Análise: Planeta dos Macacos – 50 anos

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Em fevereiro de 1968 estreou nos cinemas a produção norte-americana da 20th Century Fox, Planeta dos Macacos (Planet of the Apes), com o famoso astro Charlton Heston em seu primeiro filme de ficção científica. O longa contou com a direção de Franklin J. Schaffner. Na época atual, onde várias franquias distópicas fazem sucesso como Jogos Vorazes, Divergente e Maze Runner, todas elas perdem feio em qualidade de roteiro para este clássico criado 50 anos atrás, cujo final foi uma verdadeira surpresa, se tornando uma das cenas mais icônicas da história do cinema!

Sinopse: O astronauta americano George Taylor (Charlton Heston) vai parar por acidente em um planeta habitado predominantemente por macacos, ao invés de humanos. Os símios dominam o lugar, escravizando os seres humanos, inclusive George e os outros tripulantes da sua nave. Agora, o astronauta terá que lutar pela sua liberdade e a dos companheiros. No caminho, conhece a humana selvagem Nova (Linda Harrison) ao mesmo tempo que é ajudado por dois cientistas símios, a Dra. Zira (Kim Hunter) e Cornelius (Roddy McDowall).

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Origem: O escritor francês Pierre Boulle ficou conhecido por seu livro A Ponte do Rio Kwai, lançado em 1952 e transformado em um filme de muito sucesso em Hollywood em 1957 (saiba mais aqui), vencedor de 7 Oscars da Academia (sendo 8 indicações), onde o próprio escritor recebeu o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, dividido-o com outros dois co-roteiristas: Michael Wilson e Carl Foreman. O sucesso do livro e do filme A Ponte do Rio Kwai levou os estúdios a procurar Boulle novamente para uma nova adaptação. Assim em 1963, ele vendia os direitos cinematográficos de  La planète des singes, antes mesmo do livro ser lançado oficialmente no ano seguinte. O jornal inglês The Guardian chamou o livro de “Ficção científica clássica … cheia de suspense e inteligência satírica.” Na sinopse do livro constava: “No ano de 2500, um grupo de astronautas, incluindo o jornalista Ulysse Merou, viajou para um planeta no sistema estelar de Betelgeuse. Eles pousam para descobrir um mundo bizarro onde os macacos inteligentes são a raça superior e os humanos são reduzidos a selvagens: enjaulados em zoológicos, usados em experimentos de laboratório e caçados por esporte. A história da captura de Ulysse, sua luta para sobreviver e o clímax estalar quando ele retorna à Terra e uma terrível descoberta final é emocionante e fantástica. No entanto, o romance é também uma parábola irônica sobre a ciência, a evolução e a relação entre o homem e o animal”.

Produção:

O produtor responsável pela compra dos direitos cinematográficos foi o americano Arthur P. Jacobs (1922-1973). Ele tentou vender a produção de um filme de Planeta dos Macacos para vários estúdios, mas foi preterido. Depois de Jacobs ter feito uma estreia de sucesso como produtor em 1964, com What a Way to Go! (1964) para a 20th Century Fox e começar a pré-produção de outro filme para o estúdio, Doctor Dolittle, finalmente ele conseguiu convencer o vice-presidente da Fox, Richard D. Zanuck, a dar luz verde ao projeto do filme Planeta dos Macacos, e bastava apenas achar o roteiro correto para o estúdio produzir. Isto recaiu para o roteirista e criador do seriado Além da Imaginação (The Twilight Zone), Rod Serling (1924-1975), conhecido por bolar histórias sensacionais para seu programa de TV, que era um grande sucesso nos anos 60, tendo sido produzidos mais de 150 episódios durante cinco temporadas de grande audiência. Mas assim que o roteiro de Serling ficou pronto, houve uma rejeição por parte do estúdio. Motivo: uma preocupação primordial era o custo do filme, já que a sociedade de macacos tecnologicamente avançada retratada pelo roteiro de Serling envolveria sets de filmagens caros, adereços e efeitos especiais. Assim, foi chamado o roteirista de A Ponte do Rio Kwai, Michael Wilson, para reescrever o roteiro de Serling e, como sugerido pelo diretor Franklin J. Schaffner, a sociedade de macacos tornou-se mais primitiva como forma de reduzir custos. O final estilizado de Serling foi mantido e acabou se tornando um dos finais de cinema mais famosos de todos os tempos.

