Crítica: Os Fantasmas Ainda se Divertem – Beetlejuice Beetlejuice
Direção: Tim Burton
Elenco: Michael Keaton, Winona Ryder, Catherine O’Hara, Jenna Ortega, Justin Theroux, Willem Dafoe, Monica Bellucci, Arthur Conti, Santiago Cabrera, Burn Gorman, Amy Nuttall e Danny DeVito
Os Fantasmas se Divertem (1988) é o primeiro longa a alcançar o grande público, do diretor Tim Burton. As características visuais e temáticas de Burton permeiam o cinema há décadas e mesmo em obras em que precisou lidar com um material não tão autoral e sensível devido aos fãs raivosos (Batman), ele ainda inseria sua narrativa de maneira marcante. Entre altos e baixos na carreira tão extensa (algo absolutamente normal para um artista), não me surpreende que o retorno ao universo do mundo pós vida seja feito de maneira tão segura em Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice, e mesmo pequenos escorregões no roteiro não chegam a comprometer o todo.
Viúva e apresentando um programa de TV, Lydia (Ryder) vive um conturbado relacionamento com a filha Astrid (Ortega). Ao mesmo tempo em que precisa lidar com egocentrismo artístico da madrasta Delis (O’Hara) e com a perda do próprio pai, que no filme anterior foi interpretado por Jeffrey Jones. O caso do pai é visto agora através de uma animação stop motion (decisão que, além de criativa, para não deixar um buraco ainda maior do elenco original – Geena Davis e Alec Baldwin não aparecem aqui -, evita qualquer desgaste devido à ficha criminal do ator condenado por posse de fotos de menores que praticamente acabou com a sua carreira); assim quando surge uma nova ameaça envolvendo a filha, Lydia precisa recorrer ao Beetlejuice (Keaton) cuja ex-esposa Delores (Bellucci) está em seu encalço.
Vale notar que se o diretor sempre trouxe a compreensão que o mundo dos mortos poderia ser mais divertido que o mundo dos vivos, aqui é interessante que o diretor insira em determinados elementos um terror não tão comum à sua narrativa fantástica quando pensamos no filme de 1988, como o fato de Lydia lidar com visões de Beetlejuice (Keaton) ao ponto de precisar de remédios controlados e até mencionar um bebê assustador, mas não vou me alongar muito com receio de spoilers.
Funcionando como uma versão insípida da mãe, a personagem da expressiva Jenna Ortega não vê necessariamente a morte como um ambiente mais confortável como a mãe via na sua idade. No entanto, a sensibilidade para demonstrar ou ocultar seus sentimentos soa tão convincente que ao ter uma fração de uma família normal reunida resume bem aquele tom melancólico dos filmes do diretor. Portanto, é visível que o roteiro tenta evoluir aquela dinâmica entre os personagens, principalmente através da presença da deslocada Astrid. Tanto que em determinado momento, quando a jovem conhece um interesse romântico, aquele contexto do filme funciona bem e mesmo que o desfecho esteja ligado diretamente à trama fiquei com a sensação de não precisar retornar tão rápido ao mundo pós vida.
Essa virtude também denuncia um problema no roteiro: ele não sabe o que fazer com alguns personagens que ficam subaproveitados ao ponto do desfecho deles soar abrupto e apressado! Assim, se o roteiro tem a vantagem de não apresentar Beetlejuice (mas faz um apêndice em preto e branco para mostrar sua origem, mesmo que isso soe sempre arriscado), a presença de Monica Bellucci soa desperdiçada devido ao seu potencial e a da personagem e sua ligação com Beetlejuice; isso sem contar o personagem de Willem Dafoe, que soa descartável dentro da trama, mesmo que o ator divirta-se a cada cena com seu personagem.
Mas ainda assim, é possível tirar algo ainda mais positivo sobre a presença do personagem de DaFoe ser um ator/dublê morto devido a um acidente durante uma gravação: o fato daquele indivíduo pertencer a um gênero dos filmes de ação (exército de um homem só) morto dentro do cinema, portanto, nada mais lógico ele ser uma figura de “autoridade” dentro do mundo dos mortos.
