Top 7 bons filmes antigos de ficção II
Nosso Top7 de hoje tem uma lista com mais filmes antigos de ficção-científica. A lista 1 dessa categoria pode ser vista aqui. Confira essa nova postagem da série de filmes sci-fi com mais algumas boas obras desse gênero:
20.000 Léguas Submarinas (20,000 Leagues Under The Sea – 1954 – EUA):
A obra de Richard Fleischer, dos anos 50, abre nossa lista por se tratar de uma adaptação sensacional (para a época) do livro homônimo do gênio atemporal e visionário Júlio Verne e que marcou o lançamento da distribuidora Buena Vista, própria da Disney. Hoje soa datado e nem parece ficção-científica, mas até os anos 80 o visual do Náutilus era algo ‘de outro mundo’ e a narrativa ainda não parecia lenta para os padrões atuais. David Fincher tentou dirigir um remake em 2013 e quase conseguiu, mas a refilmagem acabou adiada e ainda não tem data para acontecer. Com os astros Kirk Douglas e James Mason nos papéis principais, a obra original conta como no fim dos anos 60 um suposto monstro marinho aterroriza a navegação a ponto de embarcações se recusarem a zarpar por conta de greves das tripulações. Um navio americano que tem como missão justamente elucidar o mistério e abater o monstro, acaba atacado pelo próprio logo em sua primeira busca e afunda deixando poucos sobreviventes, que então acabam acolhidos pela tripulação de uma nau ‘inconcebível’ para a época. Atuação magistral de James Mason, indicações aos Oscar de efeitos especiais e direção de arte e tentáculos colossais são alguns dos destaques da obra.
Corrida Silenciosa (Silent Running – 1972 – EUA):
Um sci-fi sui generis que aborda sem ação, tiros ou estrepolias de roteiro, a história da enorme nave espacial Valley Forge, que transporta em domos geodésicos o que restou da fauna e da flora da Terra, já que em nosso planeta a humanidade conseguiu erradicar as doenças e a fome, mas o custo foi a extinção de toda vegetação e todos os animais, com exceção dos homens. A missão da nave e dos astronautas é manter os espécimes – agora os mais raros do universo conhecido – vivos até que a Terra possa abrigá-los novamente. Ocorre que chega um momento em que ordens surpreendentes são envidas à tripulação ordenando o fim da missão, a destruição de tudo o que está nos domos e o retorno ao planeta azul… e é aí que um dos astronautas, o botânico Freeman Lowell, tenta impedir que seus colegas cumpram essas ordens ‘sem sentido’ e toma decisões críticas acerca das medidas que julga necessárias para impedi-los de levar a cabo o que foi ordenado. A obra explora justamente a questão psicológica de um astronauta confinado em uma nave a milhões de quilômetros da Terra cuidando do que resta de vida vegetal e animal original de seu planeta, e de como ele lida com a solidão, além de mostrar as consequências das escolhas difíceis que ele precisa fazer. Um belo manifesto ecológico e estudo psicológico (bem) travestido de ficção-científica, com um final tocante.
Fahrenheit 451 (Fahrenheit 451 – 1966 – França/Reino Unido):
A ficção distópica literária tem no tripé Admirável Mundo Novo, 1984 e Fahrenheit 451 seus pilares fundamentais que abriram o caminho de tudo o que se criou no gênero desde então. Uma pena que esse trio não tenha gerado grandes obras cinematográficas – pelo menos não à altura dos livros correspondentes, que são grandes obras-primas. Ainda assim os respectivos filmes são bastante interessantes e nesta lista incluímos Fahrenheit 451, cujo nome faz alusão à temperatura em que o papel entra em combustão. Falando em nome, o filme tem também um trocadilho com o termo bombeiro em inglês, que se perde na tradução e a ironia que isso incide para a profissão da maneira como ela é abordada na obra de François Truffaut, que conta a história de um bombeiro em um futuro distópico na qual ler é proibido e forças policiais, com ajuda dos bombeiros, apuram denúncias de pessoas que guardam livros em suas casas. Quando as autoridades encontram os objetos proibidos, eles são queimados e os infratores são levados para serem ‘reeducados’. Apesar de dirigido por Truffaut e contar com Julie Christie, o filme vale mais pela temática e a descoberta dos motivos que levaram o mundo à essa situação, bem como a jornada do bombeiro Montag rumo à sua libertação dogmática quando resolve guardar – e ler – alguns dos livros que deveria queimar.
Metrópolis (Metropolis – 1927 – Alemanha):
A obra-prima de Fritz Lang, símbolo máximo do expressionismo alemão, apesar de ter quase um século de idade, ainda pode ser considerada atual e mesmo sendo um filme mudo, em preto e branco e com edição típica da sua época, pode tranquilamente ser assistido por quem admira uma obra ímpar e que serviu de inspiração para a ficção-científica desde sua estréia. Trata-se do primeiro filme que se notabilizou pela crítica à sociedade de classes, que explora os trabalhadores para manter seus luxos e seu modo de vida. Diante de algumas situações em que há possibilidade de um ‘despertar’ da população menos favorecida, os ‘poderosos’ agem rapidamente criando mecanismos de manipulação e controle das massas, para manter o status quo vigente, com metáforas narrativas e visuais que incluem até um messias. Nada de novo? Sim… o conceito é bastante familiar hoje. Mas em 1927 foi quase revolucionário e o final ambíguo permite dupla interpretação e complementa a crítica social. Serviu de inspiração para livros, filmes, games, séries, músicas e outras coisas inerentes à cultura mundial, dentre as quais 1984, Blade Runner, os Inumanos da Marvel, Robocop, o Batman de Nolan, O Quinto Elemento, Dr. Fantástico, De Volta Para o Futuro, Star Wars, os movimentos steampunk e cyberpunk, discos do Queen, Kraftwerk, o cinema noir e etc. O visual da robô do filme inspirou Ralph McQuarrie na criação de C-3PO, de Star Wars. A versão original de Metrópolis, considerada muito longa no lançamento, se perdeu por décadas e só nos anos 80 é que uma colagem de várias versões acrescida com 30 minutos da edição original (encontrada na Argentina) foi relançada e virou a versão definitiva do longa.
