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It_cartaz Crítica: IT - A Coisa

It – A Coisa

Direção: Andy Muschietti

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Elenco: Jaeden Lieberher, Jeremy Ray Taylor, Sophia Lillis, Finn Wolfhard, Chosen Jacobs, Jack Dylan Grazer, Wyatt Oleff, Nicholas Hamilton, Jackson Robert Scott, Stephen Bogaert e Bill Skarsgård

A primeira adaptação de It – Uma Obra Prima do Medo (Ou A Coisa?) foi lançada na TV americana em 1990, sendo exibida em dois episódios e chegando ao grande público (pelo menos o daqui, caso minha memória não falhe) diretamente para home vídeo. Onde a longa duração dos telefilmes (mais de 3 horas) acabou gerando, para os mais velhos, a lembrança do peso de ter que alugar duas fitas para ver a obra baseada no calhamaço que era o livro do escritor Stephen King – onde o filme em si, era uma produção apresentando seu lado B e as possíveis limitações que a televisão poderia trazer. Todavia, o filme “original” ainda manteve certa áurea de se sobressair em conjunto a outras obras de terror baseadas nas novelas do escritor como “O Iluminado“, “Carrie“, “Louca Obsessão“…

Assim chegamos nesta nova adaptação, It – A Coisa, onde o diretor Andy Muschietti desenvolve sua narrativa sensível, principalmente ao apostar no contexto inspirado nos filmes juvenis típicos dos anos 80, como Goonies e obviamente Conta Comigo (outra famosa obra de King adaptada para o cinema e rendendo um icônico filme), ao contrário da versão anterior que se passava nos anos 60 – não sendo coincidência, para aumentar a identificação, que um dos atores também faz parte do elenco da série-homenagem “Strange Things“, cuja temática é claramente influenciada pela obra de King.

Ainda sim, isso não significa que essas decisões pudessem servir de muleta ou máscara para desviar a atenção do público,  pois o filme tem muitos elementos que o torna atrativo. Portanto, é interessante como a direção conduz a obra com delicadeza ao desenvolver os respectivos dramas e temas dos personagens relacionados à bullying, abuso e violência familiar, afloramento sexual, racismo, religião e morte, ajudando a criar uma importante identificação com aqueles jovens em conjunto com o conto de terror que a obra também abraça. Cujos conflitos são acentuados com o surgimento do palhaço Pennywise (Skarsgård) personificando seus respectivos medos, e claro, o fato de ser o responsável pelo desaparecimento de Georgie (Scott), irmão caçula do protagonista e de outros jovens da até então pacata cidade de Derry no ano de 1988. Tachados como “losers”, buscando suas identidades e procurando preencher os vazios de suas vidas (e falta de amor) através das amizades, tais elementos são vistos em detalhes que demonstram o cuidado da direção, como o fato de um deles não ter nenhum autógrafo em seu anuário ou mesmo uma simples assinatura no gesso colocado no braço – situações que para muitos possam passar despercebidas, mas que têm um grande significado em sua ausência para aqueles que passaram por situações como estas.

Ademais, ao contrário do filme anterior que entrecortava os acontecimentos passados com os protagonistas já adultos, aqui o roteiro de Chase Palmer, Cary Fukunaga e Gary Dauberman tomam a decisão (que se mostrou correta) de usar todo o tempo do longa para desenvolver os dilemas dos personagens e dimensionalidades de crianças e adolescentes precisando confrontar seus mundos (e a criatura em si) durante seus 135 minutos sem que o torne cansativo. Inclusive a direção demonstra um feeling para o humor, pois além das tiradas cômicas, temos algumas gags e situações que confirmam tal elemento, como na cena em que ratificamos o gosto musical de uns dos integrantes ou nas tiradas do próprio Ben, cujo ator demonstra uma graciosidade e sentimento de pena, por exemplo,  por saber que o amor por Beverly não poderá será correspondido naquele momento. Isso sem contar também na boa presença do personagem Richie (Wolfhard) e suas frases de cunho sexual e, principalmente ao falante Eddie (Grazer) que traz também um elemento tragicômico devido à sua aparência frágil e paranoia, mas também o drama de uma criação materna excessivamente zelosa e destrutiva esta sempre em conflito com sua personalidade.It_meio-1 Crítica: IT - A Coisa