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Com o elenco definido, as filmagens ocorreram entre maio a agosto de 1967, tendo por locações externas o Grand Canyon, o Rio Colorado, o Lago Powell, o Glen Canyon e alguns lugares desérticos do Arizona. A maioria das cenas da vila de macacos, interiores e exteriores, foram filmadas no Fox Ranch no Malibu Creek State Park, a noroeste de Los Angeles, essencialmente o backlot da 20th Century Fox. As maquiagens, uma grande preocupação para os estúdios, foi desenvolvida pelo maquiador profissional John Chambers (1923-2001), responsável pelas orelhas do Sr. Spock (Star Trek). Suas próteses símias ficaram tão boas que passaram a ser a base para os filmes sequências e a série de TV nos anos 70. Antes das filmagens, Chambers fez uma sessão de testes dentro dos estúdios da Fox onde ele orientou outros maquiadores do filme. O elenco símio foi divido entre três categorias: gorilas (soldados), chimpanzés (cientistas) e orangotangos (legisladores). A trilha sonora ficou a cargo do lendário Jerry Goldsmith. A  partitura do filme  é conhecida por suas técnicas de composição de vanguarda, bem como o uso de instrumentos de percussão incomuns e técnicas de performance estendida, bem como sua música de 12 notas (a parte de violino usando todas as 12 notas cromáticas) para dar uma atmosfera estranha e instável. Entre os instrumentos utilizados por Goldsmith, esta a brasileiríssima… cuíca!

Lançamento:

O filme foi lançado em abril de 1968, ao custo de U$ 5,8 milhões. Público e crítica logo o elevaram ao status de cult, como uma obra prima da ficção científica distópica. O longa rendeu nas bilheterias na sua época algo em torno de U$ 33,4 milhões, quase seis vezes mais o seu investimento inicial, isto só no mercado norte-americano, sem contar a bilheteria internacional e nos lançamentos posteriores ao longo das décadas em vários formatos como home-vídeo e stream. Ainda hoje é considerado um dos maiores filmes da história da ficção científica. Em 2001, Planeta dos Macacos foi selecionado para preservação no Registro Nacional de Filmes dos Estados Unidos pela Biblioteca do Congresso como sendo “cultural, histórica ou esteticamente significativo”. Foi indicado a 2 Oscars em 1969 pela Academia: Melhor Trilha sonora (Jerry Goldsmith) e  Melhor Figurino (Morton Haack), não venceu, mas ganhou um Oscar Especial de Melhor Maquiagem pelo excelente trabalho de John Chambers.

Legado:

O filme, apesar de ter sido realizado a 50 anos, ainda continua com uma temática atual até hoje, pois trazia uma crítica social surpreendente e provocadora. De quebra trazia uma distorção da teoria da evolução, e uma história que parecia ser simplista a princípio, só que nada mais era do que uma mera camada entre os diversos níveis a se descobrir na produção. Discussões como o racismo, escravagismo, estruturas sociais, guerra nuclear e o confronto entre a ciência e religião podem ser descobertos no filme. E não podemos deixar de falar, é claro, do final surpreendente, que choca não só o personagem principal, mas o próprio espectador. Na época foi considerada um tapa na cara da sociedade dividida pela Guerra Fria.

Continuações e séries de TV:

O sucesso do filme levou obviamente o estúdio a investir em uma continuação e posteriormente em uma franquia muito bem sucedida, antes de franquias de sucesso como Star Wars, Jurassic Park, super-heróis, etc.  Suas quatro continuações, foram:

De Volta ao Planeta dos Macacos (Beneath the Planet of the Apes, 1970) de Ted Post. Sinopse: O astronauta Brent foi enviado em missão de resgate ao colega Taylor, e precisa atravessar uma linha do tempo para o futuro e chegar ao planeta onde ele desapareceu. O planeta do futuro foi dominado pelos macacos e uma humanidade mutante vivem nos subterrâneos.

