou amigos ou parentes em regiões menos populosas, provavelmente conhece a fantástica visão do céu noturno.

É de longe uma das visões mais belas que posso me recordar, olhar o céu a noite sem nenhuma fonte de luz proxima é algo indescritivel, é uma experiência tão imersiva que parecemos estar entre os bilhões de pontinho coloridos que se encontram tão longe, mas que parecem ao alcance dos nosso dedos. Infelizmente não estão, ou felizmente.

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A nossa estrela, o Sol, tem uma temperatura de superfície que ronda os 5700 ºC, seu núcleo é três vezes mais quente e esse monstro que se encontra há 150 milhões de km, deitado olhando a Via Láctea. Você provavelmente viu inúmeras estrelas parecidas com o Sol, e algumas dessas estrelas podem nem mais existir agora, nesse exato momento que você está lendo esse texto.

Como? Porque?

Obviamente você sabe que o universo observável é algo que simplesmente escapa a nossa mera compreensão, são 93 bilhões de anos luz. Um ano luz é uma unidade de medida de distância e não de tempo, que representa a luz a viajar pelo vácuo durante um Ano Juliano (unidade de medida de tempo definido como exatos 365,25 dias de 86.400 SI segundos cada [Sistema Internacional de Unidades], totalizando 31.557.600 segundos) , que corresponde a 9.460.730.472.580,8 km. Agora é a parte fácil, multiplique isso por 93 bilhões e você vai ter o valor total do diâmetro da esfera observável do universo.

Assim sendo, sempre que você olha para as estrelas a noite, você vê algo que aconteceu a centenas de milhares de anos, até mesmo para bilhões de anos atrás se você estiver usando um telescópio. O céu noturno é um filme, uma recordação do passado, uma imagem do que aconteceu a muito muito tempo, numa galáxia muito muito distante (eu já vi isso em qualquer lugar).

As vezes não notamos o quão ínfimos somos comparados com a escala universal, e quão efêmera é a nossa existência comparada com essas escalas colossais, e deixamos de perceber que o céu noturno é uma “máquina do tempo”, nos mostrando coisas que a muito tempo aconteceram. Mesmo que a lógica nos contrarie, mesmo que as evidências digam que não, olhando pras estrelas, eu ainda imagino quais histórias essas ondas de luz trazem até nos, civilizações, seres vivos, outras formas de vida que não são propriamente baseadas em carbono? Sistemas planetários em formação? Imaginem a beleza de ver a força monstruosa da gravidade dando forma a planetas, luas, cinturões de asteroides.

Apreciar a imensidão do cosmos a olho nú, é também uma reflexão filosófica do nosso papel como seres viventes nesse planeta, que pode e deve levar a uma autocrítica sobre a pequenez da natureza humana, não somos nada se comparados com a escala cósmica, e quando vamos romper as barreiras, os grilhões que nos prendem as mesquinharias levianas e perceber que a vida é uma dádiva, é algo sublime em todos os aspectos, somos insignificantes perto do que é o universo que conhecemos tão pouco?

Quer ver como somos pequenos?

O nosso Sol tem cerca de 109 vezes o diâmetro da Terra, a massa desse astro que toda manhã te cobre de calor e energia, corresponde a 99,866 % da massa total do sistema solar, o restante 0,134%, é basicamente Júpiter com demais planetas e asteroides. Isso é muito certo? Talvez.

Sirius A, está a apenas 9 anos luz daqui, é duas vezes maior que o Sol, pela proximidade com o sol é a estrela mais brilhante do céu noturno.

Pollux uma gigante vermelha[1] da constelação de Gêmeos situada a 34 anos luz a partir daqui, que é somente 32 vezes mais brilhante que o Sol tem cerca de 10 vezes o diâmetro do Sol, bem, isso é muito certo? Hmmm não.

Arcturus da constelação Boieiro ou Pastor, 37 anos luz de distância daqui, essa gigante vermelha1 é 25 vezes maior que o Sol, e nesse caso, tamanho é documento, é a quarta estrela mais brilhante do céu noturno.

Aldebaran da constelação de Touro, é a maior estrela de um sistema binário, localizado a 65 anos luz daqui, também uma gigante vermelha1, somente 52 vezes maior que o Sol e 150 vezes mais brilhante. Agora sim, isso é muito certo? Ainda não porque agora entramos na próxima categoria de estrelas.

Rigel, da constelação de Orion, conhecida popularmente como as três marias, que são na verdade apenas o cinturão de Orion, Rigel é 70 vezes maior que o sol, a cerca de 800 anos luz de distância,  40.000 vezes mais brilhante, um monstro que emite cerca 60.000 vezes mais radiação que o sol, essa queima violenta de combustivel diminui o tempo de vida dessa supergigante azul.

Pistol Star ou Estrela Pistola, Situada da Nebulosa da Pistola, é uma hipergigante azul, estimativas indicam que essa estrela produz tanta energia em seis segundos quanto o Sol em um ano, é uma das estrelas mais massivas conhecidas, a longínquos 25.000 anos luz de distância, quase no centro da Via Láctea, é cerca de 10 milhões de vezes mais brilhante que o Sol, é uma estrela tão violenta que a nebulosa que a envolve é provavelmente fruto da sua ejeção de massa. É a estrela mais brilhante da nossa galáxia, e é cerca de 107 vezes maior que o Sol, agora sim é muito? Calma, ainda temos mais.