Portando, quando o filme volta suas atenções ao terror mais propriamente dito , a obra ainda consegue ter o equilíbrio necessário com o restante da narrativa, mesmo que em boa parte destes momentos a direção apele para alguns clichês e sustos previsíveis, como por exemplo, a trilha sonora ir aumentando gradualmente o tom até o impacto com o susto em si, ou na sequência em que um personagem entra num quarto repleto de manequins coberto por lençóis (que sabemos que irão se mexer em algum momento), ou nos enquadramentos em que sabemos que vai surgir algo naquele espaço deixado pela câmera, e até mesmo criaturas correndo atrás das vítimas com imagem acelerada típica do gênero nos filmes atuais. Até porque quando o suspense realmente é mais funcional , se dá justamente quando o filme trabalha mais com a suposição que propriamente com os elementos fantásticos, como na cena de ocorridas no porão da casa do protagonista ou na sequência da biblioteca.

Devido a isso, a presença do palhaço merece um comentário a parte. No filme de 1990, independente de ser uma produção para TV e a tecnologia não ser tão avançada, a presença do personagem assustava. Não somente pela áurea de medo que a figura do palhaço desperta no imaginário popular, mas o fato de que atrás da maquiagem tínhamos um ator do porte de Tim Curry conseguindo se expressar e “naturalizar” a criatura com uma personalidade maquiavélica. Nesta nova versão, entretanto, o personagem me soa sempre num mesmo tom de interpretação e na maioria das vezes tendo sua expressão com closes com a câmera sempre num ângulo de cima para baixo para causar medo de maneira artificial. Isso não quer dizer que o palhaço de Bill Skarsgård não cause desconforto com sua aparência mais demonizada, pelo contrário, inclusive é interessante o visual detalhado remetendo a uma estética do século XVI diferenciando da visão tradicional – contudo, a direção não permite que visualizemos por completo o personagem no filme como deveria, principalmente no clímax durante o confronto com a criatura, prejudicado pelos cortes rápidos e uma mise-en-scène não muito eficiente com seus planos mais fechados e abusando um pouco do digital na construção da faceta mais monstruosa de Pennywise.

Contudo, It conta com a fotografia de Chung-hoon Chung (Oldboy, Lady Vingança, A Criada), que flui com uma delicadeza pouco relacionada ao gênero, onde vislumbramos bons momentos, como na própria sequência inicial do garotinho na chuva torrencial brincando com o barquinho de papel, onde predomina as cores lavadas e servem bem a tensa sequência. Ou como na cena em que os jovens vão nadar no lago, o diretor engrandece aqueles momentos nostálgicos de amadurecimentos e descobertas com cores quentes e tons claros, principalmente com a presença de Beverly que é a catalisadora dos sentimentos e tensão sexual , sem jamais ser erotizada (inclusive o filme presta homenagem a “Conta Comigo” por introduzir uma cena com trilhos ao fundo logo em seguida). Ademais, a personagem é o principal fio condutor do trabalho da fotografia, uma vez que na cena do banheiro, Chung se solta ao trabalhar com o vermelho da violência e com planos mais inclinados característicos – e obviamente, uma metáfora ao amadurecimento da personagem onde o simbolismo de sua relação abusiva paterna é inserido de maneira interessante, uma vez que para o pai, aquilo também é real. Figura paterna que também tem uma importância na construção trágica do personagem Henry Bowers (Hamilton), como o opressor da escola e que mesmo não sendo tão aproveitado durante a trama é bem contextualizado e identificável com seu drama familiar e motivações.

It – A Coisa é um filme que procura cometer poucos erros e consegue ser eficiente na maior parte da abordagem de seus elementos e o terror psicológico. Elementos que na maioria dos casos, são mais eficiente que o físico em si, e mais memoráveis quando moldurados por um clima ao mesmo tempo aventuroso de amizades e amadurecimentos “pactuados com sangue” e assustador pelo que poderá vir com o decorrer dos anos quando tais fatos ficarão no passado. Ou não!

Nota 4/5

It_final Crítica: IT - A Coisa

 

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FB_IMG_1634308426192-120x120 Crítica: IT - A Coisa

Rodrigo Rodrigues

Eu gosto de Cinema e todas suas vertentes! Mas não aceito que tentem rescrever a história ou acharem que Cinema começou nos anos 2000! De resto ainda tentando descobrir o que estou fazendo aqui!