Fuga do Planeta dos Macacos (Escape from the Planet of the Apes, 1971) de Don Taylor. Sinopse: Os símios Cornelius e Zira retornam no tempo para escapar da destruição de seu mundo e chegam a Los Angeles do século 20, onde são tratados como curiosidades. Mas logo são perseguidos pelo governo, que pretende evitar o nascimento do bebê de Zira.

Conquista do Planeta dos Macacos (Conquest of the Planet of the Apes, 1972) de John Lee Thompson. Sinopse: 18 anos após o filme anterior, os macacos são domesticados e se tornam animais de estimação. Mas as condições de vida dos símios instigam César, um primata altamente desenvolvido, a liderar uma revolta colossal contra seus opressores humanos.

A Batalha no Planeta dos Macacos (Battle for the Planet of the Apes), 1973) de John Lee Thompson. Sinopse: 12 anos após a queda da humanidade, foi constituída uma sociedade rural pacífica de macacos, em que a mais valiosa lei é “macaco jamais matará macaco”. Eles vivem em paz com alguns humanos sobreviventes da Guerra Nuclear que devastou a sua sociedade. Porém, Aldo, um gorila beligerante, acha que os macacos devem ter armas e devem matar humanos, e conspira com os outros da espécie para que César não continue no poder.

Todas sequências foram produzidas por Arthur P. Jacobs até o ano do seu falecimento. Posteriormente, em 1974, a CBS comprou os direitos para lançar uma série de TV homônima de curta duração (teve apenas 14 episódios, apesar de ser uma versão quase continuada do filme original). Na série de TV, havia algumas mudanças, como os símios terem uma tecnologia um pouco superior às produções do cinema. A série foi cancelada pela baixa audiência. No ano seguinte ainda foi lançado uma série de desenhos animados também para a TV, De Volta ao Planeta dos Macacos (Return to the Planet of the Apes, 1975), produzida pelo estúdio animado DePatie-Freleng Enterprises, e exibida pela rede NBC. Também teve curta duração (apenas 13 episódios).

Tentativa de reativar a franquia:

Nos anos 80, a Fox tentou de diversas maneiras desenvolver um reboot para a série cinematográfica, mas os projetos foram considerados muito caros e foram rejeitados. Entre as ideias estava a do jovem roteirista Adam Rifkin, em 1988, na qual o primeiro filme do reboot seria uma sequência alternativa que romperia com o enredo dos quatro filmes anteriores. No conceito original, um descendente de Taylor lidera uma revolta da raça humana contra os símios opressores. Dias antes do início da pré-produção, a Fox reformou o quadro de executivos enviando o filme novamente para a fase de desenvolvimento. Rifkin apresentou vários outros esboços, mas acabou desligando-se do projeto.

Nos anos 90 o projeto saiu novamente da gaveta e o premiado diretor Oliver Stone (Platoon, JFK) foi convidado a desenvolver um novo filme da franquia ao lado do roteirista Terry Hayes. Na história chamada Return of the Apes, a humanidade é ameaçada por uma doença contida no DNA, então um grupo de cientistas volta no tempo para combater a doença em sua origem e descobre que a doença foi desenvolvida por símios inteligentes pretendendo a destruição gradual do humanidade. Arnold Schwarzenegger chegou a ser anunciado para o papel do cientista Dr. Will Robinson enquanto Philip Noyce seria o diretor, com produção de Stone. Este roteiro agradou o presidente da Fox, mas nem todos concordaram e pediram uma mudança para tirar o clima sombrio do filme, com a inclusão de uma cena cômica com macacos jogando baseball, mas o roteirista Hayes, não gostou e se demitiu do projeto, seguido pouco depois de todos os envolvidos na produção e o filme foi novamente para a gaveta.

Depois, a Fox contratou Chris Columbus (Harry Potter, O Homem Bicentenário) para desenvolver um novo roteiro. Columbus chamou Sam Hamm para elaborar um roteiro com base no romance de Boulle e vários outros esboços abandonados anteriormente. No roteiro de Hamm, um astronauta símio de um planeta distante libera um vírus devastador sobre a Terra. Um grupo de cientistas viaja ao planeta de origem do símio e descobre uma colônia de humanos escravizados. Schwarzenegger permaneceu ligado ao projeto, mas a companhia não aprovou o roteiro. Em 1995, Columbus deixou a equipe e foi substituído por James Cameron (Exterminador do Futuro, True Lies), que também se desligou da produção para dedicar-se a Titanic.

