Crítica: A Favorita (The Favourite)
Direção: Yorgos Lanthimos
Elenco: Olivia Colman, Rachel Weisz, Emma Stone, James Smith, Nicholas Hoult,Willem Dalby e Mark Gatiss
Nota 4/5
Tivesse este instigante A Favorita do diretor Yorgos Lanthimos (O Lagosta e O Sacrifício do Cervo Sagrado, obras que por si só fogem de qualquer padrão pela sua ambição temática e estética) caído nas mãos de outro diretor, com certeza qualquer aspecto narrativo poderia ser enquadrado como comum e pouco ousado; não necessariamente que tal obra se tornaria um filme menor, até porque volta e meia – como é de costume – em época de Oscar, sempre surgem filmes abordando tal contexto dos bastidores da realiza britânica, como por exemplo, os premiados Elizabeth com Cate Blanchett e o até mesmo O Discurso do Rei de Tom Hooper – isso sem contar os inúmeros produtos audiovisuais feitos para televisão (como The Crown) – mas ainda assim estariam longe da abordagem incomum de Lanthimos.
Todavia, nenhumas destas possíveis obras trariam a mão do diretor grego e toda a consequente atmosfera de incômodo, de humor peculiar e bizarrices dentro da corte Inglesa durante o século XVIII, em pleno conflito contra a França, servindo como pano de fundo para um triângulo amoroso (fora, por questão de referência, que A Favorita bebe na fonte de obras como Ligações Perigosas, de Stephen Fears, e Barry Lyndon, de Kubrick).
Fragilizada pelas dores intensas causada por uma gota, a rainha Anne (Colman) atravessa uma crise devido ao confronto com a França; confronto este que jamais acompanhamos de maneira direta ou em seu campo de batalha, mas sim pelos bastidores em que ocorrem as ações daquelas personagens (uma decisão acertada, que deixa todo o foco do longa para a dinâmica entre a Rainha, Sarah e Abigail, com algumas pontas dos representantes da corte, simbolizados na figura dos personagens do ator Nicholas Hoult e James Smith). Auxiliada pela sua comandada mais próxima, Lady Sarah (Weisz) que praticamente comanda as ações do reino, elas acabam, com a chegada de Abgail (Stone) iniciando um jogo de sedução, sexo e disputa interna da corte. Um olhar sobre alcova de desejos de sentimentos com vislumbres sadomasoquistas, manipulações e picardias, cujos conflitos pessoais marcam a busca e permanência do poder de três mulheres, simbolizando o protagonismo feminino nas figuras de três atrizes excelentes.
O roteiro de Deborah Davis e Tony McNamara é extremamente hábil ao balancear as ações das três personagens em suas dinâmicas, e sempre criando situações para os personagens sustentarem e dramatizarem suas ações e personalidades de maneiras únicas, em suas complexidades. Portanto, é mais que elogiável que a ótima Olivia Colman transforme sua rainha em uma mulher transitando entre a loucura, infantilidade, tristeza e ainda a imprevisibilidade, por suportar os traumas de nunca ter conseguido ter um herdeiro (simbolizado na presença de seus coelhos, ironicamente um contra-ponto à sua infertilidade); portanto, seu relacionamento com Sarah acaba por seu uma dinâmica de tutora e amante, o que acaba deixando Sarah em uma situação confortável, uma vez que as explosões de comportamento da rainha visíveis a todos – fora sua própria perspicácia – a gabaritam para assumir, ainda que indiretamente, o país contra a França.
Entretanto, mesmo tempo que Emma Stone praticamente tenha que galgar seus passos desde o início (saindo literalmente da lama) de maneira cínica e até ardilosa, esperando o momento certo para agir, seu embate com Lady Sarah é cheio de ironias, birras e ameaças veladas. Inclusive, há uma cena interessante em que, durante um momento de irritação, Abigail solta vários palavrões pelos corredores (algo que pouco imaginamos acontecer em uma época de costumes tão rígidos e que acaba se tornando um charme a mais pela situação inusitada). Ademais, é interessante notar que, neste cenário predominantemente feminino (quando falamos em autoridade, e não quantidade), os homens da corte sejam vistos sempre com pesadas maquiagens, como se estivessem em uma espécie de inversão de papéis com relação ao poder daquelas mulheres em pleno século 18, em uma verdadeira ode à ridicularizarão da busca pela beleza e status.
Com um trabalho de direção de artes primoroso, A Favorita é quase todo pautado como se estivéssemos vendo pinturas vivas na tela, onde tal elemento acaba servindo de maneira orgânica a outros aspectos narrativos das personagens, desde seus segundos iniciais, como visto no belo trabalho de figurino da experiente Sandy Powell (Shakespeare Apaixonado); se a rainha surge com todo seu esplendor das vestimentas reais, ela vai sendo parcialmente desconstruída ao ponto de usar um corpete de metal para se manter em pé devido à sua doença. Assim, a fotografia de Robbie Ryan se torna um dos destaques do filme, e é fundamental para fazer com que o espectador adentre nessa atmosfera de inquietação; pois em vez de usar câmeras com enquadramentos convencionais, como poucos movimentos (mais condizente com aquela atmosfera mais clássica) ou até mesmo movimentos sem sentido – e que acabam prejudicando ainda mais a narrativa ao ocultar todo o trabalho de Direção de Artes (algo que Tom Hooper, por exemplo, adora fazer em seus filmes), Ryan abusa a todo o momento de lentes bem angulares e explícitas, aumentando aquele cenário desconfortável; ao mesmo tempo servindo também como um prisma, como se o espectador espreitasse aqueles conflitos e segredos mais íntimos. Inclusive, tal elemento ainda serve para aumentar a falta de comodidade da própria rainha, como se estivesse presa naquele quartos e corredores escuros
Sem exatamente apresentar uma direção em que o espectador possa seguir com relação a aquelas personagens (uma elogio, pela condução das atrizes), A Favorita demonstra que a natureza humana, mesmo de maneira sutil e discreta, ainda se mostra cruelmente irresistível.
Rodrigo Rodrigues
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grandez atrizes, roteiro amarradinho, tudo de bom esse filme
dramas de intrigas palacianas sao novelas gourmetizadas… é só fofoca, mexerico, traição, segredinhos e maquinações… que coisa horrivel
assisti esse filme e gostei bastante
Parras
Bem vindo
Que bom que o filme agradou!
Abraço
Excelente filme, se o Oscaro nao se vender a populismos e modismos sociais (nao estou dizendo que os movimentos sociais nao sao necessarios, nao é isso), esse filme leva o Oscar.