Análise: Alien – 40 anos que ninguém escuta você gritar no espaço!

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Há 40 anos um filme mudou para sempre a história do cinema de terror e ficção-científica, levando esses dois gêneros a um nível jamais imaginado… Neste especial, falaremos sobre Alien: O Oitavo Passageiro (clique aqui e leia nossa crítica e veja aqui a cronologia da franquia).

Desenvolvimento, concepção e primeiras ideias:

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Em meados dos anos 70, um grupo de estudantes de cinema liderados por Dan O’Bannon (1946-2009) e seus amigos, o (futuro) diretor John Carpenter e o artista conceitual Ron Cobb, criam uma história para um filme de terror ‘B’. A ideia era sobre uma mistura de ficção-científica e comédia, com um alienígena criado a partir de uma bola de praia que aterrorizava uma tripulação “meio hippie“. Nascia assim em 1974, o filme Dark Star, uma produção bem barata, que custou por volta dos U$ 1 mil, apenas, um valor baixo até para a época (e inacreditável nos tempos atuais). O que era um projeto de faculdade, acabou ganhando distribuição nos cinemas, ainda que em circuito bastante reduzido, mas ainda assim acabou rendendo U$ 60 mil.

Anos depois, Dark Star virou cult, pois foi o primeiro filme comercial da carreira de Carpenter, que anos depois dirigiria produções muito famosas como outro filme ‘B’, Christine – O Carro Assassino, o slasher Halloween, Eles Vivem!, Fuga de Nova Iorque e a obra-prima Enigma do Outro Mundo, dentre outros.

O’Bannon não ficou totalmente satisfeito com o resultado e pensou em expandir a ideia usando o conceito de terror – e não mais comédia – de um alienígena assassino  matando toda uma tripulação de uma nave. Segundo O’Bannon “Eu sabia que queria fazer um filme assustador em uma nave espacial com um número pequeno de astronautas. Seria Dark Star como um filme de terror ao invés de uma comédia”. Ele então passou a escrever um novo roteiro para tentar materializar sua ideia.

Neste meio tempo, ele conhece outro roteirista, Ronald Shusett, que neste período estava tentando roteirizar um dos contos do célebre escritor de ficção-científica, Philip K. Dick, então ambos combinaram uma ajuda mutua nestes dois roteiros. Posteriormente, o projeto de Shusett para o conto de K. Dick se tornaria um clássico sci-fi, o filme O Vingador do Futuro (Total Recall – 1990), com o astro Arnold Schwarzenegger.

O’Bannon, por outro lado, no seu projeto, havia escrito vinte e nove páginas de um roteiro chamado Memory, que consistia naquilo que se tornaria as cenas de abertura de Alien: uma tripulação de astronautas acordando e descobrindo que sua viagem foi interrompida porque receberam um sinal vindo de um misterioso planetóide. Eles investigam o caso e sua nave acaba quebrando na superfície. Entretanto, O’Bannon ainda não tinha uma ideia clara de como seria o antagonista alienígena da história. Enquanto a ideia estava nascendo, ele foi convidado para trabalhar em Paris por 6 meses em uma então futura adaptação para o romance sci-fi Duna (uma das maiores obras literárias de ficção científica da História).

Infelizmente o projeto acabou sendo cancelado, mas o roteirista conheceu outros artistas conceituais neste projeto, entre eles Chris Foss, H. R. Giger e Jean Giraud (Moebius). Isto levou O’Bannon a aumentar seu conhecimento para seu futuro projeto pessoal. Foss era um desenhista que fazia capas de livros, discos e pinturas relacionados ao futurismo espacial, e estes trabalhos impressionaram bastante O’Bannon, que o convidou para criar esboços de uma nave espacial que seria futuramente a Nostromo, de Alien. Moebius já era um famoso quadrinista francês, que também era muito ligado ao futurismo espacial. Ele foi convidado a desenhar apetrechos de astronautas, naves, equipamentos e trajes espaciais. Sobre H. R. Giger, O’Bannon ficou impressionando com suas litografias e desenhos assustadores: “As pinturas dele tiveram um profundo efeito em mim. Eu nunca havia visto algo que era tão horrível e ao mesmo tempo tão bonito quanto seus trabalhos. Então eu acabei escrevendo um roteiro sobre um monstro baseado nos trabalhos de Giger”.

