Crítica: O Jogo do Dinheiro (Money Monster)
O Jogo do Dinheiro (Money Monster)
Direção: Jodie Foster
Elenco: George Clooney, Julia Roberts, Jack O’connell, Caitriona Balfe, Dominic West, Christopher Denham e Giancarlo Esposito.
Dinheiro é como fótons em fibra ótica. Aquele que você guardava no banco, não existe mais.
Podendo ser visto, em proporções menores, como uma espécie de A Grande Aposta com Rede de Intrigas, este O Jogo do Dinheiro é corretamente claro em sua mensagem contra o capitalismo selvagem, onde as maiores vítimas são justamente aqueles que menos conhecem o sistema, cuja mídia e a própria sociedade em si se tornam coniventes e responsáveis por banalizar este jogo do mercado financeiro que nunca para.
Uma sociedade cruel que numa luta diária de vida e morte que idolatra investidores como fossem deuses ao alcance de todos. Esta é a cultura do loser, ou seja, daqueles que ainda moram com pais sejam considerados pessoas menores e sem ambição. Cultura da meritocracia que julga terem condições e dramas iguais, uma pessoa que veste um terno de mil dólares e outra que se encontra desempregada e com uma esposa grávida.
A diretora Jodie Foster consegue manter a atenção do público graças à interação do elenco e principalmente com suas reviravoltas e humor sem medo do exagero ou de não parecer crível. Mesmo ciente, claro, que a mensagem ‘tudo envolve dinheiro, mas ainda somos humanos’ poderia soar demasiadamente moralista, mas dentro da proposta do filme, se torna útil e bem vinda.
Assim é louvável a tentativa de demonstrar que dentro daqueles números e desculpas técnicas para ocultar os verdadeiros criminosos, existem pessoas que independente da ambição da sociedade, ainda precisam e devem levar em consideração sua humanidade.
Mesmo iniciando com termos financeiros – o que poderia causar certa confusão ao público – o filme se transforma rapidamente num thriller de tensão quando o jovem Kyle Budweell (O’Connell) invade a estação da TV e faz toda a equipe do apresentador Lee Gates (Clooney) de reféns. A partir deste momento começa uma investigação ao vivo sobre o que realmente aconteceu com os investimentos da empresa Ibis que sofreram uma queda inesperada, causando prejuízos aos investidores, comuns ou não.
George Clooney se diverte como Lee Gates sendo responsável por alguns momentos de humor do filme. Assim como Julia Roberts que em nenhum momento se excede como a diretora de TV e faz bem seu papel com sua sobriedade e presença. Todavia, é mesmo Clooney que tem a oportunidade de criar um interessante personagem com suas mudanças dentro da narrativa, passado de um arrogante âncora de TV para agressor do mercado financeiro.
Entretanto, o roteiro de Jim Kouf, Alan Difiore e Jamie Linden, por vezes, aposta em resoluções clichês e falhas por tornar tudo expositivo e simplório, como podemos ver na figura de personagens como Walt Camby (West). Não que não existam indivíduos como tal, mas esta abordagem infelizmente se torna caricatural com a personificação dele como um ‘vilão único’.
Contundente, a crítica torna o papel da TV e mídia, representada por Lee, fazendo uma autocrítica do seu papel como filtro para a população. Mas ao mesmo tempo conivente, pois precisou um ato de desespero de alguém para começar a questionar (mesmo que soe com um aspecto forçado do roteiro para alavancar ação, acaba sendo útil para o contexto).
Representativo em seu terceiro ato que Gates (representando o capital e a elite) seja protegida nas ruas por Kyle virando um símbolo de boa parte da população que um dia perdera suas economias para o mercado. Imediatamente nos vêm as lembranças de como se vivêssemos novamente as manifestações do Ocupem Wall Street, que lutavam contra a impunidade do governo com os investidores que manipulavam o mercado financeiro e sempre saíam impunes.
A direção, assim, aposta na indagação e crítica ao transformar o terceiro ato numa espécie de circo midiático de uma espécie de confronto de classes. Pois soa desconfortante saber que este jogo ao final de um dia virará uma brincadeira ou um vídeo virilizando nas redes sociais.
Enquanto isso, o jogo continua com poucos indivíduos influenciando e interferindo em qualquer sociedade ao redor do mundo, destruindo vidas em nome da concorrência e dos próprios lucros.
Cotação 3/5
Rodrigo Rodrigues
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