Carol_cartaz Crítica: CarolCarol

Direção: Todd Haynes

Anúncios

Elenco: Cate Blanchett, Rooney Mara, Kyle Chandler, Sarah Paulson e Corey Michael Smith.

Com uma abordagem delicada e um trabalho técnico competente, Carol mostra os conflitos de duas mulheres que se entregaram aos seus desejos em plenos anos 50, numa época que homossexualidade era visto com uma aberração, digno de tratamento psicológico (para muitos, infelizmente, um conceito ainda a ser seguido). Mulheres que são obrigadas a manter um padrão moral em nome da família, mesmo que isso signifique abrir mão de seus sentimentos.

Neste aspecto, é mais que elogiável vermos que o longa do diretor Todd Haynes consegue transformar o filme não num símbolo militante da causa gay, mas sim num drama do relacionamento sincero, como qualquer outro, de duas pessoas do mesmo sexo, remetendo a filmes como O segredo do BrokeBreak Mountain e Azul é a cor mais quente.

Quando conhecemos Carol Aird (Blanchett) e Therese Belivet (Mara) somos jogados num relacionamento já avançado, todavia com sua estrutura inicialmente não linear vamos conhecendo os detalhes que nos trouxeram até ali.  A direção cria uma bela rima ao citar aquelas mulheres que, mesmo voltando ao ponto de partida, estão completamente mudadas para encararem os desafios que ainda virão.

Carol é mulher com casamento fracassado com seu marido Harge (Chandler) com quem disputa a guarda da pequena filha. Um relacionamento que nunca foi satisfatório para ambos e que já trazia sinais do desgaste ao manter as aparências. Tanto pelo marido ser uma figura típica do machismo predominante e influenciado pela imposição materna, quanto pela opção sexual que Carol sempre foi obrigada ocultar.

Therese é uma jovem vendedora de uma loja de brinquedos que passam mais tempo com seus amigos (homens), sem que possa ser recíproca com aqueles que a desejam. Ela passa os dias dentro de um vazio existencial como nada ao redor importasse, indiferente a tudo e a todos .

O desempenho das duas atrizes é digno de elogios, tanto Cate Blanchett quanto Rooney Mara, principalmente ao personificarem as suas personagens que tão diferentes entre si, mas que se completam dentro de suas carências diante dos meios em que elas vivem. Mesmo na cena que exige maior entrega física, em nenhum momento demonstram desconforto. O diretor conduz de maneira elegantemente bela, evidenciando os contornos corpos das personagens como um único indivíduo, sem apelar para cortes rápidos.

Outro belo momento da direção de Haynes é ratificado até mesmo para exaltar os pequenos detalhes deste relacionamento em pequenos gestos. Como em determinado momento a câmera foca de maneira alternada os olhos e sorridos das protagonistas, evidenciando a paixão que poderá surgir.

A fotografia, figurino e trabalho de cores têm um papel fundamental para mensurar o relacionamento entre as duas e seus estados de espíritos. Como que ocorre na loja de brinquedos, em que o rosa predomina no ambiente e como Therese estivesse num rito de passagem da mocidade ao mundo adulto de sua sexualidade prestes a aflorar.

Entretanto o vermelho predomina no primeiro encontro, tanto no figurino de Carol quando nos elementos em cenas ao redor dela, como tivesse despertado a uma paixão por muito tempo repreendida. Interessante também notar o gestual de Carol que durante toda a projeção tem o vermelho das unhas evidenciado pela câmera com closes, como se dissesse ao público que naquele relacionamento existe uma mulher como qualquer outra (e não necessariamente alguém masculinizada).

Também é interessante notar a lógica inversa, ao constatamos a ausência de cor quando Carol encontra-se diante dos familiares do marido, quando as vestimentas assumem tonalidades marrons e ausência de qualquer cor em sua unha, gerando o contraponto de sentimentos quando Therese não está presente.

Se um relacionamento por si é algo cheio de percalços, decepções e superações, portanto não há a necessidade de fatores externos atrapalhem devido ao preconceito à opção sexual dos envolvidos. Desejo que filmes como Carol possam futuramente ser analisados tanto por suas qualidades técnicas quanto pelo seu contexto e que a ideia da opção sexual sempre subjugue o preconceito.

Cotação 4/5

Carol_final Crítica: Carol

printfriendly-pdf-email-button-notext Crítica: Carol
The following two tabs change content below.
FB_IMG_1634308426192-120x120 Crítica: Carol

Rodrigo Rodrigues

Eu gosto de Cinema e todas suas vertentes! Mas não aceito que tentem rescrever a historia ou acharem que cinema começou nos anos 2000. De resto ainda tentando descobrir o que estou fazendo aqui!

5 thoughts on “Crítica: Carol

  1. o filme incute diversos ares de La Vie d’Adèle (A Vida de Adèle), de Abdellatif Kechiche, principalmente através de Rooney Mara, a perpetuar a “boneca” sexualmente e objetivamente confusa mas em constante desenvolvimento e com a auto-estima em crescendo… contudo, a atriz não é par para uma Cate Blanchett realmente profunda e carismática em todo este retrato…. mas este Carol reserva ainda outro problema: é demasiado dependente da sua atriz e da convicção dramática entregue pela sua bem construída personagem

    1. Malévola. Obrigado pelo comentário. Parabéns.

      Realmente como notamos , “Carol” remete imediatamente a “O azul é a cor mais quente” ( e Brokeback mountain tambem).

      A comparação entre Adele e Therese é inevitável. Para mim tanto Cate Blanchett quanto Rooney Mara estão no mesmo nivel dentro de suas personagens. Claro que Cate tem um magnetismo maior, presença etc . Isso é inevitável.

      Uma completa as necessidades sem que uma sobreponha a outra que não seja dentro do próprio contexto (Tanto que para mim a protagonista é Rooney Mara, rs)

      Mas independente, eu agradeço imensamente sua opinião que serviu para engrandecer ainda mais a discussão. Este é o motivo pelo qual tento, da melhor maneira possível, escrever tais textos.

      Obrigado.

  2. É um filme de Todd Haynes, claro, mas também um filme do seu diretor de fotografia e ainda de Phyllis Nagy, que tinha este projeto em mãos há anos e que esteve em vias de ser gorado porque o realizador inicialmente escolhido se mostrou indisponível – foi através da sua produtora e cúmplice Christine Vachon que Haynes chegou ao projeto de adaptação ao cinema da “história de amor lésbico” na América dos anos 50 que Highsmith escreveu. 🙂

    1. Marcia

      Agradeço seu comentário e compartilhar a informação. Isso é extremamente útil para a discussão.

      A fotografia é algo que se destaca inteiramente no filme . Assim com as cores bem definidas para cada momento.

      Obrigado novamente e parabéns pelo comentário.
      Abraço

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *