Crítica: Alien – Romulus
Direção: Fede Alvarez
Elenco: Cailee Spaeny, David Jonsson, Archie Renaux, Isabela Merced, Spike Fearn, Aileen Wu e Rosie Ede
O diretor Fede Alvarez é apaixonado pela saga de Alien! Além dele já ter declarado isso, constatamos o fato ao vermos esse Alien: Romulus. Alvarez aproveita todos os elementos clássicos dos primeiros filmes para apresentar um retorno às origens com uma obra de terror espacial eficiente dentro daquilo que se espera dela quando retornamos ao universo dos xenomorfos.
Mas antes de continuar, devemos contextualizar sempre que a saga do alienígena se caracterizou pela distinção narrativa dos seus filmes: seja o suspense e o terror da obra prima Alien: Oitavo Passageiro (1979) de Ridley Scott, seja a ação típica dos anos 80 do emblemático Aliens: O Resgate (1986) de James Cameron, seja o certo niilismo do subestimado (e destroçado pelo próprio estúdio) Alien 3 (1992) de David Fincher, seja a bizarrice genética de Alien – Resurrection (1997) de Jean- Pierre Jeunet.
Isso sem contar com os irregulares Prometheus (2012) e Alien: Covenant (2017, este bem ruim) dirigidos pelo próprio Ridley Scott que, apesar de apreciarmos o visual e o desenvolvimento de alguns personagens como o androide de Michael Fassbender, é visível que não foram bem sucedidos ao tentar levantar questões existenciais e filosóficas sobre a humanidade, os engenheiros e as próprias criaturas, com roteiro e diálogos muito abaixo dos predecessores. Ademais, aqui nesse Romulus, o tratamento dos temas vistos nestes últimos dois filmes, soa como se Alvarez dissesse: “Ridley Scott, amos seus filmes, mas vou voltar para o básico e dar um fim nessa história de óleo negro e criação da humanidade, porque não tem nada a ver”.
Assim chegamos a esse novo filme que literalmente (friso o literalmente) seja visto como um amálgama de todos os outros da saga, ou seja, todas as virtudes dos filmes anteriores estão copiadas aqui; assim com seus defeitos. Mas é um ponto fácil de relevar mediante a distância entre o primeiro filme (até porque Romulus soa como uma continuação direta do filme de 1979 em que, décadas depois, cientistas conseguem localizar os destroços da Nostromo e o Alien expelido no espaço por Ripley no final deste); e principalmente pela capacidade do diretor em manter uma constante urgência dos perigos para os personagens dentro de um contexto típico de filme de terror em que o diretor se habituou (vide o bom O Homem das Sombras a até mesmo a refilmagem de A Morte do Demônio): jovens com uma ideia nada brilhante de ir para um lugar inóspito para serem mortos.
Aqui sai a cabana abandonada na floresta e entra uma estação espacial (no caso, a Romulus) em que se encontram algumas cápsulas criogênicas que possibilitaria a viagem longa que eles planejam para fugirem de sistema opressor da colônia mineradora decadente que não permite fuga que não seja a própria morte – num ótimo trabalho da direção de artes ao transformar o local numa espécie de Los Angeles de Blade Runner ainda mais decadente, suja e corrompida.
Outro ponto positivo para o diretor é não deixa passar nem os subtextos de lado: seja sobre violência sexual tão presente no conceito do xenomorfo criado por H. R. Giger (vide a sequência em que um personagem usa a falta de gravidade para não tocar em determinados elementos vindo em sua direção e quando outro personagem usa um bastão de choque) ou contextualizar os personagens num cenário familiar com contornos sociopolíticos; algo sempre presente na figura coorporativa da Weyland-Yutani, que nunca se importou com as vidas humanas em detrimento do alienígena.
Também é competente a direção em manter seu ritmo mesmo se obrigando a abordar vários conceitos narrativos anteriores, já que algumas dessas reinvenções de sequências soam bem elaboradas e criativas como a do elevador usando a falta de gravidade. Contudo, esse desejo de abraçar todas essas influências cobra seu preço: a edição não permitir muito tempo para sentirmos uma tensão por nos jogar de maneira meio apressada de um corredor escuro fugindo nas sobras para revidar a tiros outras ameaças que surgem; tempo esse que os filmes anteriores tiveram de sobra para fazer por serem narrativamente uníssonos em suas propostas tanto para o suspense ou a ação em si.
Mas por respeitar muito a obra original, Alvarez conduz outros elementos narrativos que engrandecem mais a narrativa. Por exemplo, o ótimo trabalho sonoro ao saber usar os silêncios sem cair na tentação de ceder à explosão sonora no clímax ou quando a trilha sonora que inicialmente remete ao original – a cargo de Jerry Goldsmith – aos poucos passando por uma linguagem quase própria com o uso de sintetizadores quando o filme remete ao longa de 1986 mesmo entre um dispensável jumpscare e outro (jumpscare que o original também tem, é sempre bom salientar).
