As vezes você apenas se decepciona, as vezes é apenas um pequeno erro de julgamento do canal, a única coisa certa é, você ficou sem aquela série que tanto gostava ou que tinha um potencial imenso.

Já aconteceu várias vezes, e não vou discorrer sobre todas, apenas as mais recentes ou as que me marcaram pelo ódio profundo que deixou no lugar daquele doce amor e daquele deleite de sentar e passar cerca de 45 minutos a se divertir e mais tantas horas posteriores de teorias relacionadas com o episódio ou temporada.

O que vou aqui comentar refere-se apenas aos conceitos que foram mal aproveitados e o motivo da antecipação do término de uma série ou seu cancelamento.

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Esse post não é uma crítica detalhada sobre as mesmas.

Dito isso, podemos?

Começamos com meu maior desgosto de todos os tempos, a minha maior decepção que alguma vez tive com uma série, X-Files (Arquivo X).

Sim caros amigos leitores, Arquivo X (Fox, nove temporadas, 1993-2002) foi pra mim um presente, desde o primeiro episódio visto na record em 94, que era o episódio 7 da primeira temporada, e mesmo em tão tenra idade lembro da piada que o Mulder diz quando vão fazer um exame para saber se ele esta infectado ou não, então ele tem que ficar nú, e enquanto abaixa as calças diz “antes de mais nada, lembrem-se estamos na antartida”, épico, genial, no meio de um thriller de terror uma piada para quebrar o gelo (quebrar o gelo no ártico, ba dum pshhh) em uma cena não tão dramática, foi amor a primeira vista.

Se você não viveu em baixo de uma pedra desde 1990 você deve saber que Arquivo X conta a história (inicialmente) de dois agentes especiais do FBI, que são destacados para casos onde a lógica normal não se aplica, Mulder é um crente, um believer, ele quer acreditar em vida extraterrestre e sua força motriz é o desaparecimento de sua irmã que ele acredita ter sido abduzida em sua frente, criando o clima dramático relacionado a impotência de ajudar a irmã e a incapacidade de a encontrar posteriormente, Scully é a contra parte de Mulder, é a antítese do mesmo, enquanto Mulder é a emoção pura com pitadas de ciência, Scully é a ciência pura com pitadas de razão, bom senso e… mais ciência.

A Série é perfeita até a sexta temporada, passando por episódios mais caseiros, com mitos e lendas sendo exploradas, até episódios mais complexos envolvendo um complô para esconder uma guerra alien nos bastidores e uma possível invasão ao nosso planeta.

O sucesso de Arquivo X foi tão grande que numa estratégia ousadíssima um filme foi feito para fechar a quinta temporada, e apesar dos pesares eu gostei daquele filme. A sexta temporada foi ainda muito boa, porém com o fim dela, a série morreu para mim.

David Duchovny (Mulder) estava cansado das rotinas de viagens que a série exigia, queria mais intervalo para descansar, começava a receber propostas de filmes e outras séries, mas com seu cache alto na época preferiu exigir, e de tanto exigir, matou Arquivo X, as temporadas seguintes foram fracas, tanto em roteiro como em atuações, os atores que entraram fizeram o melhor que puderam Robert Patrick (o androide T100 de o Exterminador do Futuro 2) esteve muito bem, a ideia de trocar de papel com a Scully (Gillian Anderson), onde ele era o cético e Scully a crente, a believer, foi uma ideia interessante, porém nada, eu repito, nada (spoiler alert) que poderiam ter feito, mesmo a trama paralela com o agente Mulder, salva Arquivo X do fiasco que foi o último episódio quando o bordão tão aclamado “the truth is out there” (a verdade está la fora), é uma -desculpem, eu tive que controlar a fúria que me acometia – porcaria de uma data para uma miserável de uma invasão… ou seja, eu perdi nove temporadas para saber uma infeliz data qualquer pra coincidir com aquela batida história da profecia maia!

PS: Nem vou comentar o segundo filme porquê… Não! Não!

Se Arquivo X marcou pela queda de qualidade nas últimas temporadas, a próxima série que me decepcionou e muito foi Fringe.

Fringe (Fox, cinco temporadas, 2008-2013) veio para preencher o lugar de Arquivo X, pelo menos nos primeiros episódios, a ciência envolvida, as conspirações a trama maior, as tramas menores, era tudo “novo”, era interessante eu não via a hora de devorar mais um episódio, só pra depois ficar pensando em teorias bizarras, então veio o fim da primeira temporada e as respostas foram chegando, aos poucos, e as vezes, como Lost nos ensinou, dar muitas respostas quando elas não são boas como o suspense que as precede não é nada, mas nada mesmo, agradável.