Após o cancelamento do projeto Duna, O’Bannon e Shusett voltaram a revisar o roteiro Memory, tentando novas ideias para o filme, que depois seriam abandonadas, como por exemplo um gremlin invadindo um B-17 da II Guerra Mundial que partiria para uma nave espacial no futuro. O projeto foi rebatizado de Alien, por causa da quantidade de vezes que este nome aparece no roteiro. Ele e Shusett gostaram da simplicidade do novo título e seu significado duplo como substantivo e adjetivo. Shusett criou a ideia de que um dos tripulantes poderia ser implantado com um embrião do alien, que mais tarde sairia de dentro dele, achando que esse era um dispositivo de roteiro interessante para que a criatura entrasse na nave.

Aliás, estes conceitos sempre foram um pouco polêmicos. Afinal, o filme “rouba ideias” de outras produções e histórias? O proprio O’Bannon esclareceu isto em uma entrevista, onde diz: “Eu não roubei Alien de ninguém. Eu roubei de todos!”. Entre as influências citadas pelo roteirista estão O Monstro do Ártico (The Thing from Another World – 1951 – refilmado depois por Carpenter como Enigma do Outro Mundo), o clássico Planeta Probido (Forbidden Planet – 1956) e a produção italiana trash ‘B’, Terrore nello Spazio (1965), além do conto Junkyard de Clifford D. Simak. O’Bannon citou também influências do livro Strange Relations, de Philip José Farmer, além de outras histórias pulps de ficção-científica e HQs sobre monstros espaciais (comuns na época).

Com 85% do roteiro escrito, O’Bannon e Shusett começaram a apresentar a ideia para os estúdios de cinema, mas sabiam que seriam rejeitados por todos porque não havia muito interesse, na época, em filmes de monstros que não fossem produções ‘B’ e filmes trash. Até por isso eles acabaram só conseguindo apoio do famoso produtor e diretor de filmes ‘B’, Roger Corman, que praticamente introduziu os zumbis comedores de carne humana na cultura pop ocidental com A Noite dos Mortos Vivos (The Night of the Living Dead – 1968). Eles estavam para fechar um acordo para a produção de um filme ‘B’ quando um amigo em comum se ofereceu para arranjar um acordo melhor, passando a produção para Walter Hill, David Giler e Gordon Carroll, que haviam criado uma produtora chamada Brandywine Productions que era muito próxima da 20th Century Fox, um dos maiores estúdios de Hollywood.

Na Brandywine Productions, com um potência de investimento muito maior, O’Bannon e Shusett acabaram, por força do acordo firmado para garantir a produção, perdendo a independência do projeto e várias partes do roteiro deles foram alteradas pelos produtores Walter Hill e David Giler, algo que desagradou os roteiristas e fez aumentar a tensão na pré-produção do filme. Segundo Shusett “Eles não eram bons em fazê-lo melhor, ou até não fazê-lo pior”. Os roteiristas até chegaram a imaginar que seus nomes seriam excluídos da produção final.

Entre as alterações realizadas por Walter Hill e David Giler estavam a inclusão do androide Ash. A princípio contra as mudanças, posteriormente Shusett revelou que elas foram “uma das melhores coisas no filme… toda aquela ideia e estrutura são deles”. Foram ao todo 8 rascunhos até a lapidação final do que seria o filme. Enquanto a pré-produção estava em andamento, o mundo viu o estouro e a revolução cinematográfica e cultural originada pelo lançamento de Guerra nas Estrelas (Star Wars) em 1977 (e, sim, Star Wars é ficção científica). Até aquele momento, a Fox não estava muito interessada em apostar em um filme espacial de monstro, mas mudou de ideia rapidamente quando os cofres do estúdio começaram a se encher de dinheiro e os executivos viram no filme Alien algo que também poderia ser muito rentável. Segundo o produtor Gordon Carroll, “Quando Star Wars saiu e foi um sucesso extraordinário, de repente a ficção científica era o gênero do momento”. Segundo O’Bannon, “Eles queriam acompanhar Star Wars, e eles queriam acompanhar rápido, e o único roteiro de naves espaciais que tinham na ocasião era Alien”. Assim, os estúdios 20th Century Fox aprovaram a produção do filme com um orçamento inicial de US$ 4.2 milhões.