Rollerball – Os Gladiadores do Futuro (Rollerball – 1975 – EUA/Reino Unido):
Hoje praticamente desconhecido, o filme Rollerball, de Norman Jewison, foi uma ficção cult até os anos 90, quando sua reputação foi arranhada pelo bisonho remake de 2001 de mesmo nome, dirigido de forma deplorável pelo bom John McTiernan. O filme mostra um futuro na qual grandes corporações controlam mundialmente segmentos definidos da sociedade, como transportes, alimentação, energia, vestimentas, etc. Nesse cenário, o esporte mais popular do planeta é o rollerball, um violento embate de times em uma arena circular enjaulada que serve de pista para motocicletas e patinadores se digladiarem em busca de gols. O grande astro mundial do esporte, Jonathan E, começa a ser pressionado pelos executivos da Corporação Energia a se aposentar, já que suas performances estão incitando despertares de sentimentos individualistas e heróicos em uma população condicionada a seguir os padrões comportamentais estabelecidos pelas corporações. Como se recusa a ceder, Jonathan vê as regras do esporte serem alteradas, deixando o jogo ainda mais violento e brutal. Obra imperdível, este filme com tom dramático mostra como Jonathan lida com a pressão dos executivos, como busca entender o mundo que o cerca fora da redoma na qual sempre viveu, enquanto vamos conhecendo o futuro asséptico, frio, insípido e pálido em que o filme se desenrola. Uma crítica sublime ao vazio do escapismo do entretenimento de massa manipulado pelas corporações, com uma trilha sonora que marcou época e virou cult, assim como o próprio filme.
THX 1138 (THX 1138 – 1971 – EUA):
Primeiro filme de George Lucas (que apenas 6 anos depois mudaria o mundo com Star Wars), THX-1138 é, na verdade, a versão em longa metragem do seu ‘TCC’ da faculdade, o curta intitulado Electronic Labyrinth: THX 1138 4E. Trata-se de um filme difícil de se assistir pelo tom minimalista, em linguagem quase documental, com uma abordagem bastante pesada em alguns momentos, o que fez o filme ter recepção ruim do estúdio no lançamento – realizado em circuito pequeno – e um consequente fracasso de público. Redescoberto após os ‘novos’ filmes de Star Wars (episódios I, II e III), virou cult. A obra narra uma sociedade distópica em um futuro incerto, baseada na supressão das individualidades e no controle totalitário de todas as ações, perpetrado por andróides e computadores. Os humanos, identificados apenas pelas siglas e números, não possuem liberdades individuais, lazer ou cultura, e servem apenas para cumprir suas funções mecanizadas na sociedade, sendo obrigados a ingerir drogas inibidoras e a reagir de forma condicionada à todas as situações. Não há moda, idéias, livre arbítrio, conversas informais ou qualquer outra manifestação social humana. Nesse cenário, o protagonista THX 1138 (interpretado pelo excelente Robert Duvall), que dá nome ao filme, tem uma elevação de seu nível de consciência ao ter suas drogas trocadas por placebos, e – ainda que de forma bastante ingênua e adequada ao contexto – tenta de alguma forma libertar-se do controle a que é submetido por conta do sentimento inexplicável que passa a nutrir pela ‘amiga’ LUH 3417.
Viagem Fantástica (Fantastic Voyage – 1966 – EUA):
Divertida obra de Richard Fleischer, que conta a história de uma equipe de cientistas que são miniaturizados e colocados – à bordo de um submarino também miniaturizado – dentro da corrente sanguínea de um ser humano, com a missão de chegar ao cérebro e realizar uma microcirurgia à laser em um tumor, diretamente de dentro do órgão. O corpo em questão é de um homem que, em tempos de Guerra Fria, fugiu da Cortina de Ferro justamente com o segredo encontrado pelos comunistas para o problema que atinge a técnica da miniaturização descoberta pelas duas superpotências da época: o tempo limitado da duração do efeito de encolhimento. Assim a missão corre contra o tempo para salvar o homem que pode ajudar a resolver o problema que é a causa dos problemas da própria missão. 🙂 Uma produção bastante ousada para a época, com efeitos especiais dignos, e uma inversão conceitual do sci-fi habitual, acostumado ao espaço exterior e não ao interior, que inspirou a comédia Viagem Insólita de 1987. A jornada dentro do corpo humano é bastante tensa e recheada de obstáculos, como anticorpos e glóbulos brancos, por exemplo, e ainda conta com um toque de espionagem que incrementa o suspense. Apesar de muitos acreditarem que a obra é baseada no livro homônimo de gênio Isaac Asimov, a versão oficial é a de que uma editora conseguiu os direitos da publicação do roteiro e contratou Asimov para escrever o livro, publicando-o antes do lançamento do longa metragem e gerando a confusão.
Ralph Luiz Solera
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