Crítica: Batman Vs Superman: A Origem da Justiça
Direção: Zack Snyder
Elenco: Ben Affleck, Henry Cavill , Amy Adams, Jesse Eisenberg, Diane Lane, Laurence Fishburne e Jeremy Irons
Nota 3/5
Zack Snyder deve se achar um diretor esperto. Vendo um filão que surgiu com obras baseadas em HQs, ele chamou para si a responsabilidade de adaptar obras ditas como inadaptáveis. Assim, mesmo com o apelo visual de 300, o “copia e cola” visto em Watchmen e a falta de humanidade em Homem de Aço, ele apostou tudo naquilo que o público queria ver (ou achava que queria). Todavia, ciente de que não possui o niilismo e a qualidade de Christopher Nolan, Snyder não aprendeu (e parece não querer) que tal apelo é insuficiente para construir uma obra cinematográfica competente, independente de a origem ser uma HQ famosa ou não (até porque ninguém é obrigado a conhecer as origens ou detalhes de suas histórias).
Ao insistir em enquadramentos que invocam somente o apelo estético, o diretor parece não estar preocupado nem um pouco com o restante da sua narrativa, ratificando seu pensamento de confundir o fato de que um roteiro baseado em HQ deva servir como inspiração e não como algo obrigatório, para assim não quebrar uma regra cinematográfica importante: o formato jamais deve subjugar o conteúdo. Assim também, o roteirista David S. Goyer confirma que precisa sempre da ajuda da direção (que aqui obviamente não tem) para não tornar tudo um desperdício. Direção esta que também mostra pouca segurança, devido ao fato de querer obrigatoriamente mostrar várias frentes sem que nenhuma se torne possível de acompanhar de maneira clara.
O diretor com sua câmera trêmula, planos curtos, montagem em ritmo incessante e efeitos digitais em excesso não permite que público possa compreender e vivenciar o filme corretamente. Como, por exemplo, numa das sequências em que o Batmóvel entra em ação onde ficamos incomodados com os corte abruptos durante a cena que temos dificuldade de acompanhar, ou como visto na nada empolgante sequência final, com suas infinidades de explosões (detalhes ainda mais prejudiciais para quem tiver o azar de assistir em 3D).
Batman vs Superman – A Origem da Justiça é iniciado com uma espécie de In media res (no meio da ação) do clímax de Homem de Aço, onde vemos Bruce Wayne (Affleck) atônito ao acompanhar a destruição de Metrópolis e o risco que seus funcionários correm com o ataque alienígena. A destruição de Metrópolis como referência aos ataques de 11 setembro, acusa – além da falta de criatividade já denunciada no filme solo do Superman – a tentativa de criar um contexto típico de Os Vingadores (como isso fosse um elogio); comprovando, assim, a necessidade de correr contra o tempo ao montar a estrutura que a Marvel teve todo tempo para fazer.
O roteiro não está preocupado em esconder suas necessidades ao forçá-las em seus clichês sentimentalistas, como na cena em que Bruce Wayne salva coincidentemente uma garotinha e um funcionário de sua empresa. Ou como visto quando Superman se encontra no ártico apenas para uma autorreflexão com seu passado: a cena soa deslocada e desnecessária, apenas para tentar equilibrar o conflito interno com Bruce Wayne. Os diálogos frágeis comprovam também que David S. Goyer pensa como leitor de quadrinhos e não como roteirista de cinema: “ladrão que rouba ladrão“, “ninguém permanece bom neste mundo” e “você é meu mundo” são exemplos da sua falta de criatividade. Ou quando, durante um salvamento envolvendo Batman, a vítima e seu salvador ainda encontram tempo para um alivio cômico desnecessário.
Durante o primeiro ato, a direção já tenta dizer ao que veio: mostrar a origem do Batman (novamente) somente para demonstrar os enquadramentos e visual idênticos aos quadrinhos. O diretor tenta ainda, sem sutileza, abordar de maneira onírica a origem e medos de Bruce Wayne quando criança, mas sem o resultado esperado. A cena é desnecessária, principalmente por ser praticamente a mesma vista em Batman Begins, de Christopher Nolan. Todavia, uma das preocupações não se concretiza com relação ao Batman: Ben Affleck. Se o ator não consegue fugir de sua inexpressividade, ele não compromete com Bruce Wayne e nem Batman, abrindo boas possibilidades para o futuro do herói no cinema.