As temporadas seguintes foram uma miscelânea de conceitos bons amontoados em episódios que eram mais do mesmo, você já sabia como iria acabar.

Maioritariamente essa queda de qualidade deve-se ao orçamento da série, que vinha decaindo devido a perda de audiência nos EUA, nem a troca do dia de exibição salvou Fringe, os produtores resolveram então colocar fim na saga na temporada 5, que com 13 episódios carecia de gás. Nem o grande plot twist da quarta temporada salvou a série, que debutou de maneira fantástica apenas para morrer em uma mediocridade, com ideias e conceitos supermegablasterhyperextraultraplusfking interessantes porém, mal aproveitadas, Fringe ao tentar preencher a lacuna deixada por Arquivo X me vez ver que apenas eu perseguia o intangível, o buraco ficou maior…

E o rombo só aumentou, porque então ao navegar pela internet deparo me com uma sinopse muito interessante, onde durante um evento em escala global onde todos os seres humanos no dia 6 de outubro de 2009 desmaiaram ao mesmo tempo por 2 minutos e 17 segundos e durante esse período viram o futuro do dia 29 de Abril de 2010, centenas de milhares morreram em acidentes afinal imagem as auto estradas com todos os motoristas dormindo e dirigindo a 120 km/h, fora aviões, cirurgias etc. A série foi inspirada no livro homónimo escrito por Robert J. Sawyer.

Esse é o mote de Flash Forward (ABC, uma temporada, 2009-2010) no brasil traduzido como Linha do tempo, mais uma vez uma série sci fi com potencial enorme, e novamente desperdiçado, a série se perde no seu próprio sucesso de estréia, inicialmente concebida para 13 episódios, a série se perdeu a partir do sexto episódio (calma, não estou dizendo que o restante da série não vale a pena), então quando fizeram um hiato em dezembro para poderem tratar dos outros 9 episódios, já que a série teve que ser reformulada, o público esqueceu-se de Flash Forward, a demora foi muito grande, competia com séries fortes no mesmo horário o horário nobre da TV norte-americana, e dificilmente um sci fi ganha de um sitcom, com todos esses pormenores e ainda uma série sci fi (V ) no mesmo canal a emplacar melhore números Flash Forward foi cancelada, e devo dizer que mesmo com a reformulação foi uma série boa, e até o final foi razoável, porém eu esperava mais, e mais uma vez me decepcionei.

De tanto me decepcionar, quando comecei a próxima série sci fi, fi-lo sem expectativas, e assim comecei a ver Stargate Universe.

Stargate Universe (Syfy, três temporadas, 2009–2011)ou SGU como os íntimos chamavam, é como você já notou, uma série derivada do universo Stargate, e apesar de eu ter acompanhado muito pouco da série original e conhecer muito pouco sobre o universo stargate, comecei a ver a série, despido de preconceitos e espectativas.

A série é sobre uma tripulação que consegue decifrar um código num portal em um posto avançando no espaço, que liga-se diretamente a uma nave ancestral autómata que está em exploração na galáxia.

O problema é que eles ficam presos na nave e não conseguem o código para voltar pra Terra pois a ligação de origem foi destruída em um ataque alienígena.

E não é que a série era boa, alias era muito boa, tudo que eu não gostava nas séries de Scif Fi, excesso de relações humanas, excesso de drama, (sim porque tudo que não são lasers, naves, mistérios sobre o universo e afins bem como explicações sobre coisas inexplicáveis são excessos) eu achava interessante em SGU, desde os conflitos internos pela liderança da nave indo até os dramas pessoais, não tenho muitas críticas a SGU, a única é comum a todas as séries de sci fi, elas falham na quantidade de elementos de ficção científica que apresentam, sejam eles inerentes ao roteiro ou mesmo em questão de ambientação e efeitos visuais.

O maior erro de SGU é a sua teimosia em tentar ser realista, e na sequência levar isso ao extremo, durante as três temporadas os capítulos são sempre tensos, as vezes pesados, é uma constante luta por sobrevivência e quando se derrota um obstáculo ou inimigo se depara com outro dez vezes mais complicado, isso tudo numa nave em piloto automático, onde não comandam a mesma (apenas conseguem algo na terceira temporada para desviar a rota e ativar algumas funcionalidades da nave) pois os comandos são em uma linguagem alien que ainda está a ser decifrada.

