Crítica: A Noite do Jogo (Game Night)

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jogo_poster Crítica: A Noite do Jogo (Game Night)A Noite do Jogo (Game Night)

Direção: John Francis Daley e Jonathan Goldstein

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Elenco: Jason Bateman, Rachel McAdams, Kyle Chandler, Lamorne Morris, Kylie Bunbury, Sharon Horgan, Billy Magnussen, Michael C. Hall, Camille Chen, Zerrick Williams, Joshua Mikel, Danny Houston e Jesse Plemons

Admito que o gênero de humor seja o que mais tem me decepcionado nos últimos anos. São poucos os exemplos – ou nenhum – que me vêm à mente e que a me remetam a lembranças agradáveis sem contar, por exemplo, com personagens desinteressantes; principalmente quando a comédia tende a abraçar outro gênero. Todavia, A Noite do Jogo, dirigido por John Francis Daley e Jonathan Goldstein, claramente inspirado em Vidas em Jogo de David Fincher, se torna uma comédia de erros e ação sem grandes pretensões, mas com a capacidade de manter o espectador atento às reviravoltas da trama e seu humor na maioria das vezes funcionais.

O casal Max (Bateman) e Annie (McAdams) tem nas disputas nos jogos de tabuleiro a química e sintonia perfeita entre os dois, que passam noites em conjunto com amigos se divertindo. O aparecimento do irmão de Max, Brooks (Chandler), os convidando a participar de uma pequena festa, cuja temática seja um jogo de assassinato, em que o vencedor precisaria desvendar o mistério para ganhar um valioso prêmio, da o toque inicial à trama. Entretanto, durante o tal jogo, o inesperado acontece e todos se encontram envolvidos em situações reais envolvendo perseguições, crimes e mafiosos.

Bem, pelo parágrafo acima, A Noite do Jogo não apresenta nada de original em sua história. Contudo, é elogiável como a direção conduz com habilidade o filme imprimindo um ritmo eficiente nos desdobramentos dos fatos e envolvendo o espectador. Inclusive, a trilha sonora de Cliff Martinez (Drive e Traffic) constantemente aposta numa sonoridade típica dos anos 80 e seus sintetizadores para ambientalizar como se tivéssemos revendo, na medida do possível, Uma noite de Aventuras de Chris Columbus protagonizado por adultos.

E mesmo que por alguns momentos o filme force a capacidade do poder de descrença do espectador (por serem poucos momentos em que isso ocorre, ajuda bastante), ainda sim, devido ao seu ritmo e clima, vamos aceitando alguns destes momentos sem graves consequências, como na cena no confronto entre Brooks e alguns bandidos que claramente é visível para qualquer um que aquilo não é encenação, mas vemos o restante dos personagens duvidando da veracidade do ato.

Mesmo que não tenhamos alto nível de preocupação com os envolvidos, como visto, por exemplo, em Se Beber, Não Case, o roteiro de Mark Perez é eficiente em burlar e tornar na medida do possível a resolução, fazendo-a nem sempre previsível (algo elogiável), o que acaba criando sempre um interesse para quem acompanha, mesmo que por momentos as motivações do casal e as metáforas (da vida ser um jogo etc…) criadas com altas doses de moralismos soem banais, mas sem influenciar diretamente no restante da narrativa. E é nesta brincadeira com os fatos, de não sabermos realmente o que está acontecendo (ou acharmos que sabemos) que a narrativa se mostra segura em jogar com a expectativa do público, como visto em numa determinada cena quando a obra brinca com o ponto de vista dos personagens, em que Max e Annie estão num bar à procura de Brooks, e imaginamos uma situação para somente mais no final do longa vermos que nem tudo é o que realmente aparenta.

Inclusive são através de interessantes e bem conduzidos elementos narrativos que a obra se sobressai, dando um dinamismo maior a tudo, como o fato de elipses de dados rolando, representando o relacionamento do casal principal, ou o fato, por vezes, de parecer como se estivéssemos assistindo realmente um jogo de tabuleiro com suas peças sendo movimentadas ao bel querer de alguém. Isso sem contar com um surpreendente e bem conduzido plano sequência ocorrido na mansão em que os protagonistas estão fugindo com um artefato roubado.