Também é interessante a coerência da escolha dos realizadores ao mostrar um herói um pouco mais envelhecido e de certa maneira descuidado. Como podemos ver pelo fato do personagem sempre se apresentar com barba por fazer, não se preocupar em disfarçar a voz (como de costume) e não ter o devido cuidado em entrar numa luta com bandidos armados. Um personagem que vai diminuindo seu apego ao passado, como visto na metáfora criada pelo fato da mansão Wayne se encontrar destruída e não ser mais a base de suas atividades. Onde o único resquício que o prende é o mausoléu da família.
Querendo abordar o posicionamento do Superman (Cavill) na geopolítica mundial e sua visão como divindade, a direção se atrapalha pela, repito, necessidade de abraçar várias frentes de maneira frágil, apostando apenas na sua abordagem visual. Como na cena em que após um salvamento, o herói é tratado como Deus, onde o diretor precisa recorrer a sua câmera lenta para tentar engrandecer sua mensagem como já não fosse compreensível.
Seria quase impossível, num mesmo filme, sem que soasse excessivo, um roteiro abordar tal questão política e ainda dar vazão aos conflitos dramáticos de vários personagens ao mesmo tempo sem prejudicar o equilíbrio do longa. Isso sem mencionar confronto físico entre os principais heróis. Sem esquecer que ainda temos questões atemporais com flash foward e a criação da base para uma futura da Liga da Justiça e seus novos personagens – que são apresentados de maneira rápida e vazia. Neste caso é interessante saber como irão conciliar o mundo real do Batman com questões não inerentes ao seu mundo, mas enfim…
Um exemplo deste excesso é o fato da presença da personagem da Mulher Maravilha (Gal Gadot) que surge no filme sem um objetivo específico que não seja para que a atriz apresente seus figurinos decotados que remetem ao uniforme original da personagem; mesmo com a beleza da atriz, isso não é suficiente para torná-la imprescindível à trama. Entretanto, com todos estes exageros ainda há momentos que o filme tenta se apresentar com algo além de uma narrativa escalafobética. Assim, é aceitável que o filme não tente ser apenas o conflito entre os heróis, mesmo com uma motivação que sirva apenas para termos o duelo entre os dois, cuja cena, no mínimo, satisfaz a expectativa enquanto dura.
Os pequenos detalhes e personagens secundários são a prova que um pouco de cuidado é importante para a narrativa sem que necessariamente destoe do restante, como podemos ratificar na figura do mordomo Alfred, interpretado por Jeremy Irons. Mesmo destoando pela pouca diferença de idade (para o papel) com Affleck, o experiente ator se mostra um Alfred diferente (mais cínico) que o interpretado por Michael Caine na trilogia de Christopher Nolan. Assim é interessante notar também que são justamente nos pequenos gestos escondidos entre o nervosismo das cenas de ação que o filme conseguiu um pouco de respiro, como o fato de Superman abrir delicadamente uma porta criando o contraste com seu poder, ou na cena do enterro de um dos personagens em que a fotografia engrandece a narrativa mesmo que por pouco tempo com seus tons mais escuros e sombrios. Válido também constar que mesmo as questões contemporâneas e jornalísticas não deixam de ser mencionadas. Assim, ver a figura de Perry White (Fishburne) representando a mídia atual é correto para contextualizar uma área que vem perdendo espaço, onde tal fato é evidenciado quando ele menciona a situação financeira do jornal ao dizer que “nenhuma pessoa compra mais jornal“.
Mas repito: todas estes nuances são completamente absorvidos pela narrativa exagerada da direção que não permite o espectador se aprofundar em seus detalhes.