Produção e direção:

Com o sinal verde de Fox, começaram os preparativos para produzir o longa. O’Bannon, pai da história, pensou que seria o diretor escolhido… mas a Fox não queria um estreante conduzindo o filme e preferiu Walter Hill, que já tinha um currículo muito maior em Hollywood e era produtor. Hill, desistiu depois, pois já estava comprometido com outros projetos. Os próximos nomes da lista eram: Peter Yates, Jack Clayton e Robert Aldrich, mas foram todos recusados por O’Bannon, Shusett e a equipe da Brandywine, pois acharam que eles eram diretores que não “tinham cara pra dirigir filmes Bs”. No impasse, os produtores Giler, Hill e Carroll ficaram impressionados com o trabalho do então diretor de publicidade britânico, Ridley Scott, que havia feito comerciais impactantes e tinha estreado no cinema com o filme Os Duelistas (1977). Após uma oferta, Scott aceitou. Ele levou sua ideia do filme, através de um storieboard detalhado da produção (com fortes influências de 2001 – Uma Odisseia no Espaço e Star Wars), e isto impressionou tão positivamente os executivos da Fox que eles dobraram o orçamento do filme para US$ 8.4 milhões.

O’Bannon mostrou a Scott os trabalhos de H. R. Giger, que também impressionaram bastante o diretor, sendo que a pintura Necronom IV era o tipo de representação que eles queriam para o monstro e pediram ao estúdio que o contratassem para a produção, mesmo que inicialmente a Fox achasse que os trabalhos de Giger eram muito sinistros, mas a produtora Brandywine insistiu e isto foi feito. Segundo o produtor Carol: “No momento que Ridley [Scott] viu o trabalho de Giger, ele soube que seu maior problema de desenho, talvez o maior problema de todo o filme, tinha sido resolvido“. O próprio diretor Scott voou pessoalmente para a Suíça para recrutar Giger para trabalhar em todos os aspectos do Alien e seu ambiente sinistro, incluindo a superfície do planetoide, a nave espacial abandonada e todas as formas da criatura desde ovo até a fase adulta.

Além de Giger, O’Bannon – através de sua experiência com o filme cancelado de Duna – trouxe para a produção Ron Cobb e Chris Foss (com quem ele havia trabalhado em Dark Star e Dune, respectivamente) para trabalhar nos desenhos de todos os aspectos humanos do filme, como a nave espacial Nostromo e as roupas espaciais. Cobb criou centenas de esboços preliminares dos interiores e do exterior da nave, que passou por vários desenhos conceituais e muitos nomes, como Leviathan e Snark, enquanto o roteiro era desenvolvido. O nome final da nave era derivado do título do romance de 1904, Nostromo: A Tale of Seaboard, escrito por Joseph Conrad, enquanto a nave de escape, chamada de Narcissus no roteiro, recebeu seu nome em homenagem a novela de 1897, The Nigger of the ‘Narcissus’: A Tale of the Sea, também de Conrad. Sob a direção de Scott, o desenho da Nostromo passou a ser de uma nave de 240 m de comprimento rebocando uma plataforma de 3.2 km de extensão por 2.4 km de largura.

Outro artista recrutado para o filme foi Moebius (Jean Giraud), que apesar de ter trabalhado apenas alguns dias na produção, antes de ser dispensado, propiciou que suas visões para os figurinos servissem de base para as roupas espaciais criadas pelo figurinista John Mollo.

