Crítica: O Confeiteiro (The Cakemaker)
Diretor: Ofir Raul Graizer
Elenco: Tim Kalkhof, Sarah Adler, Roy Miller, Zohar Shtrauss, Sandra Sade e Tamir Ben Yehuda
Nota 4/5
Assim como o contexto do(s) romances que abrange, este O Confeiteiro de Ofir Raul Grazier trata de um cenário velado de sentimentos dúbios, carinhos, ciúmes e perdas dentro de um panorama com forte tensões, religiosa e política, envolvidas (até porque estamos falando de relacionamento gay entre um judeu e um alemão e ainda envolvendo a companheira deste segundo); o que de certa maneira torna a obra ainda mais ousada pelos personagens, seus relacionamentos e sexualidades. Um longa delicado de vidas que mudam pela tragédia e acabam descobrindo novas vertentes e sensações antes não experimentadas e complexas.
Após um relacionamento com um engenheiro judeu que visita Berlim regularmente para fiscalizar uma obra, o confeiteiro alemão Thomas (Kalkhof), depois que seu amado sofre um acidente fatal, decide viajar para Jerusalém e conhecer anonimamente a família do engenheiro; onde a viúva Anat (Adler) também tem uma pequena cafeteria seguindo os rígidos mandamentos do Kosher (manipulação os alimentos de acordo com as leis judaicas). E a partir do momento em que Thomas começa a trabalhar com a viúva do ex-namorado, o roteiro do próprio diretor faz com que tal decisão abra uma série de questionamentos sobre os personagens, seus sentimentos, suas motivações e até onde alguém poderia ir para amenizar a dor por sua perda, mesmo que seja estar próximo de pessoas que sequer ele conheceu; cujo único elo é justamente o fato de terem conhecido e amado a mesma pessoa, onde uma pequena lembrança (como uma peça de roupa) pode ser a única maneira de sentir a presença da perda.
O arco dramático baseado em uma espécie de “triângulo” amoroso traz tanto Thomas quanto, Anat indivíduos solitários, onde a tensão é baseada por assim dizer em uma mentira por ela não saber quem ele é. Elogiável que Tim Kalkhof entregue um personagem transitando entre diversas sensações, incluindo até pequenas doses de sociopatia uma vez que seu ciúme é algo ainda não controlado – salientado pelo fato de, ao pesquisar sobre o fato de que o ex se relacionava – ou não – com outros homens. E a excelente Sarah Adler é fundamental para a engrenagem desta dinâmica, como vítima de uma sociedade patriarcal que a oprime com a responsabilidade de ser mãe e manter sua pequena cafeteria, e que se entrega ao amor que quebra barreiras. Um jogo de emoções em que ela pouco sabe, e mesmo que os espectadores estejam cientes do envolvimento de Thomas e o marido, é comovente que torçamos por ela encontrar um futuro.
Assim, ajudado pela química do atores principais, o diretor conduz com extrema fluidez a delicada narrativa sem apelar para qualquer momento expositivo, e sempre apostando na dubiedade, inclusive transitando levemente entre gêneros como o suspense, como podemos confirmar na cena do jantar em que a sobremesa servida é a mesma em que o falecido apreciava. Contudo, a linha que separa tal ato de algo, digamos, doentio, é tão bem construída que torna impossível não criarmos alguma empatia que seja, sem usar para artifícios por mais que seja óbvio. Assim ao descobrir o segredo de Thomas, a belíssima trilha sonora de Dominique Charpentier, por exemplo, poderia facilmente incrementar a cena com acordes mais agudos ou algo mais típico ao estilo de suspense; contudo, o diretor entende que isso poderia quebrar completamente a narrativa, e evita tal elemento em prol do equilíbrio narrativo apostando em algo mais discreto e não menos belo. Narrativa que se preocupa em ser ágil em contar a história de maneira econômica, mas sem que isso demonstre passagens abruptas e apostando sempre em longos planos e poucos cortes ajudando o espectador a adentrar no dia a dia dos personagens. Inclusive, a fotografia marca sempre as maiorias das cenas com a cor azul (tanto da paleta de cores, assim como algum elemento em cena que remete a cor simbolizando a presença indireta do falecido).
Sem entregar alguma recompensa duradoura para os envolvidos que não sejam as lembranças, decepções e uma gama de sentimentos (o que de certa maneira não deixa de ser duradoura), O Confeiteiro entende que somos uma criação de relacionamentos passados, e nestes envolvimentos quase secretos, se esconde a nossa verdadeira capacidade de amar independente de como se mostra.
Rodrigo Rodrigues
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Sou musico e editor de video nas horas vagas, sou fã do trabalho do Dominique Charpentier, ele tb lança singles com John Stockton com albuns tematicos como “musicas para se inspirar” pena que so da pra ver isso pela Internet pq nunca chegará ao Brasil
nao conhecia esse site mas via as postagens de vcs la no grupo cinematica resolvi conferir nao me arrependi parabens pelo trabalho muito bom vou seguir sempre daqui pra frenti criticas muito boas pelo que vejo
George
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Abraço
parece um bom drama esse heim…
Big,
Bem vindo
Sim, é !