26 thoughts on “Crítica: IT – A Coisa

  1. Melhor filmebaseado em uma obra do King? Sim ou sim?
    Me: SIM
    It
    Espera de um Milagre
    Carrie (antigao)
    O Iluminado

    1. Isla
      Bem vinda
      Acho que eu ficaria com aqueles que fogem da estética “terror”, como “Espera de um Milagre”. Mas IT entrou para o hall das melhores adaptações feitas sim.
      Abraços

  2. filme perfeito… ao contrario daquela coisa medonha dos anos 90, esse sim é uma obra prima do medo

  3. King tem trocentas mil adaptações de seus livros, mas a maioria é uma porcaria como o recente Torre Negra. Salvam-se as adaptações de Carrie, O Iluminado, Louca Obsessão e o A Espera de um Milagre. Um ou outro, alem desses, é bom/médio. A maioria é beeem ruim, incluindo tosqueiras como Cemiterio Maldito. It entrava na categoria tosqueiras, o filme original (na verdade uma minisserie lançada como filme de 3h no Brasil) era fraquissimo. O final era bisonho. Mas era um filme pra TV, da até pra relevar. Esse novo It promete entrar na categoria A das adaptações do King. Estou esperançosa.

  4. boa crítica… tem o essencial: fala do filme no geral, comenta a trama, situa o leitor n ocontexto historico e acerca do livro e do filme anterior, pontua aspectos tecnicos, da exemplos do que comenta, fala da atuação, direção e do roteiro… muito bom… sites maiores como Omelete as vezes esquecem de que tudo isso tem que constar numa critica e so fazem exercício de auto-elogio, pr amostrar que conhecem muito (e nem é tanto assim)…

    1. Sidious
      Bem vindo

      Obrigado pelo comentário e elogio
      Procuro tentar passar o máximo para o leitor. A critica não pode ser um veículo de auto elogio, mas sim expor e mostrar na medida do possível a linguagem cinematográfica para o público que a partir deste momento, começara a se atentar para outros detalhes importantes de um filme. E assim engrandecer o debate

      Obrigado e espero que continua a ler nossos textos.
      Abraços

  5. “a direção apele para alguns clichês e sustos previsíveis, como por exemplo, a trilha sonora ir aumentando gradualmente o tom até o impacto com o susto em si, ou na sequência em que um personagem entra num quarto repleto de manequins coberto por lençóis (que sabemos que irão se mexer em algum momento), ou nos enquadramentos em que sabemos que vai surgir algo naquele espaço deixado pela câmera, e até mesmo criaturas correndo atrás das vítimas com imagem acelerada típica do gênero nos filmes atuais”… o que poderia ser feito no lugar disso? e vcs nao vivem dizendo que o problema não é o clichê mas como ele é usado? sendo assim se foi bem usado, que mal teria?

    1. Rey
      Bem vindo e obrigado pelo seu comentário pertinente.

      É claro que o clichê pode ser usado a partir do momento que saiba usa-lo. Entretanto, saber usa-lo passa também pelo fato de não somente se apoiar nele. Muitos filme usam os clichês, mas apoiam sua narrativa em situações que explorem mais o poder da sugestão que propriamente o susto em si.

      Não estou dizendo que “It” não faça isso, pelo contrário (citei um exemplo no texto). Mas, a maior parte das cenas em que o filme tentar causar um desconforte ele se apoia mais em elementos mais usados no gênero.

      Mesmo assim , e caso não tenha explicitado isso no texto, não prejudica muito a obra no resultado final.

      Abraços

  6. nao curti nao, faltou mais sangue e violencia, parece que nos filmes de terror modernos galera tem medo do gore, que saudade dos Sexta-Feira 13 e do Halloween!!!

    1. Marcos Vinicius
      Bem vindo
      Entendo sua preferencia ao estilo “gore”. Entretanto , é possível de causar medo sem necessariamente usar tal elemento. Por vezes o medo sugerido e psicologia é mais funcional.
      Obrigado pelo comentário
      Abraços

  7. iaew galera curti o filme muito show da medo bem feito realmente curti meu namorado ficou com o c* na mao kkk

    1. aff… quero ver funcionar pra alguem comigo que nao tem esse medinho bobo de palhaço que essa vida moderna mimizenta está incutindo nas pessoas… alguem um dia inventou que palhaço, sei la porque, devia dar medo ao invés de alegria, e pronto, cada vez mais gente agora sabe disso e cai nessa bobagem…

  8. Não vejo a hora de assistir. Ele toma forma de lobisomem? Será q na continuação terá a “Tartaruga”?

    1. Não vira lobisomem n. E tb não vira o pássaro e a unica vez q vira múmia, é muito rapido pra dar tempo de vc gostar. Mas mesmo assim a adaptação ficou muito boa.
      Sobre a tartaruga, tem dois singelos nuances dela no primeiro filme. Mas axo complicado demais finalizar o filme exatamente como o livro. Revelar a identidade da Coisa e da Tartaruga…n sei… acredito q eles não irão fazer isso. Em todo caso, espero estar totalmente errado sobre isso kkkkkk.
      Vá assistir, vc não vai se arrepender.

