Demolidor: HQs fundamentais
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Se você não vive debaixo de uma pedra tentando se conectar pelo discador da IG, já deve saber que a nova temporada do Demolidor estreia no Netflix no dia 18 de março. O serviço de streaming disponibilizará os 13 episódios da série de uma só vez e, como dia 18 cai numa sexta-feira, pode preparar o pacote de Doritos, o cobertor e o copão de Coca-Cola, porque você provavelmente vai passar o final de semana inteiro numa maratona interminável.
Meu contato com o herói se deu anos antes da série ser lançada, na época em que Ben Affleck, o novo Batman, falhava miseravelmente com seu Matt Murdock de Ray-Ban® vermelho. Algo nesse personagem me cativou e, apesar do filme não ter sido lá aquelas coisas, fui atrás de alguns quadrinhos para conhecê-lo melhor e, adivinhem? Até hoje sou leitor assíduo do Demolidor.
Logo, se você também demonstra interesse em conhecer melhor o herói e não sabe por onde começar, seus problemas acabaram! Tá na hora de conhecer as obras fundamentais do Demolidor. É a primeira parte de um especial que o Maxiverso traz para você, em comemoração a nova temporada da série no Netflix. Acompanhe com a gente!
Histórico:
A primeira aparição do Daredevil (nome original do personagem) se deu no quadrinho homônimo lançado em abril de 1964. Criado por um esforço conjunto de Stan Lee, Bill Everett e Jack Kirby, a premissa do Demolidor resumia-se num herói que encontrava forças em sua principal fraqueza: a cegueira. Afetado por um material radiativo ao salvar um idoso de um atropelamento, o jovem Matt Murdock perde a visão, mas tem os outros sentidos exponencialmente aguçados. Graças ao apoio do pai, o boxeador Jack Murdock, Matt aprende a conviver com sua deficiência. Entretanto, após se envolver com gangsters e se recusar a perder uma luta de propósito para manipular apostas, Jack é assassinado. Sozinho, Matt deve superar não apenas as sombras em seus olhos, mas também a escuridão em sua vida.
Damos um salto no tempo e conhecemos Matt Murdock já adulto. Charmoso, confiante e bem humorado, o rapaz em nada lembra a criança insegura que ficou órfã precocemente. Trabalha como advogado, colocando criminosos atrás das grades dentro da lei. Quando o Sol se põe, porém, Matt captura criminosos e aplica neles sua própria lei… Durante a noite, Murdock é o Demolidor.
Com boa recepção da crítica e vendas consideráveis, o início do Demolidor pode ser considerado como um acerto por parte da Marvel Comics. Notamos algumas diferenças gritantes com o personagem que conhecemos, a começar pelo uniforme, que por muitos anos foi um misto de vermelho-sangue e amarelo-gema.
Uma década depois do lançamento, o herói entrou em declínio. Com histórias mal produzidas (Gerry Conway, por exemplo, transformou Demolidor numa história de ficção científica, com um robô que vem do futuro para mudar seu presente), o quadrinho tomou um rumo estranho. Parecia que não sabiam mais o que fazer com Demolidor. Ideias para revitalizar a série foram colocadas em prática, como a adição de outros personagens à história, como o Homem-Aranha, a Viúva Negra e até mesmo o Homem de Ferro (que, na época, também não estava muito bem das pernas), mas não foram suficientes para renovar o publico. Nos anos 80, Demolidor quase foi cancelado pela Marvel.
O herói só se encontrou quando Frank Miller assumiu a bronca. Ignorando toda a continuidade dos antigos roteiristas e adicionando um tom mais adulto e sombrio ao quadrinho, Miller conseguiu tornar Demolidor relevante outra vez. Hell’s Kitchen, a região de Nova York onde a história se passa, torna-se um personagem próprio do quadrinho, com toda a violência e injustiça que assola os moradores. É como se cada esquina do lugar tivesse uma boa história a ser explorada, e é muito interessante ver um personagem que utiliza a força como último recurso tendo que lidar com pessoas marginalizadas pela violência.
Época de ouro:
A fase de Frank Miller é indispensável para qualquer pessoa interessada na história do Demolidor. Com um protagonista extremamente humano, coadjuvantes e inimigos complexos e dúbios, temos em Demolidor toda a fragilidade e ação necessárias para nos identificar com a história e, ainda, nos divertir com o realismo fantástico que apenas um ser herói bem construído pode proporcionar.