Elenco:

Com a produção definida e tomando forma, a próxima etapa era montar o time de atores, que formariam os seis tripulantes da Nostromo. Com seleção e testes de elenco ocorrendo entre Londres e NY, as pessoas que Ridley Scott procurava, independente de ser homem ou mulher, deveriam ser atores fortes para que ele pudesse focar a maior parte de sua energia no estilo visual do filme. Eles queriam que a tripulação da Nostromo se parecesse com astronautas trabalhadores em um ambiente realista, um conceito resumido como “caminhoneiros do espaço”. O elenco definido ficou assim:

nostromo-crew Análise: Alien - 40 anos que ninguém escuta você gritar no espaço!

Comandante Dallas: Tom Skerritt, ator versátil, que a princípio recusou a proposta para estar no filme, antes da definição correta do diretor. Com o orçamento dobrado e a escolha de Ridley Scott como diretor, Skerritt voltou atrás.

Tenente Ellen Ripley: Sigourney Weaver, foi escolhida para um papel na qual originalmente seria interpretado por um homem. Os produtores Giler e Hill acharam que uma protagonista mulher iria sobressair no meio de tantas produções com homens no comando e chamar atenção pelo papel forte. Escolha perfeita, mesmo que a atriz, no caso Weaver, ainda fosse bastante desconhecida, mas o filme mudou a vida dela pra sempre… O curioso é que ela foi a última a ser escolhida no elenco.

Lambert: Veronica Cartwright era veterana de produções infantis e já tinha bastante experiência em produções de ficção-científica e terror. Inicialmente, havia sido escolhida como Ripley, e a atriz só foi descobrir a contra-gosto que faria outro papel quando foi testar o figurino. Mesmo não gostando da troca, ela permaneceu no novo personagem e foi posteriormente bastante elogiada pela crítica, vindo a vir a fazer futuramente muitos outros filmes nesta linha.

Brett: Harry Dean Stanton, um ator veterano e versátil de cinema, TV e teatro, foi logo falando ao diretor Scott que não gostava de fazer filme de ficção-científica e monstro, mas o diretor o convenceu assim mesmo. Ganharam todos.

Kane: Jonh Hurt, importante ator britânico com uma carreira brilhante nos dois lados do Atlântico, seria o personagem responsável pelo início do nascimento do alienígena em uma das cenas de maior terror da história do cinema. Na verdade Hurt era a primeira opção de Scott para o papel, mas ele já estava comprometido com outra produção. Então Scott acabou escolhendo outro ator, Jon Finch, para o papel. Mas no começo das filmagens, Finch acabou passando mal e teve que abandonar a produção, ao mesmo tempo que a produção na qual Hurt estava envolvida acabou não dando certo. Assim, Hurt foi reconvocado e aceitou o papel.

Androide Ash: Ian Holm é um ator que em 1979 já havia aparecido em mais de vinte filmes, era o membro do elenco mais experiente em Alien. Outro grande ganho para a produção.

Parker: Yaphet Kotto foi escalado parcialmente para dar diversidade ao elenco e para dar a tripulação da Nostromo um “ar” internacional. Kotto recebeu uma cópia do roteiro devido à seu sucesso em 007 – Live and Let Die, porém o ator e seu agente debateram um pouco antes dele receber a oferta para interpretar o papel.

O diretor Ridley Scott ainda precisava de um ator que deveria vestir a roupa do monstro, e o escolhido foi Bolaji Badejo, um estudante nigeriano, descoberto em um bar por um membro da equipe de seleção de elenco, que o colocou em contato com o diretor. Ele acreditava que Badejo, com 2,18 m de altura e bem magro, poderia interpretar o Alien e parecer que seus braços e pernas eram longos de mais para serem reais, criando a ilusão que era impossível uma pessoa estar dentro do figurino.

Antes das filmagens, Ridley Scott escreveu para cada um dos atores o histórico do personagem e como eles foram parar ali, explicando seus passados. Chegou a gravar vários ensaios dos personagens para pegar as improvisações e tensão entre os membros da equipe, melhorando inclusive o desempenho da Weaver, que não tinha muita experiência em atuação.