  9. Assisti a pouco.
    Achei muito bom.
    É uma mistura de ”A hora de pesadelo” com ”Conta Comigo”.
    Outra coisa o Bulling dos anos 80 foi fod@:
    – Guerra de pedra (até a pessoa desmaiar).
    – Faca na barriga (marcando iniciais)
    – Chuva de mijo e merd@ (cabine do banheiro)
    – Soco, porrada e chute.

    Ah e valeu por ter mostrado Street Fighter 1 no fliperama

    1. Claudio Duarte
      Bem vindo
      Gosto do sadismo ne? Realmente as “brincadeiras” no filme eram bem perigosas

      Abraços

  10. Quem estava assistindo a sessão das 15:45 dia 07/09 no SpMarket e quase morreu do coração quando acabou a energia e apagou tudo? kkkk

    1. Angelica
      Bem vinda,
      Estou no RJ, juro que não estava nesta sessão. rs
      Abraços

  11. Muita gente dizendo que o IT é uma copia de Stranger Things. Não é, mas pegou carona e inclusive fez adaptações na obra para agarrar o publico pela nostalgia. O livro IT na parte que representa o filme não se passa nos anos 80 e sim nos 50.
    Inegável que isso barateia a sequencia que vai se passar nos dias atuais, mas é claramente uma estratégia para inflar a bilheteria, já que não é um filme que tenha qualquer apelo no mercado chinês, e é bem caro para um filme de terror, então meio que tem a obrigação de dar certo.
    Sinceramente adorei o filme e comparado com a lastimável tentativa de adaptar a torre negra, esse é uma obra prima. Ainda assim, é um exagero dizer que é uma adaptação perfeita.

    1. Acabei de assistir e achei o filme muito bom, ótimo na verdade. Terror não é só fazer a porra de um filme que da sustos nas pessoas. Esse filme é muito diferente, nunca tinha assistido um filme de terror em que eu me importasse com os personagens, e nesse isso ocorreu. Fica fácil entre os melhores filmes de terror que já vi. Esse filme é digno de 5 omeletes , já vi muitos filmes bons apenas levaram 5 omeletes aqui.

    2. Gabriel/ Will
      Bem vindos.
      Obrigado pelos comentário. O filme realmente trabalha a questão do desenvolvimento dos personagens bem mais interessante que a maioria dos filmes do gênero.

      Abraços

  12. Seria preciso verificar, mas até nisso Stephen King foi um visionário: a cada 27 anos aproximadamente uma onda de ultraconservadorismo assola os Estados Unidos. A argentina Bárbara Muschietti sabe do que está falando, porque produziu a nova versão de It, obra-prima do terror e ao mesmo tempo incisivo retrato social de King, escritor que soube transcender o gênero que lhe deu fama e milhões de seguidores. Porque It foi escrito na época de Reagan – foi publicado em 1986 – e narrava um drama que acontecia durante a Guerra Fria. It – A Coisa, o filme (que estreia nesta quinta-feira, 7 de setembro) – nos dias em que um tuíteiro furioso reside na Casa Branca e a trama se desenvolve durante o Governo de Reagan. Mais ou menos, a cada 27 anos. Andy Muschietti, diretor do filme e irmão da produtora, com quem forma dupla criativa, atribui tudo ao escritor: Tem a ver com a lucidez de certos artistas que adquirem um compromisso constante com as situações sociopolíticas, como King, que hoje é um ativista através do Twitter e um homem dotado de grande senso de humor.

  13. O filme segue a fórmula que voltou ao universo pop no ano passado, com o sucesso de “Stranger Things”, da Netflix (de fato, o longa lembra bastante a série, com um dos atores-mirins, Finn Wolfhard, no elenco das duas produções). Mas, diferentemente do livro e do telefilme, o filme é apenas a primeira parte do conflito. A obra original mostra um reencontro do grupo de amigos com o palhaço, 30 anos depois. Podemos esperar uma sequência em breve. Se for do mesmo nível dessa, está ótimo. Gostei do filme, fez jus à obra do King.

    1. Ivel
      Bem vindo
      Obrigado pelo comentário. Esperamos que a segunda parte venha ser tão boa quanto a primeira.
      Abraços

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