Reforçando o visual do filme anterior e as influências do expressionismo alemão em Burton, vemos novamente o mundo pós vida de cenários angulares e tortos, sentimos satisfação ao reconhecer facilmente aquele mundo burocrático de repartição pública e as particularidades de novos frequentadores no guichê de espera. Assim como o filme estende de maneira “musical” a questão de uma estação de trem com elementos de, desculpe o trocadilho, natureza morta. Visual este que não faria, por mais inocente que poderíamos ser em 2024, soar-se totalmente palpável em termos tecnológicos. Claro que há a muito do trabalho de efeitos práticos (sempre mais convincente), o já citado stop motion, um bom trabalho de maquiagem (reparem, por exemplo, quando Beetlejuice finge chorar, o contorno dos olhos do personagem fica desmanchado, ou o fato de um dos dedos da Delores encontrar-se preto por estar necrosado), todavia, o uso da CGI é evidente em alguns casos. Mas, se um desses casos era impossível de se realizar 36 anos atrás, é bem vindo que tal tecnologia sirva para realizar um comentário atual sobre a necessidade da exposição nas redes sociais e de como isso suga literalmente nossa alma.
Enfim, Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice não compromete e ainda deixa uma boa impressão de retornar na medida do possível àquela sensação retrô de seus filmes. Soa como um brinquedo antigo com algumas adaptações modernas, mas com a vantagem: ninguém faria igual.
Trilha sonora e spoilers
Deixei para falar da trilha sonora do filme aqui por envolver um pouco de spoilers, por isso, a partir daqui tem detalhes da trama!
Como um elemento que molda o espectador na trama, a trilha sonora de Beetlejuice Beetlejuice consegue desempenhar um papel funcional para narrativa sem necessariamente jogar uma música para forçar uma reação do espectador. Claro que no fundo, essa é a intenção, mas é bem vindo quando se faz inserindo dentro daquele contexto organicamente.
O grande momento do primeiro filme de 1988 é claro a sequência do jantar ao som de Day-O de Alfie Davis, e seria impossível remeter algo parecido e qualquer tentativa seria falha; por isso, o uso da mesma musica (agora a capela) para representar uma ligação com o personagem de Jeffrey Jones que o próprio filme (como mencionado anteriormente) precisou esconder, soe estranha (e não se tornou totalmente deslocada por um breve corte para Catherine O’Hara, como uma homenagem).
Ademais, ao mencionar anteriormente que a presença do personagem de Dafoe representa um gênero literalmente morto, as sequências da estação do trem seguem a mesma lógica. Assim, ao ouvirmos, por exemplo, Tragedy (Bee Gees) e toda a sua concepção como se estivéssemos numa discoteca dos anos 70, acaba soando, para mim, como certa imortalidade de um gênero que jaz há muito tempo com um leve tom de melancolia.
Isso sem contar com outras escolhas como Right Here Waiting de Richard Marx e a feliz escolha de MacArthur Park de Richard Harris para a sequência final do casamento (aqui bem mixada com a trilha sonora de pano de fundo para as ações paralelas dos policiais entrando na igreja).
Sendo assim, é interessante notar também o uso da música para exemplificar a trama envolvendo Jeremy e Astrid. Se eu fui inocente em acreditar inicialmente que ele não era um fantasma e o fato dos pais terem seus rostos ocultados seria para representar o abandono paterno e estreitar seu relacionamento com Astrid, o uso de música dos anos 90 (com a bela Cry Cry da Banda Mazzy Star da vocalista Hope Sandoval, da qual sou grande fã e sugiro para quem não conhece) me deixou questionando a intenção do filme; assim como o figurino do rapaz remetendo a época como sua blusa flanela quadriculada. Uma espécie de pista e recompensa que me intrigou porque o personagem parecia metaforicamente preso naquela época. O que de certa maneira foi revelado futuramente, por ele estar morto.
Rodrigo Rodrigues
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gostei bastante tb recomendo e pode ir sem medo que ta a altura do antigo la
diversao bom com cheiro de naftalina
gostei bastante, uma grata surpesa
muito divertido esse novo filme, uma rara continuacao com o mesmo nivel do original, ate que enfim heim Burton
Gostei bastante…na verdade, quando vi o primeiro no cinema a mais de 30 anos, não havia me surpreendido, tive que rever o primeiro a algumas semanas atrás pra poder lembrar um pouco e curtir mais o novo…que alias…acho que supera o original. A trilha sonora é que realmente me pega no coração, e realmente o lance do Jeremy se revelando no final seu estado de espírito, foi algo que me surpreendeu bastante.