É muito interessante ver o lado mais comum de Matt se refletindo em Foggy Nelson, seu melhor amigo e companheiro de trabalho na empresa de advocacia. Temos também a dualidade de Elektra, assassina mercenária e considerada o grande amor de Murdock, bem como uma de suas principais rivais. Não tem como não falar do Rei do Crime, responsável por toda a criminalidade de Hell’s Kitcken, e o Mercenário, arqui-inimigo do Demolidor.
Como disse anteriormente, Matt Murdock tornou-se um homem charmoso e, consequentemente, mulherengo. Acredito que o Demolidor é o herói com mais interesses amorosos da história dos quadrinhos, literalmente “pegando sem ver” – ba dum tss. Além de Elektra e Karen Paige, primeira namoradinha de Matt a aparecer nos quadrinhos, temos Mary Tyfoid, Felicia Hardy, Maya Lopez, Kirsten McDuffie, Milla Donovan (com quem Matt foi casado), Glorianna O’Brien, Heather Glenn e a Viúva Negra. Pois é, além de grande, a lista só tem mulher bonita.
Na fase em que Frank Miller assume a revista do Demolidor, o grande destaque dentro dessa imensa lista de affairs com certeza é Elektra. Contratada pelo Rei do Crime para assumir o posto que pertencia ao Mercenário, ela enfrenta Matt e logo o reconhece. Através de flashbacks, é contada a origem do Demolidor, que foi totalmente reformulada pelo próprio Frank Miller. Ainda criança, Matt é resgatado por um misterioso homem chamado Stick e, graças a um treinamento intenso que dura praticamente toda sua juventude, aprende aquilo que usa em prática nos momentos em que assume a identidade de Demolidor. Elektra surge em sua vida durante o período da faculdade, quase ao mesmo tempo que Foggy Nelson.
Logo, ler o Demolidor de Frank Miller é importante para compreender as origens do herói e vê-lo envolvido em histórias mais maduras, próximas de nossa realidade. Dentre tantas obras roteirizadas por mestre Miller, destacamos aqui a minissérie de 93 “O Homem sem Medo”, desenvolvida em parceria com o artista John Romita Jr.
Esgotada no Brasil, a obra pode ser encontrada em sebos ou em inglês, em lojas especializadas de comic books. Caso queira ter acesso a outras obras de Frank Miller, vale a pena adquirir o compilado em duas partes lançado em 2014 e 2015 pela Panini.
Outras obras fundamentais:
Partindo do princípio de que você já está familiarizado com a história do Demolidor e suas origens, recomendo o clássico “Queda de Murdock”, roteirizado por Frank Miller e desenhado por David Muzzacchelli. Lançada em 86, a HQ parte da traição da ex-namorada de Matt: Karen Paige, agora uma atriz pornô dependente química, que vende a identidade do Demolidor para o Rei do Crime em troca de droga. A partir daí, o verdadeiro inferno começa na vida de Matt Murdock, que deve esquecer a segurança que a máscara de herói traz para enfrentar um de seus principais inimigos publicamente.
Essa história levanta várias questões interessantes. O título “queda” não se remete apenas ao protagonista, mas a todos os personagens que o rodeiam. O que dizer da própria Karen, antes uma garota gentil e correta, sendo corrompida pela sujeira de Hell’s Kitchen? Para quem assistiu a série, fica bem difícil imaginar uma mudança dessas, não é? Bem, é justamente por causa da série que não entrarei em detalhes sobre o enredo dessa história em específico, mas ela deve estar na lista de qualquer pessoa que quer ler boas histórias do Demolidor.
Atualmente, a HQ Queda de Murdock pode ser encontrada no Brasil dentro da coleção que está sendo publicada pela editora Salvat.
Aliás, falando em Salvat, outro título que está sendo publicado pela editora e vale a pena ser adquirido é o “Diabo da Guarda”, da dupla dinâmica Kevin Smith e Joe Quesada. Lançadas originalmente entre 98 e 99, as oito edições contam uma história no mínimo… peculiar. O Demolidor salva uma garota de quinze anos que carrega nos braços o filho recém-nascido. Após mostrar que sabe que o Demolidor é Matt Murdock graças aos “anjos que lhe contaram”, a garota desaparece e deixa a criança sob a tutela de Matt. Mais tarde, um misterioso homem chamado Nicholas Macabres aparece e conta que aquele bebê é o Anticristo e deve ser eliminado imediatamente. Matt de início duvida, mas coisas estranhas começam a acontecer com pessoas que ele ama, sendo uma delas a própria Karen Page, e Nicholas atribui a culpa delas ao bebê.
