Crítica: Operação Red Sparrow (Red Sparrow)
Operação Red Sparrow
Direção: Frances Lawrence
Elenco: Jennifer Lawrence, Joel Edgerton, Matthias Schoenaerts, Charlotte Rampling, Mary-Louise Parker e Jeremy Irons.
Trazendo novamente a parceria entre o diretor Frances Lawrence e a atriz Jennifer Lawrence, vista na saga Jogos Vorazes; este Operação Red Sparrow bebe na fonte de longas que tentam modernizar o gênero de espionagem/ação através de uma protagonista feminina, como visto, por exemplo, em Atômica com Charlize Theron. Contudo, sem alguma sequência de ação (não digo memorável, digo nenhuma), o longa tenta abraçar um narrativa que em nenhum momento ele é capaz de convencer em sua proposta.
Não estou dizendo que um filme deve ter sequências de ação em profusão e abandonando a construção dos personagens, até porque estaria me contradizendo como crítico por uma narrativa acelerada jamais significar qualidade – e até imagino a reação de um jovem de hoje, por exemplo, ao assistir O Samurai de Jean Pierre Melville. Assim, é elogiável a intenção da direção em jamais apostar em colisões, tiroteios e correrias, mas dedicar seu tempo na trama em si e seus desdobramentos, mas duvido muito que esta tenha sido a intenção definitiva da direção. Contudo, independente do conceito pensado (e ratifico não acreditar que esta tenha sido sua intenção), Operação Red Sparrow, não consegue se apresentar de maneira convincente em qualquer abordagem e mesmo que, em seu início, ainda consiga despertar um mínimo de interesse pela sua narrativa, a obra se torna completamente catastrófica no restante da projeção.
Depois de um incidente durante uma apresentação de dança e impossibilitada de continuar sua carreira, Dominika (Lawrence) corre o risco de perder o apartamento em que vive com a mãe doente, cujas despesas são pagas pela companhia de dança Bolshoi. E para não ser despejada do local e ficar sem recursos para cuidar da mãe, a jovem aceita trabalhar para o governo através de seu tio Egorov (Schoenaerts), que a manda para um famoso centro de treinamento militar para se tornar uma espiã. Mas o envolvimento como o agente americano Nate (Edgerton) pode por ainda mais em risco a vida de Dominika que ainda precisa provar sua inocência diante das suspeitas de traição.
A montagem se mostra correta ao trabalhar com um longo prólogo, apresentado o mundo de Dominika e Nate em paralelo, insinuando assim uma futura ligação entre os dois, mesmo de universos tão distintos: ela com a rigidez da dança e ele num cenário de suspeitas de elementos bem tradicionais da obras de espionagem (agentes trocando informações em lugares desertos, por exemplo). Ressaltando ainda que o desfecho da apresentação da bailarina remete dramaticamente ao desfecho do espião ao criar uma rima visual, se não das mais sutis, pelo menos funcional; inclusive a direção tem cuidado ao apresentar planos, principalmente nas cenas da apresentação de Dominika, ao usar lentes angulares e elevando aquela atmosfera artística da dança. Entretanto, os elogios param por aí, pois como tudo na obra, o relacionamento entre eles é subaproveitado, superficial e sem qualquer química e qualquer outra tentativa de engrandecer a narrativa evidencia que a direção parecia condicionada a torturar o espectador nas próximas duas horas. Sim, pois o filme tem insuportáveis e inexplicáveis longos 140 minutos!
Bem, eu não gosto muito de usar o termo “furo de roteiro”, pois sendo uma ação inerente a aquele mundo do filme, não posso achar incoerente por mais que eu não concorde com as decisões tomadas. Todavia, tudo tem um limite e o roteiro de Justin Haythe se apresenta sem um pingo de uma estrutura dramática, um paradigma ou esquema conceitual sólido que ligue os acontecimentos tornando tudo um amontoado de situações descartáveis que não fazem sentido quando vistas como um todo. Fora que as próprias resoluções de algumas (algumas não, várias situações) são tão forçadas que fica difícil se envolver com a protagonista, servindo apenas para atender algumas convenções da própria história. Um destes exemplos é a sequência passada no hotel em que a Dominika (um figura facilmente reconhecível, o que prejudicaria o seu disfarce) se encontra com um mafioso, cuja cena simplesmente não agrega em nada, ou a cena com a presença de Mary-Louise Parker fazendo fazendo o mesmo papel de agente ”maluquinha” visto em Red, e igualmente caricata.
