Título: Deuses Americanos
Título original:
 American Gods
Autor: Neil Gaiman
Editora: Conrad
Ano: 2001 (lançamento); 2011 (edição mais recente no Brasil)
Tradução: Ana Ban
Páginas: 448

gillian-anderson Resenha: Deuses AmericanosNa última semana, foi massificamente divulgada a entrada de Gillian Anderson para o elenco de “American Gods”, adaptação da obra homônima de Neil Gaiman. A produção, encabeçada pelo canal Starz, tem previsão de estreia apenas para 2017, mas já movimenta o segmento da cultura pop com fervor.

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Pouco se sabe sobre a série até agora. Fora a divulgação dos atores e atrizes que participarão de American Gods (vale a pena mencionar uma outra escolha interessante do casting: o ator Ricky Whittle para interpretar o protagonista Shadow), não temos muitas informações referentes a produção. Um consenso entre os fãs de Neil Gaiman (que não são poucos, diga-se de passagem) é o medo da série de TV não fazer jus ao livro, lançado no Brasil com o título “Deuses Americanos”.

Já que, para nós, só resta a espera, que tal conhecer um pouco mais sobre o livro que inspira a série e o autor que o desenvolveu?

Neil Gaiman – O Caçador de Sonhos

neil-gaiman1 Resenha: Deuses AmericanosNascido em 10 de novembro de 1960 no condado de Hampshire (Reino Unido), filho de uma farmacêutica e um administrador de uma rede de supermercados, Neil Gaiman aprendeu a ler aos quatro anos de idade. Teve contato com a cientologia e outros tipos de religiões – o que não o tornou um fiel fervoroso a um nenhum tipo de Deus ou divindade, mas o ajudou a desenvolver no futuro sua própria mitologia. Casado desde 2011 com a cantora Amanda Palmer (com quem tem um relacionamento desde 2009), o autor foi rejeitado por diversas editoras no começo da carreira. Encontrou no jornalismo uma maneira de se manter no mercado literário.

Sua primeira obra foi a biografia da banda Duran Duran, lançada em 1984. Cinco anos depois, lançou o primeiro volume de sua principal obra, Sandman. O quadrinho serve até hoje de referência para diversos autores de literatura fantástica, além de ser considerado uma das principais bases do nicho dos comic books adultos. O próprio Sandman, inclusive, deve ser adaptado para o cinema, com produção do ator Joseph Gordon-Levitt, mas não temos muitas informações sobre o projeto até o momento.

Já tive contato com diversas obras de Neil Gaiman, tanto os romances como as histórias em quadrinhos. Pude ler desde Deuses Americanos a Black Orchid, história ambientada no universo DC, além de Caçadores de Sonhos, desenvolvido em parceria com Yoshitaka Amano (designer da série Final Fantasy) e o próprio Sandman. Posso dizer que Neil Gaiman é mestre numa arte simples, porém dominada por poucos: a arte de contar uma boa história. Todos os outros méritos do autor são uma consequência disso.

Neil Gaiman sabe estruturar e contextualizar muito bem os novos mundos que cria para seus livros e quadrinhos, o que talvez justifica o posto de referência que conquistou dentre os autores de literatura fantástica.

Mas por que justo Deuses Americanos despontou dentre as demais obras de Neil Gaiman? Por que ela foi escolhida para ser adaptada para a TV, se nem mesmo Sandman ou o famoso Coisas Frágeis conseguiram seu espaço em outras mídias?

Descubra a seguir!

Who the fuck are the American Gods?

american-gods Resenha: Deuses AmericanosProcure em qualquer lugar, e você verá que Deuses Americanos é classificado  como uma obra de ficção fantasiosa – e não me entenda mal, trata-se mesmo de um livro de fantasia. Mas, para qualquer leitor um pouco mais atento (ou para quem ler o resumo na orelha do livro… hehe), fica óbvio que o livro retrata o cotidiano de um americano tradicional. Pelo olhos do protagonista Shadow, recém saído da prisão, é possível ter uma noção do “espírito americano”, desde a busca desenfreada por progresso e informação até o fim de todas as coisas – a morte.