Um dos sucessos do filme foi o fato dos tripulantes terem sido bastante identificados pelo público. Todos a bordo da Nostromo são trabalhadores “normais” e “comuns” como todos nós. Eles apenas vivem e trabalham no futuro, mas ainda assim em um ambiente em que a competitividade e a produtividade ainda podem ser bastante tóxicas para os relacionamentos pessoais, pois todos são funcionários de uma companhia que exige bastante dos seus trabalhadores, algo que ocorreu no passado, ocorre no presente e dificilmente vai deixar de existir no futuro. Uma crítica direta ao capitalismo corporativista.

Filmagens e pós-produção:

Com tudo acertado, as filmagens ocorreram durante 14 semanas, entre 5 de julho até 21 de outubro de 1978, no Shepperton Studios em Londres, enquanto as filmagens dos modelos e miniaturas foram feitas no Bray Studios. A Fox fez bastante pressão na produção, e eles ainda tiveram que lutar com o orçamento inicialmente baixo, uma pressão para não exceder o tempo programado. Basicamente uma equipe composta de 200 trabalhadores diretos e indiretos para construir os claustrofóbicos cenários do filme. Les Dille, desenhista de produção, criou miniaturas 1/24 da superfície do planetoide e da nave abandonada baseado nos desenhos de Giger, e então criou moldes para aumentar seus tamanhos para virarem diagramas que formariam os cenários de madeira e fibra de vidro.

As roupas espaciais eram espessas, volumosas e forradas com náilon, não tinham nenhum sistema de refrigeração e, inicialmente, nenhuma ventilação para que o dióxido de carbono da respiração pudesse sair, isto foi um problema, já que o filme foi filmado durante o verão do hemisfério norte, aumentando o calor interno no corpo dos atores, fazendo-os quase desmaiarem, também fazendo com que a equipe de enfermeiros ficassem de prontidão no set de filmagens com cilindros de oxigênio.

Para cenas que mostram o exterior da Nostromo, um trem de pouso de 18 m foi construído para passar a sensação da nave ser gigante. Scott achou que ela não parecia grande o bastante, então ele fez com que seus dois filhos e dois câmeras assumissem o lugar dos atores, usando roupas espaciais menores para que o cenário parecesse maior. A mesma técnica foi usada para a cena em que os tripulantes encontram uma enorme criatura espacial dentro da nave abandonada. As crianças quase desmaiaram devido ao calor, eventualmente sistemas de oxigênio foram adicionados para ajudar na respiração dos atores. Sim, Ridley Scott quase matou seus filhos…

Os cenários dos três conveses da Nostromo foram criados, cada um, quase inteiramente em uma peça única, cada convés ocupando um estúdio separado e as várias salas conectadas por corredores. Para se movimentarem pelos cenários os atores tinham de navegar pelos corredores da nave, adicionando o sentimento de claustrofobia e realismo para o filme. A companhia dona da Nostromo não é revelada durante o filme, sendo chamada pelos personagens apenas como “a companhia”. Entretanto, o nome e o logotipo da “Weyland-Yutani” aparece em vários lugares e objetos, como computadores e canecas. Cobb criou o nome para implicar uma aliança de negócios entre o Reino Unido e o Japão, tirando “Weyland” da British Leyland Motor Corporation e “Yutani” de seu vizinho japonês. A sequência Aliens – O Resgate (1986) nomeia a companhia como “Weyland-Yutani”.

Talvez a cena mais difícil a ser filmada, mas que acabou se tornando a marca registrada do filme, foi o “nascimento” da criatura dentro do personagem Kane (John Hurt). O diretor Ridley Scott adicionou um elemento surpresa, para mostrar uma reação natural de medo por parte dos atores, na cena. Eles não sabiam ou foram avisados como seria a cena, e só descobriram na hora de filmar. O diretor manteve tudo em segredo, para a reação de horror do elenco ser extremamente realista. Para fazer esta filmagem, o torso artificial criado para o momento que o alien sairia de dentro de Hurt ficou sobre a mesa, enquanto o corpo do ator estava por baixo. Quando a prótese jorrou o sangue, parte do líquido atingiu o rosto da atriz Veronica Cartwright, que acabou desmaiando de pavor… (veja aqui um vídeo do crítico Pablo Villaça sobre a cena).

