Crítica: Os Incríveis 2 (Incredibles 2)
Diretor: Brad Bird
Roteiro: Brad Bird
Elenco: Holly Hunter, Craig T. Nelson, Sophia Bush, Samuel L. Jackson, Huck Milner, Catherine Keener, Bob Odenkirk, Brad Bird, John Ratzenberger, Jonathan Banks e Isabella Rossellini
Nota 4/5
Depois do sucesso de público e crítica de Os Incríveis (2004), a cobrança para Brad Bird em retomar uma continuação era constante. Entretanto, somente 14 longos anos e três longas metragens depois (um deles o excelente Ratatouille) e após participar do time de criação da Pixar de obra primas como Toy Story 3 e Divertidamente), o diretor finalmente retoma a história da família de super-heróis que divide suas rotinas familiares com o combate ao crime, dentro de um clima de aventura e diversão característicos.
Começando exatamente de onde parou o primeiro filme em 2004, Os Incríveis 2 retoma a sequência dos paladinos enfrentando o vilão Escavador ao mesmo tempo em que a família de heróis se vê envolvida na discussão sobre a atuação – e perigos à população – da ação dos heróis na sociedade; e assim, devemos admitir que o diretor Brad Bird demonstra total controle da obra, como se todos estes anos de diferença não tivesse peso algum para a narrativa. Assim, o roteiro do próprio diretor apenas confirma a intenção de apenas estender e/ou se inspirar um pouco na temática do primeiro filme, sem necessariamente apresentar algo novo; num mundo tomado por um espécie de “macartismo”, onde o empresário Winston Deavor (Odenkirk) e sua irmã Evelyn Deavor (Keener) “contratam” a Mulher-Elástico/Helen (Hunter) em detrimento ao Bob/Sr. Incrível (Nelson) para se tornar símbolo da retomada para a legalização dos heróis no mundo a partir do surgimento do vilão Hipnotizador, cuja identidade não se apresenta algo tão complexo (e mesmo tendo suas motivações remetendo ao mesmo contexto do antagonista Síndrome, do longa anterior, aqui ainda foi inserido um conceito de que os “heróis enfraquecem as pessoas”).
Entretanto, isso não significa que Os Incríveis 2 não se permita apresentar novas discussões e atualizar os arcos de maneira contemporânea; assim, entregando durante boa parte do filme o protagonismo para a Mulher-Elástico, a obra insere a questão do empoderamento feminino e a inversão de papéis. Inclusive, é emblemático, por exemplo, que tal inspiração para outra meninas, a filha Violeta (Bush) seja vista como influência inclusive para um outra personagem com poderes, mas que, relegada e surgindo com extrema insegurança, vê na figura da jovem uma motivação na luta contra o crime e principalmente no relativo à auto-estima. Fora o fato da personagem da embaixadora (Rossellini) ser também vista como solução política daquele universo (“Poder para restaurar a paz“). E até podemos notar esta tentativa de realçar a persona de Helen em um pequeno e rápido diálogo entre ela e Bob, em que ele se surpreende como fato dele ter certa habilidade com uma moto devido a um passado que ela deixou para trás de sua juventude, que hoje é desconhecido para o próprio marido.
Inclusive, tal elemento da inversão é o serventil ao humor quando testemunhamos, durante os dois primeiros atos, Bob tentando se adaptar durante a ausência da esposa (tempo este que as mulheres pouco tem) e às voltas com as rotinas com filhos, principalmente as crises da adolescência de Violeta (Bush) – devido ao relacionamento com Toninho Rodrigues (sério, onde inventam estes nomes?) -, e também com as manifestações de maneira constantes e incontroláveis dos poderes de Zezé. Assim como a inveja que tal cenário causa no marido ao ver a esposa tomando as atenções que antes eram para ele, o que de certa maneira possa ser considerado um exemplo importante desta discussão, pelo fato, de que assim como na sociedade atual, os homens ainda veem tal igualdade como “injustiça”. E por falar em Zezé, e deste personagem, como não poderia de ser, o mesmo possui as melhores tiradas quando este se vê diante das descobertas de suas habilidades dentro de seu contexto infantil e inocente, como podemos ver na sequência contando com a participação (menor que do filme anterior) de Edna Moda como a estilista titular do grupo de heróis.
Mantendo o alto nível narrativo que é característico da Pixar, Os Incríveis 2 jamais permite que o espectador se canse durante suas sequências de ação inventivas e bem conduzidas (o que é bem vindo para um continuação que tende a repetir as cenas do anterior), como a perseguição da Mulher-Elástico a um trem desgovernado e principalmente no clímax se passando dentro de um navio também desgovernado ao som da trilha sonora de Michael Giacchino dando o tom exato de aventura e espionagem, onde também é elogiável o trabalho de edição de Stephen Schaffer, que trabalha de maneira fluída e dá dinamismo às frentes em que os heróis atuam. Fora que a fotografia de Mahyar Abousaeedi e Erik Smitt é eficiente em trabalhar por diversas vezes a questão da sombra e contra-luz, e ainda consegue realçar ainda mais aquela atmosfera com os coloridos, como na cena em que a Mulher-Elástico enfrentando o vilão em seu QG, realçada pela qualidade da animação em si. E mesmo as ditas cenas que podem causar certo desconforto visual devido ao seu jogo de luzes mais fortes (pelo menos em mim), ainda assim podem ser apreciadas em parte tanto pelo contexto do próprio vilão como seu colorido.