No dia que é solto da cadeia, Shadow perde a esposa, vítima de um misterioso acidente de carro. Sem qualquer perspectiva, recebe a proposta de um misterioso homem chamado Wednesday: ser seu guarda-costas. Wednesday deixa claro que algo grande está para acontecer, mas deixa tanto Shadow como o leitor na dúvida do que é.

Pouco a pouco, Neil Gaiman revela parte da trama: uma revolução dos deuses antigos está para acontecer. Sem súditos e adoradores, eles perderam a força. Personificados como pessoas comuns que buscam algum tipo de atenção, cada um dos deuses é contextualizado de acordo com sua cultura e conta como chegou aos Estados Unidos – um país que, em suas origens, abrigava povoados com diversas culturas diferentes e trouxeram consigo seus respectivos deuses. Qual Deus é Wedsneday, você deve estar se perguntando… Bem, dê uma pesquisada, mas lembre-se de levar o apelido do personagem em consideração. Isso já deve ajudar. 😉

E qual o motivo dessa revolta por parte dos deuses antigos? Bem, como referido acima, eles perderam a força… Mas para quem? O povo americano tem agora novos deuses: o dinheiro, a TV, a Internet, o rádio e tantos outros que ditam a maneira como a América vive. É interessante ver como Neil Gaiman retrata esses novos deuses; a TV, por exemplo, se manifesta através de Lucy (de I Love Lucy) enquanto Shadow assiste à série antiga – e, depois de conversar com a Lucy da TV, Shadow não sabe dizer se realmente viveu aquela experiência ou se tudo não passou de um sonho.

Os diálogos são muito bem construídos e Neil Gaiman toma o devido tempo para apresentar cada um dos deuses, novos e velhos. A narrativa se desenvolve num ritmo vagaroso, e por muitas vezes não conseguimos entender porque o roteiro toma o rumo que tomou – o que não é necessariamente ruim; apenas diferente (falo melhor sobre isso abaixo).

Veja um exemplo da genialidade de Neil Gaiman a seguir, num trecho de Deuses Americanos…

 “– Quem é você – pergunta Shadow
– Tudo bem. Boa pergunta. Eu sou a caixa dos idiotas. Sou a TV. Eu sou o olho que vê tudo e sou o mundo do raio catódico. Eu sou o tubo dos tolos… o pequeno altar na frente do qual a família se reúne para adorar.
– Você é a televisão? Ou alguém na televisão?
– A TV é o altar. Eu sou aquilo pelo que as pessoas se sacrificam.
– Como se sacrificam? – perguntou Shadow.
– O tempo que tem –Disse Lucy – Às vezes, umas às outras…”

Derek_Charm_American_Gods Resenha: Deuses Americanos

A premissa de Deuses Americanos é muito boa mas, a meu ver, nem sempre é bem executada (e é a partir daqui que os fãs fervorosos de Neil Gaiman vão me matar). Além de achar que o roteiro se perde em alguns momentos, afinal são tantos ganchos e tantas histórias para contextualizar, parece que o autor prepara terreno para algo que não acontece.

Se você ainda não leu o livro e está lendo essa crítica, o que você imagina que acontece no ponto clímax da história? O confronto entre os deuses antigos e novos, não? Pois bem, não vou contar exatamente o que acontece para não dar muitos spoilers, mas digamos que você ficará um pouco… decepcionado.

A finalização do livro não tira o mérito de Neil Gaiman como roteirista, autor e criador de obras magníficas, mas talvez eu tenha lido o livro esperando muito e acabei por me decepcionar. Não foi um livro, entretanto, que me fez pensar em parar de ler Neil Gaiman. Muito pelo contrário, o estilo do autor me pareceu tão interessante e único, que fui atrás de outros produtos do mesmo – e me surpreendi positivamente com vários deles. Já falei do Caçadores de Sonhos, né? Pois então, procura uma edição usada num sebo de sua preferência – já que a Panini esgotou a produção – e fique maravilhado com a beleza traduzida nas palavras de Gaiman e nas belas ilustrações de Amano.

