Crítica: Guardiões da Galáxia Vol. 2
Guardiões da Galáxia Vol. 2
Diretor: James Gunn
Elenco: Chris Pratt, Zoe Saldana, Dave Bautista, Vin Diesel, Bradley Cooper, Michael Rooker, Karen Gillan, Elizabeth Debicki, Pom Klementieff, Sylvester Stallone e Kurt Russell
O primeiro Guardiões da Galáxia teve como grande mérito o fato de não carregar o peso de atender uma mítica por serem personagens não tão conhecidos do grande público. Assim, contando com a dinâmica de um grupo disfuncional, carismático e tendo como pano fundo muito humor debochado em sequências de ação com visual multicolorido em planetas cheios de criaturas igualmente diversificadas, o filme agradou tanto o público quanto crítica e se tornou uma grande e agradável surpresa – ainda mais contando com uma ótima e pouco óbvia trilha sonora. Diante disso, em seu ”segundo volume”, os Guardiões da Galáxia Vol. 2, poderia no mínimo, fazer jus ao primeiro longa? Depende.
Sem aparentar vontade em não ser algo novo, e sim entregar um produto que não saísse da zona de conforto, tanto temática quanto narrativamente falando (como a maioria das adaptações do gênero), o problema do longa é justamente soar apenas como uma repetição. Ademais, com o agravante do roteiro não conseguir trabalhar os conflitos de personagens agora estabelecidos (tanto em quantidade como em qualidade) e contar com uma estrutura (a tal da repetição) que segue a mesma lógica do primeiro, mas com um visual mais poluído. Inclusive seu início também é ambientalizado nos anos 80, mas ao contrário do filme anterior, em que ficamos conhecendo as motivações do protagonista, neste caso a ambientação serve apenas para apresentar uma sequência descartável da versão rejuvenescida de Kurt Russell numa espécie de Starman (1984) – e claro para mostrar a capacidade técnica em apresentar a reconstrução do ator que parece ter saído direto do Os Aventureiros do Bairro Proibido (1986).
O roteiro usa como ponto de partida, assim como o primeiro, o roubo de um artefato, e pondo no encalço do grupo outros seres reivindicando o objeto(s) e repetindo cenas de ação igualmente vistas no anterior, como por exemplo a sequência da fuga de Rocky (Voz de Bradley Cooper) e Yondu (Rooker) – remetendo a cena do grupo fugindo da prisão no filme de 2014. Todavia, a obra ainda é suficientemente capaz de criar empatia devido ao carisma e dinâmica de seus personagens principais. E ciente disso, apresenta os heróis num sequência de abertura como pano de fundo para o pequeno Groot (voz de Vin Diesel) iniciar sua, digamos, fofura durante a obra – algo impossível de ficarmos indiferentes pela sua fragilidade moldada pela construção da criatura com seu olhar de doçura – assim como transformar o seu primeiro ato (até o ponto de virada para o segundo) uma obra de ritmo frenético com suas perseguições espaciais – que, diga-se de passagem, não chegam a animar.
Continuando suas aventuras como mercenários, o grupo liderado por Quill (Pratt) é caçado pela rainha Ayesha (Debicki), pelos soldados a mando de Yondu (tentando provar sua fidelidade ao personagem de Stakar, interpretado por Stallone), ao mesmo tempo em que os segredos da paternidade do protagonista vão sendo revelados quando entra em cena o misterioso Ego (Russell), cujo relacionamento beira ao sentimentalismo bobo (vide a cena que remete a uma brincadeira infantil). Onde também testemunhamos o acerto de contas entre as as irmãs Gamora (Saldana) e Nebula (Gillan) e entre Rocky e o próprio Yondu – e este último ainda enfrenta os problemas com sua tripulação etc. Com os personagens já entrosados, os conflitos basicamente se mantêm entrecortados com humor incorreto e o sentimentalismo, mas devido a vários núcleos, a direção parece não coibir o excesso, ainda mais com os arcos causando certa “barriga” no segundo ato e contando com diálogos preguiçosos como ”acredito em você”, “Somos uma família” ou algo do tipo “eu não usava a cabeça e sim o coração”.
