Crítica: A Comunidade (Kollektivet)
Direção: Thomas Vinterberg
Elenco: Ulrich Thomsen, Helene Reingaard Neumann, Trine Dyrholm, Martha Sofie Wallstrøm Hansen, Fares Fares, Julie Agnete Vang, Mads Reuther
A comunidade não é um filme “complexo”, mas sua qualidade é justamente tentar sempre imprimir a naturalidade nos relacionamentos num contexto que soaria impensável, onde o diretor Dinamarquês Thomas Vinterberg (do inesquecível A Caça) apresenta um delicado e convincente estudo de personagens como metáfora (ou exemplo) de nossos relacionamentos familiares e em sociedade em geral – aí sim, algo realmente bem complexo.
Mesmo que não haja certo aprofundamento em suas causas e se concentrar boa parte de sua projeção em apenas uma destes conflitos, o longa permanece sempre nos expondo de maneira idônea e correto seu fatos e desenrolar dramático. Como tudo fosse uma grande terapia de grupo sem um mediador . Assim todo o elenco não deixa de ser elogiável e jamais deixa de fazer parte deste moisaico social , como o personagem Allon (Fares) que vive de bicos e sempre entre em pratos por não ter como pagar as despesas.
Erik (Thomsen) é um professor universitário que, ao herdar uma mansão do pai, decide, junto com sua esposa, a jornalista e apresentadora Anna (Dyrholm) e a filha Freja (Hansen), morar em conjunto com amigos e pessoas que desejam viver em grupo na capital Dinamarquesa. Inicialmente tratando o cenário como certa doçura e alegria nos relacionamento da família principal, os conflitos e tensões (às vezes com um humor sutil), vão sendo bem desenvolvidos , principalmente quando Erik começa a se envolver com a sua aluna Ema (Neumman), uma versão mais jovem de Anna.
O diretor tratar o contexto com certo clima liberal, uma espécie de comunidade hippie da cidade grande, onde os corpos nus são expostos naturalmente e não para usá-los com um apelo sexual ou por achar que a genitália alheia é mais estranha que a nossa. Mas como um conceito social de que todos são iguais, possuímos os mesmo defeitos e que despir desta camada de aparências, que nos torna mais igualitários, é fundamental.
O roteiro do diretor em conjunto com Tobias Lindholm consegue criar de maneira satisfatória o relacionamento entre os elementos mesmo que sirvam de base para o conflito dramático entre Erik e Ema e as conseqüências no estado psicológico de Anna por ter sido trocada por uma mulher com metade da idade. Assim como o fato de prejudicar tanto seu trabalho como no seu estado de saúde e também pela dor de ver a filha do casal, se tornando a maior vítima desta ação por começar a sua vida sexual e insegurança típica da adolescência, justamente num declínio dos pais.
Num destes momentos vemos um belo e doloroso diálogo entre as duas, quando Ema com uma “inocência” e sempre se mantendo na defensiva se dirige a Anna e diz “Eu já conhecia você desde pequena pela televisão”.
Os confrontos e abordagens sempre são tratados de maneira especial pela direção, independente se concordamos ou não com a ação de Erik (ou reação de Anna), percebemos que não estamos diante de um folhetim comum, mas de situações que precisamos e julgamos sempre os envolvidos como faríamos conosco.
Interessante também a direção se concentrar durante alguns momentos nos conflitos dos diálogos em volta da mesa (algo que sempre acho interessante num filme e devemos sempre atentar para isso, pois podemos tirar a dinâmica dos personagens). Interessante também a direção jamais inserir um elemento em cena que possa causar uma distração, com uma TV ou telefone, dando um contexto mais tradicional.
No seu terceiro ato, no entanto, a direção apressa com as resoluções e tenta impor um clima dramático forçado como exemplo de superação e que a vida continua. Não que seja um problema, claro que não, mas é visível que o roteiro apostou numa decisão mais fácil e esteticamente mais abrupta, principalmente quando insere “Goodbye Yellow Brick Road” de Elton John para embalar as cenas.
Como disse um dos personagens: “todos moram juntos”. Mas não se trata exatamente de uma questão física, óbvio, mas de uma ideologia de como jamais estamos sozinhos e saber encarar e ajudar com os problemas alheios é primordial como sociedade.
Obviamente não somos perfeitos. Quem é?
Cotação 3/5
Rodrigo Rodrigues
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