Alien originalmente iria se concluir com a destruição do Nostromo, enquanto Ripley escapava no shuttle Narciso. No entanto, Ridley Scott concebeu um “quarto ato” para o filme, no qual o Alien aparece na Narciso e Ripley é forçada a enfrentá-lo. Ele apresentou a ideia à 20th Century Fox e negociou um aumento no orçamento para filmar a cena durante vários dias extras. Scott queria que o Alien mordesse a cabeça de Ripley e, em seguida, fizesse o registro final em sua voz, mas os produtores vetaram essa ideia, pois acreditavam que o Alien deveria morrer no final do filme.

Terminadas as filmagens, era a hora da pós-produção para preparar o filme para o lançamento, seguindo o cronograma apertado da Fox. Este trabalho de pós-produção levou 20 semanas, para serem completadas. O editor Terry Rawlings, que já havia trabalhado com Scott no filme Duelistas, ajudou o diretor a fazer a edição, que foi realizada de maneira a dar um ritmo lento ao longa, para criar suspense para os momentos mais tensos e assustadores. De acordo com Rawlings: “Eu acho que a maneira como fizemos certo foi mantendo-o lento, engraçado o suficiente, o que é completamente diferente do que eles fazem hoje. E eu acho que a lentidão fez com que os momentos que você queria que as pessoas fossem morrer de medo… então poderíamos ir tão rápido quanto quiséssemos porque você sugou as pessoas para um canto e depois as atacou, por assim dizer. E eu acho que foi assim que funcionou. ”

O primeiro corte do filme tinha mais de três horas de duração; a edição adicional cortou a versão final para pouco menos de duas horas. Uma das cenas que morreram na sala de edição mostrava, na fuga final de Ripley, ela descobrindo o terrível destino de Dallas e Brett, que foram parcialmente encapsulados pelo Alien. O’Bannon pretendia que a cena indicasse que Brett estava se tornando um ovo alienígena enquanto Dallas era mantido nas proximidades para ser implantado pelo facehugger resultante. A cena foi cortada em parte porque não parecia realista o suficiente, mas também porque diminuiu o ritmo da seqüência de escape. O ator Tom Skerritt comentou que “A imagem tinha que ter esse ritmo. Ripley estava tentando dar o fora de lá, estamos todos torcendo para que ela saísse de lá, e para ela desacelerar e ter uma conversa com Dallas não seria apropriado.”

A cena cortada foi incluída com outras cenas deletadas no lançamento de Alien em DVD e Blu-Ray nos anos posteriores, e uma versão abreviada foi re-inserida em 2003 na versão Director’s Cut, que foi relançado nos cinemas.

A trilha sonora de Alien – O Oitavo Passageiro foi composta por Jerry Goldsmith (um dos maiores autores de trilhas da História do cinema), conduzida por Lionel Newman e apresentada pela National Philharmonic Orchestra. Ridley Scott originalmente queria que a trilha fosse composta por Isao Tomita, mas a 20th Century Fox queria um compositor mais familiar e Goldsmith foi recomendado pelo então presidente da Fox, Alan Ladd Jr. Goldsmith queria criar um senso de romantismo e mistério lírico nas cenas de abertura do filme, que construiriam ao longo do filme o suspense e o medo. No entanto, Scott não gostou da peça principal original de Goldsmith, fazendo-o reescrevê-la como “a coisa óbvia e estranha, na qual todo mundo adorava“. O resultado foi uma das trilhas mais claustrofóbicas da História do cinema.

Lançamento e reação

Com o filme finalizado, a Fox achou que ele deveria ser apresentado primeiro aos executivos do estúdio para o aval final. Uma exibição inicial de Alien para os representantes da 20th Century Fox em St. Louis foi prejudicada infelizmente pelo som fraco. Mas uma nova exibição em um novo cinema em Dallas foi significativamente melhor, provocando medo genuíno da platéia.