Isso não seria o mais grave, pois a obra sofre pelas mãos de seu realizador uma espécie de saudosismo démodé ao personificar os russos como perversos, machistas, sanguinários e com o discurso de “Ocidente decadente” como se estivéssemos vendo uma velha película filmada durante os anos 80, protagonizada por Chuck Norris ou Stallone. E para completar o cenário, o filme se passa numa época que celulares são vendidos em máquinas com doces (denunciando que ocorre nos dias atuais); entretanto os personagens guardam informações (sério!) em disquetes! Sim, os bons e velhos disquetes! Fico imaginando o nível de informação sigilosa governamental para ser guardada nos disquetes numa altura desta! Enfim, se a direção teve a intenção de criar um contexto retrô de maneira indireta, uma homenagem ao gênero ou mensagem oculta, admito que fui enganado e não percebi a ideia. Caso não, o texto continua valendo!
Isso não é tudo, pois a direção tem um grave problema em confundir suspense com exposição e sedução com algo explícito, uma vez que ele entende (e faz questão de tornar isso um atrativo) que, ao mostrar, por diversas vezes, a atriz Jennifer Lawrence em lingeries, decotes, seios a mostra, sofrendo tentativa de estupro, decotes (ja disse isso, não?) e exigindo que façam sexo com ela à vista de diversas pessoas possa convencer o espectador em sua proposta de atratividade de erotismo (uma espiã, inclusive, que num momento de perigo não pensa duas vezes em procurar a polícia para fazer um ocorrência).
Como uma pessoa do sexo masculino é óbvio que eu poderia facilmente ser atraído pela beleza da atriz em cenas exaltando seu belo corpo, entretanto, é impossível não ficar incomodado com o fato da obra ser absurdamente sexistas com tal elemento a ponte de tornar vulgar, como as ações fossem vistas como um consolo para as mulheres (“Vamos ser sempre suas putas!”, diz uma delas). Remetendo, inclusive, a uma obra anterior de Jennifer Lawrence (Passageiros) em que a atriz também passa o filme todo servindo como objetivação de Chris Pratt – me fazendo pensar o que leva a atriz a intercalar uma obra, por exemplo, da magnitude de Mãe! de Aronofsky como obras como este Operação Red Sparrow que a expõe sem necessidade.
Há uma enorme diferença entre mostrar tal ponto de vista como uma denúncia e gerar uma discussão para tornar aquilo aceitável sem qualquer consequência como algo corriqueiro e que não mereça ser combatido, como visto, por exemplo, em Elle de Paul Verhoeven que, mesmo abrindo margens para críticas é suficientemente capaz de criar a discussão devido ao seu contexto apresentado. E sendo a tal escola de espiões/prostíbulo (não há outro nome para o local) um antro de adestramento para tornar as mulheres manipuladoras e a mercê dos impulsos sexuais masculinos que precisam se “aliviar”, tudo se torna um paraíso misógino e execrável. Inclusive, me parece uma escolha no mínimo infeliz, para não dizer desastrosa, a presença da atriz Charlotte Rampling como a governanta da escola/prostíbulo, uma vez que a veterana atriz disse anteriormente sobre a falta de representatividade nas premiações que “Talvez os atores negros não merecessem estar na lista final“. “Por que classificar as pessoas? Hoje em dia todo mundo é mais ou menos aceito”. Assim não me surpreenderia que a mesma ache normal sofrer um assédio por isso ser da cultura do homem e a mulher deveria entender.
E não contente, a direção ainda apela para o grotesco e o grafismo, como no fato de causar repulsa no espectador nas cenas de tortura não fosse o suficiente para atrair a atenção do público. E mesmo que fosse, o diretor parece ter pouco conhecimento em construir com eficiência uma cena de tensão, pois se num momento ou outro acabamos realmente sentindo a violência do ato contra Dominika, qualquer lógica ou impacto é enfraquecido ao mostrar uma gravação de um colega sendo executado como forma de chantagem. Ou seja, depois de ser socada, agredida, violentada e todas as formas de tortura, a pessoa precisa de um vídeo para ter certeza que realmente ela corre perigo?
Alternando entre o envolvimento entre Dominka e Nate e conspirações que você apenas torce para que se resolvam logo (isso quando conseguimos situar no que exatamente está acontecendo), o longa ainda tenta criar um clima inspirado em Ponte de Espiões com uma reviravolta previsível baseada em flashbacks mostrando as pistas e recompensas como se dissesse: ”Olha só, viu isso?”.
Enfim, Operação Red Sparrow é um antro de falta de criatividade e indefensável em qualquer ponto de vista (profissional ou pessoal).
Nota 2/5
Rodrigo Rodrigues
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eu gostei do filme… a Lawrence parece (e é, no filme) uma prostituta, mas ela fez bem o papel, e ficou bem sexy e atraente… mas tb achei que o filme, fora ela, tem pouco atrativo, nao é um grande filme, nao prende a gente do inicio ao fim, parece meia boca