Crítica: Manchester à Beira-Mar

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manchester-cartaz Crítica: Manchester à Beira-MarManchester à Beira-Mar (Manchester by the sea)

Direção: Kenneth Lonergan

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Elenco: Casey Affleck, Lucas Hedges, Kyle Chandler, Michelle Williams, Susan Pourfar, C.J. Wilson, Gretchen Mol, Tom Kemp, Stephen Henderson e Matthew Broderick.

Manchester a Beira-Mar é mais que um conflitos entre membros de um família, mas sim uma ode do que nos torna tão humanos, porém sem necessariamente apelar para algo novelesco, sentimentalista ou melodramático. Um filme de amor, de dramas sobre nossas perdas e como reagimos a situações que mais cedo ou mais tarde geralmente enfrentamos. Tais fatos que o longa aborda podem ser os mais ”simples” (como um processo de sepultamento) até situações completamente trágicas – algo que não necessariamente passamos, mas que infelizmente é impossível  de prevermos, o que imediatamente me remete ao também ótimo Mais forte que Bombas.

Lee (Affleck) trabalha como zelador e como uma espécie de “faz tudo” cujas rotinas vão de simples consertos até serviços de cunho mais escatológicos. Homem rude e por vezes antissocial, Lee tenta transformar sua aparente calma numa máscara – e escudo –  para seguir adiante ao mesmo tempo em que paira uma sentimento de autodestruição. Criando um personagem de grande identificação, Affleck é competente ao deixar transparecer seus conflitos internos sem que jamais deixamos de duvidar de sua dor. Todavia, após a morte do irmão Joe (Chandler), Lee deverá retornar à sua cidade natal e também assumir a guarda do sobrinho Patrick (Hedges), ao mesmo tempo em que deve conviver com seus próprios demônios internos que jamais o abandonaram. 

A direção de Kenneth Lonergan é sensível ao construir e apresentar este mosaico que aos poucos vamos conhecendo. Inclusive é correto ao introduzir também o humor, algo que seria impensável pelos assuntos tratados e pelo cenário de perdas apresentado. Seria como se o próprio roteiro confrontasse o público diante desta reação mais descontraída que o filme evoca em determinadas situações (”Onde está o humor?”, questiona certo personagem), como na cena em que Lee e Patrick (Hedges) discutem sobre a morte através de uma gag levemente física envolvendo comida. Portanto, a qualidade da direção é justamente saber até onde esticar esta linha tênue entre o drama e o inusitado sem criar uma ambiente que desmereça ou enfraqueça a narrativa e seus conflitos – engrandecendo ainda mais o aspecto humano de como podemos gerar tais emoções em diversas situações.manchester_meio Crítica: Manchester à Beira-Mar

A montagem de Jennifer Lame se faz necessária não somente para dinamizar a história mas, principalmente, para enaltecer os conflitos de Lee. Não que fosse necessário, mas se a narrativa seguisse uma “linha reta” acredito que o impacto seria menor, principalmente quando, no segundo ato, ficamos realmente cientes do que aconteceu com o protagonista e todas as motivações do personagem que o transformaram no homem que conhecemos no início do longa (o que denuncia a qualidade do roteiro, que usando flashbacks, empurra a narrativa e desenvolvimento dos personagens para frente).

Assim, nada mais emblemático que a sequência que se passa na leitura do testamento de Joe, quando o longa intercala cenas do passado junto com o irmão, onde não ficamos indiferentes ao sairmos da sala junto com o protagonista, compreendendo seus conflitos e dores. E para estabelecer o público, a fotografia de Jody Lee Lipes não somente exalta principalmente as paisagens frias da cidade em que se passa o longa, mas também serve para transições entre os períodos em que se passam os acontecimentos.

De um elenco que exala consternação, como podemos ver na personagem de Michelle Williams, o jovem Patrick é um dos grandes exemplos de como podemos reagir de diversas maneiras e a complexidade humana que o longa propõe. Um jovem que vê num momento de dor, um rito de passagem, mas sem perder as características de um adolescente normal como qualquer outro. Assim, dentro de suas preferências musicais e seu afloramento sexual, o filme encontra o equilíbrio ideal com o cenário estabelecido e na identificação com o personagem. Para isso o ator Lucas Hedges mostra grande maturidade sendo fundamental para criar o entrosamento ideal com Affleck, cujo conflitos são preenchidos de conversas francas, onde a direção flui de maneira orgânica os focos da história. Indivíduos separados pela distância e idade, cuja visões diferentes sobre perdas os unem de maneira única, a ponto do próprio Patrick sentir a necessidade, por exemplo, de pedir permissão a Lee para trazer uma namorada para casa.

Manchester a Beira-Mar, como nossas próprias experiências, acaba se tornando o mais humano dos clichês (mas não menos belo) o de que inevitavelmente iremos – e devemos –  nos adaptar a estes ciclos, que fazem parte da nossa própria essência.

Cotação 4/5

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Rodrigo Rodrigues

Eu gosto de Cinema e todas suas vertentes! Mas não aceito que tentem rescrever a historia ou acharem que cinema começou nos anos 2000. De resto ainda tentando descobrir o que estou fazendo aqui!

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