Crítica: Mais Forte Que Bombas (Louder Than Bombs)
Mais forte que Bombas (Louder Than Bombs)
Direção: Joachim Trier
Elenco: Gabriel Byrne, Jesse Eisenberg, Isabelle Hupert, Devin Druid, Amy Ryan e Ruby Jerins
A vida é feita de escolhas, entretanto é de um simplório e inocente egoísmo não admitirmos que uma escolha não seja o início de outras tantas que teremos nas nossas vidas e que atingirá diretamente aqueles que nos cercam. Seria justo abrir mão (ou não) de uma vida profissional por outra pessoa? Quais a consequências dos nosso atos? Assim este Mais forte que Bombas tenta não apenas nos mostrar, mas sentir de maneira abstrata, algumas questões e conflitos familiares, erros que cometemos e o amadurecimento em geral. Assim , o diretor Joachim Trier, transforma este Mais Forte que Bombas em um drama intimista com ecos de Árvore da Vida e Boyhood, onde os relacionamentos são vistos como complementos e metáforas para suas vidas. Claro que seria muita presunção querer atingir toda a complexidade visual de Terrence Malick , mas mesmo assim o jovem diretor Norueguês consegue um belo trabalho, assim com feito em seu filme anterior Oslo, 31 Agosto, que também tratava de escolhas.
Após um acidente que vitimou a fotógrafa Isabelle Reed (Hupert), sua família retoma temporariamente o convívio entre si para discutirem as dores e pensamentos sobre o legado pessoal e profissional dela e seus próprios conflitos. Gene Reed (Byrne) é um professor do ensino médio que tenta a todo custo melhorar o relacionamento com o filho caçula Conrad (Druid) que se mostra um adolescente como qualquer um: inseguro, egoísta e com autoestima baixa causada pela súbita depressão, aumentando sua antissociabilidade ao mesmo tempo em que sofre com um amor platônico.
Enquanto isso o filho mais velho Jonah (Eisenberg) sofre com um relacionamento sem amor com sua esposa que acabou de ter a filha do casal, e um relacionamento mal resolvido com a ex, que ainda lhe tem grande carinho e afinidade. Gene, por ser o patriarca, seria a “ponta final” do processo, onde além de ter que conviver com a dor da perda, é aquele que talvez mais sofra com as escolhas e erros da esposa no passado. Trata-se de um indivíduo que durante anos sofreu com o medo da perda da esposa pela profissão de risco dela e o fato de ter que abrir mão de certas ambições em prol da família ao mesmo tempo em que tenta manter a memória da esposa viva com seu trabalho. O relacionamento entre pai e filhos, tendo a presença física ou não da mãe, é tão bem construída que acaba se tornando algo homogêneo, onde cada relacionamento é um reflexo direto do outro, tido como exemplo a ser seguido (ou não), dependendo das escolhas de cada indivíduo. Assim as ações dos personagens a tornam algo cíclico.
A montagem é um dos grandes destaques do filme por se manter fluída e orgânica durante todo do tempo, indo e voltando em momentos distintos sem jamais causar incômodo ao espectador. Principalmente se levarmos em consideração que, mesmo devido à ausência da figura da mãe, a direção fez um belo trabalho de edição ao inserir sua figura sem prejudicar em nada a narrativa do filme. Cada arco é bem construído como vemos na sequência em que o jovem Conrad expurga seu medo que as suas idealizações amorosas não podem ser tidas com um fim, independente do que acontecer. A cena é esteticamente linda, onde o jovem acompanhado da amada vai aos poucos amadurecendo com a manhã de uma nova vida que vai surgindo. Um dos grandes exemplos da presença de Isabelle e suas influências são vistos no simbolismo das suas fotos enquanto trabalhava em zona de conflitos, fotos que tiradas do contexto (como todas as fotografias), mudam completamente de sentido, criando assim a própria metáfora para as vidas que ali estão sendo representadas. Metáfora esta que a direção da a entender que a própria Isabelle que, caso não fosse o acidente, faria uma importante escolha pessoal.
É elogiável a direção tentar conferir profundidade em todas as cenas e momentos, como podemos conferir na sequência do acidente que, mesmo com violência do impacto, a câmera lenta tenta criar este clima contemplativo de acordo com o restante do filme. Ou na bela cena inicial, um gesto delicado das mãos de um bebê cria a rima no final, numa bela sequência onírica de vida e morte. Mais Forte que Bombas é um belo exemplo contemplativo dos relacionamentos familiares e consegue passar longe de qualquer superficialidade. Até porque nenhum relacionamento é óbvio ou superficial.
Cotação 4/5
Rodrigo Rodrigues
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