Crítica: Jurassic World – Reino Ameaçado (Jurassic World: Fallen Kingdom)

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Direção: J. A. Bayona

Roteiro: Colin Trevorrow e Derek Connolly

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Elenco: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Rafe Spall, Daniella Pineda, Justice Smith, Ted Levine, Geraldine Chaplin, Isabella Sermon, Toby Jones, James Cromwell, BD Wong e Jeff Goldblum

Nota: 3/5

Se Jurassic World: Mundo dos Dinossauros (2015) apostou, de maneira eficiente, no saudosismo e nas referências à própria saga, mas ainda dando certa continuidade temática iniciada a Jurassic Park de 1993 (vimos finalmente o parque funcionando!); Jurassic WorldReino Ameaçado do diretor J. A Bayona (do inesquecível O Orfanato) também tenta evoluir de maneira lógica as discussões vistas de como o mundo reage aos direitos de sobrevivência das criaturas controladas por empresas privadas, a questão da manipulação genética, o uso dos dinossauros para o campo militar, a presença dos mesmos na cidade, etc…

Contudo, mesmo com algumas falhas narrativas e a questão de ficar remoendo esses assuntos já abordados nos quatros exemplares anteriores, a direção de Bayona permite que o espectador se identifique com as causas abordadas e esta tentativa de expandir os temas já vistos de maneira, digamos assim, mais abrangente. Inclusive, entendendo que o conceito ”pessoas fugindo de dinossauros famintos numa ilha remota” estaria desgastado, a direção transfere parte da ação para um local diferente, como um interlúdio para expandir o conceito mostrado por Spielberg no último ato de O Mundo Perdido; mas desta vez de maneira mais sólida, por assim dizer. Até porque, ciente que poderá haver outros longas, a franquia parece, com seus novos conceitos e abordagens, dar uma guinada maior para a ficção científica que propriamente a fantasia em si (admito certo risco e temor com relação a direção que a série esta apontando…).

jurassic_poster Crítica: Jurassic World - Reino Ameaçado (Jurassic World: Fallen Kingdom)

Enfim, depois dos acontecimentos vistos no filme de 2015, as criaturas estão ameaçadas pela erupção do vulcão da ilha Nublar, que aparentemente estava extinto; assim, Claire (Dallas) e Owen (Pratt) são contratados pelo empresário Mills (Smith) para um missão de resgate dos dinossauros, principalmente da velociraptor Blue, que foi treinada por Owen, como visto no filme anterior. O casal irá retornar ao parque e a todos os seus riscos acompanhados pela cientista Zia (Pineda), o hacker Franklin (Smith) e a equipe militar liderada por Ken Wheatley (Levine), ao mesmo tempo em que o filme  levanta a questão da natureza agir por contra a própria ao deixar as criaturas à própria sorte (discussão iniciada por Jeff Goldblum, retornando ao papel do matemático Ian Malcolm, numa participação especial).

A direção de Bayona não perde tempo e vai direto para a ação com direito a T-Rex e a criatura aquática do filme anterior fazendo a ligação com Jurassic World e consequentemente jogando os heróis para dentro da ilha depois de breves conflitos. Uma decisão correta, por não se preocupar com apresentações de personagens, com abordagens já pré-conhecidas e suas dinâmicas; até porque quando o faz, não é algo muito atraente, cujos personagens soam em sua maioria unidimensionais, caricatos e repetitivos, como o próprio Mills ,que não é nada mais que o mesmo empresário ganancioso visto inúmeras vezes surgindo por vezes de costas ou limpando os óculos; assim como o militar vivido por Ted Levine, que neste caso, jamais impõe algum respeito ou imponência como visto, por exemplo, no caçador de Pete Postlethwaite de O Mundo Perdido – isso sem contar a presença de B. D. Wong com Dr. Wu, que surge novamente como responsável pela manipulações genéticas (ele não deveria estar preso a esta altura?).

Fora que a necessidade de criar certa nostalgia com o filme original acaba por vezes pesando na narrativa. Claro que o filme insere várias rimas visuais funcionais e de maneira orgânica, como visto em um personagem ao afivelar o cinto de segurança como Sam Neil fez, ou em uma cena de perseguição em que determinado momento remete à cena da sequência da cozinha, e até um brincadeira de um jipe relembrando a cena de fuga do T-Rex vista pelo retrovisor – todas do filme de 93; entretanto, a presença do personagem Benjamin Lockwood, por exemplo, interpretado por James Cromwell, claramente tenta remeter à presença de Richard Attenborough do filme original (incluindo até uma bengala com um âmbar na ponta), fora que ao introduzir uma história ”não contada” e seu relacionamento com o criador do Parque dos Dinossauros, é algo que sempre soa desonesto ou descartável quando um filme usa tal recurso de inserir em continuações tal elemento.

Todavia, Jurassic World – Reino Ameaçado consegue a proeza de, em alguns momentos, criar empatia usando cenas que, apesar de serem quase cópias do filme original, conseguem impor certa urgência e emoção dentro de um contexto diferente, como podemos comprovar no momento em que Zia vê um dinossauro pela primeira vez, assim como Laura Dern fez no filme original (neste caso, temos a ciência que a primeira já sabe da existência das criaturas, mas ainda sim nos emociona). Ademais, nada mais dramático que a sequência passada no píer com a participação de um brontossauro, que realçado pela fotografia trabalhando as sombras, e ajudado pela interpretação de Bryce Dallas, torna a cena em uma das mais comoventes e de cortar o coração de toda a série! Portanto, é elogiável que a atriz consiga manter sempre um bom dinamismo com sua personagem, principalmente por ser tão expressiva em seu olhar. E se Dallas evolui eu sua apresentação (virando uma ativista), Pratt, com seu Owen já estabelecido, funciona bem como o herói sem grandes problemas; mesmo que por vezes na tentativa de causar humor, o mesmo não funcione, como podemos comprovar na cena em que ele tenta se desvencilhar do rio de lava que se aproxima enquanto ele encontra-se imobilizado. Ademais, é elogiável a boa presença de Daniella Pineda como a cientista Zia Rodriguez, que se mostra uma personalidade segura e determinada; ao contrário do chato personagem Franklin (Smith) que, com sua caricatura de expert em tecnologia, passa o filme todo irritando o público com seus gritos.