Outra supergigante, a 600 anos luz, Antares A, 430 vezes maior que o Sol , 10.000 vezes mais brilhante, se colocada no centro do Sistema Solar seu tamanho passaria a órbita de Marte… isso é muito maior do que o nosso Sol quando parar de queimar hidrogênio e passar a queimar hélio, tornando-se uma gigante vermelha e engolindo Mercúrio, Vênus e Terra, mas isso é assunto para outra conversa.

Mu Cephei, da constelação de Cepheus, também supergigante vermelha1, distante, cerca de 1.550 anos luz, entretanto alguns astrônomos acreditam que ela pode estar a 5.000 anos luz, por ser difícil mensurar a distância, apesar da discrepância entre a distância até nós é uma das maiores estrelas que você pode ver a olho nú, é cerca de 38.000 vezes mais brilhante que o Sol entre 1.260–1.610 (isso deve-se a dificuldade na medição devido a variação do brilho entre outros fatores o que torna difícil precisar os valores, portanto não sendo considerada a maior estrela conhecida) vezes maior que o mesmo, é tão grande, que se colocada no centro do nosso sistema solar, chegaria até a órbita de Júpiter.

E chegamos nela, que foi por muitos anos a maior estrela conhecida pelo homem, VY Canis Majoris, há 4.900 anos luz daqui, cerca de 1.420 (já teve seu tamanho reduzido por medições mais precisas) vezes maior que o sol é tão imensa que se colocada no centro do nosso sistema solar, chegaria quase da órbita de Saturno, é tão gigantesca que se um avião voando a 900 km/h quisesse fazer uma viajem em torno da mesma, levaria 1.100 anos, é tão massiva que estima-se sua morte em 100.000 anos, numa hipernova, a explosão será gigantesca mesmo para padrões astronomicos, porém devido a distância estaremos salvos.

O ano de 2014 veio para destronar VY Canis Majoris, já que NML Cygni, da constelação de Cisne, cerca de 1.650 vezes maior que o Sol, ficou com o lugar, mas por pouco tempo, pois da constelação do Escudo, UY Scuti com cerca de 1.708 vezes o tamanho do sol é a maior estrela atualmente conhecida, porém com a evolução tecnológica e a crescente procura por planetas rochosos que possam abrigar formas de vida, o titulo de maior estrela conhecida vai mudar em breve. A própria NML Cygni, pode retornar ao trono caso as medições anteriores sejam confirmadas, o que lhe concede cerca de 2.000 vezes o tamanho do nosso Sol. Abaixo dois vídeos para terem uma melhor noção dessas escalas.

 

Como objetos únicos as estrelas são realmente grandes, agora vamos mudar a nossa escala e pensar ainda maior, sim, ainda maior. Temos aglomerados estelares, como as Plêiades da constelação de Touro, os agrupamentos estelares ou clusters, estão ligados gravitacionalmente, assim como nós estamos ligados ao nosso sistema solar, e o nosso sistema solar à nossa galáxia, e chegamos a ela, Via Láctea, contendo entre 100 a 400 bilhões de estrelas, nossa galáxia é do tipo espiral barrada, o tamanho do seu disco é cerca de 100.000 anos luz, e sua espessura entre 1.000 e 3.000 anos luz.

Porém existem aglomerados de galáxias  (galaxy clusters), que assim como as estrelas mantem um elo gravitacional, fazemos parte do Grupo Local de galáxias e eram as maiores estruturas conhecidas no universo até olharem com mais atenção e descobrirem os superaglomerados de galaxias (galaxy superclusters). É aqui que se encontram as maiores estruturas conhecidas, o nosso supercluster tem um nome, Laniakea

O universo pode ser visto como uma rede cósmica, algumas áreas podem estar vazias, outras populadas com galáxias, esses superagrupamentos (superclusters) que conectam vários outros agrupamentos e enfim, isso sim é grande imensurável. Laniakea significa Céu imensurável em havaiano um belo nome dado pelos pesquisadores do Havai que identificaram pela primeira vez as maiores estruturas conhecidas no universo.

Lembra daquela questão de como somos pequenos? Aposto que quando você olhar para o céu noturno, e mesmo que veja apenas uma pequena estrela apagada, vai se lembra da imensidão que te rodeia, e quem sabe entenda que a nossa existência comparada com o universo é simplesmente imensuravelmente pequena.

Se gostou de algo, procure mais, pesquise. O que foi aqui apresentado são pequenas coisas para a sua curiosidade, não tenha medo de saber mais, deixe sua sugestão para outros assuntos nos comentários, e obrigado pela visita.

[1] ( vermelha/laranja é a cor aparente)

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Sérgio Godoy

Não gosta de mini-biografias, tenta ser roteirista e escritor, faz origamis às vezes, gosta de saber coisas e precisa ler mais, é amante de sci-fi e fantasia, RPGista aposentado momentaneamente, gamer viciado... quando não esta dando rages e reports, posta por aqui.

1 thought on “Belezas do céu noturno e escalas universais

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