É essa falta de esperança o maior erro de SGU, não se cria um clima de vitória, os heróis não conseguem o seu ciclo, para renascerem mais fortes, SGU esbarra numa lei de Murphy constante, e apesar de ser uma série muito boa, não teve publico pra isso, e foi cancelada, logo quando eu começava a ter espectativas novamente.

Algo parecido aconteceu com The Event (NBC, uma temporada, 2010), com um elenco muito bom, e uma história excelente, The Event me capturou desde o início. Até hoje não entendo como The Event foi cancelado, se Flash Forward pecou pelas indecisões do estúdio com o número de episódios e complicou a trama, em The Event nada disso aconteceu.

No Piloto você se depara com um programador de computadores que tem a namorada misteriosamente desaparecida em um cruzeiro, ele passa a investigar por conta própria, quase ao mesmo tempo o presidente dos EUA vai fazer um pronunciamento em rede nacional que alegadamente vai mudar o rumo da humanidade, porém o pronunciamento é interrompido por um atentado.

Isso é o começo de The Event, a teoria da conspiração é boa, os efeitos são muito bons, os personagens carismáticos, o enredo dos episódios são muito acima da média, e todas as revelações, as respostas que a série nos da são no mínimo aceitáveis e apenas deixam você mais intrigado e com mais vontade de ver o próximo episódio.

O episódio final é muito, mas muito bom. Torci tanto por uma segunda temporada, mas infelizmente ela não veio.

Correram rumores de que algum outro canal poderia dar continuidade a série, mas como sempre a vida dos seriados da terra do tio Sam são ditadas pela audiência, e como sabem, séries sci-fi não tem tido vida fácil ultimamente.

Chegamos então na nossa última parada, Revolution (NBC, duas temporadas, 2012-2014), comecei a ver já desiludido, a minha esperança com séries sci-fi já havia-se esgotado, então passei a me interessar, a ideia de um experimento ter criado um evento que acabou com a eletricidade a nível global é muito boa, porém assim como em Flash Forward, Revolution peca em explorar o conceito.

A série tem excessos de dramas familiares e pessoais, tem pouca ficção para muito drama, é a mãe que desapareceu, alguém que morreu, alguém que fugiu, alguém que… Vocês entenderam certo?

A primeira temporada melhora quando passa a ser mais séria, quando as pessoas começam a morrer (isso não padrão de seriedade mas convenhamos que quando se enfrenta um exercito, tiros voam e ninguém morre é um pouco surreal), porém a dinâmica dos episódios é repetitiva, e cansa rápido.

A segunda temporada é menos pior, a reviravolta nos acontecimentos é pra lá de interessante, o rumo da trama paralela sci-fi (sim porque infelizmente a trama de ficção científica não é a prioridade dos roteiristas aqui) é muito boa, mas esbarra em um monstro que eles próprios criaram, então a série deriva por vários caminhos sem rumo, e como já sabiam que ia ser cancelada, terminam de uma maneira ridícula deixando uma ideia solta no ar, a incapacidade de domar a própria besta criada levou Revolution a ser cancelada, e que desperdício de conceito.

Infelizmente as séries de sci-fi hoje tem elementos de sci-fi, a ficção científica fica de lado, talvez pelo orçamento, talvez pela falta de ideias, não estou aqui dizendo que o gênero não pode ter drama, relações mais complexas etc, ao contrário, deve ter, porem a ficção deve ser o foco, e não uma opção dentro do roteiro de uma série cujo gênero seja ficção científica.

Essas foram algumas séries que gostava, gostei ou tive expectativas, poucos spoilers foram dados.

E você? Qual é sua série sci-fi que mais gostou? Qual foi a sua série preferida que foi cancelada? Deixem suas opiniões nos comentários e obrigado pela visita, voltem sempre.

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Sérgio Godoy

Não gosta de mini-biografias, tenta ser roteirista e escritor, faz origamis às vezes, gosta de saber coisas e precisa ler mais, é amante de sci-fi e fantasia, RPGista aposentado momentaneamente, gamer viciado... quando não esta dando rages e reports, posta por aqui.

3 thoughts on “Os problemas das séries sci-fi

  1. Concordo com tudo e adiciono mais duas que foram canceladas: “Persons Unknown” e “V”. Uma baita sacanagem cancelarem de forma abrupta.

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