Em alguns momentos, Matt decide matar o bebê, enquanto em outros vê-se em dúvida. A participação da Viúva Negra na história é bem interessante, assim como a aparição do Doutor Estranho (que logo terá sua adaptação para o cinema). Sei que é estranho dar destaque a uma história cujo enredo é tão fantasioso sendo que alguns parágrafos acima elogiei a realidade que Frank Miller atribuiu ao Demolidor, mas a história criada por Kevin Smith possui uma qualidade inquestionável. É a prova de que até mesmo esse tipo de história pode combinar com o Demolidor, quando bem construída.
Por fim, outro roteirista que soube aproveitar todo o potencial do Demolidor foi Brian Michael Bendis, que fez um trabalho magnífico com os quadrinhos dos X-Men, Novos Vingadores e Alias, o quadrinho que serviu de base para a primeira temporada da série Jessica Jones, também do Netflix.
Além da colaboração com Alex Maleev no quadrinho “Demolidor – The Man Without Fear”, lançada no começo dos anos 2000, temos o universo alternativo de “End of Days”. Na primeira obra, o ponto de partida é a morte do Rei do Crime e as consequências disso, já que diversos mafiosos tentam tomar o lugar do finado William Fisk como líder de toda a criminalidade de Hell’s Kitchen. A violência e a contínua desgraça na vida de Matt assemelham-se a Queda de Murdock, de Frank Miller – ou seja, o inferno retorna para a vida do nosso herói.
Já em End of Days, publicado no Brasil em duas edições pela Panini como Fim dos Dias, a história inicia-se também com a morte de um personagem importante… o próprio Matt Murdock! Depois de uma derradeira batalha contra seu principal inimigo Mercenário, o Demolidor acaba morrendo mas, antes de dar seu último suspiro, pronuncia uma palavra estranha: Mapone. A partir daí, a história é conduzida pelo ponto de vista de Ben Ulrich, jornalista que ora colaborava com Matt, ora era uma pedra em seu sapato, que tenta descobrir a todo custo o que Mapone significa. Para isso, ele visita todas as pessoas que um dia se envolveram com Matt – inclusive suas inúmeras ex-namoradas.
É importante frisar que os acontecimentos de End of Days não impactam a continuidade da história do Demolidor, ou seja, a morte de Matt Murdock afeta apenas o universo desse quadrinho em específico. Entretanto, apesar de ser uma trama a parte, é muito interessante ver Hell’s Kitchen sem o Demolidor e, principalmente, como os outros personagens são afetados por sua morte. End of Days tem a colaboração de David Mack no roteiro e o desenho de Klaus Janson, Bill Sienkiewicz e Alex Maleev.
Admito que, das histórias mais atuais do Demolidor, End of Days foi uma das melhores que tive a oportunidade de ler. Pra quem deseja algo mais contemporâneo do herói… corra até a banca mais próxima da sua casa! A Panini logo vai esgotar essa edição de Fim dos Dias e sabe-se lá quando ela deve voltar.
Bem, é óbvio que existem outras histórias que devem ser lidas por qualquer fã de quadrinhos ou do próprio Demolidor, mas o espaço não me permite citar todas. Se você já leu alguma dessas obras que listei aqui ou se conhece outra que não foi mencionada, conta pra gente aí nos comentários!
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Marcus Colz
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Olá, tenho uma dúvida, em que período da história do Demolidor a “Demolidor 1ª Série” se encaixa?
Ótimo texto! Nunca fui de ler Demolidor mas depois desse verdadeiro guia deu até vontade… recomenda que eu comece por onde?
E aí Jofre, tudo bem?
Muito obrigado pelo elogio! São comentários como o seu que instigam a gente a sempre se superar e caprichar nos artigos.
Como você nunca teve contato com o Demolidor, recomendo que procure pelo “Homem Sem Medo”, de Frank Miller. Já está esgotado, mas você consegue ainda em inglês.
Caso contrário, procure pelo encadernado que a Panini está lançando, com toda a fase Frank Miller + Klaus Jansen. Tem bastante foco na Elektra, nos inimigos do Tentáculo e na realidade crua e violenta de Nova York.
Abraço!
Parabens pelo artigo. Sou fã do Daredevil desde pequeno e adorei a materia. Muita nostalgia. Adoro a fase dele imediatamente pos Kevin Smith, mas nao lembro o roteirista… sabe quem era?
Opa, muito obrigado pelo elogio, Saulo! Acredito que a fase pós Kevin Smith é do David Mack!
Abraços!