Crítica: Jurassic World: Recomeço

Direção: Gareth Edwards
Elenco: Scarlett Johansson, Mahershala Ali, Jonathan Bailey, Rupert Friend, Manuel Garcia-Rulfo , Luna Blaise, David Iacono, Philippine Velge, Bechir Sylvain e Audrina Miranda
Jurassic World – O Recomeço é tudo que ele tende a ser: uma quimera genética distorcida de tudo o que já foi visto nos capítulos anteriores. Um monte de ideias recicladas apostando num saudosismo sem grande impacto. Claro, sendo este o sétimo filme da franquia, não poderia exigir muito mais que o básico que já não tínhamos visto: humanos, motivados pela ganância capitalista e sem uma ideia melhor, resolvem entrar numa ilha com dinossauros prontos para atacar.
Sendo assim, o diretor Gareth Edwards (Rogue One) fica preso pela premissa, uma vez que as outras obras – pelo menos da nova trilogia Jurassic World – tentem recriar momentos icônicos do clássico do Jurassic Park original de 1993 de maneira mais fluída. Ou seja, é visível tanto em Jurassic World (2015), Jurassic World – Reino Ameaçado (2018) e Jurassic World – Domínio (2022), possuem uma identificação temática e homenagem ; e ainda funcionam como lógica da franquia incluindo também a presença do elenco original (principalmente no segundo e terceiro filmes). Pode-se até torcer nariz para velociraptors adestrados, mas ainda assim é um caminho viável surgido naturalmente, incluindo também um ótimo exercício de gênero (terror) feito em Reino Ameaçado. Lembrando que as discussões da trilogia iniciada por Spielberg, mesmo sendo apenas pano de fundo para a ação (muito bem conduzida), ainda me divirto com Jeff Goldblum falando sobre a teoria do caos e Sam Neil assuntando uma criança.
Começando 17 anos atrás, Jurassic World – O Recomeço mostra um laboratório onde cientista fazem mutações genéticas uma vez que o mercado não tem mais interesse em dinossauros “tradicionais” que são vistos como corriqueiros no meio da cidade atrapalhando o trânsito. Mas, devido uma falha na segurança – idiota obviamente – tudo foge do controle. Com um salto, mas agora na época atual e 32 anos depois do primeiro filme (sim, parece confuso e desnecessário essas informações), conhecemos a agente (ou mercenária) Zora (Johansson) contratada pelo Dr. Loomis (Bailey) para coletar o sangue de três espécies específicas de dinossauros para ajudar na criação de um medicamento que geraria trilhões em lucros para a indústria farmacêutica.
Para isso, contarão também com o apoio do museólogo Martin Krebs (Friend) e do capitão e também ex-agente Duncan Kincaid (Ali) para adentrarem uma ilha próximo ao Equador e cheio de dinossauros para realizarem tal coleta (já perdi a conta de quantas ilhas com dinossauros tem espalhados por aí); mas não sem antes salvarem uma família que navegava por aqueles lados. Já nesse momento, o roteiro de David Koepp apresenta seus problemas: personagens demais, tolos e desnecessários, cujas decisões não são somente mais tolas que eles próprios. O mais curioso disso tudo é que Koepp é o roteirista do filme de 1993! Provando que um diretor faz a diferença. A aposta no elenco principal (Ali e Johansson) é um indício da necessidade de deixar na mão deles personagens tão mal construídos . Mas isso funciona até certo ponto, tanto Scarlett Johansson quanto Mahershala Ali não podem fazer milagres mesmo que a dinâmica entre eles é bem resolvida por justamente pouca sabermos sobre o passado dos dois (apenas uma perda, distância familiar são elementos suficientes para comprarmos a ideia). Mas o peso morto do roteiro cobra seu preço: restante é de uma pobreza medíocre. Nem estou falando de personagens que estão ali somente para servirem de comida para os dinossauros, mas daqueles que tem algum arco dramático, mas se tirassem do filme não faria falta alguma. Aliás, por falar em comida, chega a ser desastroso ficarem fazendo propaganda de doce como alívio cômico – ruim diga-se de passagem.
