Crítica: Homem-Formiga e a Vespa (Ant-Man and Wasp)
Direção: Peyton Reed
Roteiro: Chris McKenna, Erik Sommers, Paul Rudd, Andrew Barrer, Gabriel Ferrari
Elenco: Paul Rudd, Evangeline Lilly, Michael Douglas, Michael Pena, Hannah John-Kamen, Walton Goggins, Bobby Cannavale, Judy Greer, Judy Greer, T.I. , Abby Ryder Fortson, Randall Park, Laurence Fishburne e Michelle Pfeiffer
Nota 3/5
Iniciado com Scott Lang/Homem-Formiga mantido em prisão domiciliar devido aos acontecimentos vistos em Guerra Civil, Lang é contatado por Hope Van Dyne e Hank Pym (respectivamente Evangeline Lilly e Michael Douglas) para ajudar no resgate de Janet (Pfeiffer) que ficou presa no mundo quântico há décadas, como mostrado no filme anterior do Homem-Formiga. Entretanto, o grupo terá em seu encalço o FBI, um grupo de criminosos e a misteriosa Ghost, que deseja a tecnologia de Hank (contida no prédio que ele carrega consigo devido ao poder de miniaturização).
Tendo como foco principal a construção de um “túnel quântico” para resgatar a matriarca da família Van Dyne, a trama deste Homem-Formiga e a Vespa de Peyton Reed em si não é algo que podemos identificar alguma tentativa de emular urgência, fazendo inclusive, tal contexto e abordagem por momentos remeter (em um exercício que admito poder assumir contornos bem subjetivos) a um desenho animado da Hanna-Barbera, como Corrida Maluca ou Máquinas Voadoras, ou até mesmo a tons de Curtindo a vida Adoidado devido ao fato de parte da trama se basear no fato das autoridades quererem pegar Scott descumprindo sua prisão domiciliar.
Contudo, mesmo com a direção irregular, mas devido à credibilidade de seu elenco, a obra ainda consegue invocar- por momentos – um sentimento sobre as ausências familiares de seus personagens. Até porque, analisando por alto, visualizamos tal conceito pelo fato do longa não querer apostar em um grande “vilão” em si ; e quando as motivações deste surgem, são mais vistas como conflitos pessoais do que propriamente a intenção de “dominar o mundo”! Claro que tão conceito ainda perdura através de outros personagens secundários, mas não se torna o mote principal.
Portanto, é muito mais eficiente para a história que ela realmente se concentrasse na dinâmica entre a Scott, Hope, Hank e a busca por Janet, e criando algo mais minimalista dentro de sua abordagem pessoal. Mas obviamente, o roteiro escrito a cinco mãos não consegue tal feito de maneira convincente ou duradoura, pois a inclusão do personagem de Laurence Fishburne, como um antigo amigo/rival de Hank, se torna um elemento superficial e sem grande proveito por sua ligação com a personagem Ava (Kamen) e sua tragédia familiar serem pouco exploradas (e cair em velhos diálogos expositivos). Tanto que chegam a ser tão desnecessários tais momentos, que basta imaginarmos uma determinada cena sem tais diálogos que imediatamente identificarmos uma carga dramática infinitamente mais eficiente que a mostrada. Por exemplo, na cena em que Hank conta à ainda pequena Hope que sua mãe desapareceu, durante uma ação da dupla, em vez de dizer o que ocorreu – a menina já esperava que algo de grave poderia acontecer -, apenas o abraço (e a ausência do diálogo) eram suficientemente capazes de transmitirem a mensagem de maneira muito mais eficiente em vez de expor os sentimentos em palavras. Ou também pelo fato do próprio Hank, contando a história da mãe de Hope/Vespa para… a própria Hope, como se essa desconhecesse o ocorrido com a própria mãe (cuja maquiagem digital em Michelle Pfeiffer, que era algo perfeito com Michael Douglas no primeiro filme, mantém o padrão ao trazer uma versão mais jovem da atriz)
Mesmo abraçando um tom inofensivo e leve durante boa parte da projeção, isso não é motivo para personagens bobocas, tolos e cheio de clichês, como os agentes do FBI que não emitem qualquer credibilidade e o núcleo liderado pelo personagem Luís, de Michael Pena, passando o longa inteiro como alívio cômico (não funcional). O personagem, além de chato, ainda sofre uma disfunção do ator que insiste em confundir humor como sinônimo de falas rápidas (a cena dela recontando de maneira acelerada os fatos ocorridos até um determinado momento é insuportável). Fora que o personagem em si ainda é sabotado pelo próprio roteiro ao usá-lo como condutor de seus erros, como na cena que ele se mostra ciente que o prédio portátil foi roubado, sendo que a cena ocorreu a pouco tempo antes. Isso sem contar que o grupo de criminosos, liderados por Sonny Burch (Goggins), não assustaria uma criança com sua caras e bocas.