O humor em si funciona, onde a transição entre o pastelão, com pessoas caindo de escadas (normalmente o menos eficiente) e o humor negro e ácido (o mais eficiente) mencionando Trump como um vampiro não chega a ser ofensivo – a cena do ferimento à bala é bem engraçada. Também são interessantes as piadas envolvendo o ator Edward Norton e o fato de normalmente alguém confundi-lo com outro ator. Inclusive, a direção abusa das referências cinematográficas que ajudam neste contexto de humor, como o fato de criar quase um arco inteiro dentro do filme para uma piada envolvendo outra obra icônica de Fincher: Clube da Luta. Fora que as homenagens aos anos 90 continuam em menções a obras como A Espera de um Milagre, Coração Valente, etc., inclusive uma engraçada e inesperada cena envolvendo uma famosa sequência de Pulp Fiction. E mesmo que por vezes soem forçadas pelo excesso, as referências acabam mais agradando que tirando o público do filme.

Jason Bateman e Rachel McAdams conseguem uma boa química e são suficientemente capazes de tornar seus personagens, mesmo que beirando a linha do unidimensional, eficazes dentro do que a obra permite. E mesmo apresentando um personagem, este sim bem unidimensional interpretado por Billy Magnussen, o restante do elenco composto por Sharon Horgan, Lamorne Morris e Kylie Bunbury também possuem suas piadas e dinâmicas bem construídas durante o filme – como a hilária “saga” do casal Kevin e Michelle em discutir durante o filme a possível infidelidade da última envolvendo alguém famoso. Mas o destaque fica mesmo com o sempre ótimo Jesse Plemons interpretando o policial Gary. Motivado pela perda da esposa, o ator da uma aura ao personagem por vezes imprevisível e até amedrontador, mas ao mesmo tempo nos identificamos com ele, o que ajuda no clima do filme, pelo fato de Max e Annie sempre o evitarem pelo seu comportamento suspeito (não é para menos que em sua primeira aparição, a câmera vai lentamente se aproximando do personagem aumentando gradativamente sua presença em tela).

Com um clímax que, mesmo correndo o risco de destoar do restante da narrativa pela sua improbabilidade (mais ainda sim contextualizada), A Noite do Jogo consegue não perder o fator surpresa que propõe abraçar, incluindo aí uma espécie de cena pós créditos (no caso, durante).

Nota 3/5

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Rodrigo Rodrigues

Eu gosto de Cinema e todas suas vertentes! Mas não aceito que tentem rescrever a historia ou acharem que cinema começou nos anos 2000. De resto ainda tentando descobrir o que estou fazendo aqui!

5 thoughts on “Crítica: A Noite do Jogo (Game Night)

  1. filme sem graça… sinceramente, como vcs consegue rir com esse filme? fui no cinema esperando uma comedia da hora, queria gargalhar, mas nao, no maximo um sorrisinho de canto de boca em uma ou duas cenas… se eu quiser ver um suspensinho ou umacomedinha agua com acuca ai sim, mas comedia mesmo, passou longe

  2. comedia é complicado… se nao é besteirol, pode ficar “boboquinha”, que é a pior coisa do mundo pra uma comedia, qd ela fica no constrangimento de nao conseguir fazer rir, de forma inteligente (afinal, como disse, qd nao se trata de besteirol” e nao parece ser o caso dessa

    1. MPC
      Bem vindo
      Realmente, neste caso, o filme não é besteirol. E talvez por querer trabalhar um pouco mais a narrativa, seja melhore que muitos outros filmes.
      Abraços

  3. o Jason é um ator beeeeem fraco, só consegue fazer esse papel, quase um Adam Sandler da vida, a tentativa dele de ir pra filmes serios como akele filme em que um ex-amigo de escola da infancia que sofria bullying começa a aterrorizar ele e a esposa, ficou mediocre (apesar do filme ser bom)

    1. Beto Monteiro
      Obrigado pelo comentário.
      Espero que tenha gostado do filme!
      Abraços

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