Ademais, a presença da jovem Maisie (Sermon), como uma figura importante da trama (obviamente não revelarei os detalhes), e cujo arco se desenvolve mais como uma prévia dos caminhos que a série vai seguir, não tem propriamente uma funcionalidade para o longa em si – não se tornando pior ou deslocada pela presença de Geraldine Chaplin, com sua expressão marcada e emanando amabilidade e pena como a guardiã da criança. Até porque, a própria presença da personagem infantil incomoda por ficar correndo de lá para cá – remetendo à figura da menininha de Aliens, O Resgate – e, dona dos momentos mais expositivos e sentimentalistas (como numa determinada cena em que, através da montagem, a direção tenta criar uma empatia – poderia usar outro adjetivo, mas poderia entregar um pouco a trama) para com as criaturas quando a menina visualiza um vídeo do Owen e o treinamento da velociraptor Blue; ou até mesmo com diálogos do tipo “eles estão vivos, como eu” e o próprio relacionamento com Lockwood, que sempre soa pouco convincente e artificial.

Mas, para minha surpresa (e não menos interessante), Jurassic World – Reino Ameaçado tem como pano de fundo para seu clímax de perseguições e mortes, um cenário de terror com críticas a desumanidade e ganho financeiro em detrimento da natureza, como se tivesse a intenção de pleitear uma vaga para os dinossauros no “hall da fama dos monstros clássicos” (como Frankenstein ou Lobisomem) e até mesmo King Kong, tanto pelo local em que se passam as cenas (como não é mostrado no trailer, não mencionarei…) quanto pelos planos, por exemplo, tendo a lua cheia ao fundo em que a fotografia de Oscar Faura (O Orfanato) tenta, através de uma palheta de cores mais lavadas, engrandecer a atmosfera daquele cenário meio que de terror em que acontece toda parte final do filme.

Assim, dentro de sua proposta, Jurassic World – Reino Ameaçado consegue mesmo com seus solavancos, implantar os conceitos que tenta abraçar. E parafraseando o personagem de Jeff Goldblum ao dizer que as mudanças não serão radicais e sim silenciosas, o longa realmente as faz com a certeza de trazer novos conceitos/gêneros à série (boas ou não, somente o tempo dirá).

* Se chegou até aqui, quero agradecer pelo tempo dedicado na leitura do nosso texto. Assim, se possível e caso não tenha feito, dê uma curtida e compartilhe nossa página no facebook. Muito Obrigado!

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Rodrigo Rodrigues

Eu gosto de Cinema e todas suas vertentes! Mas não aceito que tentem rescrever a historia ou acharem que cinema começou nos anos 2000. De resto ainda tentando descobrir o que estou fazendo aqui!

9 thoughts on “Crítica: Jurassic World – Reino Ameaçado (Jurassic World: Fallen Kingdom)

  1. bom filme, dentro do esperado, talvez ate um pouco melhor, segue uma trama interessante dentro d euma franquia que nao tinha mais muito a oferecer alem do mote de pessoas fugindo de dinossauros, mas tb e o que ja falaram aqui antes, tem que saber o que esperar de um filme dessses, nao eh pra ir no cinema esperando o T-Rex declamando shapeskear eh pra se divertir com as perseguicoes e oas dnossauros fodasticos que o sci-fi + animatronics permite

  2. adoro os Jurassics Filmes hahahaha me divirto muito, e me divirto mais com quem exige de filmes como esse uma seriedade e uma dramaticidade que nao cabe a eles… boa critica, Rodrigo!

    1. Musa
      Bem vinda
      Obrigado pelo elogio, é gratificante ter o trabalho de se dedicar a um texto bem aceito!
      Abraços

  3. gostei do filme, o melhor Jurassic Movie desde o original…!!! e nao tenha essa ideia de filme familia ser ruim, pense na Disney e como o conceito de filme familia na verdade é algo como uma aventura espirituosa que agrada dos mais novos aos mais velhos, é só isso

    1. Sequilho
      Bem vindo.
      Obrigado pelo seu comentário. Que bom o filme ter agradado, e realmente acho que é bem superior aos outros da série ( talvez, só ache que Jurassic World ainda é mais coeso que este)
      Abraço e agradeço novamente!

  4. ótimo, a franquia vai evoluir pra ser o que sempre deveria ter sido (ok, menos o primeiro, que é aceitável que seja um filme-familia): ficção científica + terror! longa vida aos dinos!

    1. Dani Pro
      Bem vindo
      Bem, o primeiro é bem mais que aceitável! E que para mim a alcunha de “filme-família” soa meio pejorativo.
      Enfim, vamos esperar para ver onde a série vai parar!
      Abraço

  5. engraçado, nao tinha visto o de 2015, nao me interessei, mas pelo que vc disse até que deve ser bom, vou conferir o de 2015 primeiro e depois esse novo, obrigado

    1. Jaques
      Bem vinda
      Obrigado pelo comentário. Veja sim e depois retorne com sua opinião! Inclusive, temos também a crítica do filme de 2015 aqui no site.
      Abraço

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