Dois trailers foram preparados para o público. O primeiro consistia em imagens fixas que mudavam rapidamente, configuradas para algumas das músicas eletrônicas de Jerry Goldsmith do filme Logan’s Run. O segundo usou imagens de teste de um ovo de galinha como parte do escore Alien de Goldsmith. A Fox ainda foi cautelosa no lançamento, o filme foi visualizado em várias cidades americanas na primavera de 1979, com a promoção do slogan “No espaço, ninguém pode ouvi-lo gritar!“.

A censura americana colocou a certificação “R” para o filme, por causa do excesso de violência, que seria a indicação para maiores de 17 anos, acompanhados, normal para as produções de terror desta época. Nos outros países não foi diferente e no Brasil a certificação de censura federal foi de “indicado para maiores de 18 anos”.

Alien teve um lançamento limitado nos cinemas americanos em 25 de maio de 1979. O filme não teve estréia formal, mas os espectadores se alinharam para vê-lo no Grauman’s Egyptian Theatre, em Hollywood, onde vários modelos, cenários e objetos foram exibidos do lado de fora para promovê-lo durante sua primeira edição. A Fox estava bastante cautelosa com o possível fracasso, mas o filme realmente surpreendeu. E eles sabiam da mina de ouro que tinham em mãos. Então em 22 de Julho o longa foi liberado oficialmente para vários cinemas americanos. O filme começou a causar bastante impacto por parte do público, o que infelizmente trouxe problemas com um grupo de religiosos que incendiaram o modelo do space jockey, acreditando ser o “trabalho do diabo”…

Para o lançamento no Reino Unido, onde foi filmado, foram acertadas duas premieres, uma no Edinburgh Film Festival em Edimburgo, na Escócia em 1° de Setembro de 1979 e outra no dia no dia 06 de setembro no Odeon Leicester Square em Londres, Inglaterra. Mas os britânicos só puderam ver o filme no cinema oficialmente a partir de 13 de janeiro de 1980.

O Brasil teve um lançamento oficial antes do Reino Unido em 20 de agosto de 1979, com uma boa divulgação da imprensa, animada com o que o filme já estava fazendo nas bilheterias americanas. E podemos dizer, onde o filme estreou, o sucesso foi tremendo, para uma produção classificada como “terror adulto para maiores de idade”. Com um custo final estimado em US$ 11 milhões, o longa rendeu nas bilheterias domésticas dos EUA, por volta dos US$ 80 milhões, que somados aos outros US$ 20 milhões em volta do mundo, totalizaram mais de US$ 104 milhões, quase 10 vezes seu custo, algo raro para a época e para o gênero, o que animou bastante a  20th Century Fox.

Premiações

Alien –  O Oitavo Passageiro, recebeu apenas duas indicações técnicas para o Oscar no ano de 1979, sendo indicado na categoria Melhor Edição de Arte, que perdeu para o musical All That Jazz, mas se saiu vencedor na categoria Melhores Efeitos Visuais, batendo campeões de bilheterias como Abismo Negro da Disney ou Jornada nas Estrelas – O Filme (primeiro longa de Star Trek para o cinema) e até 1941 – Uma Guerra Muito Louca, do diretor Steven Spielberg. O Oscar foi parar nas mãos de H. G. Giger, Carlo Rambaldi, Brian Johnson, Nick Allder e Denys Ayling.

Já no BAFTA, o Oscar britânico, o filme foi indicado a 7 categorias, e levou como Melhor Desenho de Produção para Michael Seymour e Melhor Som para Derrick Leather, Jim Shields and Bill Rowe.

Entre outros prêmios ao longo de 1980, também podemos destacar Melhor Fotografia e Efeitos Especiais no San Sebastián International Film Festival, Melhor apresentação Dramática no Hugo Awards (o prêmio mais importante da ficção-científica), e várias indicações no Saturn Awards, o prêmio mais nerd do cinema e da TV, vencendo nas categorias, Melhor Diretor para Ridley Scott e Melhor Atriz Coadjuvante, para a atriz Veronica Cartwright.