Com momentos que beiram a patetice, principalmente vindo da tal família Delgado e do namorado da filha mais velha, o roteiro é capaz de trazer momentos filosóficos sobre leito de morte comparando a selva com uma cama e situações onde a tensão é completamente destruída fazendo realmente torcermos pelos dinossauros , como no momento em uma personagem carrega um caixa bem na frente de um perigoso dinossauro sem acordá-lo. Isso sem falar na inserção de um filhote de dinossauro como pet que não tem função alguma, nem mesmo no clichê “filhote tenta ser resgatado pelos pais” ; será que diretor ficou com receio de parecer muito com a excelente sequência de Mundo Perdido com filhote de Tiranossauro Rex?
Esse núcleo claramente parece estar no filme para atender alguma convenção para preencher conteúdo, senão, o filme poderia ser encurtado facilmente em uns 30 minutos; assim. Ademais, Gareth Edwards tentar desesperadamente criar alguma empatia com a câmera focando várias vezes a caçula Isabella, mas apenas para antecipar uma ação obvia da personagem, como tentasse dar uma importância além do necessário. Pior que o roteiro não consegue nem dar alguma utilidade ao fazer suas ações influenciarem o outro grupo e vice-versa, como por exemplo, em Jurassic Park e a cena da cerca eletrificada em que grupo precisa religar a energia enquanto precisa escalar o mais rápido possível pode.
Aqui, as ideia do preguiçoso roteiro tenta apenas emular velhas situações do primeiro filme para alegrias dos fãs (plano de um retrovisor, vilão em fuga para as docas levando consigo material genético, dinossauro tentando pegar uma criança escondida dentro de um veículo etc.), apostando apenas na sensação de perigo inserido na mente do público depois de tantos filmes. Apresentando sequências de ação em distintas fases do filme, tais momentos mantém algum interesse. Mas a falta de originalidade a essa altura paga um preço, nem mesmo tentando recriar a magia da cena em que Laura Dern e Sam Neil vislumbram um dinossauro pela primeira vez (por segundos achei que teria um coraçãozinho na tela feito pelos dinos). É visível que falta carisma, falta algo genuíno para termo um mínimo de sentimento ali mesmo que a tecnologia traga os movimentos das criaturas cada vez mais reais comparado ao filme de décadas atrás.
Todavia, sejamos justos, visualmente Jurassic World – O Recomeço é um filme bem visto por toda a capacidade da tecnológica atual e também graças as ótima fotografia de John Mathieson ao ressaltar os vários ambientes de maneira exuberante. Seja na luz entrando pelas frestas da floresta e nas cenas aquáticas, assim como o jogo de sombras e fumaça – seja para realçar um vermelho ou aumentar à tensão ocultando algo que mesmo sabemos o que virá , é tudo bem eficaz. Fora que a direção usa bastante os campos abertos e evitando cortes rápidos nas sequências em si, o que aumenta a inserção do espectador.
Culminado com um o “tradicional” confronto com o “chefão do jogo” Jurassic World – O Recomeço é espremer o sugo da laranja da xepa da feira. Pode até sair alguma coisa, mas o gosto é inevitavelmente estranho. Atende quem não estaria cansado do mesmo. Sou grade fã da série e um dos meus mais marcantes momentos dentro de um cinema foi ter visto o original no cinema. Mas não sei se pode ser chamado de recomeço, está mais para final de festa.

Rodrigo Rodrigues

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sinceramente nao entendi essa producao, depois do “fracasso” do ultimo antes desse mas hollywwod tem dessas ne, um lucro de 200 milhoes ja é um lucro entao bora fazer mais uma trilogia
É isto mesmo Rodrigo, a série está cansada demais. A ultima trilogia foi muito over, eles deveriam ter deixado pelo menos uma década ou mais um pouco, passar pra fazer um novo filme. David Koepp, que insistiu com o Spielberg pra fazer mais um pois tinha “uma ideia nova”…que nada mais é que reciclagem do mais do mesmo… coloca gente do primeiro time para aparecer, já que a Scarlett Johansson, praticamente implorou pra estar no filme (já que ela é fã do original que viu quando criança e tentou durante anos ser escalada pra um dos filmes). O resto do elenco, pra mim são meros desconhecidos…nem pra trazer alguém do grupo original… até quem sabe uma ponto do Tim e da Alex, as netas de Hammond… No mais, é mais um filme de dinossauro, correria e …gritaria… mas vamos dizer, que ainda gosto da série…apensar de ser bem fraquinho. Este tenta trazer o clima dos dois primeiros.