Ademais, mesmo não tendo a intenção de remeter a uma fidelidade realista, ainda assim dentro de um abordagem cartunesca visualizamos os cuidados com detalhes dos personagens, seus movimentos com as mãos e principalmente as vestimentas dos heróis – que de tão detalhadas reparamos nos relevos dos uniformes. Até porque, a direção de Bird ainda cria rimas visuais e referências durante todo o longa, como o fato da cena da sequência de abertura com o personagem Lucius/Frozone (Jackson) terminar da mesma maneira (veículo quase colidindo), e até mesmo remeter em detalhes a outros filmes de super-heróis, como o fato de um personagem ter o visual de coruja (assim como feito com o personagem de Watchmen que também trata do assunto da atuação de heróis na sociedade).
Enfim, depois de tanta espera, Os Incríveis 2 acerta em seus conceitos e narrativas ciente de que possui um máquina de empatia e divertimento e alta qualidade. Nada que o longa anterior não tenha feito com mais eficiência (até porque ainda contava com o ineditismo), mas ainda assim é suficientemente capaz de criar expectativa para um novo capítulo, independente do tempo que o mesmo demore para ser lançado.
Rodrigo Rodrigues
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Quando estreou nos cinemas em 2004, “Os Incríveis” já inovava ao trazer à tona o gênero de super-heróis de uma forma bem original, em uma época onde o Universo Cinematográfico da Marvel sequer existia. Com toda a habilidade ímpar da Pixar, o longa trazia ainda uma discussão muito pertinente sobre família e cotidiano, questionando o que é ser um herói de verdade. Quatorze anos depois, “Os Incríveis 2” não é uma grande novidade ou mudança, mas sim uma atualização necessária e bastante divertida, que se aproveita especialmente do hype criado pelos antigos fãs, agora mais maduros, fazendo-os absorverem uma mensagem forte sobre representatividade e relacionamentos.
Vera,
Bem vinda
Obrigado pelo seu comentário!
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Abraços
eu tinha muito receio de que estragassem mais um classico, mas pelo que vc diz da pra ir numa nice que o filme é bom que maravilha vamo nois ver a familia Pera jajajajaja
Casagrande
Bem vindo
Obrigado pelo comentário. E espero que goste do filme rs.
Abraços
como a Pixar é boa no que faz heim… impressionante como eles fazem filme atras de filme sempre com alta qualidade, tirando um Carros 2, um Bee Movie que nao sao tao bons, mas ainda ssim sao bons, eles sempre estao em alto nivel Incriveis 2 é fantatico parabens
Tem veadagem (ou porcaria de feminismo) nessa p$#%@!? Tô afim de levar minha filha para ver, mas não quero me deparar com m#$%@* do tipo. (editado pela moderação)
Caro internauta de Teresina/PI, dono do IP nº 187.41.88.**, acho que vc devia se preocupar mais com o tipo de exemplo que sua filha tem na própria casa dela, e não em um filme, afinal o pai dela é alguém preconceituoso, grosseiro, de linguajar chulo, mal educado, mal informado, anacrônico, homofóbico e machista… qualquer coisa que ela assista será café pequeno perto disso, tadinha. 🙁
Adriano vc é tudo de ruim que existe nesse mundo uma pessoa despresivel tomara que sua filha vire feminista so pra te irritar kkk independente disso ela tera vergonha de vc qd crescer, e isso é o pior fracasso de um ser humano, ser vergonha para os filhos.
Adriano, vc é um i m b e c i l
Vera,
Estamos de acordo!
Abraços
Mais amor e menos ódio, senhores. S2
otimo filme, concordo com tudo da critica, muito bem escrita, muito bem observado tudo parabens, assista sem medo que e tao bom quanto o primeiro
Vicente,
Bem vindo
Obrigado pelo elogio, tanto quanto a estrutura e ao conteúdo. E se discordasse também não teria problema não rs
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boa critica… eu tinha medo dessa parte 2 de uma obra prima, mas pelo jeito ficou bom e a altura do 1
Jane
Bem vinda
Obrigado pelo comentário e elogio!
Se puder, depois que assistir o filme, fique a vontade para retornar com suas impressões sobre.
Abraço
Diretor e roteirista do original e da continuação, Brad Bird atualiza dilemas de família enquanto propõe uma nova configuração para o cinema de super-heróis por meio de ações cooperativas. Muito interessante.
Meia,
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