Mas o legado eterno deixado em gerações de fãs, cinéfilos, entusiastas e cineastas, ainda é presente até os dias de hoje, sendo que o filme  hoje carrega o status cult e sempre está na lista de melhores produções de cinema de terror e ficção-científica de todos os tempos.

Em 2002, Alien – O Oitavo Passageiro, foi considerado “culturalmente, historicamente e esteticamente significativo” pela Biblioteca do Congresso Norte-Americano, e foi selecionado para preservação no Registro Nacional de Cinema dos Estados Unidos.

Em 2008, foi classificado pelo American Film Institute como o “sétimo melhor filme do gênero de ficção científica”.

No mesmo ano, a revista britânica Empire Magazine elegeu o filme como “trigésimo terceiro maior filme de todos os tempos, dos 100 maiores”.

Legado

A crítica em geral só elogiou o filme, direção, atuação… em especial a jovem atriz Sigourney Weaver, transformada em símbolo sexual da época, e hoje cultuada ainda pelo grande público pelo seu personagem feminino bastante “empoderado”. Ridley Scott ganhou a credibilidade que faltava e passou a colecionar grandes e cultuados sucessos posteriormente, como Blade Runner (1992), Thelma & Louise (1991), Gladiador ( 2000), Prometheus (2012) e Perdido em Marte (2015), entre tantos outros sucessos. E é claro, Alien, gerou uma série de outros filmes, uns bons e outros nem tanto, mas que tem cativado gerações de espectadores aos cinemas, para sentir o medo que obviamente só o primeiro filme, realmente proporcionou. Ao longo dos anos, a franquia foi expandida com lançamento de livros, audiobooks, photobooks, quadrinhos, video-games e agora que o primeiro filme está completando 40 anos, uma série de lançamentos estão acontecendo para celebrar a data (inclusive uma série).

O filme foi responsável por gerar um novo padrão de histórias na qual ficção-cientifica e o terror se uniram e levaram o cinema a outro patamar de medo. Se antigamente as histórias de terror levavam em conta o medo do ser humano por bruxas, demônios e o sobrenatural, Alien foi responsável por apresentar uma base científica ao terror, na qual o ser humano passou a lidar com algo puramente científico e contra o qual não consegue lutar. Sua influência foi sentida em uma série de imitações e homenagens ao longo dos anos. Entre as que podemos citar estão: Galáxia do Terror (1981), Enigma do Outro Mundo (1981), O Segredo do Abismo (1989), Species (1995), o controverso Enigma do Horizonte (1997) e tantos outros…

Fique ligado no Maxiverso, pois sempre existem informações sobre esta fantástica franquia… lembrando sempre: “No espaço ninguém pode ouvir você gritar!“.

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Ricardo Melo

Profissional de TI com mais de 10 anos de vivência em informática. Tem como hobby assistir seriados de TV, ir ao cinema e namorar!!! Fã de rock'n'roll, música eletrônica setentista, ficção-científica e estudos relacionados a astronáutica. Quis ser astronauta, mas moro no Brasil... Os anos 80 foram meu playground!

16 thoughts on “Análise: Alien – 40 anos que ninguém escuta você gritar no espaço!

  1. sensacional esse estudo sobre Alien, parabens Maxiverso, gostei de ver o carinho com que vcs tratam esses filmes de FC e material nerd e geek, sem estrelismo, sem picuinhas, com pesquisas e muita informação, sensacional

    1. Obrigado pelos comentários, é por isto que sempre continuamos a oferecer o melhor…abraços.

  2. fantastica reportagem sobre Alien!!! parabens a todos que contribuiram com o texto, se foi o caso, e ao autor principal, abraços

  3. a parte mais legal foi o começo que conta como que uma ideia la atras virou o filme, bem legal

  4. provavelmente o melhor e mais profundo texto sobre Alien que ja li na vida, parabens Ricardo Melo pelo trabalho bem feito!!!

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