Em 1999, a Fox contratou William Broyles, Jr. para elaborar um novo roteiro. A Fox insistiu em lançar o filme em julho de 2001, mas deixou Broyles livre para trabalhar sobre o roteiro. Este aspecto atraiu o cineasta Tim Burton, que desejava reinventar toda a franquia. Burton considerou a produção ardilosa, especialmente devido à data limite estipulada pela Fox. A companhia orçou o filme em 100 milhões de dólares, o que acarretou diversas alterações no roteiro soberbo de Broyles. Assim, em Planeta dos Macacos, o astronauta Leo Davidson (Mark Wahlberg) embarca em um buraco de minhoca e chega a um planeta onde macacos escravizam a raça humana. Davidson lidera uma revolta contra a civilização local e descobre que este universo é derivado dos primatas que havia trazido em sua missão anos antes. A atriz britânica Helena Bonham Carter interpretou a chimpanzé Ari, enquanto Tim Roth viveu o antagonista General Thade. O filme recebeu críticas mistas, sendo que muitos críticos consideraram o filme muito distante da franquia original, enquanto elogiaram os efeitos especiais e a concepção artística. O filme foi um sucesso comercial, arrecadando mais de 360 milhões de dólares em bilheterias mundiais, o que levou a Fox a cogitar uma sequência, ideia depois abandonada.

A nova trilogia:

A Fox deixou a franquia dos macacos no limbo, até que em 2006, quando o roteirista e produtor Rick Jaffa desenvolveu uma nova ideia junto com sua esposa Amanda Silver, após uma visita a um zoológico. Ele apresentou à Fox em 2008 um novo roteiro, que não seria mais uma refilmagem, mas uma tentativa de começar uma história inédita, aproveitando eventos e personagens de Conquista do Planeta dos Macacos (Conquest of the Planet of the Apes), filme de 1972 que foi o quarto capítulo da série. Intitulado Genesis: Apes, o roteiro de Rick Jaffa e Amanda Silver acompanha a origem de Cesar, macaco resultado de experiências genéticas dotado de inteligência e capacidade de fala. Ao ser traído pelos humanos que tentava emular, Cesar começa uma campanha através da violência para reivindicar os direitos símios entre os homens. A trama se passava nos dias atuais. A Fox considerou o roteiro “corajoso demais”, por mostrar nossa sociedade através dos olhos do injustiçado Cesar. Mas, após nova avaliação, o estúdio resolveu arriscar novamente na franquia após várias mudanças no roteiro, e em 2010, a Fox aprovou a produção. Rupert Wyatt, foi escolhido como diretor, e o elenco contou com os atores James Franco, John Lithgow e Freida Pinto. Ao contrário das versões anteriores, os macacos foram criados em computação gráfica e captura de movimentos. Cesar, o líder dos macacos, foi interpretado por Andy Serkis (Senhor do Aneis). Assim, a nova franquia rendeu três filmes: Planeta dos Macacos: A Origem (2011), Planeta dos Macacos: O Confronto (2014) e Planeta dos Macacos: A Guerra (2017), estes dois últimos dirigidos por Matt Reeves, gerando algo em torno de U$ 1,6 bilhões em bilheterias ao todo.

Resta saber agora, quais serão os próximos passos da famosa franquia iniciada a 50 anos atrás com o Planeta dos Macacos original.

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Ricardo Melo

Profissional de TI com mais de 10 anos de vivência em informática. Tem como hobby assistir seriados de TV, ir ao cinema e namorar!!! Fã de rock'n'roll, música eletrônica setentista, ficção-científica e estudos relacionados a astronáutica. Quis ser astronauta, mas moro no Brasil... Os anos 80 foram meu playground!

9 thoughts on “Análise: Planeta dos Macacos – 50 anos

    1. Verdade, um clássico atemporal e uma crítica a raça humana .

  1. filme maravilhoso, mesmo com baixo orçamento… Heston em grande forma, macacos que pareciam reais, final destruidor, mensagem incrivel… um dos meus favoritos de sempre

    1. Sim, Planeta dos Macacos, foi a primeira franquia sci-fi que gerou várias coisas, antes do mega sucesso de Star Wars…

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