Todavia, esta abordagem ainda se mostra com alguma serventia devido ao restante do elenco encabeçado por Paul Rudd. Aproveitando seu carisma, o ator é capaz de criar empatia com o público mesmo quando ele assume um comportamento adolescente, como o fato de ficar trancado em casa (tocando bateria e chorando ao ler A Culpa é das Estrelas), mesmo que em determinados momentos o direção parece não controlar seu impulso ao tentar evitar certa infantilização na narrativa como na cena em que ele foge da polícia de sunga ou na cena em que a persona de Janet assume o corpo dele (uma cena descabida e gratuita, mas que o ator ainda consegue com alguns trejeitos cômicos não torná-la uma tragédia total). Um personagem ciente de suas próprias limitações intelectuais e usando o humor como instinto de sobrevivência, Scott é um bom pai, cuja dinâmica com sua filha se mostra doce e rende cenas “bonitinhas” e lúdicas, como a sequência que abre o longa em que eles brincam num circuito montado dentro da casa.
Contudo, é Evangeline Lilly obviamente que se torna o fio condutor emocional da trama sem jamais tornar sua personagem em algo unidimensional, que auxiliada Michael Douglas e Michelle Pfeiffer, consegue manter o interesse naquele conflito, até mesmo assumindo o protagonismo do filme – que também carrega seu nome. A atriz, diferentemente do filme anterior, onde tinha uma abordagem mais caricatural, surge agora mais confortável em seu papel quando assume a ação do longa.
Algumas soluções e abordagens nas sequência, se não se tornam memoráveis (algo caso impossível), são capazes de invocar alguns cuidados narrativos e resoluções não óbvias, como o fato das sequências de lutas em que Vespa e Homem-Formiga usam seus poderes, pois as mesmas se apresentam equilibradas e sem abusar de cortes muito rápidos quando os heróis diminuem e aumentam de tamanho instantaneamente – assim como feito no primeiro filme. Ademais, a direção mantém uma lógica em outros elementos como o fato de quando os carros estão diminutos, a mixagem de som tornar o barulho dos carros compatíveis com seu tamanho; e ainda mantém a decisão de brincar com planos para potencializar as cenas deste universo diminuído através do quase silêncio, como visto na sequência ocorrida no píer (Vespa caindo na água); e até mesmo criando referências à cultura pop (no caso Godzilla) quando Homem-Formiga atinge proporções gigantescas. Assim como o fato de explorar de maneira interessante o mundo quântico como um fundo do mar, com seu visual colorido, e ainda hostil dentro de seu contexto.
Homem-Formiga e a Vespa talvez consiga se sobressair em vários aspectos diante do seu antecessor, assim como seus defeitos são potencializados dentro de seu contexto familiar sem nenhuma consequência para os envolvidos, onde, o grande perigo vem justamente de fatores externos ocorridos em Guerra Infinita que faz o mundo quântico cada vez mais invisível ao olhos do público e sem permissão para seguir sozinho.
Rodrigo Rodrigues
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interessante, vc nao gostou de como o amigo do Lang narra as coisas, o que foi um dos momentos mais divertidos do primeiro filme, ele contando no final como é que as pessoas falavam acerca do ocorrido, nesse filme 2 é a mesma coisa?
Pastor
Bem vindo
Realmente não gostei! Soou infantil e nada funcional para o humor. Mas dependendo da pessoa, suas respectivas experiências e referências cinematográficas, tal elemento pode surgir efeito.
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Abraços