E se é elogiável a representação da cidade mineradora conforma dito antes, a direção de arte faz também um ótimo trabalho ao recontar a lógica do filme ao mostrar, por exemplo, através dos painéis analógicos das naves e plataformas que a história se passa na mesma época (no caso um pouco depois) do Oitavo Passageiro; um detalhe que pode parecer banal, mas que em Prometheus e Covenant, por mais que se tratasse de uma tecnologia cara – e por isso exclusiva -, destoava de tudo visto nos filmes que se passam muitas décadas depois. Ao ponto que a fotografia de Galo Olivares faz bem o exercício de casa ao ter toda a franquia como base e focar no jogo de luzes da estação, principalmente as diegéticas (aqueles que fazem parte daquele universo) como as em vermelho alertando o perigo e até mesmo posicionando a câmera de maneira interessante em determinadas sequências como na perseguição dos facehuggers, ou quando não, sugerir a ameaça oculta em qualquer lugar da estação.
Para os fãs (para o bem ou para o mal) não faltarão rimas visuais (um personagem com mesmo corte de cabelo de Ripley em Alien 3, figurino de Rain remetendo ao final de Oitavo Passageiro, etc.), planos idênticos (Rain descendo armada uma escada, assim com Ripley fez em O Resgate com a câmera focada em seus pés mostrando a marca do tênis), frases de efeitos (“É o melhor que você pode fazer, seu filho da puta?” dita por Chales S. Dutton no próprio terceiro capítulo) etc… E até mesmo o surgimento de um “personagem” clássico, a meu ver desnecessário, por servir apenas como um apelo nostálgico e inflar o debate desse tipo de (re) criação através do CGI (e reafirmo que sou contra, por questões morais e artísticas, de trazerem um personagem – e “voz” -, cujo ator na faleceu, como feito, por exemplo, em Rogue One com Peter Cushing).
Aliás, os personagens são um ponto de destaque quando focamos na relação de Rain e Jonsson. Se os outros soam descartáveis (isso não é uma desculpa se, por exemplo, nos basearmos nos ótimos personagens de Alien 3 e que também estavam ali para isso), a relação fraternal entre eles é que faz nos importamos com a doce figura do androide em entender que a sobrevivência de Rain possa custar sua própria existência. Ao ponto que Rain se torna uma figura igualmente recolocada na frente de batalha mais para o meio da obra, assim com feito com a própria Sigourney Weaver no primeiro filme (apesar de que, aqui, não há essa transformação de maneira inesperada, obviamente).
No entanto, a ótima Cailee Spaeny faz um bom trabalho ao tentar assumir uma espécie de legado de Ripley para novos filmes (algo que Noomi Rapace e Katherine Waterston não tiveram oportunidade de fazer em Prometheus e Covenant pela proposta geral do filme ser outra); inclusive, vale notar que a aparência de Spaeny com seus 1,55 cria um contra ponto interessante ao quebrar sua figura frágil à sempre forte presença de Sigourney Weaver com seus 1,80!
Lembram quando falei no início do texto que Alien: Romulus traz as virtudes e defeitos dos filmes anteriores? Então, um desses defeitos é arriscadamente trazido ao inserir em seu clímax a tensão através dos elementos vistos em Resurrections misturado com Prometheus, inclusive com o mesmo desfecho do primeiro. Bem, pelo menos, jamais podemos deixar de dizer que o diretor esqueceu-se de abordar alguma coisa dos filmes anteriores; mas como estava fazendo o básico até aqui, seria mais prudente manter-se assim.
De qualquer forma Alien: Romulus remonta a base da saga para continuar em frente, agrada boa parte do tempo e caso haja um possível novo capítulo, novas ideias serão bem vindas.
Rodrigo Rodrigues
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Parabens pela analise tecnica e imparcial. Romulus revitalizou a franquia, assim como Prey revitalizou o Predador. Qd Hollywood acerta a mao as coisas funcionam. Qd nao querem desrespeitar o legado da franquia, qd nao querem inventar demais, qd nao querem desconstruir ou lacrar, qd nao querem “obliterar” o passado pra “começar de novo” de forma “autoral”, dificilmente erram.
melhor comentario
Romulus é mesmo o melhor filme do Alien depois do primeiro e do segundo!!! Sensacional!
pra mim foi melhor que o segundo!
Ótimo filme! Alien de volta aos eixos apesar das sabotagens prometheticas e covenanticas do criador!
Excelente análise Rodrigo, trouxe as virtudes e os defeitos do filme…também achei forçado aquele final do novo “new born” , mas como o filme estava indo bem, a gente deixa passar…
Só um detalhe, o nome da estação espacial é Renaissance, sendo dividida em dois módulos, Romulus e Remo.