A estrutura, já falha e cansativa, piora no longo do terceiro ato ao introduzir o monstro (não é spolier, está no trailer) fazendo Batman vs Superman – A Origem da Justiça remeter, nem que seja inconscientemente, a erros de outras produções do gênero como o personagem Bane visto em Batman & Robin, de Joel Schumacher, e Homem Aranha 3 de Sam Raimi, soando tudo como um desperdício de história e personagens. Se o filme parecia inchado, ele acaba por se comprometer ao passar a sensação (novamente) de que precisava obrigatoriamente abordar tais referências dos quadrinhos apenas para atender um demanda e criar o clímax com a participação conjunta dos heróis.
Batman Vs Superman – A Origem da Justiça é comprovadamente falho. Mesmo que possamos, em alguns momentos, ser atendidos com seu visual, isso é muito pouco. Tudo acaba se tornando uma combinação de cenas picotadas em seus longos 153 minutos, prejudicados pela petulância da direção que, se não fosse pelo fato de abordar duas figuras ícones da cultura pop, poderia se tornar algo mais descartável.
Rodrigo Rodrigues
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Quando esse filme sair em DVD/Blu-ray os erros de roteiro se tornarão gritantes, as referências são sem pé nem cabeça e atrapalham ainda mais o roteiro ruim, o Batman e a Lois Lane conseguem em alguns momentos do filme prever o futuro e isso acaba incomodando quando se percebe que o Batman vislumbra um personagem que aparece cenas depois, ou então ver uma logo da Lex Corp antes de existir uma ligação que justifique a logo ter aparecido, Lois Lane por exemplo consegue ter sacadas de eventos que estão acontecendo em outro cenário do filme, o filme é mais preocupado com frases de efeito do que em ser coeso, referências básicas pra qualquer fã de longa data da DC e que ninguém deveria se orgulhar de dizer “Você está reclamando por não entender as referências.”. Man of Steel peca em muitos momentos mas o roteiro no fim das contas não é tão ruim quanto em BvS. Lex Luthor nas horas vagas desenha as logos dos heróis da DC dando até mesmo os nomes. Por sinal, o Batman desse filme é um lutador mas ele é estranhamente manipulado, 20 anos nas costas e supostamente desconfiado com o mundo mas ainda assim consegue ser manipulado, se parar pra pensar o quanto passam a perna nele se percebe o quanto o Batman desse filme é patético. Bruce Wayne que deveria servir de máscara pro Batman acaba não existindo porque o Ben Affleck fica carrancudo do início ao fim, Henry Cavill é outro que não sabe a diferença entre a vida como Clark e a vida como Superman.
Falo isso como um fã da editora que pisou na bola em feio, vender algo como “feito pra fãs” por ser ruim não cola, eu queria um filme bom, um filme que me fizesse querer assistir de novo, o filme até o momento me fez pensar em como não queria ter passado por essa experiência, falo isso como um fã que crítica até mesmo a licença poética das modificações no universo do Nolan.
fãs sempre reclamaram do bom mocismo do Superman e sempre pediram um filme dele apanhando do Batman… pois bem, “tai o que vc queriaaaa”, espero que estejam felizes… qt ao filme em si, longe de ser ruim como os haters falam ok o Luthor fazer simbolos pros herois é uma coisa que nao cola, mas fora isso o filme tem algo absurdo? nao… tudo que vc criticou, é coisa que vc achou ruim, ja eu nao achei, nao vi nada demais no Batman ser manipulado ou nas referencias (eu curti)… para de ser chato, reclama do filtro escuro do Snyder que ai sim vc tem razao
Starfox
Muito Obrigado pelo comentário. Este é motivo pelo qual escrevemos.
Quanto ao Monstro entendo o contexto e a importância.
Entretanto , com apontei na crítica, a sequencia se torna apenas mais uma de tantas que compromete a estrutura (por alongar) e narrativa (pelo excesso de efeitos).
Quanto a cotação, o mais importante mesmo é o texto.
Eu poderia dar até 2, mas acho que não seria o caso (tem filmes que realmente merecessem isso )
Abraço e espero que continue conosco…
Ótima crítica!!! Achei o mesmo, só discordei da parte do monstro, pois o arco dele é justamente pra unir os heróis, lembrando que “A Origem da Justiça” faz remeter justamente à origem da Liga da Justiça. A propósito, lendo o texto da a entender que o filme é pior do que a cotação dada… rs…