Acredito, sinceramente, que a série pode acertar no ponto que considero prejudicial no livro: o rumo do roteiro. Por se tratar de uma produção que tem por missão atingir boa audiência, será algo mais “digerível” para que um número maior de pessoas o consuma. O fato de ser uma série também colabora para o desenvolvimento dos personagens. Só é preciso torcer que o canal Starz tome o devido cuidado com a adaptação; eles tem um produto fantástico em mãos… Basta adaptar direito e mudar o mínimo possível para torná-lo “apropriado para TV”.

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Marcus Colz

Livreiro, gamer, aficcionado por filmes, séries e música, não necessariamente nessa ordem. Fã de black metal que simpatiza com a Katy Perry. Come junk food mais do que deveria e não suporta alho, apesar de não ser um vampiro. Na busca de seu próprio universo, se encontra no Maxiverso.

5 thoughts on “Resenha: Deuses Americanos

  1. Então, gostei muito da resenha, penso a mesma coisa sobre o livro e sobre o que há de ser a série. Foi o livro que mais “travei” ao longo da leitura e já li quase tudo do gayman e até uns trem mais chatos(o que não é difícil). Sou fã mesmo, do cara.
    Agora meu ponto sobre o “Deuses americanos” é que as vezes parece que o gayman tá querendo mais estabelecer a mitologia do que a história em si, ele quer mais mostrar os vários deuses/deusas presentes desde a formação do estados unidos até agora e faz isso de maneira legal. Mas, fica uma frase em predicado que desanima as vezes.

    Enfim, aguardemos ansiosamente a série e parabéns pelo site. Tudo de bom. =)

  2. Oi Marcus

    Gostei muito da sua resenha e acho que você abordou o ponto principal, que apesar de ser classificado como uma obra de fantasia, trata, na realidade, de uma “crítica” ao american way of life. Imagino que, na hora de adaptarem para uma série, vão cortar as partes mais fantásticas (como aquele carrossel/parque que o Shadow vai para encontrar os Deuses, por ex) e deixarão só as personificações dos Deuses. Acho que ficará uma coisa meio “Supernatural”, sabe, mas aguardemos. Talvez com o Gaiman ficando em cima dos produtores, a essência da obra não se perca.

    Abs,
    Ruh Dias
    perplexidadesilencio.blogspot.com

    1. E aí, Ruh Dias! Tudo bem?

      Pois é, a gente as vezes se perde no realismo fantástico do Gaiman que acaba se esquecendo do realismo puro dele. A crítica ao “american way of life” é bem visível, mas nem todo mundo capta.

      Infelizmente, também acho que irão deixar isso de lado na série. Dificilmente algo que critica a cultura dos Estados Unidos ganha muito espaço nas TVs e cinemas.

      Abraços e obrigado pelo comentário!

  3. Nossa esse livro foi uma decepção imensurável. Eu tinha acabado de ler Sandman e fui correndo para esse suposto melhor livro do Gaiman. Achei o livro tão chato, tão fraco que só consegui chegar até a metade. Depois peguei o dei o livro embora pra não ter o risco de eu tentar ler de novo.

    O livro é uma eterna preparação pra um climax que não chega nunca. E até as partes que deveriam suprir e ter alguma surpresa são bosta.

    Não recomendo a ninguém.

    1. Hahaha pois é, Julio! Eu não o considero uma decepção, tem muita coisa que dá pra aproveitar, mas foi um pouco massante de ler e o final acabou me decepcionando um pouco.

      Olhando por outro lado, talvez esse livro seja um dos responsáveis pela definição da escrita do Gaiman, além de ajudar na construção de personagens, mitologias, contextos, etc.

      Abraços!

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