Fora que a tal necessidade de constantemente não se levarem a sério entra em conflito com os próprios dramas pessoais, causando um incômodo desequilíbrio. Não que tal abordagem estivesse ausente no primeiro filme, mas era visível, por exemplo, que a existência desbocada de Rocky e a dureza de Drax ocultavam suas tragédias pessoais, ao mesmo tempo em que garantiam boas tiradas. Mas aqui, além do fator surpresa não ser mais presente, tal conceito acaba errando no tom, como o fato de Quill por na mesma balança a morte da mãe (sua maior e mais importante motivação) e a destruição do seu walkman – algo absurdo até mesmo para uma abordagem fantástica. Onde até mesmo as referencias aos anos 80 como Cheers, Super máquina e Pac-Man, nem sempre funcionam . Ademais, este humor por vezes soa desnecessário e exagerado, como na cena em que Yondu e Rocky retornam ao planeta Ego (com direito a pinball com as estrelas e faces deformada pela viagem espacial, tipo animações), em que alguns podem até acharem graça (e não estou dizendo que não seja engraçado), mas serem importantes narrativamente é outra história. Mas ratificando que devido ao carisma de seus personagens ainda sim rendem bons momentos, como o relacionamento entre Drax (Bautista, novamente perfeito para o papel) e a sensitiva Mantis (Klementieff), cujos personagens possuem na solidão uma ligação diante de personalidades tão antagônicas. Ou o próprio Yondu fechando de maneira satisfatória seu arco dramático – e consequentemente do protagonista – herdado do primeiro filme.
A trilha vale um comentário à parte. Fora a questão do Temp music (quando os realizadores aproveitam a trilha de outro filme como base para algo “novo”) perceptível no início, as músicas que foram uma agradável surpresa no primeiro filme, aqui já soam um pouco mais óbvias. Todavia, bem distante do usado, por exemplo, em Esquadrão Suicida, mas ainda denunciando a falta de frescor do longa, como o fato de usar “My Sweet Lord” de George Harrison para apresentar o planeta paraíso Ego (sim, um planeta com o conceito psiquiátrico nominal ao seu criador com um deus com ”D” minúsculo) e a inesquecível “Father and Son” de Cat Stevens como tema para a conclusão temática de Quill. Mas repetindo, a trilha ainda é bem funcional e mantém a qualidade característica , principalmente com a inclusão da excelente “The Chains” do grupo Fleetwood Mac. E o design de produção cumpre seu papel em apresentar novos mundos e planetas característicos com seus coloridos mesmo que soem pouco explorados e pasteurizados pela facilidade digital e, como dito anteriormente, um pouco poluídos visualmente, principalmente nas batalhas espaciais e nas decisões arriscadas que tornam, por exemplo, o clímax do filme em algo sem vida e não muito empolgante.
Enfim, Guardiões da Galáxia Vol. 2 não consegue alcançar a satisfação do seu antecessor, assim como é notável que a obra faz um grande esforço para se manter atrativa. Mas ainda sim, um pouco longe de ser ofensiva.
Cotação 3/5
Rodrigo Rodrigues
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Piletro
Obrigado pelo comentário
Concordo com o que falou. O problema é , digo como critico/espectador, não podemos ficar a merce destas convenções . Não estou dizendo para não vermos tais filmes , mas precisamos sempre sempre ter um senso critico
Cinema é muito mais que isso!
Abraço e agradeço novamente seu comentário
normal que queiram repetir a formula bem sucedida do primeiro filme… e normal que o resultado vao mostrando um certo desgaste… nao tem como isso sempre dar tao certo, ate pq tudo começa a ter uma cara de “ja vi isso antes”…